O conceito de antissemitismo não se caracteriza só pela “hostilidade em relação aos hebreus”, pois afinal de contas esse conceito varia conforme a época em que ele é empregado, de modo que não se pode comparar o antissemitismo antigo, medieval ou moderno com o antissemitismo relacionado ao aparecimento do próprio nacionalismo.
O antissemitismo não pode, por essa visão, ser tomado como algo único, mas algo que se modifica, caso contrário poderiam se chegar a conclusões “a-históricas e aberrantes”. Entretanto, uma característica tão absurdamente estúpida não se modifica ao passar do tempo, quando se trata de antissemitismo, o ódio aos judeus. Mais ou menos escancarado com o passar do tempo, ele se mantém por “n” razões diferentes o qual o texto não busca abarcar. Afinal, além da época, o que difere o antissemitismo moderno do antissemitismo da Alemanha Nacional-Socialista? Em verdade, os elementos sociais e culturais que embasaram esse sentimento de aversão aos judeus, o modo como tais sentimentos de aversão se demonstram cada vez mais presentes;
É de fato que o Ortona caracteriza que o ódio aos judeus não é só algo relacionado à fé ou sua questão identitária, mas as classes sociais as quais os hebreus foram relacionados: como os comerciantes e os usuários. Entretanto pode-se questionar se essa concepção é correta, afinal de contas, os judeus estavam presentes em diferentes escalões da própria sociedade.
Para
Ortona, o fato de os judeus fazerem parte de uma fração de uma burguesia
nascente na Prússia, bem como no Leste Europeu, bem como seu aspecto de não assimilação
à cultura local teria levado ao surgimento de tensões sociais.
O
antissemitismo costumeiramente é confundido com outros vocábulos como
antissionismo e a oposição de um governo judeu, isso é incoerente, pois não
necessariamente se é antissemita quando se advoga contra a formação de um
Estado exclusivamente judeu no Oriente Médio;
O autor acredita, de forma bastante
responsável, que o antissemitismo sim é uma manifestação de hostilidade à
comunidade judia, caracterizada pela sua própria religião e origem étnica.
Contudo, o antissemitismo não pode ser enquadrado em outras realidades onde se
faziam valer disputas internas por poder, como na Idade Média.
O
antissemitismo ganha força no século XIX, quando membros da comunidade judaica
começam a se inserir de maneira cada vez mais sólida na economia e na sociedade
(o que é discutível); Entretanto até meados do aparecimento do cristianismo, os
judeus enfrentavam pouca perseguição no interior do Império Romano, mas quando
o cristianismo começa a ganhar força, os judeus começam a ser hostilizados por
sua questão religiosa, de modo que esse processo fica evidente quando se
observam períodos posteriores do domínio cristão sobre a política ocidental, e
os judeus são vistos com certo olhar de inferioridade frente aos cristãos.
Durante
a Idade Média, o judaísmo conheceu sua Idade de Ouro onde mais se produziu
sobre o próprio judaísmo, embora nos conflitos decorrentes da própria ótica da
sociedade corporativa, usa-se o fator do judaísmo para enfraquecer os oponentes;
Embora os judeus tenham conhecido um momento de grande excedente de capitais, é
equivocado dizer que eles tinham o monopólio do comércio com o Médio-Oriente,
mesmo que eles tivessem realmente capital acumulado para disponibilizar na
forma de empréstimos. Na verdade, não se pode dizer que os judeus possuíam um
monopólio sobre as atividades econômicas existentes e de repente foram jogados
para escanteio, isso é uma concepção muito generalizante, afinal de contas, na
ótica da sociedade corporativa a dinâmica não era tão simples no meio das
relações clientelares.
O
antissemitismo começa a crescer com o advento da Peste Negra, da qual os
hebreus foram acusados de ter responsabilidade sobre a doença. São isolados da
sociedade e hostilizados, retirados do comércio e retiram-lhes também a
capacidade de fazer empréstimos. A sua marginalização veio acompanhada de uma
piora da sua situação econômica e jurídica existente, embora também não fosse
muito melhor anteriormente.
O
antissemitismo medieval caracterizar-se-ia por uma aversão aos judeus por sua
condição social de propagadores de “um capitalismo” à partes mais distantes da
Europa, sob a égide religiosa e do medo. Criam-se comunidades profundamente
aversas aos judeus na Europa Ocidental.
O
antissemitismo moderno, para esse autor, caracteriza-se não mais por uma
aversão a um “povo-classe”, mas por um processo em que o judeu é inserido no
mercado de trabalho sem exclusividade ou monopólio de uma profissão, de modo
que concorre com os trabalhadores de outras formações culturais. Esse
antissemitismo é “pequeno-burguês” por essência, por ter sido fundamentado pelo
temor de que os judeus tomassem todos os postos de trabalho. A isso se voltam
muitas vezes às tradições, vitimizadoras, das quais culpar os judeus pelas
mazelas sociais parece ser um argumento bastante perene e recorrente nessa
sociedade.
O
advento do nacionalismo coloca a questão em cheque ao colocar os judeus como
uma nacionalidade à parte da local, de modo que se caracteriza como um povo sem
terra, que de certa maneira era tido como “desleal”. Assim intelectuais e
membros da pequena elite europeia promovem o aparecimento de um esforço
generalista contra os judeus para não trazerem maiores inseguranças e temores
sobre a questão hebraica.
O
surgimento de uma teoria dita “científica” da biologia fundamenta o preconceito
histórico a essas comunidades ao inventar o conceito de “raça” de maneira que
após 1918 essa conceituação toma caminhos tão perigosos que desembocariam no
aspecto mais trágico do antissemitismo, a eliminação física sistemática de
judeus. O aparecimento de uma modalidade de discurso que culpava os judeus
pelos problemas da Alemanha associada ao surgimento do movimento
Nacional-Socialista levou a esse tipo de acontecimento. Embora na Alemanha já
existisse um antissemitismo enraizado, é claro que não da mesma forma que viria
a aparecer na década de 1930.
A
supressão do caráter nacional do judaísmo, bem como da cultura, representada
pela política de alguns governos de banir o yiddish resulta como parte desse
esforço antissemita que surgiu em meados do século XX.
Ortona
acredita que após o horror da guerra, o antissemitismo tenha perdido força
devido ao impacto da opinião pública decorrente do Holocausto, de maneira que é
mal vista a posição de alguns grupos da direita de atacar os judeus. O
antissionismo da União Soviética tenta não se confundir com um antissemitismo,
mas parece bastante reducionista acreditar que o antissemitismo tenha acabado
como o autor dá a entender, ele se faz presente todos os dias e não desaparece
mesmo após os mais diferentes acontecimentos relacionados aos judeus. O
antissemitismo está vivo hoje no Oriente Médio, dessa vez, ocasionado pela
política estúpida de Israel de oprimir os seus vizinhos. De qualquer forma a
definição temporal proposta por Ortona parece ser interessante por nos lembrar
que há momentos diferentes para o antissemitismo, mas também nos leva ao risco
de acreditar que o antissemitismo como característica de pura aversão aos
judeus teve um caráter brando em algumas épocas, o que não é inteiramente
verdade.
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