segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Uma ditadura camuflada

      Nós, filhos da Democracia fajuta dos anos 90, que crescemos com o culto ao consumo e ao hedonismo acreditamos que nossa vida é tão democrática quanto nossa maneira de pensar, mas esse narcisismo teórico de que a nossa vida é a melhor mascara uma ditadura camuflada, a da beleza.

    E remeto à beleza, não só à beleza física, mas a beleza teórica, beleza do saber científico, onde nós somos tentados a acreditar que nossas ideias são belas, assim como as ideias concordante também o são. A ditadura de valores enraiza em nosso peito e deixa uma marca nefasta em nosso corpo e em nossa mente.


     Digo isso de maneira categórica, a beleza anda fazendo um estrago no nosso saber.

     Após plantada a discussão, cabe agora levarmos alguns pontos em consideração:


        Vivemos numa sociedade de consumo, isso é fato, mas não é um consumo restrito ao papel de apenas consumir, mas um consumo pessoal, um consumo autopromovido, onde nós nos sentimos melhores por termos consumido tal produto, seja um tênis Nike ou um óculos Ray Ban, e desejamos tornar público tal consumo para adquirirmos status, porque achamos belo isso, fomos moldados no pensamento de que o que é de grife, ou marca, é bonito e consequentemente bom.


        Como não se bastasse o problema, a sociedade de consumo não apenas consume por prática hedonistica, mas mais do que isso, leva o individuo a uma fagocitose de si próprio, onde se nega por completo o papel da individualidade para publicizar sua própria personalidade, ou pior para adquirir uma nova identidade.

         Nesse caso, o homem se reifica, vira uma coisa que apenas consome e que se sente mal quando não consegue consumir, seja um terno ou um carro novo, e se martiriza por isso, se sente pior que os outros e a sua autoestima cai.

          Mas porque essa autodepreciação, bastante masoquista por sinal? Simples, fazemos isso para nos sentirmos melhores ou mais bonitos socialmente, para que sejamos reconhecidos e tenhamos um status. Quando não possuímos itens pretensamente arrojados, sentimo-nos excluídos, feios, e tomamo-nos por um vazio emocional.

           Queremos ser bonitos, não importa como: fazendo academia, malhando, recorrendo a plásticas, comprando roupas novas ou tendo outras aquisições. Queremos que tenham inveja de nós e fazemos de tudo para que isso aconteça, pois para nós quando sentem inveja, assume-se que somos superiores ou melhores, e consequentemente nos vemos melhor, mais bonitos aos nossos próprios olhos, seja financeiramente ou emocionalmente.


           É um ponto maluco? Nem tanto, quando por exemplo estamos em uma competição pelos holofotes e por maior atenção, pensamos que devemos ter maior destaque, e que o destaque só é possível quando tomamos atitudes bem vistas, mas mais que isso adotamos a moda como modelo. É aparentemente uma necessidade pessoal, passamos a nos vestir melhor, usarmos cosméticos e a tentarmos nos enquadrar num referencial, o padrão, a escutar certos tipos de música, ver alguns filmes, para que termos algo com o qual nos identificar, ou comentar. É a busca por algum reconhecimento.

             Eu queria poder dizer que eu sou contra isso, que não quero qualquer reconhecimento e contar outras lorotas, mas a verdade que até eu quero algo assim, um apelo de fragilidade pessoal, seja se expressando numa maneira de se portar ou vestir, até nos livros e nos filmes que consumo. Mas prefiro ter minha identidade pessoal ao tomar a coletiva.



      Mas por quê? Porque queremos ser reconhecidos, por que queremos ser bonitos?



      Nós queremos suprimir uma fragilidade existencial de nossa condição, a sobriedade da vida humana, o papel de solidão que sentimos desde que nascemos, queremos nos identificar com outras pessoas, queremos que nos ouçam, que nos olhem, e mais do que isso, que nos amem.



           O amor, eis aí outro conceito, dessa vez um conceito construído. Será que existe mesmo um amor, alguém que sinta algo fraterno, que faça por outros o que não faria em condições normais, que deseje alguém? Eu queria poder que sim, mas hoje estou convencido que é um conceito belo demais para ser realidade, é uma beleza filosófica, tal como acreditar numa justiça divina ou no bem, como conceito.


           Amor, o conjunto verbal amare, essa coisa que nos faz dizer coisas bobas e acreditar que o mundo pode ser melhor, que a beleza realmente existe e que é belo usufruir dela. Ah, que conceito ingênuo, o amor é difícil de ser definido, pois tenta-se diferenciá-lo talvez do afeto, mas na verdade ele próprio no sentido hegeliano seja até um tipo-ideal, talvez nunca tenha existido.


            Amor não é só amar, amor não é só sentir, é uma maneira de agir, mas é um sentimento que pressupõe ser recíproco, mas a pergunta é: Há reciprocidade nas relações humanas? Será que o amor como ideal não é unicamente o amor enumerado por Platão no Discurso do Banquete?


           Eu não sei, mas o amor é um conceito belo em todos os sentidos, movem os homens com sua moral a tomarem atos aceitáveis e aprováveis, e quem não ama ou não tem a capacidade de amar acaba sendo marginalizado como indivíduo incompleto ou infeliz.




           Outro conceito belo, Felicidade, Felicidade pressupõe um estado de alegria, que pode não ser real ou alcançável, uma alegria constante, mas a vida é tão recheada de altos e baixos que fica difícil dizer que alguém foi feliz. Felicidade é uma Fortuna, uma dádiva, um prêmio, um tesouro, se tomarmos a feição latina da expressão Fortuna. Existencialmente falando, acredito que o homem seja naturalmente um individuo fadado à infelicidade, pois não pode-se viver a felicidade em todos os momentos.

            Mas a Felicidade tomou uma feição política, de ideal, algo a ser batalhado, e não são poucos movimentos que dizem trabalhar pela felicidade do Homem, mas que felicidade? Há felicidade na vida humana? Será isso não um produto do Iluminismo que enraizou em nós?

            Sugiro que tomemos cuidado ao usar o conceito Felicidade, pois ele é um conceito belo, um conceito que tenta suprimir as nossas necessidades existenciais, que nos faz pensar que algo pode ser melhor e que deve ser melhor. Sentimos sim felicidade quando nasce um filho, quando estamos junto de alguém onde acreditamos ter amor reciproco por nós, mas não é A FELICIDADE, é a alegria, um sentimento bom, não um sentimento constante que consome de resto nossas vidas.



             A vida é cheia de ideais, e nos enraizamos por esses ideais belos, seja ideologias, o culto à beleza, à felicidade ou ao amor, mas todos esses conceitos parecem estar presentes para suprimir a crise existencial do Homem: Para onde vou? Que destino tomarei? Quero ser reconhecido. Sou fadado a ficar só? Porque ninguém presta atenção em mim?

             Esse é o ponto que queria destacar sobre tais assuntos, vivemos uma ditadura da beleza, mas não só física, mas também de ideais.

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