A eclosão da grande crise internacional se deu na Crimeia, mas não em 2014, mas em 1945. Hoje, sob os resquícios de quase setenta anos do grande plano de divisão mundial sob a égide da luta contra o fascismo internacional, a Crimeia novamente é o palco mundial.
A Ucrânia tem a desgraça em viver sob dois mundos, sob a Europa e sob a Rússia e foi nessa coexistência que o antigo país soviético continuava existindo, a questão é que a situação da Ucrânia não é tão simples quanto a gente imagina: A Ucrânia é o berço natal da cultura russa, é a grande arca da Aliança entre o povo russo com a ortodoxia e a sua história remete desde a formação do Principado de Rus' em Kiev, pelo grão-príncipe Oleg, filho de Rurik, o Grande. Ali se formulou as bases do primeiro reino sob as estepes russas, onde houve a codificação das leis e os costumes na Russkaya Pravda na época do grão-príncipe, Vladimir, o sábio.
Após a imigração dos varegues (normandos) às estepes russas no século VIII, com a chegada a corte de Rurik, um nobre viking à Rússia à convite das tribos eslavas existentes naquela grossa faixa de terra repleta de florestas, pradarias e pântanos, formou-se a primeira agremiação de estado centralizado em torno da Grã-Cidade de Novgorod. (Novgorod literalmente quer dizer “Nova Cidade”) e após as investidas do incipiente principado sob as tribos eslavas ao sul, e as tribos fino-úgricas ao norte, Oleg Rurikevich (“filho de Rurik” e descendente do trono de Novgorod) acompanhado de alguns cavaleiros normados e homens armados de Novgorod desceram sob o Dnieper e conquistaram a cidade de Kiev, a qual se tornou a capital do novo estado que se formava;
“Askold e Dir desceram o Dnieper e viram uma cidade sobre a colina e perguntaram: “que cidade é aquela?” E os habitantes responderam: “Eram três irmãos, Kii, Chtchok e Khorik, que fundaram esta cidade (Kiev) e morreram. Nós pertencemos ao seu clã” Crônica de Nestor (1110-1113) .
Kiev tinha sua importância por ser uma ponte de ligação entre Novgorod e o Império Bizantino e consequentemente Novgorod era a ponte de ligação de Rus’ com a Escandinávia, de modo que a construção dessa ponte de ligação germinou a formação do principado em questão, e posteriormente, após os sucessos comerciais dessa ponte de ligação, Novgorod, assim como Pskov e outras cidades do Báltico vieram a integrar a Liga hanseática.
Kiev é mãe das três Rússias, a Rússia Pequena (Ucrânia, literalmente “a terra da fronteira”), a Rússia Branca (Bielorrússia) e a Rússia propriamente dita. Após lutas sucessórias e assassinatos de regentes, os descendentes de Oleg dividiram o Principado de Rus’ em vários pequenos principados fracos e francamente com uma tênue ligação entre si.
Isso facilitou as invasões sazonais de kipchaks e pechenegs (tribos nômades e guerreiras de origem túrquica) ao território de Rus’ que teve que aprender a lidar com as invasões com as vias das armas, mas isso não obrigatoriamente deixou a Rússia imune a um invasor ardiloso e bem treinado. Os mongóis.
“Para nossa desgraça, tribos desconhecidas apareceram” Crônica de Novgorod, 1224.
O general mongol Subodei iniciou uma cruzada de expansão do Império Mongol para o ocidente e rapidamente os soldados desse líder, arregimentados em regimentos de cavalaria altamente organizada em arco e flecha de extrema velocidade e poder de fogo puderam dominar sem muito sacrifício a região do Cáucaso tomando sem muito sacrifício a região da Ibéria e da Geórgia Medieval, esse pequeno país se tornou o primeiro estado-vassalo dos mongóis na Europa.
O exército mongol continuou o seu avanço para o Ocidente, chegando à planície extensa na parte norte Mar Negro, essa porção de terra viria a se constituir a parte sul da Rússia e a Ucrânia. Contudo, os principados russos conseguiram se unir contra o invasor, Smolensk, Galich, Chernigov, Kiev, Volinia, Kursk, Suzdal e tantos outros. Sob a liderança de três exércitos, liderados por três príncipes respectivamente chamados Mstislav, que representavam Galich, Chernigov e Kiev se digladiaram contra os mongóis.
