O declínio de um Ditador

Após quase quarenta anos no poder de uma das nações maiores do continente africano, uma terra que remonta os tempos longíquos dos cartagineses de Hannibal (não o Lecter, o Hannibal, rei.) chega ao fim a jornada de um dos homens  mais polêmicos da segunda metade do século XX.

"Não me matem, meus filhos.", implorou o infeliz totalmente ferido, usando suas últimas forças para clamar aos céus e ao seu povo por clemência; Clemência, isso chega a ser absurdo vindo de uma pessoa que sempre tivera sua história banhada por sangue, esse homem que um dia foi magnânimo, que nunca hesitou em mandar matar opositores por simples revanchismo, que nunca sequer concedeu clemência ao povo que tanto reprimiu, mas agora ele pedia clemência...

Esse era o fim da jornada de Muammar Kaddafi. O velhote de rosto engraçado, olhar autoritário, ares de arrogância e que sempre ostentava em seu uniforme um número ímpar de medalhas sem qualquer valor militar.

Dentro de uma hora, já morto, tendo seu corpo vingado por décadas de ódio dentre as sangrentas dunas da Líbia. Tropas puxavam os cabelos do excêntrico ditador e desfilaram seu corpo ensanguentado no capô de uma caminhonete.

Era o fim de um ditador; Um ditador que por muitas vezes apoiou o deflagramento de atentados terroristas, como o assassinato da delegação israelense nas Olimpíadas de Munique, na década de 1970; ou o atentado a uma discoteca também na Alemanha que vitimou alguns americanos, que virou motivo para uma partida de War na Líbia.

A questão é que mesmo tendo havido esses desentendimentos, os “ocidentais”, os americanos,  imbuíam os seus discursos de teor democrático, mas em verdade pouco haviam feito para a instalação de um regime democrático na Líbia. 

Por quê? Por que os americanos não quiseram impor uma democracia à Libia, a terra do petróleo? A resposta está na pergunta, os americanos e europeus temiam que isso resultasse numa crise diplomática que acabasse envolvendo os outros países membros da Opep, resultando assim numa nova Crise do Petróleo, e é claro, eles tinham alguns investimentos na Líbia.

Então por que eles ajudaram os rebeldes? Simples, eles queriam ficar do lado do mais forte, que nesse caso eram os rebeldes, tendo em vista que o ditador já estava com uma idade já um pouco avançada, o seu poder foi se esvaindo com o tempo e ele já não mais tinha apoio popular.

 A Primavera Árabe foi um presente para os americanos e europeus, ela permitiu que governos non gratos a Washington se esfacelassem em movimentos democráticos, mas quem disse que quando essa Primavera começa a vir para o Ocidente, os liberais acharão bom? Eles reprimiram a ocupação de Wall Street, reprimem os protestos na Grécia, França, Itália, Chile e outros...

A posição liberal está com uma fragilidade crescente, ao mesmo tempo que se imbuí do discurso democrático, na prática encontramos uma repressão da livre expressão, mas mesmo assim, eles se declararam satisfeitos pela morte de um ditador, que inevitavelmente, mesmo sendo um assassino, ainda era um homem. Uma das poucas vezes que citarei Berlusconi (eu odeio o Berlusconi, mas essa citação é boa):

 “Hoje o mundo comemora a morte de um homem”

É isso o que está acontecendo, hoje o mundo é tão bárbaro que se comemora a morte de um homem; Eu não gosto do Kaddafi, eu acredito que ele devia ter sido mesmo deposto, mas eu também acredito que ele devia ter sido levado ao Tribunal de Haia para ser julgado por Crimes contra a Humanidade.

As tropas revolucionárias cercaram Kaddafi.

"Primeiro, atiramos neles com morteiros, mas sem sucesso. Então fomos a pé. Um dos homens de Kaddafi saiu agitando seu rifle para o ar... assim que viu meu rosto, começou a atirar em mim. Acho que Kaddafi deve ter dito a eles para que parassem. 'Meu mestre está aqui, meu mestre está aqui', disse, 'Muamar Kaddafi está aqui e está ferido'", completou o combatente Salem Bakeer à Reuters.

Kadafi, então, foi retirado à força do esconderijo sem apresentar resistência e obrigado a entregar sua arma de ouro (uma arma de ouro é a pura mostra de como esse governante ignorava seu povo, enquanto muitos passavam fome, ele ostentava essas porcarias), segundo autoridades interinas. 

Com sérios ferimentos, perguntou aos combatentes que estavam do lado de fora: "O que vocês querem? Não me matem, meus filhos." De acordo com relatos, a captura ocorreu por volta das 12h do horário local (8h, horário de Brasília).

                Segundo Jibril, primeiro-ministro do governo interino da Líbia, um "relatório forense" apontou que Kaddafi foi morto por um ferimento de bala na cabeça durante tiroteio entre os dois lados do conflito - em um argumento que parece ter a intenção de indicar que ele não foi executado, mas eu realmente não acredito nisso.

Segundo Jibril, Kaddafi estava em boa saúde quando foi encontrado e, ao ser retirado da tubulação, levou um tiro no braço direito e os combatentes arrastaram Kaddafi ferido até uma caminhonete.

Enquanto o veículo se movia, uma bala do tiroteiro entre os combatentes do Conselho Nacional de Transição e partidários do líder teria atingido Kaddafi na cabeça. De acordo com o premiê, Kaddafi morreu poucos minutos antes de chegar ao hospital.

Apesar da versão oficial, especialistas estrangeiros que viram fotos do corpo de Kaddafi dizem que os ferimentos parecem ter sido causados por disparos de arma a curta distância, e não por fogo de alta velocidade disparado por rifles de assalto à distância, e isso reforça a minha tese de que no meio do combate, imbuídos da fúria resultante do confronto, eles mataram a sangue frio o ditador.

O corpo do líder deposto foi levado para a cidade vizinha de Misrata, que as forças de Kadafi cercaram durante meses. Mohammed, um residente do local, alegou que esteve na mesquita para onde o corpo de Kadafi foi levado. À BBC, disse: "É definitivamente ele, é seu cabelo, seu rosto, saberia disso em qualquer lugar - todos os líbios saberiam."

                Eu não tenho nenhuma dúvida de quem morreu era Kaddafi, a foto de divulgação do corpo parece ser verídica e parece mesmo ser ele, ele morreu. Eu posso dizer agora com certeza que Kaddafi morreu, o mesmo já não posso dizer de Bin Laden;


                Poderão pensar que sinto pena por esse assassino, mas quem disse que tenho pena de ditadores? Eu odeio ditaduras, se é uma coisa que os brasileiros aprenderam depois de 25 anos do período da Ditadura Militar (O Golpe Militar de 1964, embora digam o contrário, teve sim o apoio da CIA), foi a odiar ditaduras e regimes militares;


                A questão é, com agora Kaddafi morto, haverá mesmo uma democracia na Líbia? Ou será que vai ser uma cópia da  “democracia do american way of life” que na verdade esconde os interesses dos mais ricos, e reprimem, como reprime a ocupação de Wall Street, os interesses do povo? Isso só o tempo dirá.