segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Desabafo de um escritor (texto do blogueiro)

          Um dia serei feliz, viverei ao lado de um extenso carvalho, numa datcha no alto de uma colina, lá criarei meus filhos, duas crianças pequenas e ativas; Lá viverei com a minha mulher e meus filhos.
          Uma linda mulher, de olhos glaucos, cabelo negro esvoaçante e de delicada pele. Com ela terei meus filhos, querida e doce, poda ela a extensa relva de flores pensando no amor ao qual ela espera passar a vir em seu semblante.
            Ali terei um cachorro, um beagle travesso, que corre atrás do meu baio russo, ao qual ensinarei montaria ao meu filho, Nikolai, enquanto observo minha esposa a brincar com minha doce filha, Sarina.
            Caminha ela atrás da pequena criança que tenta balbuciar extensas risadas enquanto observa a cavalgadura desengonçada de seu irmão no cavalo castanho sobre a estreita linha de pisos ladrilhados.
            De túnica cor de creme, chapéu marrom e jeans riscado, observo cair a pétula da rosa que desaba do cabelo cacheado daquela que contém a paixão em seu afeto e ternura...
           Deus, que bela vida será essa! À tarde caminharei com meu filho ao córrego, onde lá ensinarei como pescar e como devolver os peixes na água; mostrarei a ele o que é uma garça vermelha, um mico-leão e um lobo-guará, que tanto ladrilha, e que tanto caminha em sólido espírito de intensa opulência.
         Ao tornar à casa, escuto de longe o tocar do piano, que minha doce esposa leciona nossa querida filha, tão como ensinou ao que agora volta exausto ao meu lado. Quem diria, essa bela donzela ainda seria uma das mais lindas pianistas que eu já tive notícia.
        À noite, ensinarei latim, grego, russo, mostrar-lhe-eis Geografia, História, Filosofia, serei mais que um simples educador, serei um pai...
        Quando soprar os intensos ventos vindos do Leste, sequer me nervoso ficarei, quando aquelas duas crianças, apavoradas com os intensos relâmpagos, que o supro Odin, lançar sobre aquela terra sobre a qual arei.
         Contar-lhes-ei histórias de gigantes reis, que governaram as estensas pradarias tão longíquas que apenas na memória permaneciam... Contar-lhes-ei sobre os bravos feitos do notável Aleksander Nevky, as insanidades com que Ivan, o Terrível coordenava a sua Oprichinikha, as batalhas de Pedro, o Grande...
        Contar-lhes-ei os feitos de Vladimir Iliych, as histórias que rondam sobre os Romanov e Rasputin, o misterioso monge que da Sibéria veio, contar-lhes-ei como tão longíquas e tão de árvores ornadas são as densas florestas da Rússia Oriental...
        Quando dormirem, sequer me precipitarei a torná-los do leito do qual levantaram em numeroso pavor, afinal de contas, não mais querei eu dormir, movendo-me para a confortável da sala de onde o fogo da lareira conforta o ar gélido da madrugada.
         À cozinha vou-me, com intenso cuidado de não acordar aqueles que descansam no mais profundo sono de Orfeu, e ali elaboro o mais doce e delicioso chocolate quente de que se tem notícia, que surge às narinas com um angelical sabor, do qual de tão penetrante exalar levanta ela, a doce donzela.
— Querido, já é tarde. O que faz aí em pé?
— Estou sem sono.
— Mas amanhã será um dia importante, lembre-se que é o lançamento de seu livro.

Verdade! O lançamento era amanhã, a mais extensa coluna de escritores e intelectuais estaria ali, em torno do meu pequeno séquito de amigos, dos quais não me desgrudo, que de tão extenso valor me trazem às longínquas recordações do passado.

                — Vou para a cama daqui a pouco.
                — Querido...
                Agarrou-me ela pela cintura e com um intenso afago acariciou o lóbulo da minha orelha esquerda com a boca...
                — Querida, aqui não, as crianças podem acordar...
                — Não vão não...

                Ali de intenso amor nos consumimos, boa vida era aquela, da qual delicada lembrança trazia a mim... Como eu consegui tudo aquilo?

                Tinha uma das mais sólidas carreiras de artista, premiado com louros dourados que a César tão bem decoraram; tinha uma linda e amável esposa, da qual estava tão bem apaixonado, e tinha dois dos melhores filhos que um homem podia desejar...

                O badalar escandaloso do despertador trouxe-me à realidade... 6: 22.

                Era um sonho! Apenas um sonho! Maldição! Doce vida, professor serei, e nada terei... Quanta tristeza! Não desejo dinheiro joias, ou grandes fortunas apenas isso e nada mais, mas nada disso me trazes, maldição!



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