Mstislav Romanovich, de Kiev, trazia consigo o maior dos exércitos, incluindo dois genros e a medida que os mongóis chegavam, menos os russos estavam dispostos a negociar, chegou ao ponto de todos os dez embaixadores enviados pelos tártaros terem sido mortos pelas mãos dos russos.
Num tropel de cavalos que reverberava a terra negra dos bosques
russos, os mongóis iniciaram uma escaramuça contra os principados russos,
atraindo-os para uma armadilha junto ao rio Kalka e conforme as crônicas do
período diziam, cerca de 40 a 80 mil soldados russos contra o dobro de mongóis
foram derrotados pela ação bem arregimentada da cavalaria tártara, e os
principados russos, onde a Crônica de Novgorod chegava a estabelecer que “um em
cada 10 homens voltou para casa”,acabaram sendo derrotados e subjulgados de
forma bastante tênue a partir do
pagamento de impostos.
Os russos sempre viram os tártaros como flagelos de Deus, embora
fossem eles próprios que com sua experiência trouxeram a primeira forma de
estado centralizado da Rússia. Os russos devem muito aos mongóis, não só pela
formação de um estado arregimentado em uma hierarquia sólida, como organismos
de vigilância bastante violentos e eficazes, além da construção de uma
sociedade agrária e dissociada da Europa.
A Rússia se desenvolveu razoavelmente bem nesse período sem a
Europa, mas após a unificação imposta por Ivan, o Terrível, a Rússia iniciou
uma longa expansão para a Sibéria e para o Ocidente, enfrentando agora as
potências europeias.
A subjugação dos principados russos ao Khan do Canato de Kazan
trouxe um dilema, os principados rutenos passaram a ser incorporados um a um
por meio de guerras e tratados de anexação com a República das Duas Nações,
formada por Polônia e Lituânia, formando um bolsão agrícola dessas duas nações
formadas a partir do reinado de Jagiello, na maior nação europeia no
Centro-Leste, e a Polônia possuía enorme influência nos pântanos da
Bielorrússia e nos campos de trigo da Ucrânia Ocidental e Oriental.
A despeito das tentativas de Ivan, o Terrível em trazer essas
terras para o jugo moscovita as tentativas se demonstraram falhas
principalmente depois de sua morte, quando a Rússia passou pela Época das Adversidades que só terminou em
1616, quando os Romanov subiram ao trono para uma eleição.
Os poloneses à essa altura eram profundamente odiados pelos russos,
os mesmos russos que tinham subjugado os tártaros com a conquista de Kazan nas
campanhas de Ivan, o Terrível, tinham voltado os olhos ao ocidente. Os
poloneses representavam um engodo, e mais do que isso fomentavam inúmeras
intrigas palacianas no Kremlin, desde colocar dois monarcas falsos (Episódio
dos Falsos Dimitris) até invadir Moscou e incendiar a cidade, os poloneses
também foram acusados de crimes bárbaros contra a população civil, de forma
descrita na história de Ivan Susanin.
A Polonia novamente tinha entrado em guerra contra a Rússia e os
moscovitas se preparavam para o cerco das armas de guerra e da cavalaria
polonesa, a defesa da cidade ficou ao encargo de um boiardo chamado Dmitri
Pozharsky e um tártaro que tinha feito juramento à Moscou, Kusmá Minim, esses
dois mobilizaram a população da cidade para um esquema de barricadas e defesas
das torres que resultou numa vitória contra os poloneses.
Nesse ínterim, as eleições para um novo czar transcorriam entre as
famílias nobres para a estabilização da Rússia frente às ameaças externas e os
poloneses cientes disso viam com malgrado a ideia da ascensão de um Romanov,
sobretudo pelo fato que os Romanov eram uma família proeminente na época de
Ivan, o Terrível. A primeira esposa de Ivan IV era uma Romanov e os Romanov
notabilizavam-se por uma aversão ferrenha aos poloneses.
Ivan Susanin era um camponês ao que tudo indica, os poloneses
corriam em direção aos bosques de Alexandrovo para assassinar o herdeiro do
trono, Aleksei Romanov, contudo encontraram esse velho camponês no caminho que
disse saber onde se encontrava o futuro czar. Por alguma sorte, Ivan Susanin
conseguiu enviar alguém para avisar os Romanov a tempo e conduziu os poloneses
para um caminho errado, quando os polacos perceberam a artimanha, puseram a fio
de espada o pobre camponês.
