Não, a culpa não é da Alemanha. Está mais do que comprovado, a Primeira Guerra Mundial foi culpa de todos os países envolvidos, ali, naquele castelo de cartas, não havia inocentes a não ser os soldados mandados para a guerra.
Mas um dos elementos que germinaram a tensão de 1914 foi a unificação alemã e o revanchismo francês depois da perda da Alsácia-Lorena. A diplomacia europeia e a Pax Britannica caíram quando o sistema de Bismarck fracassou em manter o equilíbrio de um mundo cada vez mais industrializado e imperialista. A combinação explosiva de ferrovias, excesso de população, ganância por mercados e nacionalismo, tudo isso iria ser um pavio de pólvora que destruíra para sempre a Europa Vitoriana.
“Após sua unificação, a Alemanha se tornou o país mais forte do continente, e foi crescendo em força a cada década, assim revolucionando a diplomacia europeia”[1], o problema que a ascensão da Alemanha como potência no cenário europeu desestabilizou o equilíbrio do poder no continente, exarcebando ainda mais as tensões, de maneira que a Alemanha tentou proteger a si mesma com a formação de coalizões, “le cauchemar des coalitions”, de maneira que no concerto europeu havia dois blocos constantes de tensão: Alemanha com a França, bem como o Império Austro-Húngaro com a Rússia.
As movimentações diplomáticas alemãs se pautaram na tentativa de se impedir uma guerra de duas frentes, de maneira que a sua busca por parceiros no cenário político resultava numa tentativa de autoproteção, assim a Alemanha não tinha pretensões nos Bálcãs, mas desejava a preservação do Império Austro-Húngaro como meio de ainda manter um importante aliado, mas também não era desejoso à Alemanha ter a Rússia como inimiga.
No concerto diplomático, a Alemanha encontrava o seguinte caso: A Grã-Bretanha isolada em si mesma preocupando-se apenas com os seus interesses na África e Ásia; a crescente hostilidade dos franceses por conta da Guerra Franco-Prussiana. Os embates entre austríacos e russos para esfacelar o Império Otomano. A aliança construída por Bismarck entre esses dois últimos e a Alemanha parecia ser a “chave para a paz na Europa”[2].
Embora a Grã-Bretanha agisse pontualmente como mediadora dos conflitos no cenário europeu, isso não reduzia o bloco de tensão entre Rússia e Áustria, bem como Alemanha e França. “Contudo, muitos líderes britânicos, com exceção de Disraeli, não viam razão para se opor a um processo de consolidação nacional na Europa Central, que para os estadistas britânicos foi bem-vinda por décadas, especialmente quando sua culminação ocorria como resultado da guerra em que a França tinha sido tecnicamente o agressor”[3].
Mas um dos elementos que germinaram a tensão de 1914 foi a unificação alemã e o revanchismo francês depois da perda da Alsácia-Lorena. A diplomacia europeia e a Pax Britannica caíram quando o sistema de Bismarck fracassou em manter o equilíbrio de um mundo cada vez mais industrializado e imperialista. A combinação explosiva de ferrovias, excesso de população, ganância por mercados e nacionalismo, tudo isso iria ser um pavio de pólvora que destruíra para sempre a Europa Vitoriana.
“Após sua unificação, a Alemanha se tornou o país mais forte do continente, e foi crescendo em força a cada década, assim revolucionando a diplomacia europeia”[1], o problema que a ascensão da Alemanha como potência no cenário europeu desestabilizou o equilíbrio do poder no continente, exarcebando ainda mais as tensões, de maneira que a Alemanha tentou proteger a si mesma com a formação de coalizões, “le cauchemar des coalitions”, de maneira que no concerto europeu havia dois blocos constantes de tensão: Alemanha com a França, bem como o Império Austro-Húngaro com a Rússia.
As movimentações diplomáticas alemãs se pautaram na tentativa de se impedir uma guerra de duas frentes, de maneira que a sua busca por parceiros no cenário político resultava numa tentativa de autoproteção, assim a Alemanha não tinha pretensões nos Bálcãs, mas desejava a preservação do Império Austro-Húngaro como meio de ainda manter um importante aliado, mas também não era desejoso à Alemanha ter a Rússia como inimiga.
No concerto diplomático, a Alemanha encontrava o seguinte caso: A Grã-Bretanha isolada em si mesma preocupando-se apenas com os seus interesses na África e Ásia; a crescente hostilidade dos franceses por conta da Guerra Franco-Prussiana. Os embates entre austríacos e russos para esfacelar o Império Otomano. A aliança construída por Bismarck entre esses dois últimos e a Alemanha parecia ser a “chave para a paz na Europa”[2].
Embora a Grã-Bretanha agisse pontualmente como mediadora dos conflitos no cenário europeu, isso não reduzia o bloco de tensão entre Rússia e Áustria, bem como Alemanha e França. “Contudo, muitos líderes britânicos, com exceção de Disraeli, não viam razão para se opor a um processo de consolidação nacional na Europa Central, que para os estadistas britânicos foi bem-vinda por décadas, especialmente quando sua culminação ocorria como resultado da guerra em que a França tinha sido tecnicamente o agressor”[3].
