É no passado que se remonta aos tempos de nossos entes queridos, ou uma nostalgia de outros tempos dos quais não podemos voltar mais; O passado era horrível, mas o idealizamos tanto que começa a ser doce, é dele que tiramos nossos heróis, homens de valor: Aleksandr Nevsky, Napoleão Bonaparte, Julio Cesar, Caxias, não importa, idealizamos todos eles.
O passado fundamenta tendencias, ideologias, abre feixes e parâmetros, é do passado que tiramos todo o nosso conhecimento e todos os nossos exemplos; Foi dessa construção temporal que aprendemos noções básicas do nosso cotidiano, religião, cultura, valores, política, etc. Nossas instituições humanas remetem ao passado.
A família nuclear é a situação coesiva que insere um individuo em nossa sociedade, mas o que diriam os tradicionalistas, se eu dissesse que a sua própria forma organizacional remonta aos tempos do neolítico. Sim, a família só existe por causa da Revolução Neolítica, onde os homens acabaram deixando de serem meros caçadores, para produzirem o seu próprio alimento, e firmarem sua descendência num canto.
Formamos cidades para proteger esses modelos, aldeias e agrupamentos humanos. A nossa sociedade, querendo ou não, é fundamentada pela família e nossas práticas culturais são neolíticas, como por exemplo: Por que mulher não pode ir à guerra, mas homem sim?
Essa questão ainda é problemática, não pensem vocês que não, toda a vez que discutia com as feministas, elas se protegiam no arcabouço, "guerra é coisa para homens", o que não é verdade, basta lembrar de Catarina, a Grande, Cleopatra e muitas outras. Discutindo isso com um amigo tive a melhor resposta até então:
"Mulher não vai para guerra pelo simples motivo, elas são as guardiãs de uma comunidade, e futuramente, caso tudo der errado, a comunidade pode ressurgir a partir das mulheres." Biologicamente a explicação faz sentido, mas só fui entender o porque dessa prática quando li sobre o Neolítico, onde estava estamentado o modelo tradicional familiar: Homem caça e faz guerra e as mulheres cuidam dos filhos e da casa. Isso faz sentido, numa guerra, a sociedade poderia ser varrida do mapa, mas se sobrasse um homem e várias mulheres, poderia ressurgir de novo, mas se não sobrasse nenhuma mulher, tudo seria mais difícil.
Parece uma explicação estúpida, mas faz sentido quando observamos o caso da Sérvia, após a Primeira Guerra, onde um quarto da população masculina foi literalmente dizimada, deixando uma lacuna populacional considerável, contudo, em vinte anos, a população sérvia voltou a crescer, chegando aos patamares anteriores da guerra (para ser novamente arrasada pela Segunda Guerra), aconteceu o mesmo com a Alemanha e outros países.
Enfim, esse fato já mostra o qual arcaica é a estrutura atual da família.
O modelo da família nuclear é posterior, onde a monogamia se fez presente, e tem suas origens no Oriente Próximo, desde o Egito, Israel, até a Grécia. Na verdade, os escritos do Antigo Testamento fornecem de maneira bem direta uma mudança do estatuto social que o povo judeu quanto à família, anteriormente Adão só tinha uma mulher Eva, e dela surgiu toda a sua descendência, mas já com o Abraão, vemos casos de bigamia, onde ele tem duas esposas. Eu tenho minhas ressalvas quanto a bigamia, mas ela perdurou nessa sociedade até a época de Davi e Salomão, quando ficou mais do que comprovado a falência desse sistema na figura dos atritos das esposas de Davi, Batshebah e Mical, e num dado momento esse modelo foi substituído.
Por interações entre o mundo judaico-helenistico, isso acabou chegando à Grécia, como no caso da figura de Penélope e Odisseu, e se encaixou muito bem na Diáspora grega que chegou à Península Itálica, principalmente se lembrarmos o mito de Enéas e os seus homens que chegaram a Península e fundaram agrupamentos no Lácio que futuramente dariam na Roma de Rômulo;
A transformação legal do casamento foi inevitavelmente com Roma, mas em todo caso os alicerces são bem antigos.
Outra coisa que é bem antiga, mas não tão bem neolítica, é a sociedade hierarquizada. Se formos ler os ensaios de Marx e sobretudo Engels, temos que anteriormente a um modelo escravista onde teve a hierarquização formal de uma sociedade em indivíduos produtores e exploradores, temos que a sociedade anterior, talvez a neolítica, pressupunha uma igualdade entre os caçadores e que eles repartiam os seus ganhos entre si (eu tenho minhas ressalvas, não acredito totalmente nessa ideia de igualdade entre caçadores piamente), mas com o passar do tempo, com as guerras e demonstrações de força, um indivíduo dessa tribo passou a ter maiores poderes do que os outros, essa é a figura do chefe.
O chefe também tem uma questão militar embutida, mas na essência, por esse pensamento, essa é a formação da hierarquização da sociedade neolítica embutida, mas na essência, por esse pensamento, essa é a formação da hierarquização da sociedade neolítica. Adaptando essa teoria com outros saberes econômicos, nós temos que com o avanço econômico dessa sociedade, na forma de aumento de produção e armazenagem de excesso de produção, e entendendo economia como "gestae domu", gestão da casa, temos que num dado momento, alguns indivíduos deixam de fazer parte da cadeia produtiva tradicional e passam a se dedicar a outros ofícios, como a guerra, a religião, a arte dos minérios e ao saber científico, é a formação estamental de outros patamares, sendo que o último configura obviamente à classe que trouxe maiores desenvolvimentos à humanidade, a inteligentsia;
E nesses
termos sintéticos se explica por exemplo a elite intelectual ateniense ou de
`Platão. Assim a República não é uma idealização da sociedade humana, é uma tratado de uma possível evolução da sociedade antiga, baseada no modelo ateniense de maneira mais plena: Uma sociedade de homens de ouro, de grande valor, seres pensantes que governavam a República através dos saberes puramente filosóficos, e por essa classificação superiores aos homens de prata, os guerreiros que lutam pela proteção da cidade, e os homens de bronze, que efetuaram trabalhos manuais, seja artesanato, cuidar da lavoura ou mesmo comerciantes.
