segunda-feira, 5 de março de 2012

Róża Luksemburg

       Poucos ao redor do mundo lembram-se do aniversário de uma personalidade ilustre do Mundo Comunista, talvez seja, que mesmo em tempos de adversidades, o socialismo não seja bem a palavra utilizada pelas massas para descrever o seu futuro histórico.


       Sim, vemos hoje um certo distanciamento das massas em relação ao socialismo e aos téoricos socialistas, talvez seja pela imersão de muitos anos em uma sociedade capitalista com um grande aparato ideológico, talvez tenha sido por causa dos excessos causados por alguns regimes ditos "comunistas" ao longo da História, ou mesmo seja porque os téoricos marxistas não inspirem tanta confiança e carisma como antes (Marx podia não ser pessoalmente tão popular assim, mas o grande expoente do socialismo hoje, Hobsbawn é um velhinho caquético com Alzeimer, e o resto, o resto está muito longe do socialismo).


      Em todo caso, mesmo o socialismo não sendo a bandeira mais influente até hoje (As grandes revoltas dessa década, principalmente as de dois anos para cá, como a Primavera Árabe e os distúrbios na Inglaterra, não passaram de manifestações liberal-religiosas e mesmo simples atos de revolta sem fundo ideológico, respectivamente), a grande esperança ainda é a Grécia e talvez a França, onde os Partidos Socialistas são fortes, mas não professam a palavra "Revolução", tão fora de moda de uns tempos para cá.

      Sim, a palavra "Revolução" hoje adquiriu um vies perverso, e mesmo as massas não desejam isso, talvez por simples alienação, ou por medo/ preguiça de enfrentar os aparatos estatais vingentes.

       Em todo caso, hoje é um dia para se lembrar de uma personalidade do universo socialista que trabalhou muito para transformar a Social-Democracia Européia, tão cambaleante numa era de adversidades, em um algo mais concreto e mais revolucionário: Rosa de Luxemburgo.

        Rosa Luxemburgo, em polonês Róża Luksemburg (Zamość, 5 de março de 1871 — Berlim, 15 de janeiro de 1919), foi talvez a maior expoente marxista polonesa de sua época (até de todos os tempos).



       Judia,naturalizada alemã, Luxemburgo tornou-se mundialmente conhecida pela militância revolucionária ligada à Social-Democracia do Reino da Polônia e Lituânia (SDKP), ao Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) e ao Partido Social-Democrata Independente da Alemanha (USPD), além de participar da fundação do grupo de tendência marxista do SPD, que viria a se tornar mais tarde o Partido Comunista da Alemanha (KPD), que acabaria desmoronando na escalada nazista.


          De família judaica, Rosa Luxemburgo nasceu num vilarejo de Zamość, perto de Lublin, no então Congresso da Polônia, controlado pelo Império Russo. Era a quinta filha de Eliasz Luxemburg, um comerciante de madeira, e Line Löwenstein. A família de Luxemburgo migrou para Varsóvia quando ela tinha dois anos de idade, em virtude de problemas financeiros

          Aos cinco anos de idade, para tratar uma aparente doença dos ossos do quadril, Luxemburgo teve a perna engessada e ficou de cama por um ano.Como resultado, uma de suas pernas cresceu menos do que a outra, o que lhe fez mancar pelo resto de sua vida, e que ela tentava esconder de toda a maneira.


         Em 1880, Luxemburgo ingressa em um ginásio, onde concluiu os estudos em 1887 e, apesar das excelentes notas obtidas, não recebeu a tradicional medalha de ouro destinada às melhores alunas devido a sua atitude rebelde diante das autoridades escolares.


        Ainda no ginásio, Luxemburgo entrou para o Partido do Proletariado, que havia sido fundado em 1882 por Ludwik Waryński, antecipando em vinte anos os primeiros partidos socialistas russos. Ela se iniciou na vida política organizando uma greve geral, que resultou na morte de quatro líderes e na dissolução do partido. Apesar disso, Luxemburgo e outros membros do partido que escaparam da prisão continuaram a se encontrar secretamente.

         Em 1897, Luxemburgo obteve um casamento de conveniência com Gustav Lübeck a fim de obter a cidadania alemã.



           Em todo caso mudou-se de Zurique para Berlim, se juntando ao Partido Social Democrata da Alemanha. Logo após se juntar ao partido, a agitação revolucionária de Luxemburgo começou a se formar.Expressando questões centrais no debate da social democracia alemã da época, ela escreveu Reforma ou Revolução? em 1900.

            No livro, uma crítica ao revisionismo da teoria marxista feito por Eduard Bernstein (um teórico dito marxista, mas que tinha uma versão bastante liberal do materialismo histórico, sendo também criticado na mesma época por outro téorico marxista, Vladimir Lênin).

         Luxemburgo explicou que "a teoria dele tende a nos aconselhar a renunciar à transformação social, a meta final da social-democracia e, inversamente, fazer das reformas sociais, os meios da luta de classes, seu objetivo". Enquanto apoiava o reformismo (como meios da luta de classes), o objetivo final de Luxemburgo era a revolução completa.

