quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Memórias de um cavalariano

      "De vagão em vagão, trilho por trilho, cortando as veredas antigas e intocadas do interior a locomotiva de estrela vermelha esguichava o vapor no pôr do sol alaranjado naquela planície na divisa da Ásia Central. A lenta travessia do maquinário se desenvolvia de maneira constante entre suspiros e brandidos metálicos dos parafusos naquele trilho retilíneo no meio do nada.

     Na avenida central, dia e noite, a bandeira de nosso líder flamula preguiçosa no leito branco das estepes, conduzindo nossos homens através dessa parte intocada da Ásia. Nessa avenida central, dia e noite, a vida corre mais rápido, nossas vozes tornam-se mais fortes, nossos passos são mais velozes e os nossos trilhos mais curtos enquanto o trem parte rumo ao Sul.

      A legião dos trabalhadores é nossa grande companheira, a ela juramos defender, enquanto nosso general está conosco para defendê-los, em nossas casas, em nossas vilas. Não deixaremos um só pedaço de terra para os inimigos.

      Corro atrás do trem no meu cavalo, lado a lado, suas patas são ligeiras, mas não tão rápidas quanto o trem. Dobro minhas pernas batendo nas ancas do animal, enquanto sibilo minha espada reluzente ao alto. URA! Aplaudam a grandiosidade do nosso exército enquanto nossos inimigos estão fugindo quando estamos lhes dando uma surra infernal.

      De estação em estação, de vila em vila, não deixaremos que eles vençam, que tomem as terras de nossos pais. De Kalach a Kazan, estamos aqui para nos defender de nossos inimigos covardes que hoje estão fugindo frente a ti, locomotiva!

     Em Kalach os canhões fascistas erraram a mira, e nosso trilho, nosso comandante, nosso glorioso Exército com suas ushankas e katyushas, libertou a pequena cidadezinha. Dia e noite, cavalgo pelos campos enquanto tu, oh locomotiva, leva nossa força de norte ao sul, de sul para o oeste.

     Noite e dia, viva a ti, oh Locomotiva! De madrugada em madrugada iremos agora, todos juntos acabar com a besta fascista! Embora não saibamos o que estar por vir na escuridão curta e negra da noite sera apagada pela  grande estrela vermelha.

     Nossos trilhos são grandes e largos, nossos caminhos são obscuros e negros e tu estrela vermelha, nos guia!

     Cavalgo sem sela lado a lado da ferrovia, noite e dia, tão rápido, tão ágil, com a espada na mão e paz no coração. Rápido, mais rápido, rumo ao vagão no meio da escuridão. Estrela polar me guia nessa luta noite e dia, grande estrela vermelha.

       Rápido, mais rápido. Pode relinchar, meu caro cavalo, mas a locomotiva não para, muito menos a guerra. De Kalach  a Kazan estamos aqui para nos defender de nossos inimigos covardes que hoje estão fugindo frente a ti, locomotiva!

      O acordeon toca uma balada logo ao fundo, os soldados cantam rápido enquanto o meu cavalo trota nessa estepe desvairada, estrela polar guia-me nesse dia..."

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