quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Um remédio amargo

Cannes, França, novembro de 2011



     Os mais poderosos líderes das mais poderosas nações do Mundo reuniram-se na paradísica cidade de Cannes, roteiro dos grandes magnatas e cineastas mundiais, para debater um assunto por de mais indigesto...


     Não, não foram os escargot que os líderes comeram no almoço oferecido pelo líder da França, Nikola Sarkozy, ou mesmo as "conversas" à portas fechadas que Ângela Merkel e Sarkozy tiveram nessas últimas semanas, embora uma coisa não esteja realmente separada da outra...
Chanceler alemã, Angela Merkel, ao lado do presidente francês, Nicolas Sarkozy, em outubro
Hum! Sarkozy! Sarkozy! Você não sossega nem mesmo quando a sua mulher, a Carla Bruni tá tendo um filho seu? Esse sorrisinho dos dois não engana ninguém!


       A questão era: A Grécia!

       A Grécia? Isso mesmo, o berço da Democracia da qual se fundamentam todos os países ocidentais, o berço da filosofia, do dito conhecimento ocidental em si, a raiz da civilização dita "ocidental"...

        Isso porque a Grécia acabou sendo abalada por uma grave instabilidade financeira acarrateada pela má administração das receitas públicas que foram "investidas" de maneira irresponsável pelo governo, para não falar propriamente em Corrupção (Isso mesmo! Você pensa que é só no Brasil! Tupininquin tolinho!)

        O endividamento da Grécia e a bancarrota desse diminuto país na parte meridional da Península Balcânica elevaram as taxas de risco da economia europeia e consequentemente diminuíram a força do Euro na Europa (Isso porque sou marxista e entendo bem como é a economia totalmente confusa dos Mercados de Ações).

       Resultado: Bancos europeus haviam emprestado somas gigantescas de dinheiro para que a administração de país se estabilizasse a fim de que a Europa não fosse para a bancarrota (e claro, eles ganhando juros por cima dos empréstimos), contudo, cadê que o governo grego tem como pagar a dívida?


        Isso porque a economia grega é baseada praticamente em:
  1. Turismo, propriamente histórico, como a visita de Atenas, Lesbos (que é o maior ponto de encontro das lésbicas no Mundo), Creta, Esparta (This is Sparta...).
  2. Venda de produtos primários, como azeite (o azeite grego é o melhor do Mundo), pescados, vinho (embora não em grande quantidade);
  3. Mão de obra que se torna imigrante em outros países da Europa (embora os gregos ainda se considerem os mais civilizados do Continente Europeu inteiro).
       O turismo começou a uma crescente decadência em virtude da nebulosidade econômica que paira sobre a Europa, ninguém sabe se ao viajar em final de semana, se manterá o emprego na Segunda Feira, assim chega a ser demasiado perigoso viajar, gastando dinnheiro valioso, sem ter a estabilidade no emprego...
 Resultado: Quem vai viajar à Grecia num tempo desses?

       Com os efeitos da Crise, os cidadãos apercebem-se que é melhor priorizar os produtos nacionais, que são costumeiramente mais baratos, ou mesmo do Leste Europeu que por vezes são até mais baratos, do que comprar produtos como o "Melhor Azeite do Mundo", resultado, os estoques de produtos gregos ficaram cheios, e encanhados nos mercados e depósitos, não à toa que os gregos agora almeijam outros mercados, como o Brasil...

       Mão de obra é uma coisa complicada... Imagine vocês que a Europa ainda é consumida pela xenofobia (Oh! No! Really? Tom de sarcasmo), de modo que os cidadãos dos países mais ricos também andam tendo dificuldades em arranjar trabalho para si, aceitando inclusive empregos antes repudiados, como pintor, pedreiro, lixeiro... Os cidadãos dos países mais pobres debatem-se por empregos com a população local, de modo que na escolha do empregador, geralmente prevalecerá a população local, tendo em vista que um francês tem mais confiança num francês do que, digamos, em um tcheco, ou português... (isso no Brasil, não é uma coisa muito notável).


          Certo, esclarecemos que a Grécia não pode pagar... O que se faz? Quando nós não temos dinheiro, o que fazemos? Calotamos, mesmo não querendo... A Grécia fez isso.

           A preocupação da União Européia não é propriamente com o governo grego ou mesmo com o povo grego, mas sim com os bancos que emprestaram dinheiro aos gregos que numa situação dessas, com um prejuízo desse tamanho e com a fragilidade do Mercado Internacional, acabaram também quebrando, e uma vez quebrando, uma onda de desemprego se arrastará pela Europa maior que a atual, e os bancos, provavelmente utilizaram também das receitas dos correntistas para tapar o buraco das suas contas...

           É jogar merda no ventilador... É por isso que Sarkozy e Merkel estão preocupados.

           Para tanto, o FMI em associação ao G-8 (os mais poderosos economicamente do Mundo) fez uma proposta indecorosa ao governo grego, o FMI e a União Européia emprestarão à Grécia dinheiro para pagar a sua dívida com os bancos e administrativa, a juros mais baixos e prazos maiores, em troca a Grécia tem arcar com algumas penalidades...
     
