sexta-feira, 13 de junho de 2014

A crise da Ucrânia não começou esse ano, começou em Yalta




            A eclosão da grande crise internacional se deu na Crimeia, mas não em 2014, mas em 1945. Hoje, sob os resquícios de quase setenta anos do grande plano de divisão mundial sob a égide da luta contra o fascismo internacional, a Crimeia novamente é o palco mundial.

            A Ucrânia tem a desgraça em viver sob dois mundos, sob a Europa e sob a Rússia e foi nessa coexistência que o antigo país soviético continuava existindo, a questão é que a situação da Ucrânia não é tão simples quanto a gente imagina: A Ucrânia é o berço natal da cultura russa, é a grande arca da Aliança entre o povo russo com a ortodoxia e a sua história remete desde  a formação do Principado de Rus' em Kiev, pelo grão-príncipe Oleg, filho de Rurik, o Grande. Ali se formulou as bases do primeiro reino sob as estepes russas, onde houve a codificação das leis e os costumes na Russkaya Pravda na época do grão-príncipe, Vladimir, o sábio.

            Após a imigração dos varegues (normandos) às estepes russas no século VIII, com a chegada a corte de Rurik, um nobre viking à Rússia à convite das tribos eslavas existentes naquela grossa faixa de terra repleta de florestas, pradarias e pântanos, formou-se a primeira agremiação de estado centralizado em torno da Grã-Cidade de Novgorod. (Novgorod literalmente quer dizer “Nova Cidade”) e após as investidas do incipiente principado  sob as tribos eslavas ao sul, e as tribos fino-úgricas ao norte, Oleg Rurikevich (“filho de Rurik” e descendente do trono de Novgorod) acompanhado de alguns cavaleiros normados e homens armados de Novgorod desceram sob o Dnieper e conquistaram a cidade de Kiev, a qual se tornou a capital do novo estado que se formava;

            “Askold e Dir desceram o Dnieper e viram uma cidade sobre a colina e perguntaram: “que cidade é aquela?” E os habitantes responderam: “Eram três irmãos, Kii, Chtchok e Khorik, que fundaram esta cidade (Kiev) e morreram. Nós pertencemos ao seu clã” Crônica de Nestor (1110-1113) .


            Kiev tinha sua importância por ser uma ponte de ligação entre Novgorod e o Império Bizantino e consequentemente Novgorod era a ponte de ligação de Rus’ com a Escandinávia, de modo que a construção dessa ponte de ligação germinou a formação do principado em questão, e posteriormente, após os sucessos comerciais dessa ponte de ligação, Novgorod, assim como Pskov e outras cidades do Báltico vieram a integrar a Liga hanseática.
            Kiev é mãe das três Rússias, a Rússia Pequena (Ucrânia, literalmente “a terra da fronteira”), a Rússia Branca (Bielorrússia) e a Rússia propriamente dita. Após lutas sucessórias e assassinatos de regentes, os descendentes de Oleg dividiram o Principado de Rus’ em vários pequenos principados fracos e francamente com uma tênue ligação entre si.
            Isso facilitou as invasões sazonais de kipchaks e pechenegs (tribos nômades e guerreiras de origem túrquica) ao território de Rus’ que teve que aprender a lidar com as invasões com as vias das armas, mas isso não obrigatoriamente deixou a Rússia imune a um invasor ardiloso e bem treinado. Os mongóis.


“Para nossa desgraça, tribos desconhecidas apareceram” Crônica de Novgorod, 1224.
           
        O general mongol Subodei iniciou uma cruzada de expansão do Império Mongol para o ocidente e rapidamente os soldados desse líder, arregimentados em regimentos de cavalaria altamente organizada em arco e flecha de extrema velocidade e poder de fogo puderam dominar sem muito sacrifício a região do Cáucaso tomando sem muito sacrifício a região da Ibéria e da Geórgia Medieval, esse pequeno país se tornou o primeiro estado-vassalo dos mongóis na Europa.



