terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Ana Akhmátova


Música

Algo de miraculoso arde nela,
fronteiras ela molda aos nossos olhos.
É a única que continua a me falar
depois que todo o resto tem medo de estar perto.

Depois que o último amigo tiver desviado o seu olhar
ela ainda estará comigo no meu túmulo,
como se fosse o canto do primeiro trovão,
ou como se todas as flores explodissem em versos.


(1958)

File:Petrov-vodkin-akhmatova.jpg
Ela era realmente bonita












            Ana Akhmátova, pseudônimo da russa Ana Andreievna Gorenki, nasceu nos arredores de Odessa em 1889 e morreu em Leningrado, em 1966, foi uma das maiores poetisas russas no período soviético.


         Sempre muito melancólica e tristonha, seus versos passavam uma certa depressão, talvez decorrente das inúmeras perseguições que autora passara em vida, por causa do regime stalinista. Akhmatova viu muitos de seu companheiros, poetas, serem consumidos pela repressão, tal como Maiakovsky que se suicidou em virtude de perseguições impostas a ele pelo Realismo Socialista, Boris Pasternak que foi preso por fazer poemas satíricos e Ossip Mandelstam que fez um poema satírico sobre o líder soviético, Iossif Stálin, e acabou morrendo na prisão.

       Começou a escrever poesia aos onze anos de idade, mas o pai, um engenheiro naval, temia que Anna viesse a desonrar o nome da família, convencido de estar a adivinhar hábitos decadentes associados à vida artística. Assim, assinou os seus primeiros trabalhos com o primeiro nome da sua bisavó, Tatar.

      Apesar do seu pai ter abandonado a família, quando Anna contava apenas dezasseis anos, ela conseguiu prosseguir os seus estudos. Portanto, não só estudou no liceu feminino de Tsarskoe Selo e no célebre Instituto Smolnyi (que era uma escola para moças bancada pela czarina) em São Petersburgo, como também no Liceu Fundukleevskaia de Kiev e numa faculdade de Direito, em 1907.

       A obra de Akhmatova compõem-se tanto de pequenos poemas líricos como de grandes poemas, como o Requiem, um grande poema acerca do terror estalinista. Os temas recorrentes são o passar do tempo, as recordações, o destino da mulher criadora e as dificuldades em viver em escrever à sombra do estalinismo.

      Ela casa-se com o poeta Nikolai Goumilev em 1910, e o filho deles, nascido em 1912,  Lev Goumilev, acabou se tornando historiador .

     Em  1921 o seu marido é executado por causa de actividades consideradas anti-soviéticas e Akhmatova foi forçada ao silêncio, não podendo ter sua poesia  publicada de 1925 a 1952 (excetuando o breve período de 1940 a 1946).

      Excluída da vida pública, vivendo de uma irrisória pensão e forçada a ir fazendo traduções de obras de escritores como Victor Hugo e Rabindranath Tagore, Akhmatova começou, após a morte de Estaline, em 1953, a ser reabilitada.

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