quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A fênix metafórica

         Queria ser um herói magnânimo que fosse indolente à chuva e ao frio, que nunca se importou com a dor e enfrentava dragões todos os dias, queria ser esse homem inflexível contado nas prosas e nos versos de desafinados trovadores que arrancavam suspiros das damas e iludiam as crianças com suas bravatas.

       Que não parasse por um obstáculo, mas sim moldasse o meu caminho. Defendia os pobres e oprimidos com o meu sabre retorcido, presente de algum príncipe da Rutênia, mas eu próprio seria somente um trovador com requintes de cavaleiro andante. Filho bastardo de um príncipe com uma bela feiticeira, neto de um grande mestre da alquimia, não haveria dragões que me rivalizassem.

       Queria salvar as pessoas, acabar com impérios tirânicos, formar novas repúblicas, ser um simples cavaleiro andante de elmo pontiagudo e capa de carmim sobre a couraça de bronze. Teria um cavalo,  um alazão negro chamado Polus, em homenagem à Polônia, por onde lá teria passado prestando serviços aos Piast.

       Mas nas minhas andanças eu encontraria uma moça, de cabelos escuros de belo sorriso, brincalhona, que não seria só uma donzela de chapéu alto e um vestido longo, mas mais que isso, uma companheira. Que ela não fosse indefesa ou estática, mas que me ajudasse nos meus problemas, me ouviria e brincaria comigo, o mesmo eu faria com ela.

      Bem, eu acho que só aceitaria ser um herói assim, ou mesmo um revolucionário, alguém que pudesse mudar o mundo para melhor, essa veia antiga de ex-pensador marxista minha. Mas não acho que seria um bom herói sem você, não pelo fato de heróis precisarem de donzelas que eles salvem, eles são mais do que isso. Não, eu queria uma heroína que lutasse lado a lado comigo, que não tomasse para si o papel de mártir, como a Joana D'Arc, e sacrificasse uma coisa bastante importante, sua felicidade.

      Não, eu não quero nada que não seja alguém assim e apesar dos caminhos tortos do destino, ainda acredito que seja você, uma heroína que ajudou o herói, mas que foi tão importante quanto ele, que sem ela não haveria história. Mais do que uma donzela, mas sim uma companheira.

      Posso não ser o mais heroico dos homens, mas não sou capaz da covardia de desmentir o que eu disse. Mesmo com toda a cultura cortês dessa vida, acredito na felicidade de nós dois, uma felicidade de iguais, sem primus inter paris, mas dois heróis se ajudando na história.

      É, eu não sou um cavaleiro andante de capa, nem tenho uma espada nas mãos para defender os inocentes. Tudo que tenho é uma caneta e as palavras num papel além de um sentimento corrente de um rapaz apaixonado. Não diga que me corroo em autopiedade ou que estou me vitimizando, isso doí bem mais do que uma navalha.

     Não me olhe com sua pena ou me escute por mera clemência, isso é totalmente amargo. Somos mais do que uma história de contos de fadas, nós somos a realidade, a verdade do aqui e do agora. E a verdade é que eu te amo, mesmo com a minha solicitude e frieza, eu te amo e provavelmente continuarei citando o seu nome até o fim dessa epopeia, essa história sem nexo, esse nexo provisório a que chamamos de vida.

       

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