Meu papel de livreto
Não corre devagar
No beijo do soneto
O verso regular
Não tem graça
Nessa mesa de bar
Deixe-me cantar
Duas páginas
e meia ciranda
de ninar
Caderno de papel
De menino levado
De letras grandes
e gesto desconfiado
É nada menos
que um pequeno véu
Na infância perdida
de um poeta fracassado
Aquarela vermelha
Ciranda amarela
É essa noite
que vem e que gela
Eu sou menino
que finge saber ler
e acha poder escrever
Eu sou garoto
que não sabe soltar pipa
e só quer saber de mulher
Nunca corri atrás de gafanhotos
Nunca subi em pé de mangueira
Sou mimado demais
para ser deixado pra trás
Já briguei muito na escola
Sempre saia perdendo
Mas o que não saia perdendo
Era minha dignidade de brigador
Por vezes minha mãe me batia
Por vezes ela discutia
Só sei que ela me atura
Nessa grande ditadura
Cadê meu caderno?
Cadê meu lanche?
Pode amarrar meu sapato?
Pois é, sou muito folgado
Cuidado comigo,
eu posso crescer
E sabe de uma coisa?
Não estarei com você...
Sou embalado a jato
Sou menino ingrato
Eu sou garoto
que não sabe soltar pipa
e só quer saber de mulher
Poeta fracassado
Na infância perdida
cidadão de papel
Marcha soldado
Cabeça de papel
senão marchar direito
Vai preso pro quartel
"Seu prezado escritor
que não sabe pescar
o maço de papel
sem fazer garrancho
Sou eu que sou criança
e você que finge ser adulto
deixe eu ser você
e você ser eu
e aí tá tudo certo
comigo e contigo
Quero uma pinta de soneto
Dois quartos de terceto
e um beijo no rosto
daquela menina do retrato
Também quero que escreva
O quanto você chora que
nem criancinha de duas às seis
E depois corre como adulto
ganhar dinheiro das oito às doze
Cadê você?
Você, seu velho?
Cadê você
que se esconde
nesse fio de bengala?
Está achando que eu te esqueci
Onde mais teria te encontrado
senão na minha mente
Seu velho inconsequente
Já não basta ter babado
enquanto estava dormindo
ou ter se aposentado
enquanto estava vivo?
Que velho imprestável
nem quer escrever nada
seu cidadão instável!"
'Quando eu era jovem
As pessoas tinham mais respeito
Eu tinha mais peito
E batia vento na viagem
Quando era jovem
eu escrevia muitos papéis
que hoje eu lembro e sorrio
Na burrice da vida da juventude
As rugas me ensinaram um defeito
que é ser jovem e idealista
Quando criança era mimado
E quando jovem era safado'
"Mas que velho imbecil!
Eu ainda sou criança
Beijo a minha pança
E olho meu umbigo"
e eu sou tão safado
que volta e meia
eu olho para o passado
Eu sou moleque
que joga no videogame
puxa um chimarrão de vez em quando
e brinca de beijar mulher
Sou velho, sou novo
Sou poeta, sou pecador
Sou antes de tudo esquisofrênico
E amargo sofredor
Pois sou poeta, sou velho
Novo jovem, velho poeta
safado, pecador, errado
E sonhador
Acima de tudo
sou louco
de vontade
de voltar
a ser
inconstante
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Haber e o uso da ciência para o "bem" e para o "mal"
A figura mais controversa pra mim na história da Ciência não é Oppenheimer (pai da bomba nuclear), nem Alfred Nobel (criador da di...
-
Ao mar aberto um gigante cruzador traçava as águas escuras do Mar Negro rumo à Terra Natal, podia-se ver de longe o longo rast...
-
Эй, ухнем! Эй, ухнем! Ещё разик, ещё да раз! Эй, ухнем! Эй, ухнем! Ещё разик, ещё да раз! Разовьём мы берёзу, Разовьём мы кудряву! Ай-да,...
Nenhum comentário:
Postar um comentário