Essa situação estamental de razão filosófica é a base de todas as utopias já construídas. Na Idade Média, Santo Agostinho irá constituir a sua Cidade de Deus uma sociedade perfeita na esfera divina, que ao contrário de Platão e dos gregos, Agostinho só acredita que a perfeição seja possível no outro mundo, no espiritual e não no terreno, onde há a hierarquização de toda a sociedade de maneira convincente, tornando padrão referencial para a Idade Média (ao contrário de outras obras, Santo Agostinho era amplamente difundido).
Essa vertente platônica vai servir de inspiração para a Utopia de Thomas Morus, onde é pontuada a existência realmente utópica de uma ilha onde não havia classes sociais, e que não havia homens de guerra ou a valorização de um corpo de mercadores ou de guerras, que mercenários eram usados para a luta, e que o ouro era tão abundante que era renegado só às crianças e aos bandidos como algemas. Onde haveria reversamento entre a população entre o campo e da cidade há cada quatro anos. Não preciso nem dizer que a Utopia é realmente uma Utopia.
Se Agostinho acredita que não seja possível ao homem alcançar a perfeição em vias do mundo ser naturalmente imperfeito, e o Morus recorre à esfera filosófica para construir a ilha de Utopus, o mesmo não pode ser dito de Hegel. Hegel com certeza retoma a ideia da perfeição de Platão, do idealismo alemão, de que é possível construir um novo mundo no presente a partir de nossas ideias. Na verdade, desde o Iluminismo isso já dava as caras, mas o idealismo alemão abraçou isso como uma persona grata.
A construção de um ideal de belle époque e do progresso se embaseia nisso, e até o marxismo é meio hegeliano ao pensar na construção de uma sociedade sem classes sociais e propriedade. Tudo isso vai ser combatido por Nietzsche, quando ele retoma as origens da filosofia e começa a atacar Platão e toda a sua filosofia construída.
Mas no fundo, mesmo com tudo o que foi dito. A nossa sociedade, na vertente, na origem, ainda tem vestígios da sociedade neolítica. É claro que com algumas modificações, mas a sua origem continua presente até hoje. É por isso que acredito que possamos estar próximos de um tempo de mudanças, mas qual, eu não sei.
A nossa família é uma estrutura antiga, as relações familiares também. A filosofia é platônica, nossa moral foi construída no século XIX. Até os nossos jogos são meio medievais:
Tomemos o xadrez, que jogo é esse onde encontramos relações de vassalagem, onde um peão é uma peça insignificante mas um bispo ou uma torre são cruciais para o andamento das jogadas. Na verdade, o xadrez é um jogo que esconde uma hierarquia, mas mais do que isso, ele é a base de todas as táticas de guerra na Europa medieval, desde a formação de tartaruga, o trabalho da cavalaria agir em flancos e da importância da família real para a manutenção do corpo.
E quanto ao futebol? Esse jogo que é uma simulação quase que metafórica de um campo de batalha, onde onze homens de cada lado se dividem ao longo do campo, competindo e degladiando-se pela posse de uma bola (ou uma bandeira) com o objetivo de lançar a bola no gol (ou erguer a bandeira em um castelo). Até o futebol é meio medieval.
Isso sem falar da luta livre, que é sem dúvida a releitura do circo de gladiadores romanos.
Pois é, entre o passado e o futuro, se esconde o presente.
Então o que podemos esperar do futuro? O futuro não influi diretamente no presente, mas o presente influi diretamente no futuro. Nós nunca temos certeza do que irá acontecer, e isso impossibilita termos certeza de que os nossos atos são corretos, o que esperar do futuro? Incerteza.
Na verdade dizem que o futuro vai ser melhor que o presente, se espera sim. Materialmente será, mas filosoficamente? A História dá voltas e voltas, mas não em círculos, e sim em elipses. Podemos estar agora numa belle époque, mas amanhã podemos entrar numa guerra, ou não. Essa é uma elipse que sequer pode ser calculada, é uma elipse infinita. Pois apesar do trabalho absurdo de Fukuyama, a história não acabou. "Esse não é o fim, nem mesmo o início do fim, esse é o fim do começo".
O presente é o arquiteto do futuro e a semente do passado. Ele se move para frente e nunca se apresenta de forma estática, assim como o passado não foi estático e nem o futuro será. O presente é a ideia consumada da teoria do caos, ou do castelo de cartas, em que tudo que é sólido se desmancha sobre a força do tempo.
Mantivemos parâmetros neolíticos em nossa organização social, mas o que garante que eles próprios vão desaparecer. O presente é inconstante, é cigano, se move de um lado para o outro, por isso é tão sedutor, o passado pode parecer rígido e estático, mas foi tão inconstante quanto o seu irmão mais novo. A questão toda é, há futuro para nós, para tais discussões? Essa é uma das perguntas que movem o presente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário