domingo, 10 de fevereiro de 2013

Por que eu odeio o Carnaval?

       Fevereiro é um dos meses mais tristes do ano, não só por ser o menor dos doze, mas por ser tão o mais difícil de todos.

      Alguns dirão: "Como pode ser triste? É o mês do Carnaval?" É justamente por isso que é um mês triste.


     Eu odeio o Carnaval de corpo e alma. Talvez seja um dos poucos brasileiros que tenha orgulho em dizer isso, o Carnaval é uma festa logicamente da podridão da fornicação, e isso eu digo sem ser moralista, pois até os moralistas tiram a saia nesse período.

    O Carnaval é a mera releitura da Festa das Bacantes, com o viés mais romano e sacramentado pela Igreja, onde as mulheres saem nuas por aí e os homens se embriagam com tudo que têm direito, acabando por sonegar a sua condição humana. É no Carnaval que acontecem os maiores números de assassinatos, estupros e roubos. É tudo por que? Porque as pessoas passam dos limites.

    É curioso como uma festa assim, com pessoas fazendo sexo na rua, mulheres andam nuas e gritando obscenidades, possa ser sacramentada pela Igreja, mas foi. O Carnaval é o dia do pecado, e a Quarta de Cinzas é o início do período de purificação do cristianismo, a Quaresma.

     Mas tudo por que? Talvez a lógica seja de para você se purificar você deve pecar? Eu realmente não sei, mas acho um pouco hipócrita que nesse período pessoas religiosas, que passam os seus dias nas Igrejas rezando, pedindo ao seu deus ajuda, se rebelem e façam todo o tipo de coisa nesses três dias. No Carnaval tudo pode? Mijar no hidrante como um cachorro, sair pela rua beijando mulheres à força, fazer sexo na rua? Isso pode?

      O falso moralismo brasileiro se desmascara por aí. O brasileiro aceita que a mulata saía nua na passarela do samba balançando seus atributos (não que eu reclame)  enquanto bebe cerveja e fala obscenidades, mas não aceita que duas mulheres se beijem na rua, ou dois homens.

      Na verdade, aceita as duas mulheres, desde que estejam na cama com ele, salvo isso ele é o primeiro a falar contra, dizendo que o homossexualismo é pecaminoso, que antinatural. Mas essa festa em si é antinatural.

      O brasileiro acha errado que dois homens se inter-relacionem, acha pecaminoso, mas não vê problema nenhum saindo vestido de mulher pela rua com outros milhares de machos pulando pela avenida. O que difere isso da Parada Gay? E ainda assim critica. É uma hipocrisia.

     E quanto às mulheres, algumas estão ali só pela diversão, só para dançarem e tal. Mas outras, parece que baixa um santo, e começam a fazer tudo o que não deviam. Baixam a saia, beijam qualquer um, aceitam fazer sexo na rua. Saem nuas na Sapucaí, mas ainda querem pintar de moças de família que não querem se envolver com alguém porque não querem sujar o nome. São moralistas, nos outros 363 dias do ano, censurando as mulheres que andam com roupas menores que as suas, mas no Carnaval elas andam até nuas!

      Isso é hipocrisia. Acham obsceno e imoral que os seus filhos vejam o jornal, ou mesmo algum programa que conte histórias alheias ao que a moral ensina, mas aceita que passe na televisão mulheres peladas mandando beijinhos nos trios elétricos e etc. Mas no Domingo, tem que ir à Igreja.

       O brasileiro anda pelas ruas com as máscaras de corruptos conhecidos, Dirceu, Maluf, fala mal da política, culpa Brasília como um mal perpétuo,  mas ele ao primeiro arrocho da Lei Seca reclama, e tenta subornar o guarda com alguns trocados para escapar do bafômetro. Não acha que dirigindo bêbado ele está cometendo uma falta.

      O brasileiro fala que educação é importante, mas é o primeiro ao ignorá-la ao aceitar que milhões de reais, que poderiam ser usados para as escolas, sejam usados para uma festa como essa. Liga na Globo, assiste os desfiles das escolas de samba, que são tão chatos quanto uma Parada Militar, mas fazem isso pelo prazer de ver as mulatas dançam seminuas numa passarela.

      "A saúde é importante", diz ele. Mas ele próprio esquece da importância do preservativo, dizendo que aperta, e acaba fazendo sexo sem proteção. Não a toa que o número de nascimentos de crianças cresce depois 9  meses após o Carnaval, e o de DSTs também. Assim os hospitais acabam inchando com coisas que poderiam ser evitadas.

      O brasileiro é irresponsável antes de tudo, deixa para resolver tudo na última hora. No caso das crianças, as mulheres na maioria são contra o aborto, pois para elas significa a morte, mas quando a criança nasce, algumas nem hesitam em abandoná-las. Se falar em um casal homossexual adotar a criança, tenha certeza quer boa parte das pessoas vão chiar.

      Três dias de hora vermelha, de total liberalidade, para 362 de moral e costumes. Ou é tudo ou é nada.

      O brasileiro se acha romântico, mas puxa a mulher pela força, a mulher saí pela rua exibindo até o umbigo (por dentro), mas se diz de família. Acha errado a corrupção, critica-a com as máscaras, mas paga o guarda com um trocadinho. Mija na rua, joga lixo. Reclama da enchente. Acha-se no direito de fazer tudo isso, porque o Estado tem que lhe servir porque ele paga os seus impostos.

      O Carnaval é a época do desrespeito, desrespeito com as mulheres, desrespeito às leis de segurança, desrespeito com as vizinhanças, desrespeito à vida. É a época onde a promiscuidade impera de maneira hipócrita, em que não se respeita outros gostos  e outros pensamentos. Forçam-nos a ouvir o batuque, cornetas, gritarias em horas inimagináveis. Saturam nossa mente, e nos deixam cansados. Por isso mais de 50 % dos cariocas deixam o Rio nessa época, segundo uma pesquisa do IBGE. Não os culpo, a cidade deve ficar um inferno mesmo.

       E nós vendemos essa imagem para o exterior, da mulata fácil que dorme com qualquer um, da tropicalidade, da algazarra e do povo que se diverte por natureza. Que não se importa se vai trabalhar e batuca em tudo que é lugar, quando os estrangeiros vem, eles pensam nisso, que as mulheres são prostitutas, que os brasileiros só gostam de farra e são malandros. Não dá para culpá-los por isso, e mesmo assim reclamamos do jeito que eles nos tratam.


       Antes que digam que eu sou contra o samba, eu digo. Eu gosto de samba, principalmente o melódico, o  antigo. Do alto dos morros dos anos 30, aquele triste, infeliz, aquele de Noel Rosa. Eu gosto de samba, mas eu não gosto é de panicat em cima do trio mostrando a calcinha sobre um barulho ensurdecedor com o Psy dançando Gangnam Style para uma multidão ensandecida de gente se esfregando, suada, cheirando a cerveja e achando tudo isso normal. Dos banheiros químicos putrefatos, dos assaltos, e das ruas sujas. Dos acidentes nas ruas e da hipocrisia. A hipocrisia do homem brasileiro.

       Eu posso estar sendo chato, sendo uma variação tropical de Nietzsche e Chomsky ao mesmo tempo. Mas eu digo, que se o Carnaval, essa festa importada, é a égide da cultura nacional, eu mesmo devo me declarar antinacionalista, porque não posso aceitar que tal vulgarização seja acompanhada de 362 dias de hipocrisia (principalmente no Natal).

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