domingo, 2 de outubro de 2011

Bullying

O homem é o lobo do próprio homem 
                                                                                                                               Thomas Hobbes




                A violência no âmbito escolar tornou-se um grave problema para pedagogos e psicólogos durante as ultimas épocas, constituindo um novo objeto de observação e análise, o bullying.
            A mídia de massa ultimamente anda dando muito foque a essa questão com fins sensacionalistas, dando a impressão que o bullying é um fenômeno atual, coisa que não é.
            Em relação aos Massacres de Columbine School, nos EUA, e de Realengo no Brasil, o bullying foi a força motriz que impulsionou esses eventos de violência extrema, mas é inconcebível afirmar que o bullying constitui um fenômeno novo.
            O bullying, em si, pode-se encontrando em praticamente todas as épocas, tendo em vista que é produto de preconceito, mas talvez o bullying tenha tomado proporções nas instituições acadêmicas a partir da Baixa Idade Média, com o advento das Universidades e Escolas de Ofícios, onde um aluno podia ser hostilizado por veteranos ou indivíduos mais abastados e isso poderia refletir em sua vida.
            Há inúmeros exemplos na História  de personalidades no decurso do tempo que sofreram com algum tipo de violência escolar. Mas o caso mais notável poderá ser este:
Imaginem vocês um jovem recém saído de uma província longínqua de um reino que ingressa numa escola dedicada à nobreza, o menino era baixinho, tímido, falava com um sotaque carregado e não conseguia soletrar direito, logo foi hostilizado por seus colegas por seus modo e por seu sobrenome estranho, meio italianado, mas então ele se empenhou em história, geografia e matemática, tornou-se aluno aplicado e um dia se tornou general. Esse homem era Napoleão Bonaparte.
Esse exemplo mostra que bullying em si não é tão recente, mas o seu estudo em si ainda é recente e ainda não muito detalhado, mas os dados já descobertos mostram fatos assustadores.
            Afirma-se, de acordo com relatório da campanha Aprender sem medo, por volta de 1 milhão de estudantes, em todo o mundo, sofreu algum tipo violência escolar, sendo o bullying a principal agressão.                   
O bullying  é caracterizado por ser uma pratica agressiva com fins depreciativos executada de diferentes maneiras, mas de modo contínuo, para oprimir a vítima, constituindo assim de uma interação social com uma disparidade de forças. 
            O agressor revela toda a sua brutalidade contra a vítima, manifestando-se de forma direta ou indireta, hostilizando os seus comportamentos, traços físicos, pensamentos e crenças, sem qualquer causa aparente.
            Por meio de insultos, ameaças e, por vezes, agressões físicas, o agressor sente-se em um papel de dominador, conquistador, por assim dizer, sobre “a presa”, tomando uma postura de autoglorificação pessoal.
            A vítima típica sente-se impotente diante da situação, não possui grandes expectativas de solução, sujeitando-se às humilhações impostas, mas cria diante de si uma mágoa e um ressentimento contra o agressor, que podem tornar-se perigosos quando manifestados.
            Deve-se analisar o evento por inteiro, das óticas de todos os envolvidos em si no processo.
            O agressor pode despejar todas as suas raivas e decorrentes de ambientes familiares instáveis com possíveis violências domésticas, incertezas quanto ao seu desempenho escolar, mas pode apenas manifestar intolerância à diversidade cultural, étnica, sexual ou física. Quanto a isso, o que fazer?
            Os pais algumas vezes são responsáveis pelos atos dos filhos, embora o ambiente instável familiar pareça estar intimamente ligado à responsabilidade dos pais,  esse não é a única culpa que pode ser atribuída aos pais. Alguns pais moldam seus filhos com seus preconceitos e concepções, aversões a determinadas culturas, religiões, aspectos físicos e sexuais. Citar o caso das mães mulçumanas na Bósnia Hezergovina que  incentivam os filhos a odiarem os sérvios e croatas por terem matado os cidadãos árabes.
            Esse não é o único desvio de conduta que alguns pais podem cometer quanto a criação de seus filhos, o responsável que é bastante permissivo com alguns comportamentos do filho também é culpado. Afinal de contas, um pai que não impõe limites ao filho e não mostra as consequências de tais atos, não está criando um individuo, no sentido social da palavra. Mas não pode-se esquecer que alguns pais, por via do trabalho ou da falta de tempo, não dão grandes atenções aos filhos, como demonstrar afeto ou impor limites.
           
