Isabelita Péron, terceira mulher de Juan Manuel Péron, assumiu o poder na Argentina após a morte de seu marido. A Argentina vivia uma situação econômica delicada, com a alta taxa de inflação sobrecarregando os salários das classes trabalhadoras, instabilidade financeira com a queda de rendimentos de sua economia agro-exportadora (a Argentina sobreviveu e teve seu período de ouro a partir da exportação de insumos como carne bovina, couros e trigo), além de seu principal mercado consumidor, Reino Unido vivenciar uma situação financeira complicada desde o termino da Segunda Guerra Mundial, a economia argentina não se encaixava no Big Deal Norte-Americano, de fato, concorria em desigualdade com a superpotência americana.
Com a consolidação de um parque industrial nacional, com a chegada de plantas industriais da Renault, Citroen e outras montadoras de automóveis, a Argentina iniciou um rápido surto industrial, produzindo aviões, máquinas agrícolas e itens de consumo. Siderurgias e hidrelétricas passaram a ser construídas em paisagens dominadas pelo gado e por arrobas de trigo. A Argentina Peronista conseguiu usar desses artifícios econômicos para promover um sistema de reformas sociais de redistribuição parcial das riquezas.
Os sindicatos argentinos e mesmo o grupo dos montoneros eram um dos focos de resistência da esquerda argentina ao grande capital das elites locais, cada vez mais reacionárias, voltadas para a manutenção da economia agroexportadora, solidificados numa fé e moral católica e tendo as Forças Armadas como defensoras de seus ideiais. O liberalismo argentino observou na União Cívica Radical, entidade que defendia os interesses da classe média, um espaço cada vez mais reduzido diante do acirramento das tensões entre a extrema-direita e extrema-esquerda argentina.
O golpe de 1976 encerrou de forma dramática o capítulo de incertezas do mandato de Isabelita Peron, á exemplo do Chile, Uruguai e do Brasil. A Argentina se tornou uma das ditaduras mais sanguinárias do Cone Sul, com um saldo de mortos e de brutalidade que superou as expectativas. A execução sumária de opositores em centros de tortura, bem como inclusive a utilização de aeroplanos no descarte dos corpos na Bacia do Rio da Prata é bastante documentada inclusive. Mas o que não é documentado é que o governo argentino negociou diretamente com os soviéticos uma série de acordos econômicos durante o período mais violento de perseguição aos comunistas argentinos.
Aparentemente um paradoxo, na verdade consolida mais uma vez o caráter amoral das relações comerciais soviéticas. A União Soviética de Brejnev consolidaria uma diplomacia neoestalinista de ignorar as arbitrariedades sobre os militantes comunistas na América Latina diante da necessidade imediata de manutenção de sua estrutura econômica e seu status de superpotência geopolítica.
A despeito das tensões da Guerra Fria, a União Soviética e a Ditadura Militar argentina realizaram importantes negociações comerciais em meados de 1976 a 1983, sobretudo no mandato de Jorge Videla; Um dos períodos mais devassos da história argentina também foi um dos momentos em que os dois países estreitaram cada vez mais suas relações.
1.
Situações
soviética e argentina
Após a Segunda Guerra Mundial (Grande Guerra Patriótica[1]),
a União Soviética apresentou um grande fluxo de crescimento, tendo em vista usa
sua economia centralizada e planejada para favorecer o seu próprio surto de
crescimento industrial — desenvolvimento industrial não dissociado ao período
de grande terror na URSS[2].
A agricultura apresentou períodos de pouca expressão no crescimento
soviético, os soviéticos não apresentavam grande controle no campo desde o
período da Guerra Civil, mas no processo de coletivização forçada nos anos 30,
o campesinato soviético passou a ser obrigado a integrar os kolkhoz. A
resistência “quase passiva, assumindo formas como o abate dos animais
domésticos”[3],
bem como a própria eliminação da colheita trouxeram problemas graves à agricultura
soviética que teve um processo de recuperação particularmente difícil.[4]
O controle estatal da terra, apesar das discordâncias a isso
efetuadas por Bukharin e Chainov, se traduziu por políticas agrícolas
equivocadas, como o incentivo dado às ideias de Trofim Lysenko na produção
agrícola no final do período stalinista:
As teorias de Lysenko se traduziam pela negação da existência de
genes e considerava que as características adquiridas numa vida poderiam ser
herdadas a partir do arcabouço teórico do “neolamarckismo”.[5]
Embora os adversários de Lysenko acreditassem que suas ideias “não só tinham
fundamento teórico como careciam de utilidade prática e constituíam uma ameaça
ao progresso da biologia”, Stálin
pessoalmente vinha incentivando o papel de Lysenko na Academia de Ciências da
União Soviética.[6].