         O exército mongol continuou o seu avanço para o Ocidente, chegando à planície extensa na parte norte Mar Negro, essa porção de terra viria a se constituir a parte sul da Rússia e a Ucrânia. Contudo, os principados russos  conseguiram se unir contra o invasor, Smolensk, Galich, Chernigov, Kiev, Volinia, Kursk, Suzdal e tantos outros. Sob a liderança de três exércitos, liderados por três príncipes respectivamente chamados Mstislav, que representavam Galich, Chernigov e Kiev se digladiaram contra os mongóis.
            Mstislav Romanovich, de Kiev, trazia consigo o maior dos exércitos, incluindo dois genros e a medida que os mongóis chegavam, menos os russos estavam dispostos a negociar, chegou ao ponto de todos os dez embaixadores enviados pelos tártaros terem sido mortos pelas mãos dos russos.


Num tropel de cavalos que reverberava a terra negra dos bosques russos, os mongóis iniciaram uma escaramuça contra os principados russos, atraindo-os para uma armadilha junto ao rio Kalka e conforme as crônicas do período diziam, cerca de 40 a 80 mil soldados russos contra o dobro de mongóis foram derrotados pela ação bem arregimentada da cavalaria tártara, e os principados russos, onde a Crônica de Novgorod chegava a estabelecer que “um em cada 10 homens voltou para casa”,acabaram sendo derrotados e subjulgados de forma bastante tênue a partir  do pagamento de impostos.


Os russos sempre viram os tártaros como flagelos de Deus, embora fossem eles próprios que com sua experiência trouxeram a primeira forma de estado centralizado da Rússia. Os russos devem muito aos mongóis, não só pela formação de um estado arregimentado em uma hierarquia sólida, como organismos de vigilância bastante violentos e eficazes, além da construção de uma sociedade agrária e dissociada da Europa.


A Rússia se desenvolveu razoavelmente bem nesse período sem a Europa, mas após a unificação imposta por Ivan, o Terrível, a Rússia iniciou uma longa expansão para a Sibéria e para o Ocidente, enfrentando agora as potências europeias.


A subjugação dos principados russos ao Khan do Canato de Kazan trouxe um dilema, os principados rutenos passaram a ser incorporados um a um por meio de guerras e tratados de anexação com a República das Duas Nações, formada por Polônia e Lituânia, formando um bolsão agrícola dessas duas nações formadas a partir do reinado de Jagiello, na maior nação europeia no Centro-Leste, e a Polônia possuía enorme influência nos pântanos da Bielorrússia e nos campos de trigo da Ucrânia Ocidental e Oriental.


A despeito das tentativas de Ivan, o Terrível em trazer essas terras para o jugo moscovita as tentativas se demonstraram falhas principalmente depois de sua morte, quando a Rússia passou pela  Época das Adversidades que só terminou em 1616, quando os Romanov subiram ao trono para uma eleição.


Os poloneses à essa altura eram profundamente odiados pelos russos, os mesmos russos que tinham subjugado os tártaros com a conquista de Kazan nas campanhas de Ivan, o Terrível, tinham voltado os olhos ao ocidente. Os poloneses representavam um engodo, e mais do que isso fomentavam inúmeras intrigas palacianas no Kremlin, desde colocar dois monarcas falsos (Episódio dos Falsos Dimitris) até invadir Moscou e incendiar a cidade, os poloneses também foram acusados de crimes bárbaros contra a população civil, de forma descrita na história de Ivan Susanin.


A Polonia novamente tinha entrado em guerra contra a Rússia e os moscovitas se preparavam para o cerco das armas de guerra e da cavalaria polonesa, a defesa da cidade ficou ao encargo de um boiardo chamado Dmitri Pozharsky e um tártaro que tinha feito juramento à Moscou, Kusmá Minim, esses dois mobilizaram a população da cidade para um esquema de barricadas e defesas das torres que resultou numa vitória contra os poloneses.


Nesse ínterim, as eleições para um novo czar transcorriam entre as famílias nobres para a estabilização da Rússia frente às ameaças externas e os poloneses cientes disso viam com malgrado a ideia da ascensão de um Romanov, sobretudo pelo fato que os Romanov eram uma família proeminente na época de Ivan, o Terrível. A primeira esposa de Ivan IV era uma Romanov e os Romanov notabilizavam-se por uma aversão ferrenha aos poloneses.


