sábado, 10 de junho de 2017

Para além do nosso século

          Nós somos prisioneiros do passado. 


          Todos os nossos sonhos resplandem de um horizonte de expectativas já dado como obsoleto. Todos os sistemas econômicos e filosóficos que tomamos empréstimos foram liquidados com a guerra silenciosa entre a acumulação de riquezas e a acumulação de conhecimento. Hoje somos sobrecarregados de informações, mais do que nossos pais, e permanecemos inertes diante do movimento cíclico e revolucionário do mundo (no sentido astrônomico).

           Nós, homens e mulheres do novo século, somos reféns do passado. Somos presos ao século do sofrimento e dos preconceitos, o eterno século XX. Precisamos ser mais do que apenas agentes robotizados desses novos tempos, precisamos ser agentes de nossas próprias vidas. Nós não somos animais kafkanianos, nem engrenagens da roda da linha de produção dos Tempos Modernos, pelo contrário, temos uma capacidade mais ilustrada que a de nossos antecessores, de termos nas nossas mãos os agentes da mudança.


         A juventude é o real vetor, a verdadeira vanguarda  para mudar o mundo. Não, não estou falando em guerras, estou falando em impor nossa voz. Nós seguiremos esse século como a única geração que tem o fardo de segurar toda a herança e legado das demais: A destruição do nosso meio ambiente, do nosso bem estar, estão associadas a isso. Quem responderá pelo aquecimento global e pagará a dívida seremos nós.

         Não podemos ser reféns do Facebook ou do Instagram, temos que olhar para fora da nossa caixa. O nosso sistema econômico faliu, nenhum país pode se sustentar conforme apenas em gráficos e tabelas. Nosso crescimento será eternamente deficitário na medida que sempre precisaremos trabalhar a crédito, pegar empréstimos, e penhorar anos e anos de recursos humanos e naturais para pagar uma alegoria artificial como o mercado de ações e o sistema financeiro.


        Não apenas estamos acabando com o mundo como a nós mesmos. A corrida espacial é um fato consolidado, mas não pela busca de novos mundos para impor um novo imperialismo conforme o século XIX, explorando planetas em nome de superpotências (ou corporações nesse caso), e sim pela continuidade da cultura e da civilização mundial. Somos antes de mais nada, pessoas, antes de nações e corporações. Não queremos viver Black Mirror.

       As mulheres são mulheres porque se identificam como tal, o gênero é uma noção construída, tal como a ética, a filosofia e a educação. Seus corpos são invioláveis, suas mentes e suas ideias também. É um direito universal e humano que elas sejam tratadas como iguais.

       E mulher não pode ser um conceito restrito à biologia, ou ao axioma de um ser que carrega uma vida dentro de si e faz o papel de mãe. Pelo contrário, mulher é tudo aquilo que se identificar como mulher. Assim como não perguntamos o que é um homem, não podemos tipificar o que é uma mulher com toda a propriedade possível.

       Não devemos ser escravos de conjunturas impossíveis. Nosso sistema educacional não cria reflexão, ele reproduz um conhecimento estático, as escolas são prisões e cada vez mais terceirizamos o nosso ensino nas mãos de poucos e na Internet. Isso é um erro, se vamos coordenar uma sociedade baseada na produção automatizada e de robôs, os seres humanos devem ser os agentes filosóficos e intelectuais irrestritos. A educação é o caminho da real evolução da humanidade.


        Não podemos ser estúpidos, o único jeito de sanar os males da desigualdade é sim praticando um sistema de verdadeira distribuição dos recursos naturais. O egoísmo é a origem das guerras e da intolerância. Suplantamos a sua existência ou desaparecemos. O racismo e a xenofobia podiam ser aceitos em outros séculos, mas nesse novo século é proibitivo que mantenhamos os muros que dividam nossa espécie.

         A religião, a orientação sexual e a ideologia não podem ser limites para praticarmos o conceito de fraternidade. Somos irmãos, a igualdade e a liberdade era conceitos da Revolução francesa, mas apenas podemos consolidá-los no seio da fraternidade. Não podemos viver sem a sua consolidação na base do entendimento e respeito mútuos.


        Filosoficamente falando esse é o século mais pobre intelectualmente que os outros, e esse é o século com mais sobrecarga material de conteúdo e aprendizado dentre os demais. Temos a oportunidade de construir algo novo sem ter a necessidade de derramar sangue, basta nos recusarmos a seguir o legado dos nossos antepassados. É o século da juventude, nós comandamos nosso destino e devemos tomar as rédeas de quem penhorou o nosso futuro por tanto tempo.

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