A Grã-Bretanha
tinha o status de protetora da ordem na Europa, mas cada vez mais a Alemanha
tomava esse papel. “Bismarck foi portanto a figura dominante da diplomacia
Europeia até ser demitido do gabinete em 1890”[4],
sua política visando a paz e a afirmação da Alemanha como potência seguia os
preceitos de não enfrentamento com nenhuma nação europeia, mas também instituiu
uma política de isolar a França da Rússia e Áustria para evitar justamente o
perigo de uma guerra em duas frentes. A aliança com a Rússia deveria ser feita
sem hostilizar os britânicos, devidos os constantes atritos entre esses dois
atores na Ásia e no Oriente Próximo.
Retomando a Santa
Aliança de Metternich, mas com um matiz próprio de sua Realpolitik,
Bismarck acreditava que não havia grandes motivos para uma corrida colonial em
direção à África e Ásia, porque isso poderia elevar os ânimos contra a
Alemanha, causando tensões maiores com a França e a Inglaterra. A aliança com
esses dois impérios autocráticos era um meio de manter a proteção do próprio
regime político prussiano, bem como dar rigidez ao escudo da política externa
alemã.
"Se as pessoas soubessem como são feitas a política e as salsichas, não iriam consumir nenhuma das duas" |
As crescentes
tensões nos Bálcãs ameaçavam a ordem que a diplomacia prussiana tentava
construir de maneira que conforme a falta de solução para as questões dessa
região desembocaria nos trágicos eventos da Primeira Guerra Mundial, mas a
princípio a política de conter os ânimos revanchistas da França isolando-a da
Áustria e da Rússia resultou em resultados imediatos para a segurança da
Alemanha, bem como o não enfrentamento com a potência dos mares, a Inglaterra.
O papel moderador da Alemanha nas questões balcânicas agia nos limites do
possível, mas com a demissão de Bismarck da Chancelaria e a ingerência do novo
Kaiser nos assuntos externos abria-se o caminho para a solução mais belicosa
para as questões no cenário europeu.
A ingerência da Alemanha na solução nas tensões no concerto europeu
apresentou vários desdobramentos que levariam a um cenário do equilíbrio do
terror, ou “A política da Máquina da Destruição”[1].
Com a demissão de Bismarck da Chancelaria, o novo kaiser traduziu a sua
política externa por meios mais militaristas. Numa corrida colonial agressiva e
num armamento crescente da Marinha e do Exército alemães.
A política de
contenção da França e do não enfrentamento à Inglaterra construída por
Bismarck foi ignorada por essa
reviravolta na política externa alemã, de maneira que a tensão crescente na
Europa fez a própria Inglaterra, que até o momento estava voltada para o seu
“isolamentismo esplêndido”, voltar os olhos para a Alemanha.
Com o
arrefecimento das tensões entre Áustria e Rússia, num dado momento, discordando
do rearranjo político com relação ao Oriente Próximo e ao “namoro” da Alemanha
com o Império Otomano na construção da ferrovia Berlim-Bagdá, a Rússia abandona
a Aliança e posteriormente se alia à França e à Inglaterra.
“As nações da
Europa transformaram o equilíbrio do poder em uma corrida por armamentos sem
entender que a tecnologia moderna e a
conscrição em massa tinham gerado a guerra total, a maior ameaça à sua
segurança, e à civilização europeia como um todo”.[2]
Assim, embora a
Alemanha na época de Bismarck tenha se tornado uma potência militar, ao
contrário da Prússia de Frederico, o Grande, ela tinha tomado uma postura de
moderação para não gerar maiores inquietações aos seus vizinhos, entretanto a
moderação foi deixada de lado quando os
estadistas alemães ficaram “obcecados com o poder nu” das armas, coisa que “em
contraste a outros estados-nação, a Alemanha não possuía nenhuma estrutura
filosófica integradora”[3].
A Grã-Bretanha possuía o liberalismo como estrutura filosófica, a França tinha
os apelos pela liberdade universal da Revolução Francesa, a Áustria um “benigno
imperialismo universalista” e a Rússia tinha o amparo de libertadora dos povos
eslavos e a ideia de descendente do Império Bizantino, assim para Kissinger a
Alemanha a falta de norteadores intelectuais era a principal causa da política
externa alemã sem um único foco.
O aspecto
militarista da sociedade alemã conscurpou “a sábia e comedida política” de
Bismarck que havia prevenido o perigo de inseguridade da Alemanha se esta
tomasse medidas agressivas. Construíram-se alianças permanentes com outras
nações, coisa que foi bastante evitada pela Realpolitik de Bismarck, que
acabaram atando a Alemanha a interesses diferentes dos que ela pretendia. A
busca do Kaiser pelo reconhecimento da Alemanha por reconhecimento
internacional encorajou uma Weltpolitik (política global), de maneira
que a política externa alemã, com o “vácuo intelectual” adotou uma linguagem
truculenta sem um princípio norteador.
Kissinger acredita
que se a Alemanha tivesse sido sábia e responsável, integrando o seu poderá
ordem internacional existente teria tido uma tarefa árdua, mas seria melhor do
temor que a Alemanha criou no plano internacional ao combinar uma mistura de
personalidades explosivas com uma política externa sem consciência.
Assim a mudança de
racionalidade na política externa alemã e o abandono da Realpolitik de Bismarck
acentuaram as turbulências existentes no interior de Europa e agravaram a
situação da Alemanha frente aos seus vizinhos, de maneira que a política
agressiva e sem princípio norteador dessa potência auxiliou a criação de um
bloco antagônico ao Império Alemão que viria a ser mais cristalizado durante os
fatídicos eventos que desembocariam na Primeira Guerra Mundial.
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