segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Revolução de Outubro

 

7 de novembro de 1941
 
        Faz frio em Moscou, um daqueles tipos de frio dos quais tememos até mesmo sair de casa... Estavam batendo -20° C na Grande Moscou, imagino o quanto fazia agora nos Urais... Deus do Céu!
Você não sabe o que é frio até conhecer Moscou no Inverno!
         Mas lá, sobre o grosso nevoeiro que surge dos ventos dos Urais, marcho a passo de ganso na Praça Vermelha enquanto o Vojd nos olha atento aos nossos movimentos do alto do palanque montado de improviso próximo a uma Estação de Metrô de Moscou.
Stálin e o General Zhukov
        Eram tempos difíceis, a guerra chegara aos portões da Capital... A Luftwaffe cortava a capital com o tenaz bombardeiro que dilapidava a velha e sólida Moscou... Moscou que por sinal não parecia tão resistente assim... O Kremlin foi bombardeado, a Catedral de São Basílio por um acaso do Destino também não veio à baixo... O povo em si dormia no metrô, onde os furtos e assaltos eram frequentes.
         Até mesmo o corpo de Lênin teve que ser levado para a Sibéria para que não corresse o risco de ser profanado pelos nazistas...
"Pobre Lênin... Lenin deixou-lhes um legado e eles fuderam com tudo"
         O Estado Maior se refugiara numa estação do Metrô isolada das demais por tapulmes de compensado sobrepostos no vão principal de uma plataforma, enquanto Stálin... Stálin em um bunker escondido, tão bem escondido, que ninguém sequer imagina até hoje onde fica, comandava as tropas do Exército Vermelho, ordenando ao pobre General Zhukov...
        Estávamos no meio da guerra, os nazistas estavam a trinta quilômetros da capital, mas mesmo assim marchamos sobre aquele frio de cortar os joelhos pela Praça Vermelha em direção ao front de batalha , era o aniversário da Revolução! Eram dias difíceis, mas vencemos. A Batalha de Moscou!
A Parada Militar no 24° aniversário da Revolução
       A Praça estava tomada pela tensão da guerra, os moscovitas sempre alertas, olhavam ao Céu, enquanto o camarada Stálin observava com extrema cautela a parada de modo que ficasse tudo impecável para a propaganda...
         Por que tudo aquilo? Afinal para quê nos arriscarmos a tanto numa infrutífera parada no meio da mais sangrenta dentre as Batalhas até agora... Não tínhamos armas, quão menos reforços, nossas forças desmoronavam enquanto vulneráveis, nós, marchávamos sob o nublado dia 7 de novembro...
 
"Camaradas, homens do Exército Vermelho e da Marinha Vermelha, os comandantes e instrutores políticos, homens e mulheres trabalhadores nas fábricas, homens e mulheres das fazendas coletivas , trabalhadores de atividades intelectuais, irmãos e irmãs que estão na retaguarda do nosso inimigo que temporariamente caíramsob o jugo dos bandidos alemães, e os nossos valentes homens e mulheres guerrilheiros que estão destruindo a retarguarda dos invasores alemães!

