sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O monarca (texto do blogueiro)


Em um principado muito distante, nos confins da Europa, bem na fronteira do que hoje deve ser a Bielorrússia e a Rússia, resistia um país independente de todos os outros países. Era um país pequenino, chamado Permya, um país lindo de se ver; ele ficava incrustado à uma larga floresta, repleta de choupos, acácias exalantes, altos ciprestes, macieiras, cerejeiras, pinheiros, abetos e pequenos riachos que de água tão limpa podia-se beber na bica.

                Era o ano da graça de 1341, um ano comemorativo para o diminuto principado, era o aniversário de dez anos da batalha da batalha memorável da guerra contra o Principado de Moscou, no qual, o rei, Fiodor Aleksandreievich, atual monarca, venceu com uma só mão mais de trezentos invasores, sem nem mesmo descer do cavalo!

                O povo tinha orgulho do rei, e o rei tinha orgulho de si, tanto que mais e mais ficava esnobe. Tão esnobe que nem mesmo se disponha a dormir com sua esposa, Maria Mikhailevna, por medo de perder sua posição de intocável. Achava-se não filho de seu pai, Oleg, o Terrível, mas sim de outro ser, de Deus. Ele realmente achava que era filho de Deus!

                Ele ficara tão vaidoso que sua pessoa  real só faltava pisar por cima do povo. Não saia mais do Palácio de Verma (a diminuta capital daquele principado), e quase nunca via seu povo, ficando enclausurado em sua corte enquanto observava a insignificância com que todos se portava a si.
                — Alexei, quem falta? — Disse o rei no alto de seu trono de dourado com almofadas de cetim vermelho.
                — Meu rei,  dois simplórios desejam falar consigo — Declarou o vizir.
                — Pois os dispense, eu não sou rei de simplórios!
                — Mas, vossa majestade, eles declaram possuir um novo tecido da Índia totalmente novo que o senhor provavelmente iria gostar.
                — Um tecido? Quem são?
                — Os irmãos Alexandrov.
                — Mande-os entrar.
                O vizir convocar dois guardas palacianos enquanto o rei, imóvel, observava com atenção a imponência daquele salão.
                Os papéis de parede rubros, com ornamentos dourados davam a impressão de que aquela sala sem dúvida era maior que era. Ali, expostas na parede, estavam inúmeros retratos de batalhas com a imagem do rei em todas elas (considerando que o rei só foi ao front uma vez!), armaduras, selos, espadas, elmos, lanças, couraças, tudo que o rei nunca utilizara. Tinha ainda, sobre uma pequena bancada nada menos que uma bíblia manuscrita em latim (embora o rei sequer soubesse ler latim!).
                A mobília era escura e pesada, devia ter custado bastante tempo ao artesão da aldeia, tanto que o rei se vangloriava de ter uma estante tão sólida quanto o gelo dos Urais.
                Entram na sala dois tipos engraçados: um, o mais velho, era alto e magricelo, um varapau mesmo, com olhinhos esbugalhados e suíças tão mal aparadas; sua face era tão adoentada, que ele parecia uma caveira. O outro, o mais novo, era gorducho e baixote, parecia um barril de vinho de tão gordo, era calvo, e bastante feio, era horrível de se ver.
                Eram ditos os melhores tecelões de todo o principado, tanto que eram conhecidos tanto dentro quanto fora dali, em todo o caso,  pouco se sabiam deles em si. Sabia-se apenas que os dois eram bastardos do rei Oleg, por coincidência pai do rei Fiodor I, mas sua mãe era uma pessoa muito enferma e desaparecera dali quando disse que foi colher trigo na roça.
                Passaram  o diabo para sobreviver: passaram fome, frio, sede,  sentiram dor, quase morreram, até que um velho artesão os ensino o ofício de alfaiate.
                Agora, tendo o velho morrido, agora assumiam os negócios e se apresentavam diante ao rei.
                — Meu rei, o senhor nos honra com vossa presencia — Fez uma reverência.
                Os dois inclinaram ao monarca que de tão encabulado, brandiu ruidosamente:
                — Poupem-me disso. Eu queria saber: Que história é essa de um novo tecido trazido da Índia?
                 — Com todo o respeito, majestade, não é história alguma, se o senhor deixar que eu mostre, falará o senhor interessando com o nosso trabalho.
                — Pois bem, mostrem-me.
                O gorducho, Pacha (Pavel), retirou de uma sacola de camurça preta um objeto que realmente deixou um pouco intrigado o rei.