File:Zetkin luxemburg1910.jpg
Rosa de Luxemburgo com a revolucionária Clara Zetkin


        Ela acentuou que reformas ininterruptas do capitalismo se traduziria no apoio permanente à burguesia, deixando para trás a possibilidade de contrução de uma sociedade socialista. Luxemburgo queria que os revisionistas fossem expulsos do partido. Isto não aconteceu, mas Karl Kautsky, líder do Partido Social Democrata Alemão, manteve a teoria marxista no programa do partido.Com essa polêmica, Luxemburgo torna-se conhecida e respeitada dentro do Partido Social Democrata Alemão.


              Em 1902, passado o tempo mínimo exigido pela legislação da Alemanha à época para se divorciar sem perder sua cidadania, Luxemburgo se divorciou de Lübeck.

          Em 1904, ficou presa por quase dois meses, acusada de insultar o imperador Guilherme II num discurso público (O kaiser mereceu).

File:LuxemburgSpeech.jpg
Luxemburgo discussando em público em 1907
               Durante a Revolução Russa de 1905, Luxemburgo focou sua atenção no movimento socialista no Império Russo, defendendo que, "a partir desta data, o proletariado russo estourou no cenário político como classe pela primeira vez".

        Luxemburgo defendeu a teoria marxista na Revolução, em oposição aos Mencheviques e ao Partido Socialista Revolucionário e em apoio aos Bolcheviques.  Fato que a ligou inevitavelmente aos bolcheviques até a sua morte, tanto que ela foi bastante homenageada pelos soviéticos post-mortem.

        Há historiadores que afirmam que foi a partir deste evento que Luxemburgo desenvolveu sua teoria revolucionária. Luxemburgo se mudou para Varsóvia para ajudar o levante revolucionário russo, sendo presa por três meses e ameaçada com a pena de morte.

                Em 1906, Luxemburgo começou a defender sua teoria de greve das massas como instrumento de luta revolucionária mais importante do proletariado. Esta linha de pensamento se tornou motivo de grande contenda no Partido Social Democrata da Alemanha, ganhando a oposição de August Bebel e Kautsky. Pela agitação apaixonada, Luxemburgo recebeu a alcunha de "Rosa sangrenta".

Rosa de Luxemburgo em 1910

             Em 1914, Luxemburgo foi julgada e condenada a um ano de prisão pelo Segundo Tribunal Criminal de Frankfurt por incitamento à desobediência civil, num discurso feito em setembro de 1913.

            Em 4 de agosto do mesmo ano, a bancada social-democrata do Reichstag (Parlamento Alemão) votou a favor dos créditos de guerra, o que deixou-a profundamente abalada. Em dezembro, o deputado Karl Liebknecht votou sozinho contra nova concessão de créditos de guerra. Liebknecht e Luxemburg fundaram, então, o Grupo Internationale, que logo viraria a Liga Espartaquista.


        O grupo defendia que os soldados alemães abandonassem a guerra para iniciar uma revolução no país, inicialmente teve pouco prestígio popular, mas com o tempo, enquanto a guerra arrastava-se, Luxemburgo e seu grupo foram angariando maior apoio dos soldados alemães, que em condições adversas, principalmente nas batalhas do final da Primeira Guerra Mundial (Como as destrutivas batalhas do Marne e outras) acabaram engrossando algumas de suas fileiras.


         Em 1915, Luxemburgo passou um ano na prisão por agitação anti-militarista.
Na prisão, Luxemburgo escreveu O Folheto Junius, que criou a base teórica para a Liga Espartaquista
Ainda na prisão, Luxemburgo escreveu A Revolução Russa, sobre os eventos daquele ano na Rússia, alertando para o perigo dos Bolcheviques instalarem uma ditadura totalitária no país.  Apesar disso, o livro enaltece a iniciativa revolucionária dos Bolcheviques e destaca a importância da Revolução Russa no cenário internacional, criticando, porém, a violência revolucionária. 

         Não preciso dizer que o livro: A Revolução Russa, não ajudou muito o lado de Luxemburgo ante os soviéticos

         Em 1917,a  União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (embora a URSS tenha surgido in facto em 1922, é mais didático falar assim) procurou obter paz em todos com o Império Alemão, dadas as plataformas do governo bolchevique e a reinvidicação popular, Rosa de Luxemburgo foi contra a assinatura do Tratado de Brest-Litovski, não por querer uma guerra com a Rússia, mas pelo fato de que a Rússia Revolucionária, agora um bastião revolucionário pudesse por fim ao Império Alemão que fora o seu algoz e do seu povo, e iniciar uma revolução mundial.

      Em 1917, o Partido Social Democrata expulsou não só os espartaquistas como também um grande grupo de oposição interna.

