sábado, 8 de outubro de 2011

O Dia do Perdão

       Hoje se comemora o Yom Kippur, que sem dúvida nenhuma é o dia mais importante do judaísmo (O Rosh Hashaná e o Hanuká não chegam nem perto disso!).

       O Yom Kippur remonta os tempos antigos, em que os filhos de Israel se evadiram em um torturosa jornada de quarenta anos deserto adentro em busca da Terra Prometida.

         O povo hebreu começou a demonstrar um certo desapego com o senhor, alguns acabaram inventando ícones de adoração (o bezerro de ouro), começaram a reclamar, reclamar, e em quanto tudo isso acontecia, Deus punia e punia cada vez mais os judeus até que completou-se quarenta anos de uma extensa jornada pelo Sinai.

           E foi nesse intenso reclamar dos hebreus que esse dia simbólico apareceu, em sinal de extremo temor, o povo judeu prostou-se diante da opulência do Senhor, que ditava a seu grão profeta, Moshe (Moises) as regras consequentes os Dez Mandamentos ( O Decalogo).

          É o Dia da Purificação, é o dia em que pedimos perdão pelas faltas cometidas, reconhecemos e reafirmamos a onipotência de Adonai (Senhor); Passamos um largo período, do escurecer do crepúsculo ao anoitecer do outro dia, em extrema reflexão pessoal e religiosa, o Yom Kippur é um retiro pessoal de cada indivíduo.

          Por regra, deve -se jejuar durante esse período (jejum esse que estou seguindo a risca), desapegar-se das coisas mundanas, dos cosméticos, da beleza em si fabricada, pois é um retiro filosófico;

          No Yom Kippur é proibido:

1) Comer e beber.
2) Usar cremes, cosméticos em geral.
3) Banhar-se por prazer.
4) Trabalhar (e mais ainda esse ano, que o Yom Kippur bateu no Shabat).
5) Ler.
6) Estudar.
7) Escrever (Isso eu estou descumprindo agora).
8) Fazer sexo (é só uma vez ao ano!)
10) Usar eletricidade (outra coisa que estou descumprindo)

            Eu sinceramente ando um pouco desacreditado (Isso não é sinal para tentarem me converter, eu odeio quando tentam fazer isso) com o judaísmo e vou explicar o porquê:

            No dia em que nos estamos aqui a pedir perdão ao grande Criador, Senhor de Todo  Mundo, veja só o que acontece:

"Israel fecha acessos à Cisjordânia por conta do Yom Kippur

DA FRANCE PRESSE, EM JERUSALÉM
O Exército israelense fechou os pontos de passagem entre seu território e a Cisjordânia nesta sexta-feira (7) e sábado (8), por ocasião do Yom Kippur, a festa mais importante do judaísmo.
Todos os pontos de passagem entre Cisjordânia e Israel foram fechados no primeiro minuto desta sexta, em razão da festa que começa na noite do mesmo dia e prossegue até o anoitecer de sábado, destaca um comunicado militar israelense.
A medida poderá ser relaxada em casos excepcionais de atendimento médico, indica a nota.
Israel fecha sistematicamente os pontos de passagem com a Cisjordânia durante as principais festas por temer atentados."
               Isso mesmo, enquanto nós estamos pedindo perdão pelas faltas cometidas no ano que se passou e nos reunimos reclusos aos nossos cantos de oração, nós mesmos estamos fazendo faltas para com nossos semelhantes; Restringir o ir e vir dos palestinos em função do nosso grão feriado é uma mostra de certo autoritarismo por parte de Israel.

               Chega até a ser ambíguo, enquanto pede-se perdão, falta-se para com o Senhor.

             Poderão argumentar que o motivo para tanto tal seria que os palestinos poderiam desenvolver um golpe para o povo de Israel bem nesse dia especial. Bem verdade, alguns membros extremistas poderiam fazer isso numa repetição da Guerra do Yom Kippur (Na qual os países vizinhos a Israel atacaram traiçoeiramente os judeus no dia mais importante do judaísmo, isso seria o equivalente ao entrar em guerra no Natal ou no Ramadã), mas isso não quer dizer que todos os palestinos sejam terroristas, afinal, eles não são!

