10 de outubro de 1941
Leningrado, CCCP
Hoje ficamos sabendo que a ofensiva alemã a nossa querida cidade viu-se encurralada com a tenaz resistência de nosso glorioso exército, Volódia, meu filho.
Isso nos enche de esperanças, nos traz a remota esperança que o nosso exército irá esmagar de uma vez por todas os inimigos fascista da nossa querida Leningrado...
Hoje, os alemães bombardearam o Instituto Smolny com a sua força aérea assassina, mas os nossos gaviões da Aviação Vermelha reagiram de volta... Todos na cidade foram mobilizados, nós, trabalhadores, somos levados às fábricas para trabalhar por mais tempo, mas eu nem ligo, sei que é pelo bem de nossa pátria.
Volódia, o que me preocupa são os tanques alemães em torno de nossa cidade, eles nos cercaram, não podemos mais usar a ferrovia para Moscou, estamos ficando sós!
Os mais renomados artistas e cientistas saíram de avião da cidade para Moscou, só ficaram Shostakovich e o comissário Jdanov na cidade. Sabe, meu filho, eu vi o comissário hoje, ele parece ser uma pessoa legal, meio estressada, mas legal, pena que em seu hálito apercebe-se o cheiro de álcool... Certamente o cerco não lhe deve estar fazendo bem, mas todos nós confiamos fielmente no seu posto de governante de nossa cidade.
Como vão as coisas aí em Moscou? Já está preparando-se para lutar, meu filho? Ficamos sabendo pela rádio alemã que se iniciará em breve um ataque à Capital... Você não tem medo, meu filho? Afinal, você é um capitão do Exército Vermelho.
Tem razão, não há o que se temer, o Vojd nos liderará à vitória final, o general Zhukov é sapiente, e saberá como defender a capital.
Mas estamos muito preocupados aqui em Leningrado, o Inverno se aproxima, e tão logo cobrará o seu preço... Falta-nos comida, sabemos disso! Mas o comissário Jdanov prometeu que o racionamento de comida é unicamente temporário.
Temporário uma ova, afinal de contas sabemos que isso será difícil! Estamos sem luz já há algumas semanas, a central de abastecimentos da cidade fora bombardeada num ataque furtivo hoje de manhã pela Luftwaffe e estamos reduzidos a comer duas fatias de pão preto por dia. Pão velho!
O pior de tudo nem é isso, o pior de tudo é quem recebe mais comida são os soldados, depois os trabalhadores, e quem não trabalha nada recebe... Sabemos que a coisa vai ficar feia no Inverno, vai ter gente que morrerá de fome, mas sabemos que é por nossa pátria, e defenderemos cada pedaço de Leningrado com as nossas mãos.
Seu irmão Sacha se inscreveu no Exército, vai ficar na divisão anti-aérea, nos enche ele de orgulho por isso, eu mesmo, senão tivesse sido recusado, estaria agora acabando com as bestas fascistas no Front, onde já se viu! Eu não estou velho! Tenho só 76 anos! Ainda sei empunhar um rifle!
Mas claro, eles não lembram de nós assim, afinal de contas, se esquecem que lutei pela Revolução naquele glorioso 7 de novembro! E pensar que foi aqui! Em Leningrado!
Desculpe-me a letra tremida meu filho, pois foi que escrevi em meio à luz de velas, e receio que agora deva terminar minha carta, as velas estão acabando! Sobre sua mãe, ela está bem, meio angustiada, mas bem, sua irmã está um pouco nervosa, mas nada demais, e está trabalhando bem na Fábrica de Armas Putilov, seu pai, o qual escreve, sente muitas saudades de você, meu Volódia, escreva pra mim de vez em quando, mesmo trabalhando doze horas por dia na fábrica de tanques, eu terei o maior prazer em ler uma carta sua.
Agora me despeço, meu filho. Cuide-se e seja feliz.
Cordialmente seu pai, Vassili Efremenvich
Cartas de Leningrado (II)
Cartas de Leningrado (III)
Cartas de Leningrado (IV)
Cartas de Leningrado (II)
22 de outubro de 1941
Leningrado, CCCP
Como vão as coisas, Volódia, meu filho? Faz muito tempo que não escreve a nós, não é mesmo? Sabemos que as coisas não estão sendo fáceis no Front, mas de vez em quando lembre-se de nós, sentimos saudades!