            Cleo Fante, autora de Fenômeno bullying: Como  prevenir a violência nas escolas e educar para a paz, texto em destaque, ainda mostra que o agressividade dos autores ainda pode ser fundamentada na “ausência de modelos educativos humanistas, capazes de estimular e orientar o comportamento da criança para a convivência social pacifica”.
Enfim, deixando a parte essa discussão, é inegável o fato de o agressor sentir-se superior à vitima, mostrando-se “um caçador” diante da “presa”, e possuindo até um senso de admiração entre outros possíveis agressores, isso que é absurdo.
Assim, o praticante do bullying ignora os efeitos nocivos  de sua violência irracional que podem ser altamente destrutivos, dentre os quais destacam-se a depressão, com consequente isolamento social ou agressividade, e o aumento de probabilidade de suicídio e homicídio juvenil.
            Agora vejamos o bullying da ótica do agredido, as vitimas podem ser classificadas em três classes, a vítima pode ser típica, provocadora ou agressora.
            A vítima típica é normalmente foco de agressões por não se enquadrar no “padrão” definido arbitrariamente pela sociedade e principalmente pela mídia, assim ela se sente diminuída e não se vê em posição de revidar as provocações, sentindo-se oprimida, chegando a alguns casos depressivos, mas, geralmente, nunca denunciam seus agressores, por temerem serem agredidos, por acharem sem importância ou por acharem que não adiantará nada. 
            Há que se levar em consideração o fato de que alguns pais desconsideram o fato do bullying, desdenhando, algumas vezes, as vitimas e tentando minimizar a situação. Só agindo em prol da vítima quando o problema toma proporções sérias.
            A vítima provocadora distingue-se da típica, por enfrentar os agressores, seja antes das agressões terem início ou revida as agressões, mas não obtém sucesso, em todos os casos ela perde.
            Já a vítima agressora se caracteriza por um individuo que sofreu bullying e o reproduz em outras pessoas.
            Com o tempo, o jovem absorve as agressões sofridas, mas não manifesta  reação, acumulando rancor e ódio para com os agressores  que pode ser manifestado por: Depressão, Suicídio, formação de gangues, assassinato juvenil e outras tantas manifestações.