                — O que é isso?
                — Meu rei, esse é o novo tecido que mandei trazer da Índia.
                — Conversa, vocês estão troçando de mim. Eu os podia mandar degolar por causa disso! Cuidado com suas cabeças!
                Realmente, o que Pavel, o gorducho, parecia manusear, parecia pura e simplesmente nada. Não podia-se enxergar qualquer coisa naquilo que diziam ser um tecido.
                — Não, meu rei, eu posso explicar.
                — Guardas!
                — Por favor, vossa excelência esse tecido é um presente para o senhor.
                — Um rei não deve receber presentes de seus súditos sem não o respeito.
                — É para a festa da grande batalha de nosso grande e querido reino. Sabemos o tanto que o senhor anda a par das novidades vindas do Oriente, assim nos decidimos trazer esse novíssimo tecido para que o senhor use como prova de nossa imensa gratidão para com sua benevolência — Argumentou o magricelo, Sergey.
                O rei achou muita graça na proposta e encomendou o traje, dando muito dinheiro para sua feitura. Queria se mostrar triunfante para si, para seus súditos e para os seus aliados na cerimônia do aniversário da famosa e vitoriosa batalha de dez anos atrás.
                — Quanto os senhores desejam para tanto?
                — Meu rei! — Exclamou o vizir
                — Quanto vocês desejam?
                — Dezoito moedas de prata.
                Essa era uma quantia relativamente alta, tendo em vista que a prata era significamente mais rara que o ouro, nessa época. Observando com atenção  e com outros olhos, o rei imaginava incrivelmente garborante, enquanto tratava de humilhar um por um os reis aliados, enquanto conseguia cortejar os corações femininos com sua roupa.
                — Vizir, traga nove moedas. Pagarei nove agora e nove quando o serviço estiver pronto.
                — Como desejar, majestade — Disse Sergey.
                — Ey, Sergey, como vamos fazer para costurar um tecido que nunca vimos? — Cochichou ao pé do ouvido o gorducho Pacha.
                O vizir trouxe uma sacola com três  moedas de prata maciça, após conferirem, soltaram um sorriso solicito, enquanto o rei falara:
                — As comemorações começam em duas semanas, eu espero que seja suficiente, se não estiver pronta até lá, vocês serão docilmente levados à forca.
                Engoliram seco os dois, aparentemente ao mesmo tempo.
                — Agora podem ir, sou um rei muito ocupado. E vos verei em duas semanas.
                Os dois foram levados pela guarda em direção aos portões do Palácio.
                —Que bela ideia a sua, Sergey! Agora teremos que costurar um tecido invisível até daqui duas semanas, senão seremos enforcados! Isso sabendo que nenhum de nós sabe costurar e nosso mestre está morto.
                — Fique calmo, estou seguindo o meu plano.
                — Tomara que dê tudo certo.
                — Dará, você verá!
                Os homens trabalharam dia e noite num tear, cozendo com linha invisível, num pano que ninguém via. Todo mundo achara isso estranho, afinal de contas, não é normal alguém pedir uma roupa invisível!
                — Sergey, isso não vai dar certo, o rei vai descobrir.
                — Cale a boca, eu sei o que estou fazendo.
                — Estou falando, isso vai dar errado e nós dois seremos enforcados.
                — Deixa que eu sei o que estou fazendo.
                Batem à porta para assombro dos dois, o rei descobrira?
                — Sim?
                — Sou o enviado do rei, eu vim por ordens de meu senhor saber por informações da dita roupa.
                 — Ainda estamos trabalhando nela, senhor.
                — Eu não devo lembra-vos do que acontecerá se tiveres a tal roupa pronta.
                — Cuide de seus problemas que cuidarei dos meus — Fechou a grossa porta de madeira, Sergey.
                Armaram-se dois teares e com  enorme fingimento, os dois fingiam tecer, mandavam trazer fios de seda das mais longínquas partes da China, procuravam fios de ouro para os dois; as no final, os dois só queriam enganar o El-Rei pois simplesmente planejavam outra coisa.
                O rei mandava sempre ministros visitarem a oficina e eles voltavam deslumbrados, elogiando a roupa e a perícia dos alfaiates. Mas o rei tinha a impressão de estar sendo enganado.
            — Ora, por Deus, uma semana e meia é tempo suficiente para tecer nem que seja uma parte do tecido. O que será que estão tramando?
            — Quer que eu chame a guarda, meu rei?
            — Para quê tanto alarde? Devemos esperar, talvez eu os mande enforcar, mas só depois de terminarei minha roupa.