Em nome do governo soviético e do nosso Partido Bolchevique estou saudar-vos e felicitá-los pelo o vigésimo quarto aniversário da Grande Revolução Socialista de Outubro.
Camaradas, é em circunstâncias extenuantes que estamos comemorando o dia do vigésimo quarto aniversário da Revolução de Outubro. O ataque traiçoeiro dos bandidos alemães e da guerra que tem sido forçada sobre nós criou uma ameaça ao nosso país. Temos perdido temporariamente um número de regiões, o inimigo tem aparecido nas portas de Leningrado e Moscou. O inimigo contava que após o primeiro golpe  o nosso exército seria disperso, e nosso país seria forçado a ficar de joelhos. Mas o inimigo gravemente calculou mal. Apesar dos reverses temporários, o nosso Exército e da Marinha estão heroicamente a repelir os ataques do inimigo ao longo de toda a frente e infligindo pesadas perdas em cima dele, enquanto o nosso país, todo o nosso país se organizou-se em ordem em um campo de luta , juntamente com o nosso Exército e nossa Marinha, para abranger a derrota dos invasores alemães.
Houve momentos em que nosso país estava em uma posição ainda mais difícil. Lembre-se do ano  1918 , quando se comemorou o primeiro aniversário da Revolução de Outubro. Três quartos de nosso país estavam naquele momento nas mãos dos intervencionistas estrangeiros. A Ucrânia, do Cáucaso, Ásia Central, nos Urais, na Sibéria e no Extremo Oriente foram temporariamente perdidas por nós. Nós não tínhamos aliados, não tínhamos  O Exército Vermelho -tínhamos apenas começado a criá-lo, havia uma escassez de alimentos, de armamentos, de roupas para o Exército. Quatorze estados estavam pressionando contra o nosso país. Mas nós não desanimamo-nos, nós não desanimamos. O fogo da guerra  forjou o Exército Vermelho e converteu nosso país em um acampamento militar. O espírito do grande Lênin nós animou ao mesmo tempo para a guerra contra os intervencionistas. E o que aconteceu? Nós repelimos os intervencionistas, e recuperamos todo o território nosso perdido, e alcançamos a vitória.
A posição de hoje de nosso país é muito melhor do que 23 anos atrás. Nosso país está agora muitas vezes mais rico do que era 23 anos atrás, quanto materiais da indústriais, alimentos e vestimentas.  Agora temos aliados, que junto conosco  mantêm uma frente unida contra os invasores alemães. Nós agora desfrutamos da simpatia e apoio de todas as nações da Europa que caíram sob o jugo da tirania de Hitler. Agora temos um Exército e uma Marinha esplêndidos , que defendem com suas vidas a liberdade e  a independência de nosso país. Nós experimentamos nenhuma falta grave de qualquer alimento, ou armamentos ou de roupa do exército. Nosso país inteiro, todos os povos do nosso país, devem apoiar o nosso Exército e nossa Marinha, ajudando-os a destruir as hordas de invasores fascistas alemães. Nossas reservas de mão-de-são inesgotáveis. O espírito do grande Lênin e sua bandeira vitoriosa animar-nos-á agora nesta guerra patriótica, assim como eles fizeram 23 anos atrás.
Pode haver qualquer dúvida de que podemos, e somos obrigados a, derrotar os invasores alemães?
O inimigo não é tão forte como alguns intelectuais um pouco assustados imaginam. O diabo não é tão terrível quanto o pintam. Quem pode negar que o nosso Exército Vermelho tem mais de uma vez põe as tropas alemãs a entrar em pânico alardeado vôo? Se julgarmos, não por as afirmações arrogantes dos propagandistas alemães, mas pela posição actual da Alemanha, não será difícil compreender que os invasores fascistas estão enfrentando um desastre. Fome e empobrecimento reinam na Alemanha dia a dia, em quatro meses de guerra a Alemanha perdeu quatro milhões e meio de homens, a Alemanha está sangrando, suas reservas de homens estão se exaurindo, o espírito de indignação está se espalhando não só entre os povos da Europa, que caíram sob o jugo dos invasores alemães, mas também entre o próprio povo alemão, que não vê um fim para a guerra. Os invasores alemães estão forçando seus esforços passado. Não há dúvida de que a Alemanha não pode sustentar tal estirpe por muito tempo. Mais alguns meses, outro semestre, talvez mais um ano, e a Alemanha hitlerista  deve estourar sob a pressão de seus crimes.
Camaradas, homens do Exército Vermelho e da Marinha Vermelha, os comandantes e instrutores políticos, homens e mulheres guerrilheiros, o mundo inteiro está olhando para você como a força capaz de destruir as hordas de saqueadores alemães. Os povos escravizados da Europa que caíram sob o jugo dos invasores alemães olham para você como seus libertadores. A grande missão libertadora caiu sobre vocês. Sejam dignso desta missão! A guerra que estamos travando é uma guerra de libertação, uma guerra justa. Deixe as imagens viril dos nossos grandes ancestrais - Alexander Nevsky, Dimitry Donskoy, Kuzma Minin, Dimitry Pozharsky, Alexander Suvorov e Mikhail Kutuzov, inspirá-los nesta guerra! Façam com que  a bandeira vitoriosa do grande Lênin seja sua estrela-guia!
Para a completa destruição dos invasores alemães!
Morte aos invasores alemães!
Viva a nossa Pátria gloriosa, sua liberdade e sua independência!
Sob a bandeira de Lênin, em frente à vitória!"
   Agora me lembro...
        Há exatos noventa e quatro anos, lá estava eu, sob o comando do camarada Antonov Oesenko tomando de assalto o Palácio de Inverno de Petrogrado. Um palácio estremeamente belo, no centro da então capital, em estilo Neoclássico, remontava o tempo de Pedro, o Grande, patrono da cidade... Ali fora a sede de Governo de Kerensky durante o período menchevique... Aquela estrutura podre caiu quando invadimos de asssalto, de rifles e mosquetes em mãso, aquele símbolo mor do ostracismo institucionalizado... A autocracia Romanov...
"A autocracia caiu quando nós, sob o pesado fogo que emanava do Palácio, sob comando do camarada Oesenko tomamos o Palacio."
       Lá por perto escutava o encouraçado Aurora rufando os seus canhões em prol da causa revolucionária, enquanto Vladimir Ilyich ecoava sua voz aguda e estridente com extrema força aos milhares de trabalhadores, logo depois de se reunir com o Comitê Revolucionário e com o Politburo. Era a Revolução de Outubro
"Como eram felizes aqueles dias!"
        Aqueles eram dias felizes, as atendentes de bonde chamando a todos, com um largo sorriso no semblante, de camarada, enquanto conduziam alegremente os civis para os mais distantes recantos da cidade... 
"Era isso que passavámos!"
         Quem disse que com a Revolução o comércio fechara? Os restaurantes grã-finos da Avenida Nevsky continuavam abertos para o programa dos desocupados nobres e burgueses que de cartola caminhavam nos teatros para verem com suas amantes uma Comèdie Française qualquer enquanto nossos filhos passavam fome...
         —  Camaradas, eu sou muito grato a vocês por terem deposto o Czar... Mas vocês deporam o Czar para manterem a guerra?
          
