sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A verdade de Socrátes

       Socrátes, sem dúvida, foi um dos maiores oradores e filósofos da dita "Antiguidade Clássica", sua obra se perdeu atráves dos tempos, e sua memória é apenas lembrada pelas citações de Platão e Xelofonte em seus trabalhos;  Esses dois tiveram um papel similar ao de um historiador, no qual a História serviria para lembrar os feitos dos homens, assim esses dois são as duas únicas fontes existentes até agora de Sócrates.
       Socrátes teria nascido por volta do ano de 470 a.C, num universo turbulento da história ateniense, contudo, ele vivenciou toda a opulência da era de Ouro do governo de Péricles e a guerra do Peloponeso; Nisso, Socrátes ficou conhecido por lecionar em praça pública, a agóra, tudo que podia-se ensinar: filosófia, história (não bem História como hoje, mas mesmo assim algo para lembrar o passado), matemática, política, oratória, retórica; tudo isso de graça...

        A questão é que enquanto ele ensinava para todo mundo naquela ágora  de graça, existiam os sofistas, que era os instrutores que recebiam para lecionar, e que costumeiramente ensinavam para os filhos dos cidadãos mais ricos; eles se sentiram tão incomodados com a concorrência de Socrátes e com os ataques feitos pelo último, que suplicaram para que Socrátes começasse a ser perseguido, foi isso que aconteceu.


       O desfecho de Socrátes é bem conhecido, o que muitos ignoram é o andamento dos processos em que Socrátes é submetido, em todo caso, segue a seguir um trecho do que Socrátes começa a discursar nos julgamentos. Trecho do Preâmbulo da Apologia de Socrátes, de Platão:


Desconheço, atenienses, que tal influência tiveram meus acusadores em vosso espírito; a mim próprio, quase me fizeram esquecer quem sou, tal o poder de persuasão de sua eloqüência. De verdades, porém não disseram alguma. Uma, sobretudo, me espantou das muitas perfídias que proferiram: a recomendação de precaução para não vos deixardes seduzir pelo orador formidável que sou. Com efeito, não corarem de me haver eu de desmentir prontamente com os fatos, ao mostrar-me um orador nada formidável, eis o que me pareceu a maior de suas insolências, salvo se essa gente chama de formidável a quem diz a verdade; se é o que entendem, eu admitiria que, em contraste com eles, sou um orador. Seja como for, repito-o, de verdades eles não disseram alguma; de mim, porém, vós ouvireis a verdade inteira. Mas não, por Zeus, atenienses, não ouvireis discursos como os deles, aprimorados em substantivos e verbos, em estilo florido; serão expressões espontâneas, nos termos que me ocorrerem, porque deposito confiança na justiça do que digo; nem espere outra coisa qualquer um de vós. Verdadeiramente, senhores, não ficaria bem, a um velho como eu, vir diante de  vós modelar seus discursos como um rapazinho. Faço-vos, contudo, um pedido, atenienses, uma súplica premente; se ouvirdes, na minha defesa, a mesma linguagem que habitualmente emprego na praça, junto das bancas, onde tantos dentre vós me haveis escutado, e em outros lugares, não a estranheis nem vos revolteis por isso. Acontece que venho ao tribunal pela primeira vez aos setenta anos de idade; sinto-me, assim, completamente estrangeiro à linguagem local. Se eu fosse de fato um estrangeiro, sem dúvida me desculparíeis o sotaque e o linguajar de minha criação; peço-vos nessa oportunidade a mesma tolerância, que é de justiça a meu ver, para a minha linguagem, que poderia ser talvez pior, talvez melhor, e que examineis com atenção se o que digo é justo ou não. Nisso reside o mérito de um juiz; o de um orador, em dizer a verdade.

Mas o que seria o conceito de verdade para Socrátes? Eu não sei e dúvido que alguém saiba, em todo caso, um pouco mais a frente farei uma discussão sobre esse enigma que ronda o pensamento humano: "O que é Verdade?"

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