As coisas aqui em Leningrado estão piorando... Os nazistas continuam a bombardear a cidade, mesmo não tendo mais nada para destruir... O frio está chegando, sentimos que esse Inverno será mais rigoroso do que nos outros anos.
Hoje ficamos sabendo que definitivamente a nossa linha de abastecimento pelo Lago Lagoda foi completamente fechada; Os alemães estão nos impondo um cerco medievo de extrema crueldade... Não há mais meios de trazer-se comida, afinal, sem a passagem pelo Lagoda, ficamos totalmente sós nessa luta.
E para piorar, os finlandeses entraram nessa guerra maldita! Malditos! Pagarão por isso!
As coisas na fábrica de tanques estão ficando mais pesadas, falta sazonalmente energia para produzirmos os nossos tanques... Não sabem eles que não há como soldar metal sem energia! Não, não culpemos eles, a culpa é dos alemães, eles vem atacando a nossa central de energia sem piedade.
Malditos, se querem nos matar, pelos menos se dignem a nos enfrentar na cidade, ao invés de fazerem isso!
Tivemos novamente outro racionamento de comida, agora, só temos uma fatia de pão para o dia inteiro... Pelo menos se tivesse um pouco de vodka! Mas nada, só temos isso para passar o dia.
Para piorar, roubaram o cartão de refeição de sua irmã, eu sei, eu sei, isso é terrível! Como puderam fazer isso? Em todo caso, estamos dando de comer a ela com o pouco que temos.
As coisas não estão fáceis, meu filho, tanto para nós, como para você! Como vão as coisas em Moscou? Estão difíceis?
Correm boatos de uma evasão aos Urais, isso procede?
Eu espero que não, eu espero que não abandonem nossa querida capital, já basta Leningrado, Moscou não... O que essas bestas fariam se encontrassem Moscou desprotegida? Moscou é o coração da Mãe-Pátria! Moscou é alma do nosso povo! Se perdemos Moscou perdemos tudo!
Sabemos que as coisas vão piorar daqui em diante, o frio já adoece as crianças, e faz tremer os velhos, não demorará muito para que as pessoas caíam duras no chão pelo frio ou pela fome.
Nas ruas, enquanto vemos cair a neve do céu, encontramos as pessoas mais magras, com semblantes mais cadavéricos, pálidos diante ao frio, envoltos em panos surrados, debatendo-se contra o tempo, enquanto arrastam trenós pela cidade.
Não demorará muito para as pessoas trocarem as suas coisas por comida, na verdade, isso já está acontecendo... A polícia tenta reprimir esse comportamento, a especulação deve ser punida, mas tudo fica mais difícil quando se tem a fome!
Saiba Volódia, mesmo que as coisas estejam ruins aqui em Leningrado, nos sempre vamos o amá-lo, mesmo estando distante de nós, pois sabemos que você irá lutar com tudo que puder para extirpar esses crápulas insensíveis.
Me despeço de você, meu Vladimir Vassilevich, meu querido filho, com um aperto no coração, pois talvez essa seja uma das últimas cartas que chegarão a você. Desejo-lhe saúde e muita felicidade. Cuide-se e seja feliz.
Cordialmente seu pai, Vassili Efremenvich
Cartas de Leningrado (III)
7 de novembro de 1941
Leningrado, CCCP
Como vai, Volódia, meu filho? É seu velho pai, Vassili Efremenvich, eu estou escrevendo para saber notícias de você, e falar sobre o que anda acontecendo aqui.
Ficamos sabendo pelas bocas dos oficiais que hoje se realizou a Parada Militar do Aniversário da Revolução em Moscou, fico feliz por essa mostra de coragem de nossos soldados, afinal de contas, o Vojd foi extremamente audacioso em realizar um desfile militar na Praça Vermelha com os alemães tão perto!
Diga-me, meu filho, os alemães estão te causando problemas?
Esses porcos não vão descansar até acabar com cada um de nós... São uns monstros! Pior, são os ceifeiros da morte!
As coisas em Leningrado estão piorando, o frio e a fome estão deixando as pessoas mais e mais doentes... Começam a correr boatos de que as pessoas estão começando a ficar dementes pela fome. Eu não duvidaria disso.
