Quando me
encontrei em São Paulo depois de velho todas as boas recordações da minha
infância haviam desaparecido. Encontrei uma cidade crua, fria e praticamente
sem esperança. O cinza dos prédios e a cor dos automóveis monocromáticos
prenunciavam um dos capítulos mais amargos da minha vida.
São Paulo anunciou
o lado cosmopolita que eu sempre tinha junto comigo, imparcial, direto e
ansioso. Conheci pessoas presas em arquétipos kafkanianos, velhos cada vez mais
vazios em suas prisões individuais, seus corpos se consumindo pela aspereza e o
sofrimento que levaram a si mesmo e os outros. Vi o quão falso pode ser o ser
humano que no momento de extrema necessidade, conseguiu sucessivas vezes
humilhar e virar as costas quando foi conveniente.
A Humanidade
não existe quando se falta dinheiro, somos tratados como meros animais. Parte
de uma multidão de estranhos que admira apenas a opulência dos ignorantes.
Passei dias inteiros sem ter dinheiro para comer, fiquei no frio esperando ter
um teto para poder dormir.
A pessoa que
me amou nesses momentos foi torturada pelo caráter perverso de um povo estranho
a si mesmo. Não tive paz, não tive segurança ou felicidade. Fui prisioneiro num
pequeno quarto por dias, sem saber se iria ver a luz do dia ou se teria como
resgatar meus sonhos obscurecidos. Tive apenas em seus braços, o consolo de não
cair na tentação de fracassar.
Ela me amou
quando eu deixei de me amar de novo, ela chorou quando viu que não poderíamos
sobreviver juntos. No meu aniversário, ela gastou tudo o que tinha para
celebrar a idade que eu ganhava. Nós envelhecemos bastante, nós entendíamos um pelo
outro o sofrimento que tínhamos dentro de nós. Ela sofreu mais do que eu, tenho
certeza disso.
Ela que foi
humilhada, foi violentada por esse sistema corrupto, impessoal de que o cidadão
mais comum pode ser o pior torturador, passou dias sem comer, sem tomar banho e
sem se sentir acolhida. Fomos apenas sobreviventes. Eu sempre a amarei por ter
lutado e eu sempre terei comigo o gosto amargo da poluição de São Paulo.
Conheci seus
monumentos, seus arranha-céus, mas a única coisa realmente forte foi o calor
dos nossos corpos sob a batida dos nossos corações enquanto chorávamos um
abraçados ao outro num pequeno quarto sem esperança em São Paulo.
Foi ali que
cogitei seriamente em cortar meus laços com a vida, e foi ali que ela me salvou
sem esperar nada em troca de minha parte. O amor tem dessas coisas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário