A figura mais controversa pra mim na história da
Ciência não é Oppenheimer (pai da bomba nuclear), nem Alfred Nobel (criador da
dinamite) ou tampouco o nazista Werner von Braun (pai do V2 e do programa
Apolo), pra mim a figura mais controversa é o Fritz Haber.
Fritz Haber ao mesmo tempo é um herói e um vilão,
desde o século XVIII os europeus vivenciavam o dilema da escassez, as produções
agrícolas estavam estacionadas enquanto houve um crescimento populacional
exponencial, a América e a Rússia eram as fontes mais importantes para o
abastecimento principal dos europeus, mesmo assim o continente europeu corria
risco da fome em um curto espaço de tempo. Foi daí que surgiu o malthusianismo.
Nessa época era preciso usar o complemento do guano
para inserir o nitrogênio nas lavouras e repor os nutrientes perdidos pelo uso
extensivo das lavouras em modelo de monocultura no solo desgastado na Europa, o
guano é produto de séculos de acúmulo dos dejetos das gaivotas sobre as
montanhas áridas do deserto do Atacama, dessa forma a Guerra do Pacífico foi
feita sobretudo por causa do guano. O Chile é ainda hoje o maior produtor de
guano do mundo e naquela época era um produto caríssimo;
Fritz Haber, percebendo o problema de depender
apenas de um produto cuja escassez era iminente, resolveu sintetizar o
nitrogênio da atmosfera junto com o hidrogênio e dessa forma produziu amônia, o
componente principal do ciclo do nitrogênio; Por conta do seu novo método, ele
criou o fertilizante sintético. Haber salvou a humanidade da fome, ganhou um
prêmio Nobel e virou herói.
Mas quando ele vira um vilão? Quando o mesmo Haber,
a pessoa que salvou a humanidade, passa a usar a ciência para destruí-la, e foi
o caso. Na Primeira Guerra Mundial, o Exército do Kaiser corria o risco de ser
sufocado pelas frentes ocidental e oriental, isolado, o imperador montou uma
comissão de cientistas para obter alternativas viáveis para o esforço de
guerra. Haber apresentou uma: O gás.
Foi Haber que desenvolveu o gás clorídrico que foi
usado nas trincheiras; Em protesto, Einstein desfez a sua amizade de longa data
com Haber, a esposa de Haber se suicidou depois que soube que o marido tinha
ganho uma promoção por ter desenvolvido o gás.
Haber nunca sentiu embaraço pelo que ele fez,
nacionalista prussiano, Haber achava que ele tinha feito o que era certo, usar
tudo ao seu dispor para garantir a vitória da Alemanha (que não aconteceu).
Eis que passa a guerra e Haber continua trabalhando
com química inorgânica, tendo ideias muito boas, contudo infelizmente surge o nazismo.
O problema que Haber era judeu e por conta disso foi expulso da Academia de
Ciências prussiana; Haber dizia que ele era mais alemão do que os próprios
alemães, mesmo assim isso não resolveu nada.
Haber é culpado pelo que viria acontecer depois.
Ele continuava trabalhando com o estudo de gás para controle de pragas e a sua equipe estava desenvolvendo o Zykkon
A e B quando Haber foi expulso da academia, o Zykkon B foi depois sintetizado e
distribuído pela Bayer; Inicialmente usado para exterminar ratos ele acabaria
sendo usado para outros propósitos, extermínio humano. O Zykkon B foi usado nas
câmaras de gás.
O invento de Haber serviu para o Holocausto. A
ironia foi que um judeu desenvolveu a arma que seria usada para matar 6 milhões
de judeus durante a Segunda Guerra Mundial; Haber morreu muito antes disso
acontecer, em 1934 desfrutando dos pacatos Alpes Suíços, Haber morreu rico na Basileia, sendo conhecido pelo seu
trabalho e pela controvérsia que até hoje cerca seu nome.
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