Próximo ao Hermitage se desenvolveu um mercado negro de comida, algo que foge aos olhos da lei; Mães, crianças, imploram aos vendedores por um pouco de comida, até se prostituem por um pouco de pão; Famílias inteiras começam a trocar seus pertences, jóias de família, bonecas das crianças, por um pedaço de arenque, um pescado qualquer.
Os que nada têm, como nós, têm que sobreviver com o pouco que nos resta... Agora eles baixaram a nossa cota diária para 125 gramas de pão, 125! Isso não dá para alimentar nem uma mosca!
Sua irmã está doente, não sabemos o que é ao certo, mas estamos tentando cuidar dela... Hoje fizemos uma sopa com as botas de seu irmão, e nunca pensei que couro fosse tão gostoso!
As pessoas estão morrendo, meu filho, morrendo de frio e de fome... Não sei como as suas cartas estão chegando, de certo de avião, as comunicações com o resto do país estão fechadas... Estamos presos, sozinhos, em meio aos muros de Leningrado, assolados pela fome e pelo frio.
Começam a cair as pessoas nas ruas, muitas pelo frio, muitas pela fome, algumas pelo cansaço. Mas quando caem, não têm mais força para se levantar e acabam caída ali, em meio ao frio e nunca mais se levantam. E ficam ali, no meio da rua, sem qualquer apoio, sem qualquer ajuda, pois os outros não tem forças para ajudar.
Uma multidão de corpos já se enfileira na Avenida Nevsky: Velhos, mulheres, crianças até! Cada uma, cada qual, perece diante ao frio e a fome, e nós, sem muitas forças, não conseguimos os enterrar decentemente, e ficam lá os corpos!
Eu mesmo estou me sentindo fadigado, talvez seja o trabalho, talvez a fome, mas não sei se terei forças para tanto... Eu receio que a sua mãe já tenha ficado louca, fica falando sozinha com amigos imaginários de dia, e durante a noite ela começa a azucrinar nossos ouvidos com conversas sem nexo.
Mas não fora só isso que eu queria dizer, meu filho, eu queria falar, que ontem de manhã, o seu irmão Sacha, morreu ontem no Front, morreu com louvor pelo menos! Os alemães invadiram a trincheira em que estava e jogaram jatos de fogo nos soldados... Uma morte terrível! Eu sei, mas o seu irmão pelo menos morreu levando um daqueles crápulas! O sargento disse que irá procurá uma Ordem de Nevsky para seu irmão, tomará, para que seu sacríficio não seja em vão.
Eu sei, meu filho, sei que é duro, mas eu vejo todo dia uma morte, uma atrás da outra que eu não sei, parece que estou me acostumando (Deus me livre!). Eu preferia pelo menos morrer no Front ao seu lado do que morrer como perdiz de fome! Eu sou um soldado, eu sou um revolucionário, mereço respeito!
Agora me despeço de você, Volódia, meu filho, com um aperto no coração, pois não sei quando mais poderei vê-lo, meu filho. Desejo-lhe saúde e muita felicidade. Cuide-se e seja feliz.
Cordialmente seu pai, Vassili Efremenvich
Cartas de Leningrado (IV)
5 de janeiro de 1942
Leningrado, CCCP
Como vai, Volódia, meu filho? Ficamos sabendo que o pior em Moscou já passou, os alemães estão há 250 quilômetros da capital; Isso é bom, eles aprenderam que o caminho deles em muito se aproxima ao de Napoleão, eles agoram veram sua derrocada tão rápido quanto Napoleão viu a sua... Eu ando lendo um pouco da Guerra Patriótica de 1812, agora percebo que Kutuzov era sim um líder habilidoso! Um dos poucos na época.
Queira me desculpar, meu filho, por não ter mais arranjado tempo para escrever-lhe cartas, mas as coisas aqui em Leningrado estão piorando... O Inverno bateu com toda a força nesses dias, a neve que antes fora nossa amiga, agora cobra o preço de sua amizade.