O historiador russo Zhores Medvedev pontua que embora tenha havido
progressos em algumas variedades agrícolas, a política do governo não foi feliz
ao empregar o trigo ramificado, na Geórgia. Apesar de gerar espigas grandes e
um número maior de sementes, essa variedade só poderia ser cultivada em um solo
muito rico numa densidade mais baixa e tinha o problema de produzir menos
grãos, ter menor valor proteico e baixa defensa pragas, além de pouco glúten em
sua farinha.[7]
A produção de trigo foi praticamente arrasada pela geada em Omsk, e
na a produção experimental tinha rendimento duas vezes a menor da produção de
trigo tradicional.[8]
A pseudociência de Lysenko, continuou a ter efeitos a longo prazo na
agricultura, até meados de 1965-1966, quando se acreditou poder plantar milho uma
gélida região entre Archangelsk e Leningrado para depois levá-lo aos Urais e à
Sibéria[9].
A fragilidade do milho à baixas temperaturas resultou num dos
maiores desastres da agricultura soviética, apesar disso, Krushiov continuou a
gastar dispendiosos recursos com a pseudociência de Lysenko[10].
O resultado levou a União Soviética a um quadro de surto industrial
considerável embora a agricultura se mostrasse vagarosa.
Gráfico do crescimento soviético através dos anos[11]
A Argentina apresentou um grande surto econômico na virada do
século XIX para o XX resultante da sua economia agroexportadora ser favorecida
pela a alta dos preços de produtos primários. Contudo, com o arrastar dos anos,
com o fim do surto econômico, a economia argentina foi cada vez mais sendo
deixada para trás e após a Segunda Guerra Mundial teve que enfrentar uma
crescente hostilidade dos Estados Unidos, por sua política externa “neutra”
frente aos interesses do Eixo.
A guerra afetou seriamente a economia argentina[12],
de modo que sua dependência às importações revelou uma fragilidade inexorável
que passou a ser estigmatizada pelos governos subsequentes ao criarem propostas
industrializantes para a economia argentina, como Arturo Frondizi. Entretanto,
a Argentina não conseguiu se dissociar de seu passado agroexportador e vendo
cada vez mais suas relações econômicas ficarem deficitárias com o comércio com
os norte-americanos, passou a procurar novos parceiros comerciais.
“A Argentina provou com o retorno de Perón a possibilidade de
inserir-se de maneira diferente do passado, no mundo bipolar afirmado nos anos
1970”[13],
de maneira que Perón tentou levar a cabo uma proposta de “capitalismo
independente”, buscando apoio da URSS para o desenvolvimento argentino, embora
flertasse com a ideia do Movimento Não-Alinhado.[14]
Incentivou-se a ideia de que o estado soviético participasse
ativamente do desenvolvimento da infraestrutura e da indústria nacional
argentinas, embora é questionável dizer que a burguesia argentina tinha
simpatias pelo socialismo soviético. De fato, trabalhou-se para introduzir uma
despolitização no intercâmbio com o socialismo[15].
Acredita-se que José Ber
Gellard, líder da Confederação Geral Econômica, tenha incentivado o maior
intercâmbio do governo argentino com o bloco soviético, mas a despeito do papel
político que esse personagem possa ter representado junto ao governo de Perón é
de se salientar que havia uma complementaridade da economia argentina com a
soviética. De modo que o aspecto agroexportador argentino servia para o
“mercado consumidor” soviético e em contrapartida a União Soviética forneceria
apoio técnico e maquinário para a indústria argentina.
