Primeiro Dia: Jovem Apaixonado
Estava tarde, tarde da noite, as ruas mal iluminadas daquela cidadela escondiam as sombras dos poucos passantes por ali. Era uma cidade pequena, daquelas de província que pararam no tempo, com suas ruas de paralelepípedos que nos finais de semana realizavam-se rigorosamente e pontualmente procissões à única catedral ortodoxa da cidade...
Bêbado e cambaleante, um jovem caminha em meio ao frio, envolto em seu casaco surrado, encolhendo seus cabelos desagrelhados na gola de seu sobretudo... Era um escritor, com certeza, tinha cara de escritor, falava como escritor, bebia como um escritor, e enquanto caminhava, o jovem tentava esquecer os tremores em seus ossos pelo vento gorjeante do Norte.
Fora uma noite longa na taverna, quem diria, ele ganhara finalmente uma partida de truco com o chefe de polícia e o prefeito, é claro que roubando, mas ganhou, ganhou uma grana esperta, meio marota, como os malandros conseguem nas estações de trem roubando velhinhas mundo afora.
Mas só lhe restava agora alguns copeques, perdera tudo nos goles absurdos de vodka... Em meio ao degustar daquela rígida bebida, de toque de frescor que lhe queimava a garganta enquanto gritava ao coro para tocar uma canção, Riamov, o poeta, lembrava-se de sua amada.
Sim, Diana, um nome tão belo e forte quanto a moça que o possuía; Era filha de um mercador grego, um dos poucos que se encontra por ali, um mercador tão salafrario, mas tão salafrario que enganava os pobres e roubava dos ricos.
E pensar que ele queria se casar com ela, o poeta Riamov queria enfim se casar! Vejam só!
Pois recebera um ruídoso "Não" do pai da moça, outubro passado, enquanto esperava conseguir algum dinheiro da pensão de seu rico pai, o aristocrata Dimitri Riamov, um senhor de terras em Riga; Riamov há tempos contava com a bondade de seu pai, ao qual sequer tinha o trabalho de vê-lo a três anos (quando foi expulso de casa). Ele já não mais escrevia, mesmo tendo recebido um convite para ir a Petersburgo ser redator de uma gazeta burguesa, Riamov recusou-se a prestar tanto tal. Ele era artista, não jornalista.
Sob a neve branca que agora caia na cidadezinha, Riamov erguera de relance o seu olhar para um casarão no fim de uma ladeira, e pegou uma pequena pedra no chão, que encontrar solta no meio do caminho e a jogou em direção a varanda:
— Diana! Diana! — Gritou ruidosamente para todo mundo ouvir;
Na sacada do casarão, uma luz ilumina de relance o aposento, e uma moça jovem, uma das belas que já vi, imagino eu, apareceu na varanda; Ela usava uma camisola de cetim branco e deixara soltos os seus rubros cabelos... Era uma beleza grega, uma das ardentes que talvez possa imaginar, tinha olhos azuis, nariz aquilino e um rosto feliz e sorridente. Tal era Diana.
— Diana! Diana!
— O que faz aqui, Aleksandr Dimitrich? Meu pai pode nos ouvir.
— Eu te amo Diana, eu sempre te amei e sempre te amarei, não consigo viver sem você minha querida, venha comigo, casa-se comigo.
— Eu não posso, eu amo a meu pai, eu não posso abandoná-lo desse jeito.
— Diana, Diana!
— Eu também te amo, eu te amo com todo o sangue que percorre as minhas veias, eu te amo, Sacha, eu te amo meu querido; Mas agora vá, siga, antes que o meu pai nos veja; Vá, meu querido.
— Certo, Diana, estou indo, minha querida. Mas saiba que eu amo de todo o meu coração, eu a amo.
— Vá, vá, antes que meu pai nos veja.
— Até mais, Diana.
E Riamov escondeu-se em meio às sombras da noite, feliz e sorridente enquanto olhava a neve cair do seu e bater no seu rosto; Ela o amava, finalmente ela o amava. Feliz e contente, Riamov escutava de longe o pequeno teatro da cidade tocar uma canção em estridente violino... Uma canção de amor.
Dia 1: Tchaikovsky: Romeu e Julieta: Abertura "Fantasia"
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