segunda-feira, 1 de julho de 2019

Haber e o uso da ciência para o "bem" e para o "mal"





A figura mais controversa pra mim na história da Ciência não é Oppenheimer (pai da bomba nuclear), nem Alfred Nobel (criador da dinamite) ou tampouco o nazista Werner von Braun (pai do V2 e do programa Apolo), pra mim a figura mais controversa é o Fritz Haber.


Fritz Haber ao mesmo tempo é um herói e um vilão, desde o século XVIII os europeus vivenciavam o dilema da escassez, as produções agrícolas estavam estacionadas enquanto houve um crescimento populacional exponencial, a América e a Rússia eram as fontes mais importantes para o abastecimento principal dos europeus, mesmo assim o continente europeu corria risco da fome em um curto espaço de tempo. Foi daí que surgiu o malthusianismo.

Nessa época era preciso usar o complemento do guano para inserir o nitrogênio nas lavouras e repor os nutrientes perdidos pelo uso extensivo das lavouras em modelo de monocultura no solo desgastado na Europa, o guano é produto de séculos de acúmulo dos dejetos das gaivotas sobre as montanhas áridas do deserto do Atacama, dessa forma a Guerra do Pacífico foi feita sobretudo por causa do guano. O Chile é ainda hoje o maior produtor de guano do mundo e naquela época era um produto caríssimo;

Fritz Haber, percebendo o problema de depender apenas de um produto cuja escassez era iminente, resolveu sintetizar o nitrogênio da atmosfera junto com o hidrogênio e dessa forma produziu amônia, o componente principal do ciclo do nitrogênio; Por conta do seu novo método, ele criou o fertilizante sintético. Haber salvou a humanidade da fome, ganhou um prêmio Nobel e virou herói.


Mas quando ele vira um vilão? Quando o mesmo Haber, a pessoa que salvou a humanidade, passa a usar a ciência para destruí-la, e foi o caso. Na Primeira Guerra Mundial, o Exército do Kaiser corria o risco de ser sufocado pelas frentes ocidental e oriental, isolado, o imperador montou uma comissão de cientistas para obter alternativas viáveis para o esforço de guerra. Haber apresentou uma: O gás.


Foi Haber que desenvolveu o gás clorídrico que foi usado nas trincheiras; Em protesto, Einstein desfez a sua amizade de longa data com Haber, a esposa de Haber se suicidou depois que soube que o marido tinha ganho uma promoção por ter desenvolvido o gás.

Haber nunca sentiu embaraço pelo que ele fez, nacionalista prussiano, Haber achava que ele tinha feito o que era certo, usar tudo ao seu dispor para garantir a vitória da Alemanha (que não aconteceu).
Eis que passa a guerra e Haber continua trabalhando com química inorgânica, tendo ideias muito boas, contudo infelizmente surge o nazismo. O problema que Haber era judeu e por conta disso foi expulso da Academia de Ciências prussiana; Haber dizia que ele era mais alemão do que os próprios alemães, mesmo assim isso não resolveu nada.


Haber é culpado pelo que viria acontecer depois. Ele continuava trabalhando com o estudo de gás para controle de pragas e a sua equipe estava desenvolvendo o Zykkon A e B quando Haber foi expulso da academia, o Zykkon B foi depois sintetizado e distribuído pela Bayer; Inicialmente usado para exterminar ratos ele acabaria sendo usado para outros propósitos, extermínio humano. O Zykkon B foi usado nas câmaras de gás.


O invento de Haber serviu para o Holocausto. A ironia foi que um judeu desenvolveu a arma que seria usada para matar 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial; Haber morreu muito antes disso acontecer, em 1934 desfrutando dos pacatos Alpes Suíços, Haber morreu rico  na Basileia, sendo conhecido pelo seu trabalho e pela controvérsia que até hoje cerca seu nome.

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