A aproximação de governos latino-americanos à União Soviética
também respondia a dilemas como a crise do dólar e as duas crises do petróleo
que agitaram a economia mundial. A política de Brejnev para a América Latina
traduzia-se pelo reconhecimento diplomático e político dos países da região, o
início de uma cooperação econômico-científica com eles, a promoção pacífica de
valores socialistas, o fortalecimento das empresas estatais ( o que também
conjugava com a linha da CEPAL) e exportações em massa de produtos industriais
soviéticos, bem como armamentos e assistência militar como meio de manter uma
presença na região.[16] A
União Soviética tinha assumido um status de superpotência que nunca antes tinha
atingindo.
Contudo a União Soviética apresentava graves problemas na sua
produção agrícola de modo que a administração das fazendas coletivas, e a
dinâmica complicada do sistema organizacional traziam uma baixa eficiência
operacional, e as condições bastante atrasadas de vida se transpunham à baixa
produtividade do trabalho e da terra. De modo que “os campos das fazendas
coletivas têm muitas ervas daninha e a colheita da produção das fazendas
estatais e coletivas pode ser considerada muito pobre na Tchecoslováquia e
Polônia, na Europa Ocidental e nos Estados Unidos”[17].
A instabilidade dos planos quinquenais, a excessiva burocratização
da cadeia produtiva da Gosplan, o crescimento do consumo individual (que era
desconsiderado pelo regime) e o racionamento dos bens de produção eram fatores
que traziam dilemas à sociedade soviética para o economista Michael Ellman[18].
O preço do sistema
soviético, o sistema de distribuição, de iniciativa e os critérios utilizados
na política centralizada de economia eram fatores conectados que traziam
dilemas ao regime soviético[19].
Embora a produção global aumentasse, a agricultura continuava a ser
um problema para os soviéticos, reféns de um modelo agrícola anterior à Revolução agrícola dos anos 50, desenvolvida pelos agrônomos norte-americanos, de modo que os planejadores da economia ao perceberem que o
consumo aumentava, mas a produção não acompanhava o seu crescimento, optaram pela opção de importar
regularmente cereais do exterior, de modo que auxiliavam o crescimento da indústria agropecuária soviética destruída com a Segunda Guerra Mundial. A escassez não acabou, mas o excedente gerado pela crise do petróleo em
1973 favoreceu a economia soviética, visto ser esse país o maior produtor de
petróleo do mundo, fazendo com que a balança comercial soviética fosse ainda positiva para importação de insumos agrícolas.[20]
Como o gráfico[21]
acima demonstra o consumo a partir de 1950 apresentou um constante crescimento
no consumo de gêneros alimentícios como carne, leite e seus derivados, ovos e peixes, mas houve
um decréscimo do consumo de batatas e derivados do trigo. Para o economista
soviético Nikolai Tikhonov, esses dois subitens representariam bens normais que
com o aumento da renda do cidadão soviético comum passaram a ser substituídos
por itens mais diversificados como a carne e os derivados do leite[22].
Também se observa que o consumo de frutas e bagas praticamente se
manteve, embora tenha tido leve crescimento e o ritmo do crescimento do consumo
por legumes e cucurbitáceas (como abobora e pepino) representou um discreto crescimento;
O vertiginoso crescimento no consumo de carne e outros itens é produto do
aumento do padrão de vida soviético, mas como a produção agrícola soviética não
acompanhava o crescimento do consumo, as importações aumentaram cada vez mais.
“A principal fonte de rendimentos da população é o salário.
Cabe-lhe presentemente ¾ do aumento dos rendimentos da população.”[23],
de modo que “na URSS, está garantido o
crescimento invariável do bem-estar do povo. Os rendimentos reais da população
duplicam de quinze em quinze anos. Em 1980, por exemplo, o rendimento per capita
era superior a 1965 em 95%”[24].
2.
Relações entre
os soviéticos e argentinos
A necessidade da economia soviética pelos insumos agrícolas
argentinos pode ter fundamentado sua posição bastante excêntrica com relação ao
golpe que os militares impuseram ao governo de Isabelita Perón, o Partido
Comunista Argentino que sempre se manifestou contrariamente a qualquer golpe
dado desde 1930 se calou, mesmo sendo na maior parte das vezes vítima de graves
perseguições[25].