          A Liga Espartaquista, entretanto, manteve-se organizada no PSDI, conservando sua organização e programa político.Os espartaquistas permaneceram no PSDI até que este decidiu participar do governo que surgiria, a República de Weimar.
Luxemburgo


        Em 8 de novembro de 1918, o governo alemão relutantemente liberou Luxemburgo da prisão, por pressão inevitavelmente do governo soviético, que à essa altura era quase um "aliado" alemão,  e também por causa da efervecência popular que surgira logo após o fim do Império Alemão.

         Logo ela deu continuidade à agitação revolucionária, dirigindo o jornal Die Rote Fahne (A Bandeira Vermelha) e fundando, com Liebknecht, no dia 31 do mês seguinte, o Partido Comunista da Alemanha.



             Enquanto isso, o clima adverso na Alemanha, ocasionado pela fraqueza da República de Wermar, instaurada pela imposição dos vencedores (A Entente), iniciou um panorama social semelhante a efervecência que levou à Revolução de Outubro, conflitos armados surgiram a favor dos espartaquistas e sacudiam as ruas de Berlim.

          Em 1919 surgiu a República Soviética da Baviera, embora tenha sido curta, representou que o poder do Proletariado alemão conseguira conquistar a parte razoavelmente mais conservadora da Alemanha... Contudo, quase sem o apoio de Moscou (que desconfiava da capacidade revolucionária do Partido Comunista Alemão, que por muito tempo foi meio pelego, e também por disputas internas entre Trotsky e Stálin. Sendo que Trotsky era a favor da Revolução Mundial e o apoio aos comunistas alemães com apoio do Exército Vermelho no meio da Guerra Civil Russa), a República Soviética da Baviera foi desmembrada rapidamente com a Contra-Revolução.


            No dia 9 de janeiro de 1919, Berlim encontrava-se em estado de sítio. Luxemburgo e Liebknecht, perseguidos, sabiam que já não havia mais para onde fugir. Mudavam constantemente de esconderijo e empresários de extrema-direita ofereciam recompensas a quem os denunciasse.

            Em 15 de janeiro de 1919, Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht e Wilhelm Pieck, líderes do Partido Comunista da Alemanha, foram presos e levados para interrogatório no Hotel Eden em Berlim. 


          Os detalhes das mortes de Luxemburgo e Liebknecht são desconhecidos, mas a versão mais verossímil é de que eles foram retirados do hotel  à força por paramilitares do grupo de direita Freikorps, que mais tarde iriam integrar a SA e a SS Nazista.

             Enquanto Luxemburgo e Liebknecht eram escoltados para fora do prédio, foram espancados até ficarem inconscientes.Pieck conseguiu fugir, enquanto Luxemburgo e Liebknecht foram levados, cada um, num jipe militar.

            O primeiro jipe, com Rosa Luxemburgo, virou antes da ponte Corneliusbrücke em uma pequena rua paralela ao curso d'água conhecido como Canal do Exército (Landwehrkanal). Segundo relatos, ela foi baleada e jogada semi-morta nas águas geladas de janeiro do Landwerkanal. Seu companheiro de luta, Karl, seguiu no outro jipe, que cruzou a Corneliusbrücke e entrou em uma das ruas desertas do parque Tiergarten. Ele foi baleado pelas costas, enquanto foi induzido a caminhar. Morto, foi entregue como indigente em um posto policial.


           O corpo de Luxemburgo só foi encontrado no final de junho. Seus assassinos obviamente jamais foram condenados. Somente em 1999, uma investigação do governo alemão concluiu que as tropas de assalto haviam recebido ordens e dinheiro dos governantes social-democratas para matar Luxemburgo e Liebknecht.

           Os corpos de Luxemburgo e Liebknecht foram enterrados no Cemitério Central de Freidrichsfelde em Berlim.

          Luxemburgo foi forte, uma das mulheres mais fortes de sua época, uma mulher que não tremeu diante ao perigo, diante a morte, e lutou até o fim pela causa marxista, e morreu em prol da causa. Ela deve ser honrada e lembrada como a todos os revolucionários que morreram pela árdua luta na construção de uma sociedade comum e igualitária.

        Luxemburgo hoje é muito usada como ícone trotskista, em verdade, até que ela poderia ter um pouco disso, mas em verdade, ela deve ser respeitada por ser um grande expoente revolucionário marxista, que ao contrário de Trotsky, não era arrogante, e tinha seus pés no chão.

        Em 1919, Bertolt Brecht, grande expoente do teatro contemporâneo, escreveu um epitáfio poético em homenagem a Luxemburgo, que recebeu música de Kurt Weill em 1928, sendo renomeado como O Réquiem de Berlim:
Aqui jaz
Rosa Luxemburgo,
judia da Polônia,
vanguarda dos operários alemães,
morta por ordem dos opressores.
Oprimidos,
enterrai vossas desavenças!
             Também sobre Luxemburgo, o escritor e historiador britânico trotskysta Isaac Deutscher, expoente da Nova Esquerda, escreveu: "Com o seu assassinato, a Alemanha dos Hohenzollern celebra o último triunfo e a Alemanha nazi, o primeiro".



Para ver mais sobre a morte de Rosa de Luxemburgo, ver Aqui:

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