Prólogo
Vós outros tendes sorte
a vergonha não cai sobre os mortos
Logo cessais
de odiar os assassinos dos mortos
Julgais
que o mais puros dos líquidos lava
o pecado da alma que se evola.
Tendes sorte
Mas eu
como levarei o meu amor à vida
através das fileiras,
através do estrondo?
Apenas um passo em falso
e a migalha do último e pequenino amor
rolava para sempre num torvelinho de fumo.
Aqueles que regressam
que lhes importa
vossas tristezas?
Que falta lhes faz
a franja de alguns versos?
Basta-lhes um par de muletas
com que reguear pelo resto da vida
Tens medo?
Covarde!
Te matarão!
E tu,
Tu poderias viver escravo
cinquenta anos mais
Mentira!
Sei que lava do ataque
serei o primeiro
em audácia,
em valor.
Ah! Que bravo recusaria atender
ao toque do rebate do futuro?
Mas na terra hoje
sou o único arauto das verdades em marcha!
Hoje estou exultante!
Sem desperdiçar nem uma gota,
despejei minha alma até o fim
Minha vez,
a única humana
entre os lamentos e gemidos
ergue-se á luz do dia.
Depois
atai-me a um poste
fuzilai-me
Por causa disso
haverei de mudar?
Na fronte desenharei um alvo
para que metido se destaque
quando apontem.
(Vladimir Maiakovsky, 1918)
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