É possível que o cenário político argentino pós-morte de Perón tenha se tornado
tão confuso que os comunistas se sentiram aliviados com o fim do domínio
peronista no governo, que com seu populismo tinha esvaziado as linhas do
Partido, entretanto é estranho que a diplomacia soviética também tenha se
calado com o Golpe.
O interesse soviético de manter o fluxo comercial com a Argentina
pode ter levado à tal postura ambivalente da diplomacia soviética, de modo que
como afirma Aldo César Vacs, “As
hipóteses mais plausíveis sobre as razões dessa atitude da URSS (de não atacar
a Junta Militar) devem focar-se não tanto em explicações de ordem geral, mas na
análise dos traços distintivos das relações bilaterais, tanto no aspecto
econômico como no político”.[26]
Pode também havido por parte da diplomacia soviética o desejo de
manter o silêncio quanto à questão dos direitos humanos na Argentina como meio
de manter a legalidade do PCA[27],
mas isso é uma explicação fraca demais para responder esse silêncio omisso dos
soviéticos às perseguições, torturas e mortes impostas aos opositores de
esquerda durante toda a Ditadura Militar Argentina.
O relatório soviético traduz bem o que foi o golpe:
O golpe de Estado que ocorreu na Argentina, em 1976, como resultado
da queda do governo nacionalista-burguês, diferenciava-se muitos anteriores.
Esse acontecimento foi provocado por muitas circunstâncias, em especial a crise
a que levou o país o governo peronista chefiado por Isabel Martínez de Perón. O
golpe foi possível, além disso, em virtude dos processos internos nas forças
armadas, que as dividiam em diferentes agremiações, desde patrióticas nacionalistas
até de extrema direita, de caráter “pinochetista”.[28]
A despeito de seu profundo caráter de eliminação física de toda a
oposição política que permeou todo um setor ultraconservador (quase
reacionário) da direita argentina desde a década de 1930, a ditadura de Videla
manteve os acordos estabelecidos com a URSS, e em agosto de 1977 Videla
ratificou os acordos assinados anteriormente.[29]
Em 12 de outubro de 1979 o governo soviético e argentino assinaram um acordo
ratificando os termos dos acordos firmados 13 de fevereiro de 1974[30]
que estabeleciam a cooperação comercial e técnico-científica soviética na
“elaboração de projetos, estudos e trabalhos de montagem”, bem como a compra de
maquinários e equipamentos, que iriam expirar em 1979.[31]
A sinalização de que o governo argentino manteria os acordos
firmados anteriormente demonstra que a Ditadura Argentina desejava manter os
laços comerciais estreitos com a União Soviética, e a despeito dos esforços
norte-americanos para que o governo argentino sustasse os acordos assinados com
o governo soviético devido a intervenção soviética ao Afeganistão.[32]
O acordo firmado em 10 de julho de 1980 entre os dois países leva à
ideia de que o governo argentino ignorou os apelos do governo Carter para
cessar o comércio com a União Soviética, de modo que por esse acordo “no
transcurso dos anos de 1980-85 a República Argentina fornecerá anualmente à
URSS cereais forrageiros (milho e sorgo) por um volume mínimo de quatro milhões
de toneladas [...] Assim mesmo a República Argentina fornecerá anualmente
quinhentas mil toneladas de soja à URSS”[33]
É plausível acreditar que das
quinhentas mil toneladas de soja vendidas à União Soviética, boa parte
servisse para alimentar o gado soviético enquanto o milho e o sorgo serviriam
para alimentar a população. Mas é de se salientar que as relações seriam feitas
da seguinte forma, o governo soviético realizaria a compra a partir de pessoas
físicas e jurídicas recebendo as entregas uma vez ao ano, no dia 1° de janeiro
de cada ano. Em contrapartida, os governos se compromissavam em agir da melhor
forma possível para a “conclusão de tais transações; particularmente, eles
expedirão sem taxas autorizações pertinentes de importação e exportação” [34].