“Livre, livre. Meus olhos seguirão ainda que meus pés parem”, essas foram as últimas palavras de um adolescente espanhol, antes de jogar-se com sua bicicleta em um precipício na Espanha, em razão das agressões sofridas.
Esse tipo de casos demonstra como o problema deve ser encarado e mostra a letalidade do bullying, sendo assim crucial combatê-lo pela raiz. Não é a escola a raiz do problema, mas a sociedade, com seus preconceitos, seus estereótipos obsoletos e arcabouços ideológicos implícitos na mídia.
A escola em si só reflete o que há na sociedade, afinal a escola é uma instituição que sustenta a sociedade, mas é nutrida pelas ideologias da sociedade. Em todo o caso devemos combater qualquer tipo de violência no âmbito da  escola.
A  psicologia pode fornecer material para compreensão do problema, mas cabe ao educador o papel de identificar, analisar e coibir qualquer incidência de bullying. A omissão pode ser tão danosa quanto à prática da agressão escolar. 
Estuda-se a relação conflituosa entre o agressor e a vitima, mas acaba se esquecendo os coadjuvantes desse fenômeno dentre os quais podemos citar: alunos espectadores, professores e outros profissionais da instituição em si.
O aluno espectador presencia o bullying, sabe que acontece, porém como não o afeta de forma direta, já que não agride nem é a vítima, afinal de contas, no seu imaginário, se “ela (vítima) não denuncia, então por que devo denunciar?” Esse imaginário esconde um conformismo, às vezes associado a um medo de se tornar uma “presa”.
O professor, embora possa se achar alheio a esse comportamento, também está envolvido, pois cabe a ele identificar, denunciar e coibir o bullying, isso pode ser fácil do ponto de vista teórico, mas na prática tudo fica difícil. É verdade que há funcionários desmotivados para solucionar o problema, mas os interessados em solucionar, ainda podem encontrar dificuldades no sistema educacional em si, na burocracia, na realidade violenta de algumas escolas ou até mesmo na relutância de alguns pais quanto ao bullying.
A omissão dessas partes integrantes do fenômeno pode ser perigosa, pois torna mais difícil a solução do problema, por dificultar a sua identificação. Em todo o  caso Fante (Pag. 77 de Fenômeno Bullying : Como  prevenir a violência nas escolas e educar para a paz) mostra aos pais como identificar se o seu filho é um elemento participante do bullying e se sim, se ele é uma vitima ou agressor, mas a visão com que ela numera é um tanto simplista, por que por mais que as generalizações sejam boas, elas não constituem necessariamente um fator preponderante para a verdade.
Fante ainda diz que os pais devem ficar atentos quanto ao bullying, mas não devem tomar uma atitude a não ser denunciar ou instruir a criança sobre que postura tomar.
Quanto ao diretor de instituição cabe o papel de averiguar qualquer denúncia, não importando os impactos sobre si, e garantir a quem denuncia proteção e sigilo, deixando assim a vítima mais tranquila quanto ao seu papel de acusar. O problema é encontrar, embora existam, profissionais motivados para isso.
É sabido que à vítima, cabe o papel de denúncia e de resistência ao agressor, não se prostrando diante a qualquer humilhação e ameaça que possa ser feita, mas ela deve receber apoio familiar, dos funcionários das instituições de ensino e das testemunhas do ato.
Entretanto, não deve-se esquecer o papel da sociedade no bullying com  sua  uma estereotipização e preconceitos, refletidos na mídia de massas, além da infindável teorização de uma beleza utopista e excessiva, isso provoca assim uma sensação de inferioridade quanto aos mais diversos grupos de uma sociedade. À sociedade cabe o papel de repensar conceitos e práticas, a fim de estabelecer um melhor convívio social.
Quando nada do que foi esboçado for feito, as consequências  do bullying se apresentarão, afetando a todos, mas principalmente a vitima, que se sentirá traumatizada, podendo apresentar prejuízos nas futuras relações de trabalho (Onde no trabalho pode sofrer também bullying), pode ainda ter prejuízos na constituição de uma família, mas o mais assustador é que sua saúde física e mental pode ficar abalada para sempre.
Em todo o caso a superação do trauma pode vir naturalmente ou não, dependendo do indivíduo,em todo o caso será difícil, pois quem não alcança sua auto-superação acaba por estar fadado a uma vida com pensamentos negativos e pensamentos de revanchismo, baixa auto-estima, além de possibilitar o aparecimento de transtornos mentais e psicopatologias graves, como foi Wellington Menezes de Oliveira, o serial-killer de Realengo.
Realengo sempre será lembrado, por que é uma ferida que mostra uma sangria perpetrada pela violência na escola.
Enfim, o bullying pode ser um fenômeno de estudo contemporâneo, quanto ao âmbito escolar, mas ele não é nada menos que um reflexo de uma sociedade preconceituosa e ambígua, na qual, ao mesmo tempo em que prega contra o preconceito, mas ela própria realiza.  Ao mesmo tempo em que o educador deve combater o bullying na escola e que a vítima deve denunciar, a sociedade deve engajar-se em prol da juventude, repudiando qualquer tipo de violência na escola,  assim como deve repudiá-la na âmbito social.

2 comentários:

  1. Você escreveu tudo isso? Posso estar enganado, mas gostei bastante dessa postagem exatamente porque me passou a impressão de que foi escrito por alguem que realmente conhece e já lidou com essa triste situação, e não por alguém que se baseou apenas em um plano teórico.

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  2. Para ser sincero, o bullying foi parte integrante da minha vida, eu vivenciei com as gozações e chacotas, mas tudo isso foi superado, mas você pode perceber que há um pouco de teoria nisso, em essencia era para ser um trabalho téorico meu que foi decontinuado, em razão disso, eu resolvi expo-lo para fazer margem ao excessivo cientificismo com que o tema é apresentado. Agradeço o seu comentário e fico feliz que tenha gostado do texto.

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