“Uma vida por um czar”, esse era o título da ópera de Mikhail
Glinka em sua homenagem, mas a realidade é que a mudança trazida pelo príncipe
Aleksei foi trazida apenas com o nascimento de seu filho, Pedro, o grande.
Responsável pela abertura da Rússia à Europa e a retomada do projeto de
expansão ao ocidente, com isso, e a aliança entre a monarquia e os cossacos
datada do século XVII, o ciclo de expansão russa se iniciou a partir de
sucessivas guerras contra os tártaros da Criméia, vassalos dos turco-otomanos,
e contras os suecos, livônios e poloneses, tendo a maior repercussão foi a
participação russa na Guerra dos Trinta Anos.
Após a vitória dos russos sobre os suecos, que resultou na completa
desmobilização do exercito sueco e a abertura de um regime de base parlamentar
nesse país, a Rússia tomou seus aspirados domínios do Báltico e a Finlândia.
De toda a forma, a gérmen do pensamento eslavo mantinha-se de certa
forma no circuito entre Novgorod, Vladimir, Moscou e Kiev, de modo que a grande
potência que se formava tinha bases tradicionais ainda bem aguçadas com os
Principados Russos.
A despeito do domínio russo sobre a Ucrânia, os ucranianos se
conservaram sem grandes problemas ao Império, retirando os levantes camponeses
de Stepan Razin, que ocorreram sazonalmente em decorrência da fome ou da
administração ineficiente do Império.
A Ucrânia, tal como outras partes do Império, se traduz como um
grande celeiro produtor de carne e trigo, com uma das terras mais férteis do
mundo. De fato, a Ucrânia tinha uma industrialização incipiente quando estava
na virada do século XIX para o XX, com industrias pontuais em Kiev, Kharkov,
Donetsk e Odessa. Odessa se caracterizou como o grande porto de contato e de
exportações com a Europa, enquanto Sebastopol se caracterizava por ser uma base
militar bastante importante.
Os ucranianos embora povos irmãos dos russos se viam
desconfortáveis com a sua condição de pobreza e abandono por parte dos
governantes moscovitas, embora tenha outras razões culturais, a iminência de um
antissemitismo por parte de algumas populações ucranianas, sobretudo em Odessa
levou a massacres sucessivos de judeus nos guetos, e com a complacência dos
próprios administradores czaristas, cada vez mais intolerantes à outras
agremiações religiosas no processo de russificação das nações, os pogroms se
proliferaram no reinado de Nicolau II.
Acredito que essas é uma das bases de alguns judeus, revoltados com
sua pobreza e com a sucessiva violência a eles infligida, optaram por uma via
mais revolucionária de resolução dos seus problemas, de modo que Odessa e
outras localidades da Rússia se tornaram antros revolucionários, e até mesmo
uma revolta naval, a do Encouraçado Potemkin foi feita.
Em termos leigos, a Primeira Guerra Mundial resultou num grande
fiasco para a Rússia, além de ter levado à mortes sucessivas de soldados, ter
mostrado o despreparo do exército russo, baseado num modelo francês de guerra,
e ter acabado no fim com a autocracia, levou a um governo provisório fraco e
sem representatividade definida.
Com o avanço dos alemães na fronteira russa e a assinatura do
Tratado de Brest-Litowsky, porções da Rússia, como a Polônia, os países
bálticos e a Ucrânia caíram nas mãos dos
alemães, levando à indignação dos ocidentais. O domínio alemão na Ucrânia nunca
foi algo bem definido, e os alemães não tinham meios logísticos ou de força para
obter os grãos que tanto esperavam. E no caldeirão revolucionário resultante de
Outubro de 1917, os camponeses ucranianos iniciaram uma revolução antes da
revolução das cidades, bem como formaram exércitos de luta tanto contra os
alemães, contra os bolcheviques e guardas brancos, o exército negro de Makno,
e o exército verde de nacionalistas
ucranianos.