Em 22 de abril de 1981, os dois governos “com o objetivo de
estender e aprofundar mais as relações econômicas e comerciais entre ambos os
países, animados pelo desejo de fortalecer a cooperação de longo prazo mutuamente vantajosa sobre uma base estável”[35] decidiram
que a Argentina ficava responsável pelo fornecimento anual de sessenta mil a
cem mil toneladas de carne bovina à União Soviética que deveria ser comprada
junto à pessoas físicas e jurídicas argentinas, que deveriam vender dentro das
cotas vigentes a sua produção e caso “ambas partes estejam interessadas no
fornecimento de carne acima das 10 000 toneladas anuais, se realizarão
consultas para concordar entre as mesmas” e os preços seriam tabelados conforme
os preços correntes no mercado internacional.[36]
Os motivos para o crescimento das relações entre ambos os países
são variados. A Argentina desde a Segunda Guerra tomou um aspecto de filha
desgarrada do capitalismo norte-americano, na medida que os americanos elegeram
os argentinos como colaboradores não declarados do Eixo. A não
complementaridade de suas economias trouxe à Argentina o infeliz papel de
concorrente direto dos norte-americanos, desse modo, as tentativas de
industrialização se tornaram infrutíferas sem a acumulação de capitais forte para
fazer frente ao capitalismo norte-americano.
Aspectos políticos podem ter influenciado o estreitamento das
relações com a União Soviética no início, mas a complementaridade de ambas as
economias e o desejo do governo soviético em manter alguma presença na América
do Sul fortaleceram os laços entre os dois governos a despeito do aspecto
ideológico do regime argentino em eliminar qualquer traço de socialismo em seu
país. O que demonstra a total aplicação do velho ditado marxista: “O capital é
amoral”.
A ideia apresentada por Mario Rapoport em seu trabalho, História
econômica, política y social de la Argentina, é bem perspicaz ao mostrar
que desenvolveu-se na Argentina, bem como em outras épocas, como na década de
1920-30 e na década de 1950, um comércio triangular com os Estados Unidos, de
modo que a Argentina continuava a ter uma interação deficitária com os
norte-americanos, mas com os lucros obtidos com o comércio com a União
Soviética, sobretudo com a venda de carne e grãos, o regime argentino conseguiu
manter sua balança comercial.[37]
A tabela logo abaixo mostra
bem o modo como esse intercâmbio se desenrolou. Como se evidencia pelos termos
do gráfico as importações argentinas de produtos norte-americanos (de maior
valor agregado por serem produtos muitas vezes industriais) eram bem superiores
às exportações argentinas feitas àquele país, entretanto quanto à União
Soviética, as exportações tiveram um volume muito mais superior que as
importações, mesmo tendo havido o auxílio técnico soviético à indústria argentina,
isso demonstra que a medida do governo argentino resultava numa tentativa de
conter o déficit da balança comercial.
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Mas os números também demonstram a fragilidade da agricultura
soviética que se viu dependente de um número crescente de importações agrícolas
com o passar dos anos, que teve o seu ápice em 1981, mas a partir desse ano as
contas públicas se mostraram tão exauridas que o regime acabou tendo que
limitar suas compras.
3.
Conclusão
Embora a União Soviética tenha fechado os olhos para as
perseguições e ao assassinato sistemático de militantes de esquerda na
Argentina, ela foi uma das responsáveis à manutenção do regime ditatorial
argentino, da mesma forma que a produção agrícola argentina deu uma sobrevida
ao regime soviético ao manter o seu dilema agrícola controlado com as suas
exportações cada vez maiores de grãos e carne.
Interessante colocar que mesmo os acordos entre os dois países
terem expirado em 1985, quando há a mudança do cenário político de ambos os
países, na URSS, Gorbachiov assume e na Argentina, o governo de Alfosín tenta
trazer uma normalidade à Argentina, os dois países mantém um intercâmbio,
embora menor que anteriormente. Os acordos de maquinário e de produtos agrícolas solidificaram uma complementariedade entre os dois regimes econômicos, os argentinos puderam dispor de hidrelétricas, indústrias pesadas para fins estratégicos e contaram inclusive com a ajuda de técnicos soviéticos em pontos -chave de sua economia nacional.
Enquanto a União Soviética, refém da importação de alimentos para manter um padrão de vida alheio ao seu sistema produtivo, totalmente deficitário no campo agrícola, passou a usar o capital excedente da Crise do Petróleo para manter o padrão de vida do cidadão soviético médio durante as sucessivas secas que acometeram o interior russo, conciliadas com rigoroso inverno. Quando esse excedente se encerra em meados de 1985 o resultado é o desabastecimento da economia soviética associada à ineficaz gestão dos planejadores soviéticos e a corrupção generalizada do regime, denunciada pela glasnost.