             Na Palestina, existem também pessoas honradas, dignas e que primam pela paz, assim como em Israel existem extremistas, assassinos, que unicamente almejam a destruição dos nossos vizinhos árabes.

             Mas nos concentremos em outro assunto...

            O dia de Yom Kippur é tempo de reflexão e é o tempo de se lembrar de todos os acontecimentos passados pelo povo judeu no Passado, como na história a seguir, contada pelos anciãos nas sinagogas pelo globo a fora:

"O Décimo 
           Por Yerachmiel Tilles


       Torrentes de chuva lhe caíam pela face, mas a tempestade não impediu o mestre chassídico Rabi Leib Sarah de chegar ao vilarejo. Ainda faltavam muitas horas para o início de Yom Kipur. Ele estava a alguma distância do local aonde pretendia ir, mas ficou aliviado ao saber que nesta aldeia também haveria um minyan (quorum de dez homens) com os quais rezar – oito aldeões locais e dois homens que moravam na floresta e viriam.

     Rabi Leib imergiu nas águas purificadoras de um rio que passava pela aldeia em preparação ao dia sagrado, fez a refeição que antecede o jejum, e apressou-se para ser o primeiro na pequena sinagoga de madeira. Ali ele acomodou-se para recitar as numerosas devoções pessoais com as quais estava acostumado a iniciar o Dia da Expiação.

        Um a um, os aldeões chegaram a tempo para ouvir as palavras de Kol Nidrê. Contando com Rabi Leib, havia nove pessoas agora. Porém não havia um minyan, pois correra o boato de que os dois judeus da floresta tinha sido presos por conta de algum libelo maldoso.

        “Talvez possamos encontrar apenas mais um judeu que more nas proximidades?” perguntou Rabi Leib.

         “Não” – garantiram os aldeões. “Somos apenas nós.”

        “Talvez”, insistiu ele, “talvez haja aqui algum judeu que se converteu fora da fé dos seus antepassados?”

           Os moradores ficaram chocados ao ouvir uma pergunta tão estranha por parte do visitante. Entreolharam-se confusos.

          “As portas do arrependimento não estão fechadas nem mesmo para um apóstata,” continuou Rabi Leib. Aprendi com meus mestres que se procurarmos em meio às cinzas poderemos acender uma faísca de fogo…”

           Um dos aldeões resolveu falar:

          “Há um apóstata aqui,” disse ele. “É nosso poretz, o proprietário de toda a aldeia. Ele tem vivido mergulhado no pecado por quarenta anos agora. Veja, a filha não-judia do proprietário anterior apaixonou-se por ele. O pai da moça prometeu a ele que quando se convertesse e casasse com a moça, seria nomeado o único herdeiro. Ele não resistiu à tentação, e fez exatamente isso… Eles não tiveram filhos, e sua esposa faleceu há muitos anos; ele agora vive sozinho em sua enorme mansão. É um patrão cruel, e trata especialmente mal os judeus que trabalham na propriedade.”“Mostrem-me a mansão,” disse Rabi Leib.

           Retirou rapidamente seu talit, e correu o mais depressa que pôde na direção da propriedade, com sua kipá branca sobre a cabeça e kitel branco esvoaçando ao vento. Bateu à pesada porta, abriu-a sem esperar resposta e encontrou-se frente a frente com o proprietário das terras. Durante um longo, longo momento, eles se encararam em silêncio, o tsadic e o apóstata. O último chegou a pensar em chamar um dos criados para agarrar o intruso e levá-lo à masmorra no quintal. Porém o semblante luminoso e os olhos penetrantes do tsadic amoleceram seu coração.