Ivan Susanin era um camponês ao que tudo indica, os poloneses corriam em direção aos bosques de Alexandrovo para assassinar o herdeiro do trono, Aleksei Romanov, contudo encontraram esse velho camponês no caminho que disse saber onde se encontrava o futuro czar. Por alguma sorte, Ivan Susanin conseguiu enviar alguém para avisar os Romanov a tempo e conduziu os poloneses para um caminho errado, quando os polacos perceberam a artimanha, puseram a fio de espada o pobre camponês. 


“Uma vida por um czar”, esse era o título da ópera de Mikhail Glinka em sua homenagem, mas a realidade é que a mudança trazida pelo príncipe Aleksei foi trazida apenas com o nascimento de seu filho, Pedro, o grande. Responsável pela abertura da Rússia à Europa e a retomada do projeto de expansão ao ocidente, com isso, e a aliança entre a monarquia e os cossacos datada do século XVII, o ciclo de expansão russa se iniciou a partir de sucessivas guerras contra os tártaros da Criméia, vassalos dos turco-otomanos, e contras os suecos, livônios e poloneses, tendo a maior repercussão foi a participação russa na Guerra dos Trinta Anos.


Após a vitória dos russos sobre os suecos, que resultou na completa desmobilização do exercito sueco e a abertura de um regime de base parlamentar nesse país, a Rússia tomou seus aspirados domínios do Báltico e a Finlândia.


De toda a forma, a gérmen do pensamento eslavo mantinha-se de certa forma no circuito entre Novgorod, Vladimir, Moscou e Kiev, de modo que a grande potência que se formava tinha bases tradicionais ainda bem aguçadas com os Principados Russos.


A despeito do domínio russo sobre a Ucrânia, os ucranianos se conservaram sem grandes problemas ao Império, retirando os levantes camponeses de Stepan Razin, que ocorreram sazonalmente em decorrência da fome ou da administração ineficiente do Império.


A Ucrânia, tal como outras partes do Império, se traduz como um grande celeiro produtor de carne e trigo, com uma das terras mais férteis do mundo. De fato, a Ucrânia tinha uma industrialização incipiente quando estava na virada do século XIX para o XX, com industrias pontuais em Kiev, Kharkov, Donetsk e Odessa. Odessa se caracterizou como o grande porto de contato e de exportações com a Europa, enquanto Sebastopol se caracterizava por ser uma base militar bastante importante.


Os ucranianos embora povos irmãos dos russos se viam desconfortáveis com a sua condição de pobreza e abandono por parte dos governantes moscovitas, embora tenha outras razões culturais, a iminência de um antissemitismo por parte de algumas populações ucranianas, sobretudo em Odessa levou a massacres sucessivos de judeus nos guetos, e com a complacência dos próprios administradores czaristas, cada vez mais intolerantes à outras agremiações religiosas no processo de russificação das nações, os pogroms se proliferaram no reinado de Nicolau II.


Acredito que essas é uma das bases de alguns judeus, revoltados com sua pobreza e com a sucessiva violência a eles infligida, optaram por uma via mais revolucionária de resolução dos seus problemas, de modo que Odessa e outras localidades da Rússia se tornaram antros revolucionários, e até mesmo uma revolta naval, a do Encouraçado Potemkin foi feita.


Em termos leigos, a Primeira Guerra Mundial resultou num grande fiasco para a Rússia, além de ter levado à mortes sucessivas de soldados, ter mostrado o despreparo do exército russo, baseado num modelo francês de guerra, e ter acabado no fim com a autocracia, levou a um governo provisório fraco e sem representatividade definida.

Com o avanço dos alemães na fronteira russa e a assinatura do Tratado de Brest-Litowsky, porções da Rússia, como a Polônia, os países bálticos e a Ucrânia caíram  nas mãos dos alemães, levando à indignação dos ocidentais. O domínio alemão na Ucrânia nunca foi algo bem definido, e os alemães não tinham meios logísticos ou de força para obter os grãos que tanto esperavam. E no caldeirão revolucionário resultante de Outubro de 1917, os camponeses ucranianos iniciaram uma revolução antes da revolução das cidades, bem como formaram exércitos de luta tanto contra os alemães, contra os bolcheviques e guardas brancos, o exército negro de Makno, e  o exército verde de nacionalistas ucranianos.