            — E se não tiverem costurando a roupa?
            — Eu já cuidei disso, o senhor acredita que eu tenho dois espiões de olho neles vinte quatro horas por dia?
            — Eu acho difícil de acreditar.
            — Acreditaria num druida reumático?
            — Não.
            — E num xiuaua de vigília?
            Na verdade o rei havia mandando o seu velho e leal ministro, Georgy, para fazer inspeções regulares à manufatura dos tecelões.
            O velho ministro era um homem calvo, de setenta e sete invernos completos, com uma longa barba grisalha e uma proeminente barba que saltava-lhe à altura do peito.
            Era um homem respeitável, mas tolo, e submisso, pensava a si como um cavalariano qualquer que figurava na corte como um “rosto bonito”. Preocupava-se mais com suas fazendas que com o governo, e com o que representava, o ministério da guerra.
            — Vá, meu velho Georgy e me diga quais são os progressos.
            — Sim, meu rei.
            E assim o foi o velho, caminhando em direção ao ducado para saber na alfaiataria o progresso que com os dois enganadores presidiam seus teares vazios.
            “Oh! Meu Deus! Eu não consigo ver nada”, pensou consigo.
            O ministro observara com atenção o tear vazio, mas manteve-se calado por certo tempo.
            Os dois tecelões fizeram um sinal para que se aproximasse o velho ministro.
            — Caríssimo, ministro, eu gostaria de perguntar, considerando o senhor ser de bastante erudição, o que o senhor acha do desenho e das cores das vestes?
            — Que vestes?
            — As que estão no tear.
            — Não há nada no tear.
            — Senhor ministro, assim você me impressiona, quer dizer que o senhor não as consegue enxergar?
            — Eu só consigo enxergar a sua audácia para com o nosso amado rei, vocês o enganaram.
            — Não, nós não enganamos. Esse, meu senhor, é um tecido mágico, apenas os sábios e os justos conseguem enxergar a sua força e imponência.
            — Apenas os sábios e justos!
            “Não, não serei eu tão estúpido de cair numa dessas. Não serei tão incompetente em meu trabalho. E minha fazenda? Será que eles fizeram a semeadura direito? Eu não devia ter me afastado dela.”
            — Quer dizer que o senhor não sabe.
            — Só sei de uma coisa: O rei não vai ficar feliz com o que vou dizer.
            Sergey puxou o nobre cavalariano pelo braço e disse:
            — “Nós o respeitamos, senhor ministro, sabemos que foi amigo de nosso pai, Oleg, o Grande, mas nós não aceitamos a ideia de que tenhamos sido retirados da família real, assim, nós apenas desejamos que se faça justiça”
            — O que os senhores me pedem não é justiça, é traição.
            — “Não é traição se a família real se manter. Caro ministro, nós sabemos o quanto o senhor deseja o prestígio aqui na nossa capital, sabemos que o Rei não deseja lhe dar um posto melhor. Nós sabemos agradecer aos que no ajudam”.
            — O que vocês propõem?
            —“Um cargo no ministério das Finanças e uma pensão vitalícia de quase trezentos florins por mês”.
            — E o que querem que eu faça?
            — “Por enquanto, apenas diga que o senhor viu a roupa, e no momento propício, receberá novas instruções”.
            — Certo.
            — “É bom fazer negócios com o senhor, ministro”.
            Era inconcebível que um rei, com a fama que Fiodor I, o Ventureiro, tenha se enganado por tanto tempo, e quanto mais o rei concebia idéia de trajar uma roupa invisível, mais perdia a credibilidade do povo, tendo em vista que eles estavam cientes de todos os pormenores através das intrigas palacianas.
            Os velhos, os jovens, todos troçavam da ideia de que um rei trajasse uma roupa invisível.
            “Com essa roupa invisível, se eu a usar até a cabeça poderei me aproveitar disso para ver as mulheres do reino despidas!”
            Quem disse que um rei precisa ser um nobre? Afinal possui pensamentos tão mundanos quanto qualquer ser humano normal que se evoca como um Deus!
            “O que achará o rei da Rutênia quando me vir com essa roupa invisível, certamente morrerá de inveja de mim”.
            Mais e mais os vigaristas pediam dinheiro, e o rei, inocentemente lhes mandava voluptuosas quantias.
            Pouco tempo depois, o rei mandou vir outro funcionário honesto à tecelaria, o laborioso senhor Krugle, vindo de Bremen e agora ministro das Finanças.
