sexta-feira, 19 de abril de 2013

Caminhada filosófica

       Uma abelha zumbe no meu sapato; duas pessoas passam por mim: um cosmonauta e um acrobata. E dizem entre si que a voz da vida emana das conversas pueris.

       Ando mais um pouco e encontro uma bela moça de rosa lendo a xerox dos textos atrasados, ela é tão  bonita e tão serena que intimida até o mais afoito dos galãs com tamanha erudição. Ah! Como adoro erudição, não há nada mais sensual do que orquestrar palavras e ideias de forma tão harmoniosa.

       Esbarrei em minhas palavras com duas garotas que estudam Arquitetura, que apresentavam traços tão bem trabalhados quanto as obras do Niemeyer. Encontro um banco de xadrez defronte o retrato do Silvio Santos, penso em hebraico, até encontrar um amigo que tenta compreender aquela atividade tão incomum: andar pelos cantos anotando tudo num caderninho.

       A abelha continua a me seguir, mas me abandona rápido quando encontra uma lata de lixo. Percebo que sou tão doce que ela volta a me seguir de novo. Paro na frente de um banco e encontro uma garrafa de água desgarrada, certamente algum desavisado teria a esquecido enquanto ficava debatendo questões triviais nos corredores daquele antro de conhecimento.

      Cruzo um belo jardim, um casal conversa entre si, mas em vez de reparar em sua conversa, escuto um pequeno animal se esgueirar nos galhos das plantas decorativas. Será um gato? Não creio que fosse um felino.

       Uma  moça conversa ao telefone a plena voz, acho aquilo meio vulgar e paro para ver o modo como as flores cor de violeta se projetam nos galhos retorcidos de tal maneira que chegam a ser espinhosos, tal como a vida.

        Continuo caminhando nessa reflexão solitária até encontrar um amigo ao pé da escada, desço calado e num sobressalto encontro meus camaradas e assim termina a minha caminhada.

         Entro numa sala e abro a gaveta de uma bela escravinha: encontro duas fichas de pôquer e duas caixas de som se projetavam sob o olhar atento do misterioso Darth Vader rodeado com as crônicas de alguns quadrinhos de uma infância que desapareceu.

          Beleza americana tece um relutante novilho de rosa por seu corpo e Níquel Nausea projeta  um mal estar ao lembrar daquele dia em que comprei um sorvete de chiclete de banana a uma paixão de outro verão passado.

         Ao lembrar disso, fujo para um espaço aberto, o ar estava tão abafado que estava me dando até mesmo asma, sou asmático de ideias. Penso em ir conversar com aquela moça que estava solitária lendo os seus textos no meio da multidão, talvez fosse ela tão solitária quanto eu, talvez ela tivesse namorado.

         Lembro-me que estou tão isolado como nunca estive, mas me sinto bem com isso, por incrível que pareça, pois não há nada que esteja tão acostumado do que fazer essas jornadas sozinho e me sentir isolado como sempre estive.
     

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