Talvez em toda a minha vida eu tenha amado de verdade uma única pessoas, uma única pessoa que tenha me prendido toda a minha atenção. Eu sempre fui meio inconsequente, devia ter pensado que era mais fácil ser sozinho no mundo do que procurar uma cara metade. Mas eu mesmo assim procurei.
Me perdi muito nesse mundo, fui muito maltratado. Procurei em algumas pessoas um amor que eu não tinha por mim mesmo, nunca dei o devido valor que eu devia ter. Minha paixão era o conhecimento pelo conhecimento, não que não tivesse outras coisas para buscar, mas o que eu queria era ser inteligente. Bonito também queria, mas não me foi dada essa sorte. E ser rico ainda não é um objetivo perdido.
Em todo caso eu lembro com amargura as coisas que eu presenciei, o amor não correspondido que eu tive, o amor sociopata que me deram, o desleixado amor sem emoções, a enganação de um amor à minha carteira e agora o simples uso do meu corpo para um autossatisfação pessoal. Eu tive que conviver com tudo isso, eu não pude confiar muito nas pessoas desde as respostas que me foram dadas aos dramas emocionais. Talvez a única pessoa que tenha me amado tenha sido minha mãe, ou talvez minha irmã.
Poderia talvez me dar por satisfeito? Não sei se posso dizer. É meio trágico pensar em como as pessoas podem ser tão mesquinhas e infantis para procurarem o amor e quando o encontram terem medo. Eu hoje tenho um medo absurdo de me apaixonar, eu tenho medo de acabar me deixando ser usado de novo pelo sadismo tautológico das pessoas e por isso é mais fácil me fechar para esse mundo cada vez mais sombrio.
Não que eu não tenha desejos, não que as vezes não me dê vontade de dormir abraçado a alguém ou aninhar um cabelo, mas é tecnicamente mais fácil não tornar público nada e se fechar por completo do que dividir a vida com outra pessoa. As pessoas são difíceis e não são nem um pouco confiáveis, elas nos traem na primeira oportunidade por uma ninharia, seja por dinheiro, seja por prestígio.
Eu queria dizer que eu achei minha cara metade, mas não, até hoje não achei. Eu amo de verdade uma pessoa a ponto de querê-la longe de mim, bem longe, eu não me sinto capaz de fazer alguém feliz depois de tantas coisas que eu vi e fiz. Prefiro ficar cada vez mais só e os meus objetivos de vida serão restritos a meu foro íntimo.
Não que eu não confie nos meus amigos, em alguns eu confio como se fossem meus irmãos, mas não há nada mais filedigno do que esperar confiar apenas em si mesmo. Saber se virar é uma virtude que eu sempre tive desde criança, então eu olho para as pessoas sem um olhar passional. Às vezes sou bem cínico, outras vezes eu me importo de verdade, acho mais fácil assim.
Eu escrevi muitos rascunhos que secretamente guardo junto ao peito, alguns romances de bloco de viagem, que escrevo só para mim sobre um destino perdido que é o procurar um pouco de carinho no amor de uma mulher. Não que me sinta bem nessa condição, mas eu estou bem nessa fase de adaptação em pensar em ninguém quando escrevo essas palavras.
O dia dos namorados é uma pressão social em parecer ser feliz num mundo cada vez menos amistoso. A infelicidade é uma companheira cada vez mais constante na vida de várias pessoas, não só porque felicidade é um exercício diário do qual nem todos estão aptos a praticar, como também é um custo primoroso para quem não pode pagar. Por isso para muitos o dia dos namorados é um funeral, era pra mim a dois anos atrás, hoje eu nem me importo.
E que maneira esse enterro se desenrola é de cada um, alguns bebem até seus rins começarem a reclamar, outros escrevem novelas no papel velho carregado de tinta, alguns choram no Facebook enquanto outros correm para o primeiro prostíbulo para retirar sua necessidade emocional. Todos esses falham, o dia dos namorados é só uma data, como outra qualquer, uma data sem um significado prático: quem mudança haveria se o dia dos namorados fosse hoje ou no domingo? O mundo deixaria de girar?
Eu me arrependo amargamente de ter perdido tempo procurando alguém quando na verdade a única pessoa que devia procurar era a mim mesmo. Sei que isso é muita arrogância de minha parte, mas é completamente válido quando observamos a realidade;
Sanar suas necessidades em outras pessoas é doentio, nenhuma forma de amor é completamente espontânea. Eu acreditava que amor era algo espontâneo, mas amor está nas pequenas coisas que fazemos no dia a dia. Perguntei a minha mãe se ela amava meu pai e ela não soube me dizer. Não, as pessoas realmente estão cada vez menos aptas para amar as pessoas como elas deveriam.
Cada vez menos propenso, cada vez mais complexo, a única coisa que as pessoas realmente amam e respeito cada vez mais é o capital. Eu antes achava isso um absurdo, julgava o capital um negócio traiçoeiro, mas só depois de muito tempo compreendi que esse fetichismo tinha um sentido embutido. É mais fácil ver o material do que o abstrato, é mais fácil querer o dinheiro do que querer o amor, pois sem dinheiro você não sobrevive, você não pode comprar comida, ou sobreviver, enquanto sem amor é possível viver.
E esse é o motivo desse réquiem pois boa parte dos que namoram realmente não amam, apenas são comodistas e querem sanar suas necessidades com outras pessoas, compram presentes para demonstrar que amam, mas na realidade, nas pequenas coisas da vida pouco amor existe entre si.
Dia dos namorados é um festival doentio do qual espero nunca mais fazer parte, os que verdadeiramente amam fazem todos os dias o dia dos namorados.
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