A Ucrânia foi o maior palco de atuação na Guerra Civil Russa depois
da Sibéria e do Don, pelo menos cinco exércitos se digladiaram em seu
território, cada um com matiz ideológica diferente, e com a eminência de uma
vitória bolchevique, que se mostraram mais fortes e organizados, os
nacionalistas ucranianos solicitaram o apoio dos poloneses contra a Rússia. A
Guerra Polaco-Soviética.
No esforço de guerra os soviéticos tomaram medidas completamente
autoritárias como o confisco da produção agrícola dos camponeses, como produto
do comunismo de guerra, e os camponeses não contentes com isso queimavam a sua
produção e resistiam à guarnições do Exército Vermelho.
Quando finalmente a guerra acabou e o comunismo de guerra foi
substituído pela NEP, o que se observou nada foi do que um país em frangalhos
tentando se reconstruir. A reconstrução da Ucrânia foi particularmente mais
difícil do que a da Rússia, primeiramente por sua economia estar mais atrelada
ao campo, que havia sido destruído por quase quatro anos de guerra civil, e a
indústria tinha sido deixada a um plano de pouca produção operacional.
A retomada do crescimento econômico da NEP produziu dividendos aos
camponeses médios, os kulaks, que passaram a vender a sua produção ao governo.
Contudo em 1929, o governo de Iosef Stálin decidiu que a NEP vinha cavalgando a
passos lentos e para financiar o
Primeiro Plano Quinquenal, o governo passaria a exportar a produção de grãos no
exterior para obter dinheiro para promover uma rápida industrialização. Nisso o
governo tabelou os preços dos grãos e os camponeses, e com a recusa dos
camponeses em vender os seus produtos sob os baixos preços tabelados pelo
governo, levando o governo bolchevique a designar grupamentos do Exército
Vermelho e do OGPU a confiscar a produção agrícola, além de deportar famílias inteiras para a Sibéria;
A fome grassou de forma absurda na Ucrânia em decorrência da grande
seca de 1931-32, levando a dez milhões de pessoas à inanição, e outras tantas a
um fluxo migratório forçado às cidades em busca de comida, entretanto o regime
instituiu novamente o regime de passaportes internos para conter o fluxo de
pessoas, levando mais gente ao encontro da morte.
Não foi à toa que com a invasão nazista à URSS, em 22 de junho de
1941 alguns ucranianos saudaram com euforia as tropas alemãs, principalmente
depois de anos de repressões, fome, e destruição de templos por causa dos
bolcheviques (era comum serem levados os sinos das igrejas para serem fundidos
e formarem posteriormente maquinário para a indústria soviética).
Contudo a dominação nazista na Ucrânia se revelou mais brutal que a
soviética, com grupos de trabalhos realizando matanças generalizadas, sobretudo
de judeus, com apoio de carrascos ucranianos (wigs) e muitas vezes levando à
população civil à morte por fome, como foi no caso da ocupação de Kharkov. O
movimento partisan ucraniano não chegou a ser tão famoso como o bielorrusso ou
iugoslavo, mas não demonstrou ser menos importante.
A Ucrânia e a Crimeia foram retomadas no início de 1944 e a junção
de forças concentradas na Ucrânia levaram a formação do 1 ° Exercito Ucraniano
sob o comando de Ivan Koniev, o qual além de ter tomado Budapeste, foi responsável
pela tomada de Praga e também em certa parte de Berlim.
Com a criação da ONU e de novos organismos internacionais, os
soviéticos exigiram que a Ucrânia tivesse representatividade no conselho da
ONU, o que foi aceitado com certa relutância pelo anglo-americanos, a Guerra
Fria se consolidava e após a isso, nada seria o mesmo.
Yalta, 1945. Nesse balneário turístico, e casa de verão do czar na
Criméia os líderes ocidentais, Roosevelt (bastante debilitado na época) e
Churchill (bastante raivoso) reuniram-se com Stálin para decidir o destino do
mundo a partir de então, a vitória dos Aliados era dada como certa, e era
questão de tempo para se tornar fato
consolidado.
Conta-se que a despeito das brigas internas, Churchill se
demonstrou preocupado com a situação da Polônia, de fato, a Polônia tinha sido
uma das razões pela qual os ingleses entraram em Guerra. A questão que o 2°
Exercito do Front Bielorrusso de Rokossovsky tinha tomado Varsóvia num espírito
de rixa com seus próprios aliados, e após o desastre da insurreição do Armia
Krajowa ficou claro que os soviéticos desejam ter um domínio claro na Polônia.