A Ucrânia foi o maior palco de atuação na Guerra Civil Russa depois da Sibéria e do Don, pelo menos cinco exércitos se digladiaram em seu território, cada um com matiz ideológica diferente, e com a eminência de uma vitória bolchevique, que se mostraram mais fortes e organizados, os nacionalistas ucranianos solicitaram o apoio dos poloneses contra a Rússia. A Guerra Polaco-Soviética.

No esforço de guerra os soviéticos tomaram medidas completamente autoritárias como o confisco da produção agrícola dos camponeses, como produto do comunismo de guerra, e os camponeses não contentes com isso queimavam a sua produção e resistiam à guarnições do Exército Vermelho.


Quando finalmente a guerra acabou e o comunismo de guerra foi substituído pela NEP, o que se observou nada foi do que um país em frangalhos tentando se reconstruir. A reconstrução da Ucrânia foi particularmente mais difícil do que a da Rússia, primeiramente por sua economia estar mais atrelada ao campo, que havia sido destruído por quase quatro anos de guerra civil, e a indústria tinha sido deixada a um plano de pouca produção operacional.


A retomada do crescimento econômico da NEP produziu dividendos aos camponeses médios, os kulaks, que passaram a vender a sua produção ao governo. Contudo em 1929, o governo de Iosef Stálin decidiu que a NEP vinha cavalgando a passos lentos e  para financiar o Primeiro Plano Quinquenal, o governo passaria a exportar a produção de grãos no exterior para obter dinheiro para promover uma rápida industrialização. Nisso o governo tabelou os preços dos grãos e os camponeses, e com a recusa dos camponeses em vender os seus produtos sob os baixos preços tabelados pelo governo, levando o governo bolchevique a designar grupamentos do Exército Vermelho e do OGPU a confiscar a produção agrícola, além  de deportar famílias inteiras para a Sibéria;


A fome grassou de forma absurda na Ucrânia em decorrência da grande seca de 1931-32, levando a dez milhões de pessoas à inanição, e outras tantas a um fluxo migratório forçado às cidades em busca de comida, entretanto o regime instituiu novamente o regime de passaportes internos para conter o fluxo de pessoas, levando mais gente ao encontro da morte.

Não foi à toa que com a invasão nazista à URSS, em 22 de junho de 1941 alguns ucranianos saudaram com euforia as tropas alemãs, principalmente depois de anos de repressões, fome, e destruição de templos por causa dos bolcheviques (era comum serem levados os sinos das igrejas para serem fundidos e formarem posteriormente maquinário para a indústria soviética).

Contudo a dominação nazista na Ucrânia se revelou mais brutal que a soviética, com grupos de trabalhos realizando matanças generalizadas, sobretudo de judeus, com apoio de carrascos ucranianos (wigs) e muitas vezes levando à população civil à morte por fome, como foi no caso da ocupação de Kharkov. O movimento partisan ucraniano não chegou a ser tão famoso como o bielorrusso ou iugoslavo, mas não demonstrou ser menos importante.


A Ucrânia e a Crimeia foram retomadas no início de 1944 e a junção de forças concentradas na Ucrânia levaram a formação do 1 ° Exercito Ucraniano sob o comando de Ivan Koniev, o qual além de ter tomado Budapeste, foi responsável pela tomada de Praga e também em certa parte de Berlim.

Com a criação da ONU e de novos organismos internacionais, os soviéticos exigiram que a Ucrânia tivesse representatividade no conselho da ONU, o que foi aceitado com certa relutância pelo anglo-americanos, a Guerra Fria se consolidava e após a isso, nada seria o mesmo.

Yalta, 1945. Nesse balneário turístico, e casa de verão do czar na Criméia os líderes ocidentais, Roosevelt (bastante debilitado na época) e Churchill (bastante raivoso) reuniram-se com Stálin para decidir o destino do mundo a partir de então, a vitória dos Aliados era dada como certa, e era questão de  tempo para se tornar fato consolidado.


Conta-se que a despeito das brigas internas, Churchill se demonstrou preocupado com a situação da Polônia, de fato, a Polônia tinha sido uma das razões pela qual os ingleses entraram em Guerra. A questão que o 2° Exercito do Front Bielorrusso de Rokossovsky tinha tomado Varsóvia num espírito de rixa com seus próprios aliados, e após o desastre da insurreição do Armia Krajowa ficou claro que os soviéticos desejam ter um domínio claro na Polônia.