            Ocorreu o mesmo com o ministro das Finanças ao que ocorreu ao ministro da guerra:
            — “Senhor Krugle, sabemos o quanto o senhor trabalha. Sabemos o quanto é subvalorizado, perceba, nós, nós entendemos que nossos amigos devem ser bem recompensados, assim nós lhe daremos o posto de Alto Conselheiro Real, e daremos uma pensão vitalícia de quinze mil florins por ano para a sua mulher e seus filhos e dez mil para a sua amante”.
              — O que devo fazer?
            — “ Apenas faça o que ordenarmos que dará tudo certo”.
            Finalmente, depois de muito dinheiro gasto, o rei recebeu a tal roupa e marcou sua presença na festa pública para ter o gosto de mostrá-la ao povo.
                — Meu rei, foi um prazer costurar uma roupa tão magnífica a um rei tão magnífico. O senhor sabe o imenso trabalho que nós tivemos com relação a isso, assim, ficaríamos agradecidos de termos agora o resto de nossa gratificação.
                — De pleno acordo. Vizir!
                O vizir, um velhinho já de barba branca, olhar cansado e aparência abatida apresenta-se ao rei.
                — Mandou me chamar, vossa majestade?
                — Dê-lhes o prometido.
                O rei estava exultante e enquanto  observava com extrema felicidade aquela túnica invisível numa caixa de madeira, o vizir o puxou de lado.
                — O senhor acha isso realmente sensato?
                — Quem é você para questionar uma ordem direta do seu rei? Cuidado com sua cabeça!
                — Meu rei, eu nunca tive a intenção de insultá-lo, mas quando o rei Oleg me deu a responsabilidade de cuidar para que o senhor fosse um rei, eu realmente abracei tal causa com todas as minhas forças!
                — E isso eu reconheço e agradeço.
                “Tais roupas são de valor inestimável”, pensou consigo, “eu realmente estou fazendo um excelente negócio com tudo isso”.
                Uma arca de tesouros e jóias são entregues ao rei que num sinal de gratidão mostrou-lhes as riquezas e disse:
                — Esse dia será lembrado pela História.
                “Pode apostar”
                Todos na corte, tão submissos, traziam sorrisos forçados em seus semblantes e com num sinal de opulência o rei disse:
                — Amanhã, no aniversário da gloriosa batalha contra o Principado de Moscovia, eu,  Fiodor, o Magnífico, irei vestir esse traje enquanto liderarei as nossas tropas na Parada Militar...
                O rei mandou a um lacaio trazer um pequeno porta jóias.
                — ... E como num sinal de gratidão,  eu tenho a honra de nomeá-los cavaleiros da ordem dos Tecelões Fidalgos.
                Como alguém se engana tão fácil.
                À tarde, no dia seguinte, o rei vestira em seu camarote o traje.
                — Pronto, agora vista o seu casaco e sua capa. São tão leves que eu não os sinto. São tão leves que parece que o senhor nada veste, mas claro, essa é a melhor característica do tecido — Falou um dos alfaiates, à porta dos aposentos reais.
                — Sim, claro, isso é óbvio.
                Ninguém, entretanto via nada, pois talvez não houvesse nada para se ver.
                — Vossa Majestade, pode com gentileza retirar sua roupa?
                — Hã?
                — Para vestir-se, meu senhor.
                — Mas eu nunca fiquei nu na minha vida inteira.
                — Mentira! Que quando nasceu, o senhor ficou nu.
                — Como ousa?
                O rei, defronte ao espelho, retirou sua roupa, de modo que sua pele, cheia de estrias, completamente esticada pelas bagas de gordura em sua barriga, com um emaranhado de pelos (Deus, vou parar com essa descrição que isso não é saudável). Ali o rei, vestiu sua túnica invisível.
— Vamos, meu rei, a calça tem que entrar. — Esbravejou o estilista pessoal do rei.
                — Mas meu caro, não vai entrar.
                O rei era mesmo muito gorducho. Bota gorducho nisso.
                — Meu Deus! Como lhe caiu bem, meu rei — Disse com certo sarcasmo um dos alfaiates.
                O rei era uma coisa repulsiva de se ver. Tinha uma postura arrogante, mas sua barriga, um pouco volumosa, encobria o peso morto que tentava se expremer dentre o seu cruzar de pernas. Suas canelas finas contrastavam em muito com as estrias gigantesca que se observavam com os pomos pálidos e peludos na parte posterior de suas  coxas. Além disso, havia pequenas, mas incrivelmente numerosas porções corroídas pela acne naquela região que tenho medo em descrever.
