Não inclina tua cabeça
Dispersa a névoa das nuvens
A Providência do Senhor é grande
Sorri gentil para a terra
Estendida abaixo de ti;
Canta à geleira um acalanto
Que desce suave dos céus.
Tem certeza que depois de
Derrubado ao chão, um homem oprimido
Luta de novo para subir a montanha pura,
Quando exaltado pela experança.
Então, adorável lua, como antes,
Brilha através das nuvens;
Na abóbada celeste, suavemente,
Faz teus raios brilharem
Mas eu abrirei minha veste
E mostrarei meu peito à Lua
De braços abertos, reverenciarei
Aquela que ilumina a terra!
Sofridos sao esses versos de um jovem poeta descansante em meio a noite fria das estepes escarpadas da Ásia, solitário era o autor desses versos, tendo a si em companhia apenas suas convicções num futuro melhor. Quem diria que um filho de sapateiro que quase chegou a ser padre, tornar-se-ia um poeta?
Mas não só um poeta, esse jovem rapaz tornar-se-ia muito mais que isso, tornar-se-ia um revolucionário, um líder, um fanático em uma crença quase utópica e mesmo assim sofria dentre os outros as dores do abandono, da rejeição e da morte.
Tornar-se-ia cru, uma casca em meio ao outros, obcecado pelos pronunciamentos ecoantes de uma voz agudamente forte e enérgica de um profeta sem túnica, de cabeça calva e bigode engraçado, esse jovem poeta um dia se tornaria um líder.
Deportado para os mais funestos cantos da Terra, sozinho, em meio ao frio de cortar-te os pés, o jovem escritor via com maior ódio a opressão de um sistema ultrapassado e dicótomo como o que existia nas pradarias da Europa Oriental.
Ele se tornaria uma pessoa fanática, devota a uma concepção semi-ortodoxa na luta por algo que poucos falavam na época. Foi preso várias vezes, fugiu outras tantas, mas sempre devoto a uma voz ecoante em meio a Europa, o marxismo.
Poeta, um dia, jornalista em outro, o jovem redator de poesias apaixonadas um dia acabou se tornando redator de um dos maiores jornais de que se tem notícia, um dos mais conhecidos e populares do mundo e que até hoje perdura sob sua égide fraquejante no ciberespaço, o Pravda (A Verdade).
Foi no Pravda que o jovem garoto colocava títulos e matérias enviadas de seu patrono ideológico clandestinamente das montanhas pontiagudas da gélida Suíça, ali em quase dois mil quilômetros separado de seu mestre estava alguém tão simplório tentando convocar as massas para a revolta popular, o nome dessa criatura singela era Koba.
Koba era uma criatura de hábitos, lia muito para uma só pessoa, quase um livro por dia!, recitava poesias, dançava com bailarinas vulgares, tinha paixões inesperadas, mas sempre convicto na sua concepção de uma sociedade melhor. Nunca escutava os outros, seguia sempre o seu caminho, odiava que interferissem em seus pensamentos, mesmo que estivesse com um olhar suplicante por comentários.
Era uma pessoa tímida, não sabia falar direito a língua com uma voz que fosse a melódica de um trovador circaucásico, tinha medo de falar em público e quase nunca se arriscava a falar à multidões, mas isso um dia mudaria.
Em meio ao deseperado passo de ganso dos guerreiros no solo frágil europeu, sob a égide de mudanças, surge uma juventude suplicante por paz, terra e pão, e embuídos por fervor revolucionário acabam acatando as iluminantes palavras de um homem que mudaria o mundo, Lenin.
Em meio ao sonho de uma sociedade justa, sem opressão e sem loucuras assassinas, surgem vozes ecoantes para o fim do cambaleante império dos Romanov, que vinham sendo rapidamente depostos do comando daquela nova Rússia que formaria, era o início da Revolução Russa.
O jovem poeta transformado em jornalista internacionalista continuava a se encobrir-se em meio à chama revolucionária, expondo as suas idéias num jornal clandestino em uma tipografia suburbana, quase não tinha expressão naquela época, o rapaz, e via-se sempre subjulgado por oradores melhores que si em discursos acalorados, como Trotsky, Kamenev e até Martov.
Em meio ao calor revolucionário que surgira na insurreição de Petrogrado (São Petersburgo), naquele inverno de 1917, a voz de Lenin coordenava astutamente os movimentos do Conselho Revolucionário do Povo rumo à escalada revolucionária e atrás de Lênin, vinham homens em auxilio ao seu ambicioso plano de metas, um deles era o jovem Koba, agora ressurgido das cinzas como Stálin, o "homem de Aço".
Discussões surgiram dentro do grupo intrépido de transformadores da História, muitos acabaram se odiando, e como não poderia ser diferente, dois nêmesis diante de si viram o ódio face a face, era o início da rivalidade entre Trotsky e Stálin.
Tava na cara que isso não ia dar certo! |
Trotsky rejeitava "o pequeno montanhês bexiguento" que era o jovem Stálin; ele era arrogante, sim ele era arrogante, presunçoso, egocêntrico e outros adjetivos, mas era um dos homens que Lênin precisava para cativar o amor das massas, com seus discursos sempre bem elaborados, aquele jovem garoto de cabelos ovinos conduzia os homens e mulheres de Petrogrado rumo à mudança na História.
Já Stálin era uma pessoa diferente, odiava a arrogância de Trotsky, sabia que os dois não se dariam certo, mesmo quando tentara uma única vez estabelecer conversa com aquele ex-aristocrata rural da Ucrânia de voz engraçada; os dois não se aturavam e não se confiavam.
Em meio às baluartes de aço formadas pelos batalhões famélicos por justiça, os dois, o "bexiguento da Geórgia"(Stálin) e o "carneirinho judeu"(Trotsky) trabalharam juntos, embora cada um no seu canto, para estabelecer o mais audacioso plano de Lênin, a União Soviética, a matriz de uma nova terra que se formaria até se tornar a Internacional de Marx.
Todos sabem o que aconteceu nos eventos seguintes, os bolcheviques venceram, mas Lenin acabou sendo acometido por uma misteriosa doença e toda essa história de amor e ódio acabaria em uma só realidade: Um se tornaria um Senhor da Guerra com as mãos tão imundas de sangue que nem mesmo toda a água dos mares de Netuno a limpará por mil anos, enquanto o outro acabaria com uma picareta na cabeça de enfeite.
"The game is over, Trotsky" До свидания, баранины.( Adeus, carneirinho!) |
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