Com as propostas de Stalin para dividir a Alemanha em três
(Inglaterra, Estados Unidos e URSS, a França não fazia parte da conta) para
evitar um ressurgimento do militarismo alemão, a ideia de bipartição do mundo
se tornou eminente, onde o Exército Vermelho tinha cruzado inevitavelmente
seria uma região de controle soviético.
Churchill pensou em uma operação de invasão da própria União
Soviética, a Operação Impensável, mas após os relatórios dos generais
britânicos relatarem que era impossível uma operação vitoriosa sobre os
soviéticos, o primeiro-ministro abandonou a ideia.
A Ucrânia consolidou seus domínios sobre a porção oriental da
Polônia, de maioria ucraniana e bielorrussa, e com a bipartição do mundo se
tornou automaticamente inimiga dos Estados Unidos.
A bipartição do mundo levou à doutrina de cercear ao máximo e
conter o avanço do comunismo e da Rússia na Terra, de modo que os Estados
Unidos incentivaram financeiramente medidas para reconstruir a Europa e
sobretudo a Alemanha (Plano Marshall) e os movimentos de revolta no interior do
bloco soviético, em Budapeste, Praga e posteriormente Varsóvia.
Há duas doutrinas em vigor com relação à Rússia, a primeira visa a
sua separação em quatro ou cinco países, de modo que se possa ter um maior
controle sobre os russos e que haja um equilíbrio de poder maior pendendo ao
ocidente, outra doutrina que está em vigor (que ao contrário da primeira surgiu
depois da Guerra Fria), é de que a manutenção da Rússia como está hoje conduz
ao movimento harmônico da diplomacia mundial, pois a Rússia é um grande duto de
contenção dos nacionalismos, fundamentalismo islâmico e também do terrorismo.
Em todos os casos, a Ucrânia e os países que fizeram parte do bloco
soviético são uma questão não resolvida, são a porta de entrada para o mundo
eslavo, e para o coração da Rússia, esses países ao mesmo tempo em que são
porta de entrada, estão próximos demais de um vizinho poderoso.
O plano de expansão da União Europeia, que nasceu como meio de
evitar uma guerra e impedir o avanço do comunismo, se estende aos domínios da
Europa Oriental, orientada pela diplomacia alemã, que observa que o domínio
agrícola de terras como a Ucrânia e Bielorrússia é algo interessante não só
plano internacional de manter presença frente aos russos, mas também como meio
de alimentação do próprio continente.
O azar da Ucrânia é que ela vive em dois mundos, entre a Rússia e a
União Europeia, e o pensamento da Guerra Fria se mantém até hoje, a crise da
Crimeia começou na própria Crimeia em 1945, é uma crise de antagonismos entre a
Rússia (ou o ex-comunismo) e as potências ocidentais (o capitalismo ocidental)
e quando a União Europeia lançou um ultimato à Ucrânia das condições (bastante
duras) para o seu ingresso na União Europeia, a Rússia também lançou condições
para manter os vínculos com a Ucrânia. A indecisão do país, de um lado ligado à
União Europeia por causa de seus vínculos tradicionais com a Polônia, e com a
Federação Russa, devido à raiz da cultura eslava que surgiu a partir de Kiev
conduziu uma situação de esquizofrênia das relações internacionais ucranianas
que levou aos protestos, a queda de Yanukovich e a intervenção da Rússia na
Criméia.
Uma nova Guerra da Criméia? É meio difícil de acreditar, mas a
lógica da Guerra Fria se mantém de certa forma, e pior do que isso ninguém sabe
no que vai dar. A coisa mais sensata ainda é o fato do Ocidente aceitar a perda
da Crimeia aos russos, que é um fato consolidado, de modo que isso impediria
mais atrito com os russos, que são importantes na máquina diplomática mundial.
A Ucrânia vai sofrer muito se não aceitar que realmente perdeu a Criméia, corre
o risco até mesmo de perder outras porções territoriais que são russófilas.
Os dois mundos são a razão da desgraça da Ucrânia, e desde que o
acordo de Yalta foi assinado, cada vez mais difícil é a compreensão das
democracias ocidentais com a Rússia e da Rússia com as democracias ocidentais.
A crise da Ucrânia começou em Yalta.
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