A falência do
regime soviético ao não conseguir responder aos crescentes problemas da
agricultura, bem como na distribuição, e oneração do produto interno bruto com a
militarização da sociedade, a Guerra do Afeganistão e o cataclismo de Chernobyl trouxeram o fim da URSS; Em contrapartida, com a perda de um parceiro comercial
importante, a Argentina afundou-se numa crise que até hoje não conseguiu sair.
[1] Terminologia
usada pela historiografia soviética para descrever a parcela do conflito
compreendida de 22 de julho de 1941 a 9 de maio de 1945, correspondendo ao
atrito cabal entre os soviéticos e nazistas no Front Oriental.
[2] KENEZ, Peter.
História da União Soviética. Lisboa: Edições 70, 2008. p. 153.
[3] Idem, pág. 122.
[4] Ibidem, pág.
123.
[5] MEDVEDEV,
Zhores et Roy. Um Stálin Desconhecido. Rio
de Janeiro: Editora Record, 2006, pág. 254.
[6] Idem.
[8] Ibidem,
pág. 267.
[9]
Ibidem, pág. 265.
[10] Medvedev, Roy; Medvedev, Zhores (1978), Khrushchev:
The Years in Power, W.W. Norton & Co. p. 160-161.
[11] Tabela apresentada em COHN, Stanley
H. Economic Development in the Soviet Union. Lexington: D.C. Heath and
Company, 1970.pág. 28.
[12] DI TELLA, Torquato. História Social da Argentina
Contemporânea. Brasília: FUNAG, 2011, pág 203.
[13] GILBERT,
Isidoro. O ouro de Moscou. Rio de Janeiro:
Editora Record, 2010, pág. 385
[14] Idem, pág.
386.
[15] Ibidem, pág.
388.
[17] ADAMS, Arthur E.; ADAMS, Jan S. Men versus systems:
Agriculture in the USSR, Poland and Czechoslovakia. New York: The Free Press,
1971, pág. 89.
[18] ELLMAN, Michael. Planning problems in the USSR: The
contribution of Mathematical Economics to their solution 1960-1971, págs. 46-54.
[20] KENEZ, Peter,
pág. 290.
[21] Em
TIKHONOV, Nikolai A. Economia Soviética: Êxitos, problemas, perspectivas.
Moscou: Edições da Agência de Imprensa Nóvosti, 1983. Pág. 192-193
[22]
TIKHONOV, Nikolai A. Economia Soviética: Êxitos, problemas, perspectivas.
Moscou: Edições da Agência de Imprensa Nóvosti, 1983. Pág. 193
[23]
Idem, pág. 191.
[24]
Ibidem, pág. 190-191.
[26] Idem, pág.
428.
[28] Ibidem, pág.
429.
[29] RAPOPORT,
Mário. História econômica, política y social de la Argentina (1880-2000).
Buenos Aires; Ediciones Macchi, 2000. Pág. 781.
[30] Acordo
firmado em 12 de outubro de 1979. Disponível
em: http://tratados.mrecic.gov.ar/tratado_archivo.php?id=8261&tipo=1.
Acesso 21/11/2013
[31] Contrato de
fornecimento de máquinas e equipamentos da União Soviética à República
Argentina de 13/02/1974. Disponível em: http://tratados.mrecic.gov.ar/tratado_archivo.php?id=8298&tipo=1
[32]
GILBERT, Isidoro. Pág.490-1.
[33] Acordo firmado entre o governo soviético e argentino sobre cereais
de 10/07/1980. Em: http://tratados.mrecic.gov.ar/tratado_archivo.php?id=8258&tipo=1. Acesso em 21/11/2013.
[34]
Artigo 1° do mesmo tratado.
[35]
Acordo sobre o fornecimento de carne argentina à URSS de 22 de abril de 1981.
Disponível em: http://tratados.mrecic.gov.ar/tratado_archivo.php?id=8257&tipo=1.
Acesso: 21/09/2013.
[36]
Mesmo acordo.
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