Os corpos estão agora expostos aos montes numa cobertura branca no meio da Avenida Nevsky, todos estão fracos, mas tão fracos que sequer podem enterrar seus entes queridos... As pessoas a tempos comiam as rações dos animais, a aveia dos cavalos, mas hoje, o que comem é tudo que encontram pela frente, desde madeira podre a ratos nas chaminés.
Hoje, quando estava caminhando pela Avenida Vladimirsky quando encontrei um colcheiro ao pé de seu cavalo, chorando, ele não queria matar o animal, mas sentia fome... Eu me ofereci para fazer isso, ele aceitou, peguei a machadinha na mão dele e fui para perto do animal.
O pobre animal estava ali caído, sem reação, agonizando de fome e frio, parecia chorar, aquilo me deu pena, ver um animal assim, desse modo... Tentei ser o mais rápido e conciso no golpe, mas ainda senti que tinha feito o bicho sofrer; O colcheiro, pelo trabalho, me deu um punhado da carne do animal.
Meu Deus! Nunca imaginei que carne de cavalo fosse tão gostosa! Um pouco dura, sim claro, mas quando a sua mãe preparou, eu tive que repetir. Nós não andamos tendo muitos luxos, meu filho, a sua irmã está adoecendo mais, não acho que ela sobreviva mais que uma semana.
Estou providenciando para que pelo menos ela seja enterrada dignamente... Não quero que ela fique exposta ao relento, na neve, como os outros; Correm boatos aqui em Leningrado que há casos de canibalismo, estamos muito preocupados com isso, ontem mesmo, ouvimos de nossos vizinhos que duas crianças foram encurraladas por cinco mulheres que além de matá-las, as destroçaram como gazelas.
Sua mãe e eu estamos preocupados com isso, dormimos agora com uma faca por debaixo do travesseiro, os relatos de violência estão aumentando, e a polícia não anda fazendo muito a sua parte.
Eu estou agora me alistando para levar os suprimentos para a capital pelo Lagoda, para ver se as coisas melhoram; a travessia não vai ser fácil, mesmo o (lago) Lagoda estando congelado agora, e os alemães dando uma trégua por causa do mal tempo, a travessia parece ser perigosa.
Alguns começam a chamar a travessia pelo Lagoda de Estrada da Vida, talvez esse seja mesmo o melhor nome que podemos usar, as coisas seriam piores se não tivessemos o Lagoda, a nossa aviação não pode mais enfrentar o intenso nevoeiro que se abateu na cidade, e sequer podemos romper o cerco sem ajuda externa, a saída é pelo Lagoda.
O problema dessa travessia é que as águas do Lagoda sempre foram traiçoeiras, meu filho, lembra-se de quando fomos patinar no gelo quando você era criança? Pois bem, o gelo pode se romper a qualquer momento, e aí estaremos em apuros. Não quero me envolver com a morte, mas a morte paira por aqui.
Vou tentar ver um meio de tirar a sua mãe e as suas irmãs daqui, esse não é um bom lugar para elas! Mesmo sendo já adultas, vou tentar dar um jeito de que saiam daqui. Sabe o nosso vizinho, o velho Klimenti Godunov? Bem, ele também me pediu que levasse a filha dele, recém nascida com a irmãzinha dela de quatro anos;
Eu sei que é terrível, meu filho, mas eu não tiro a razão dele, é melhor que elas vivam num orfanato do que morrerem aqui de fome e de frio em Leningrado, com o perigo de servirem de prato para um bando de barangas esfomeadas. Eu concordei, vou levá-las junto comigo, não importando o que aconteça.
Estamos próximos do Natal Ortodoxo e a única coisa que consigo pedir é uma salvação para essa situação... Eu não vejo como, mas queria que o nosso Exército voltasse forte e guerreiro em Leningrado como sempre fora. Sei que é impossível isso agora, mas não custa nada sonhar!
Agora me despeço de você, Volódia, meu filho, com um aperto no coração, pois não sei quando mais poderei vê-lo, meu filho. Desejo-lhe saúde e muita felicidade. Cuide-se e seja feliz.
Cordialmente seu pai, Vassili Efremenvich
Cartas de Leningrado (V)
Essa foi a última carta de Vassili Efremenvich Korsakov que se tem notícia; Vladimir Vassilevich, seu filho, foi ferido na Batalha de Kursk em 1943, mas sobreviveu, e depois da guerra, acabou se casando com uma das filhas de Godunov, a mais velha, que não foi narrada nas cartas, mas que tinha 15 anos na época.