         “Meu nome é Leib Sarah”, começou o visitante. “Tive o privilégio de conhecer Rabi Israel, o Báal Shem Tov, que era admirado também pelos nobres gentios. Dele ouvi certa vez que todo judeu deveria recitar o tipo de prece que foi primeiro dita pelo Rei David: ‘Salva-me, ó Senhor, da culpa de sangue.’ Porém a palavra usada para ‘sangue’ (damim) também pode ser traduzida como ‘dinheiro’. Portanto, meu mestre explicou o versículo da seguinte forma: ‘Salva-me, para que eu jamais considere o dinheiro como meu Senhor…’

         “Ora, minha mãe, Sarah, foi uma santa mulher. Certo dia um gentio local cismou de casar-se com ela, e prometeu-lhe riqueza e status se ela concordasse, mas ela santificou o nome de Israel. Com o intuito de salvar-se daquele vilão, ela rapidamente concordou em casar-se com um judeu velho e pobre que era mestre-escola. Você não teve a boa sorte de passar pelo teste, e por prata e ouro concordou em trair a sua fé. Veja, porém, que não há nada que possa se colocar no caminho do arrependimento. Além disso, existem aqueles que em uma hora adquirem sua porção no Mundo Vindouro. A hora é agora! Hoje é véspera de Yom Kipur. Logo o sol vai se pôr. Os judeus que moram em sua aldeia precisam de mais um homem para compor um minyan. Venha comigo agora, e será o décimo. Pois a Torá nos diz: ‘O décimo será sagrado para D’us.’”

           O proprietário empalideceu com as palavras ditas por aquele homem vestido de branco e rosto tão singular. Enquanto isso, não muito distante dali, os oito aldeões aguardavam na sinagoga, reunidos em gelado temor. Quem poderia dizer qual calamidade este estranho faria cair sobre suas cabeças?

           A porta abriu-se subitamente, e Rabi Leib entrou apressado, seguido de perto pelo poretz. Este tinha os olhos baixos, pesados de lágrimas. A um sinal de Rabi Leib, um dos aldeões entregou um talit ao apóstata. Ele se envolveu, cobrindo inteiramente o rosto e a cabeça. Rabi Leib dirigiu-se à Arca Sagrada, retirando dois Rolos de Torá. Um ele deu ao aldeão mais idoso ali presente, e o outro – ao poretz.

           Entre eles na bimá ficou Rabi Leib, que começou a entoar solenemente as linhas iniciais da prece Col Nidrê: “Pela sanção do Todo Poderoso, e pela sanção da congregação… declaramos permissível rezar junto com aqueles que pecaram…”

            Um profundo suspiro brotou das profundezas do coração partido daquele homem. Ninguém conseguiu ficar indiferente, e todos ali choraram junto com ele.

           Durante todas as preces da noite, e do alvorecer do dia seguinte até o cair da noite, o poretz ficou em prece, humilde e contrito. E enquanto soluços sacudiam seu corpo inteiro ao recitar a confissão, os outros nove estremeceram com ele.

            No auge do serviço Neilá, quando a congregação estava a ponto de recitar as palavras de Shemá Yisrael, o poretz inclinou-se para a frente até sua cabeça ficar dentro da Arca Sagrada, abraçou os Rolos de Torá que ali estavam, e numa voz forte que petrificou os presentes, clamou: “Ouve, ó Israel, o Eterno é nosso D’us, o Eterno é Um!”

             Ele então endireitou-se, e começou a declarar com toda a sua força: “O Eterno é D’us!” A cada repetição sua voz ficava mais alta. Finalmente, enquanto clamava pela sétima vez, sua alma deixou seu corpo.

              Na mesma noite eles levaram os restos mortais do poretz para enterrar na cidade vizinha. O próprio Rabi Leib tomou parte na purificação e preparação do corpo para o enterro, e pelo resto da vida ele observou o yahrtzeit deste penintente em todo Yom Kipur, recitando o cadish pela elevação de sua alma.

Nota biográfica:

Rabi Leib Sarah (1730-1796) teve uma vida solitária de andarilho, na qual se devotada à grande mitsvá de redimir presos judeus. Era tido em alta estima pelo Báal Shem Tov, fundador do Movimento Chassídico."

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