— Não!
               

             — Vocês deporam o Czar para que os seus filhos continuassem a passar fome?
           — Não!
               — O povo precisa de paz. Agora! O povo precisa de Terra! Agora!O povo precisa de pão! Agora! Aceleremos a Revolução apenas começada... A Revolução do Proletários.

               Eram dias simples aqueles, dias aos quais dedicavamos a nossa vida para a construção de uma sociedade melhor. Uma sociedade justa e feliz... Eram os anos da Revolução! Ao me lembrar-me disso, marchei com mais força do que imaginam, e com o largo passo de ganso percorri a PraçaVermelha toda em menos de dez minutos, com o rifle na mão, rumo à derrota dos infâmes fascistas... Subi a rua Gorky e em seguida me vi defronte à guerra... Foi o dia mais feliz da minha vida! Levei doze tiros, perdi dois dedos, mas pelo menos consegui lutar dignamente por nossa pátria...
"Sim, eu lutei em cima desses tanques"
             Até que hoje, aos cento e dez anos, já cego de um olho e trêmulo das mãos, esquecendo-me repentinamente de quem sou, do que acabei de fazer...
              Hoje eu sinto tristeza, por estar aqui defronte a você dando essa entrevista, quando presencio os jovens, crianças praticamente dinamitando estátuas de Lênin e profanando a memória da Guerra ao desenharem suásticas no Metrô... 
"Isso é uma atrocidade à memória russa!"
            Quando vim para cá, presenciei um skinhead batendo numa velhinha por causa de uma bolsa na estação Plouschad Revoluschii (Praça da Revolução), isso me amargura, pois sei o quanto mal acabamos fazendo dez anos atrás quando encerramos de uma só vez a URSS, e colocamos o Yeltsin no poder... É triste, muito triste...
(Agradecimentos especiais ao senhor Gorkin, que acabou morrendo, de ataque cardíaco após essa entrevista, sequer pôde comemorar o 94° aniversário da Revolução)
 (Os eventos da Parada Militar da Batalha de Moscou completam hoje também 70 anos)

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