                E quando o rei saiu da corte, um assombro surtiu em todos, que se sentiam totalmente constrangidos com aquilo.
                — O pálio que será levado sobre a Sua Majestade no cortejo está lá fora. O desfile o espera, meu rei — Disse o mestre de cerimônias.
                — Excelente, eu estou pronto.
                O rei deu um rodopio em frente ao espelho e aquele show de horrores só crescia em uma assíntota explicável apenas do ponto de vista fatorial.
                Os camareiros do palácio, fingiam carregar uma longa cauda do manto real; num reflexo, o ministro da Guerra acenou com a cabeça para os irmãos Alexandrov, enquanto o ministro das Finanças, preparava, sob os ouvidos da guarda, um plano.
                O rei caminhou cerimonialmente em direção do desfile, totalmente nu, para o espanto das freiras ali presentes (e para o dos padres também) e sobre o raiar do sol das duas horas, o rei acenou ao povo com um sinal reverencial.
                O povo, assombrado,  ficou taciturno. As crianças tiveram seus olhos fechados, as mulheres se desesperaram, os homens ficaram pasmos, os velhos, revoltados.
                — O quê? Ele está troçando da gente? Ele não mais respeita seu povo. Já basta o seu pai, Oleg, o Empalador, agora esse! Fiodor, o Maníaco! Fiodor, o Tarado! Fiodor, o Pervertido!
                Um tumulto surgiu no meio da multidão e um tom de vaia partiu dos lábios da multidão, o povo começou a uivar a total falta de pudor do rei. Que tremendamente arrasado gritou:
                — Bando de tolos! Estou a trajar um traje invisível, apenas os sábios conseguem vê-lo.
                O bêbado da aldeia, troçou e disse:
                — Tanto que os sábios podem ver que podem ver além da própria roupa, como também a falta de vergonha do rei.
                “— Implementar o plano sete A” — Ordenou o ministro das Finanças.
                A guarda partiu de dentro do Palácio, com suas espadas e piquetes a mão, e marchando a passo de ganso, aqueles homens, encontraram o rei, nu, e como num sinal de força, eles o pegaram pelo braço e o agarram em direção à uma carroagem branca, fechada.
                Tomou a palavra o ministro da Guerra, o velho Georgy:
                “ Caros cidadãos,
Fazem dias que o nosso querido rei, Fiodor, o Magnífico, tem demonstrado com certa frequência uma certa fragilidade mental para com os assuntos do governo.
 Nós, palacianos, em sinal de respeito ao rei e a vocês, tentamos encobrir isso para que o rei se recuperasse, mas isso se demonstrou completamente insustentável. Assim, nós, palacianos, decidimos internar o rei num convento afastado da Capital de modo que ele se cure.
 Nesse meio tempo, os Grão-Príncipes e Cavaleiros da Ordem os Tecelões Fidalgos Pavel e Sergey, filhos reconhecidos do nosso finado e amado rei Oleg, assumiram o governo em caráter provisório até que o rei se recupere totalmente.
Assinado, Georgy Bordov, ministro da Guerra de Sua Majestade”.

É isso, um coup de état, fora o que os dois planejaram por muito tempo: tomar o trono da casa imperial dos Sikorsky e eles conseguiram.
O rei, Fiodor, o Magnífico, passou o resto da vida enclausurado num convento beneditino nos arredores de Lvov, aprendendo canto eclesiástico; Hoje ele é lembrado como sendo um dos reis mais depravados e pervetidos da Dinastia Sikorsky, ele é tão citado nos livros de História, que é difícil não saber da história dele.
Já os irmãos Alexandrov, eles manifestaram como imperadores do diminuto país, mas disputas entre os dois resultaram num fratícidio encabeçado pelo Grão-Príncipe Pavel, que tomou o controle de todo o país.
Quanto ao ministro das Finanças, ele foi enforcado pela esposa quando ela descobriu que ele tinha uma segunda família e o cavalariano Bordov, demonstrou toda a sua inépcia na segunda guerra com a Polônia, que ele foi afastado do comando do Ministério.
Passou o resto de sua vida entre bois e pasto, até ser assassinado pelo júri como Inimigo do Povo, por ter entregado facilmente as tropas na guerra.
Dez anos depois, o pequeno reino corroeu-se numa guerra civil tão sangrenta que metade da população simplesmente desapareceu do mapa, e nessa ocasião o principado foi engolido pela imponência da gigante Polônia em ascensão.

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