Com as propostas de Stalin para dividir a Alemanha em três (Inglaterra, Estados Unidos e URSS, a França não fazia parte da conta) para evitar um ressurgimento do militarismo alemão, a ideia de bipartição do mundo se tornou eminente, onde o Exército Vermelho tinha cruzado inevitavelmente seria uma região de controle soviético.


Churchill pensou em uma operação de invasão da própria União Soviética, a Operação Impensável, mas após os relatórios dos generais britânicos relatarem que era impossível uma operação vitoriosa sobre os soviéticos, o primeiro-ministro abandonou a ideia.


A Ucrânia consolidou seus domínios sobre a porção oriental da Polônia, de maioria ucraniana e bielorrussa, e com a bipartição do mundo se tornou automaticamente inimiga dos Estados Unidos.


A bipartição do mundo levou à doutrina de cercear ao máximo e conter o avanço do comunismo e da Rússia na Terra, de modo que os Estados Unidos incentivaram financeiramente medidas para reconstruir a Europa e sobretudo a Alemanha (Plano Marshall) e os movimentos de revolta no interior do bloco soviético, em Budapeste, Praga e posteriormente Varsóvia.


Há duas doutrinas em vigor com relação à Rússia, a primeira visa a sua separação em quatro ou cinco países, de modo que se possa ter um maior controle sobre os russos e que haja um equilíbrio de poder maior pendendo ao ocidente, outra doutrina que está em vigor (que ao contrário da primeira surgiu depois da Guerra Fria), é de que a manutenção da Rússia como está hoje conduz ao movimento harmônico da diplomacia mundial, pois a Rússia é um grande duto de contenção dos nacionalismos, fundamentalismo islâmico e também do terrorismo.


Em todos os casos, a Ucrânia e os países que fizeram parte do bloco soviético são uma questão não resolvida, são a porta de entrada para o mundo eslavo, e para o coração da Rússia, esses países ao mesmo tempo em que são porta de entrada, estão próximos demais de um vizinho poderoso.


O plano de expansão da União Europeia, que nasceu como meio de evitar uma guerra e impedir o avanço do comunismo, se estende aos domínios da Europa Oriental, orientada pela diplomacia alemã, que observa que o domínio agrícola de terras como a Ucrânia e Bielorrússia é algo interessante não só plano internacional de manter presença frente aos russos, mas também como meio de alimentação do próprio continente.

O azar da Ucrânia é que ela vive em dois mundos, entre a Rússia e a União Europeia, e o pensamento da Guerra Fria se mantém até hoje, a crise da Crimeia começou na própria Crimeia em 1945, é uma crise de antagonismos entre a Rússia (ou o ex-comunismo) e as potências ocidentais (o capitalismo ocidental) e quando a União Europeia lançou um ultimato à Ucrânia das condições (bastante duras) para o seu ingresso na União Europeia, a Rússia também lançou condições para manter os vínculos com a Ucrânia. A indecisão do país, de um lado ligado à União Europeia por causa de seus vínculos tradicionais com a Polônia, e com a Federação Russa, devido à raiz da cultura eslava que surgiu a partir de Kiev conduziu uma situação de esquizofrênia das relações internacionais ucranianas que levou aos protestos, a queda de Yanukovich e a intervenção da Rússia na Criméia.


Uma nova Guerra da Criméia? É meio difícil de acreditar, mas a lógica da Guerra Fria se mantém de certa forma, e pior do que isso ninguém sabe no que vai dar. A coisa mais sensata ainda é o fato do Ocidente aceitar a perda da Crimeia aos russos, que é um fato consolidado, de modo que isso impediria mais atrito com os russos, que são importantes na máquina diplomática mundial. A Ucrânia vai sofrer muito se não aceitar que realmente perdeu a Criméia, corre o risco até mesmo de perder outras porções territoriais que são russófilas.

Os dois mundos são a razão da desgraça da Ucrânia, e desde que o acordo de Yalta foi assinado, cada vez mais difícil é a compreensão das democracias ocidentais com a Rússia e da Rússia com as democracias ocidentais. A crise da Ucrânia começou em Yalta. 

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