Para mim mesmo ergui esse ataúde de vidro de complacência e autopiedade, deixo o vento cair sobre minhas costas, vindo do mais distante infinito. Não tremo nas estribeiras, fico só pensando, pensando no passado, no presente e no futuro.
Seria uma boa hora para puxar um cigarro do bolso e começar a fumar, mas não, o fumo é tão desgastante quanto essa continuidade. Melhor não perder o meu tempo com tais vícios. Prefiro pensar, pensar, sorrir com os meus erros, calcular novos planos e novas metas, ver se são possíveis. Não, nada de chorar, nada de se sentir infeliz. Seguir em frente! Esse é o caminho.
O tédio me consome, não tenho mais ideias do que irei fazer. Escrever? Estou sem vontade, escrevi demais. Ler? Também já o fiz até as minhas mãos e os meus olhos se cansarem. O que fazer então? Sair? Não eu não vou sair, a cidade deve estar um inferno. Suja, tola e abarrotada de gente.
Prefiro ficar reclinado no sofá, olhando para a televisão desligada me encarando com os seus catodos e filetes de cristal líquido, imaginando as bobagens que devem estar passando nessa tarde e de como a vida pode chegar a tal nível. Com uma pequena bola de tênis, dessas que compramos na rua, fico martelando a parede com os mais ínfimos pensamentos e divagações. A sala está escura, o vitrô da janela nem sequer foi aberto direito, mesmo assim o vento gelado bate nas minhas costas. Por quê?
Será meu passado me assombrando nessa tarde melancólica ou será o meu futuro me alertando para os perigos da vida? Eu não sei. Mas eu sei que estou tranquilo, me sinto livre e calmo. Tudo é tão sereno, mas tão passageiro, até mesmo o silêncio que pode ser quebrado por um simples suspiro ou o gorjear de um passarinho.
As ideias são transitórias nesse dia, martelam na minha mente tal como a bola martela a parede, mas no fim quicam e acabam escapando. Melhor assim, hoje não é um dia bom para trabalhar, hoje é um dia para ficar deitado olhando para o teto perguntando o porquê de estar entediado e contando os dias para voltar ao trabalho. Sim, o trabalho às vezes era divertido, mas esse tédio não.
Não quero pensar no tédio. Talvez devesse aproveitar a tranquilidade dessa casa para ficar pelos cômodos relembrando algumas lembranças, poucas é claro, a casa ainda é nova, mas já tinha traços bastantes peculiares. Não melhor não, nem sempre lembranças são boas.
Levanto-me do sofá, sigo para o meu quarto e penso no que fazer. Sim, assistir a um filme. Como não havia pensado nisso antes. Eisenstein, com tudo que havia direito: Ivan, o Terrível, ver todas aquelas conspirações e mortes que só o Eisenstein sabia fazer. Eis que ligo o DVD e penso: "Esse tédio é tão fácil de ser contornado quanto um evento passado". Decido escrever um pouco e me tranquilizo com isso. 14:14, mas que reloginho infernal!
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
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