Cartas de Leningrado (V)
14 de janeiro de 1942
Leningrado, CCCP
Tenho más notícias, Volódia, meu filho, a sua irmã, Anastacia Vassilievna, morreu ontem de manhã, enquanto cruzávamos o Lagoda... Morreu afogada quando o gelo se partiu, tentei de tudo salvá-la, mas não consegui.
Sua mãe está em choque, mas vai ficar bem, ela está indo junto com as filhas de Godunov para Kuibichev, se juntar com a irmã dela, que está lá.
Acho que estou ficando deprimido, as coisas em Leningrado chegaram ao ponto máximo de um show de horrores... Não bastasse os casos de canibalismo, agora na Avenida Nevsky, do lago do Hermitage, estão vendendo partes dos corpos dos parentes. A que ponto chegamos?
Quando voltava a Leningrado, hoje de tarde, encontrei a polícia interditando o cemitério para impedir que os túmulos fossem assaltados pela multidão de esfomeados... Até o túmulo de Aleksandr Nevsky teve que ser guardado por guardas armados!
As coisas estão feias, vejo a morte a cada esquina... Combinamos, eu e nossos vizinhos, de ficarmos agora em um só quarto, amontoados, para economizar a pouca lenha que temos e nos proteger da multidão de mortos-vivos que se abate em Leningrado.
A inanição começa a trazer alucinações, hoje mesmo eu sonhei que era um tártaro da criméia prestes a sair dançando num espetáculo de maluquices... Saí pela Prospekt (Avenida) dançando feito um doido a gopak enquanto Godunov tentava me levar de volta para casa.
Encontramos um guarda, mais doido do que eu, se achando governante de Novgorod, e nos ameaçou cortar as nossas cabeças se continuássemos a obstruir o seu caminho... Imagina um guarda bolachão, de meio metro de altura, ordenando nas pessoas famintas como um déspota enlouquecido.
O Inverno pode ter nos salvado em Moscou, mas em Leningrado, ele está nos matando... Nunca pensei nisso, mas agora eu prefiro morrer a comer mais uma vez carne de cavalo. Nada mais me sobra senão dizer que talvez eu não resista mais a esse frio.
Fique calmo, Volódia, eu já estou preparado, de tanto ver a morte em cada esquina, eu já estou preparado. A vida é uma ópera, linda e trágica, cada ato traz mais ações na narrativa, mas o fim, o fim é certo; O fim é a morte!
Lembra-se de quando fui violinista no (Teatro) Kirov há quatro anos atrás? Bons tempos aqueles, a gente só precisava se preocupar com o NKVD e nada mais, mas agora, além de temos que nos preocupar com os alemães, temos que nos precoupar com o frio, a fome, o desespero e as multidões de canibais.
A vida era mais simples naqueles tempos... Me despeço de você, Volódia, meu filho, com um aperto no coração, pois sei que não sobreviverei mais a esse cerco, meu filho. Hoje não só desejo-lhe saúde e muita felicidade, desejo que não se esqueça de quem sempre muito te amou, o seu pai, a sua mãe, os seus irmãos e os seus queridos vizinhos... Godunov manda lembranças, assim como todos aqui. Cuide-se e seja feliz!
Cordialmente seu pai, Vassili Efremenvich
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Essa foi a última carta de Vassili Efremenvich Korsakov que se tem notícia; Vladimir Vassilevich, seu filho, foi ferido na Batalha de Kursk em 1943, mas sobreviveu, e depois da guerra, acabou se casando com uma das filhas de Godunov, a mais velha, que não foi narrada nas cartas, mas que tinha 15 anos na época.
Godunov sobreviveu ao cerco e contou tudo o que aconteceu com Vassili Efremenvich, que acabou morrendo na travessia do Lagoda, de fome.
Vassili Efremenvich ganhou em 1981, em associação a outros heróis do Cerco a Leningrado, a medalha da Ordem de Nevsky e do Trabalho Socialista, pelos seus feitos durante o Cerco de Leningrado)
Слава героям Ленинграда! (Glória aos heróis de Leningrado!)
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