            Seria meio assim:

              Joãozinho é sócio de José e José tem em caixa duas moedas; uma ele empresta para um terceiro, sob a proposta de receber duas ao invés de uma, então ele empresta dinheiro a Pedrinho.
              Pedrinho não tem dinheiro para pagar José e ameaça não pagar a dívida... José fica com medo de perder tudo, aí pede ajuda a Joãozinho, que nada tinha a ver com a história, mas ameaça acabar com os negócios, ferrando a vida de Joãzinho.
              Joãozinho percebe que não tem muito o que fazer, o que ele faz? Ele usa o dinheiro de outros, que está sob a sua direção, para oferecer um emprestimo a Pedrinho de modo que ele pague a dívida com José,não ferrando assim sua vida, mas fazendo com que Pedrinho deva dinheiro a ele...
              Questão: E se Pedrinho não pagar Joãzinho? O que acontece? Joãozinho pode ir à falência, levando José e ainda tendo se explicar aos outros por ter usado o seu dinheiro para emprestar para alguém.

              Essa é a questão que toma o imaginário da União Européia... Que garantias a Grécia dará de que não dará o calote à União Européia e ao FMI?

               Daí eles formularam um plano do Diabo: Emprestam o dinheiro aos gregos em prestações, para que a Grécia cumpra as dívidas, a juros baixos e prazo estendido, contudo a Grécia têm as seguintes responsabilidades:

  1. Aumentar a idade para aposentadoria dos seus cidadãos a fim de reduzir os gastos da Previdência (Imagine você, trabalhando ao seus trinta e cinco anos de esforço braçal e intelectual, pagando pontualmente um Plano de Previdência por quase uma vida, e de repente, quando você está para se aposentar, você descobre que vai ter que trabalhar de cinco a dez anos a mais, por causa da imposição de um governo extrangeiro, me diga se você não ia ficar puto)
  2. Cortar os investimentos em educação e saúde de modo a reduzir as depesas com pesquisas e pessoal (Isso com certeza não é benéfico em nenhum canto da Galáxia)
  3. Fazer restrições à Bolsa Universitária ( Os jovens terão mais dificuldades de ingressar numa Universidade e consequentemente em arranjar um emprego decente).
  4. Reduzir os salários dos funcionários públicos e gerar demissões (Aí é brincar com fogo e tacar gasolina)
  5. Aumentar os impostos (tanto os cidadãos quanto os burgueses odiarão essa medida).

       Não é à toa que o povo grego foi às ruas protestar contra esse plano mirabolante proposto pelo FMI e a União Européia. E eles estão certos, é um remédio amargo demais para ser tomado, em verdade, está mais para veneno que remédio...

Avante, meus camaradas, não deixem que isso ocorra!



      E o que o Estado pai da Democracia fez? Mandou a polícia e o Exército bater nos manifestantes e reprimir com todas as forças os movimentos sociais resistentes a esse plano estúpido...
E os gregos chamam isso de Democracia!


       Não é a primeira vez que a Grécia entra numa crise dessas, em 1945 a 1947, o país destroçado pela guerra sangrenta mal tinha forças de se levantar, e agora, com os partisans socialistas às portas de Atenas praticamente, quase levando a Grécia a um estado socialista, que seria em muito humilhante aos EUA, afinal, a Grécia era "o berço da 'Democracia'".
        O que os Estados Unidops fizeram? Enviaram o Plano Marshall à Grécia de modo a reduzir a vitória socialista na Grécia, temos que considerar que esse era o contexto da Guerra Fria e a Doutrina Truman estava no auge.

       O que impedem os EUA de fazerem o mesmo? Os EUA estão tão fracos que sequer podem se dar ao luxo de emprestar dinheiro aos outros, principalmente com o alto risco de calote.

       Para ser sincero, os EUA são uma sombra do passado.


        Em todo caso, com a violência com que os protestos acabaram ocorrendo no território grego, não demorou muito para que o Parlamento grego ficasse meio balançado, de forma que o Primeiro-Ministro grego cogitou a possibilidade de Plebiscito Popular.

        O Primeiro-ministro grego disse: "A vontade do povo grego será imposta".
        Obviamente isso desagradou os membros do FMI e da UE que sabem perfeitamente que o povo grego não quer tomar essa punição da qual sequer tomara parte... É um remédio amargo demais!

      Assim o FMI e a UE pressionam a  Grécia, dizendo que não vão repassar dinheiro dos empréstimos e que podem até retirar a Grécia da Zona do Euro e até da União Européia.

      Joãozinho agora obriga Pedrinho a pegar o empréstimo desde que ele tome o óleo de ricino, o qual ele não quer tomar...

      Resultado, o Primeiro-Ministro voltou atrás e disse que não ia ter plebiscito... Isso quer dizer que a vontade do povo não será levada em conta, eles só vão agir por seu  próprio benefício.


       A União Européia não é esse bloco de irmandade que imaginamos, é como qualquer estrutura burguesa que tenta tirar lucro mesmo da desgraça alheia, agora o povo grego terá que tomar o óleo de ricino? Ou ele cuspirá na cara daqueles que em verdade só querem se desfazer desse remédio amargo?

      FORÇA POVO GREGO!

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