terça-feira, 10 de setembro de 2013

Sobre os protestos de 7/09

        É pernicioso acreditar que um movimento tão caro tenha mudado  tanto; As marchas hoje tomaram um caminho tão diverso que diferentemente de Julho, estão voltadas mais para um apelo cívico do que um senso de reformas ou mesmo uma Revolução. Em Julho parecia inevitável o fato que o governo iria cair, embora o povo ainda não tivesse pautas definidas. Povo? Desculpem, a classe média, ou melhor, voltemos aos conceitos marxistas que nesse caso devem ser empregados: a pequena-burguesia.

       Sim, realmente não foi o povo na sua definição mais proletária de conotação, mas sim um povo que se caracterizava por conceitos nacionais. Como brasileiros, pessoas que beijavam a bandeira dos Bragança modificada,  que gritava a plenos pulmões o hino nacional e marchava inutilmente no espelho d'água no Congresso Nacional. Esses indíviduos acreditam ser os grandes revolucionários que postam no Facebook imagens de si por cima do domo do Congresso projetado por Niemeyer sem compreender que nada disso trouxe tantas transformações quanto se deveria;

       É verdade que a pequena-burguesia está se vendo cada vez menos representada, embora esteja crescendo em  número, ela não se vê representada pelas medidas assistencialistas do governo, tampouco representada pelos grandes grupos detentores do capital, embora ela possua inveja de milionários como Eike Batista e Abílio Diniz. Essa classe de pessoas é a mesa que viaja sazonalmente aos Estados Unidos fazer compras, possuí uma calça da Levi Strauss (sem sequer pensar que Lévi Strauss também é o nome de um grande antropólogo estruturalista) e óculos Warfare Rayban.

      Não os estou julgando, seria hipocrisia, em julho era eu que gritava lado a lado com eles contra o governo, embora não tenha ouvido um único trecho da Internacional no meio daquela massa que gritava o Hino Nacional. É engraçado, porque num protesto dessa natureza é o sistema inteiro que deve ser criticado, desde os seus mais perniciosos pecados, como a repressão dura policial, até o seu caráter simbólico: A bandeira e o Hino Nacional, mas o que vimos ali não foi algo diferente de uma partida de futebol, onde todo mundo está zangado por causa do modo como o juiz o conduz, com as faltas mal empregadas e os cartões injustos, enquanto o outro time está se valendo de carrinhos e outras coisas, enquanto a gente canta o Hino Nacional com a mão no peito. É algo estranho.

       Marx diria nesse momento que é a pequeno-burguesia percebe o acirramento das contradições internas do sistema e o seu processo de proletarização, mas Marx equivoca-se, a pequeno-burguesia não possui tal consciência e pelo contrário, as contradições internas estão sendo aplanadas pelo neopopulismo petista. A pequeno-burguesia na realidade está crescendo, mas os velhos grupos pequeno-burgueses apercebem-se  que não possuem o mesmo poder político e de compra como antes, de modo que não se veem representados por nenhum partido político, assim vão para as ruas.

      Contudo vão às ruas sem um projeto. É verdade, boa parte constitui uma juventude pós-Muro de Berlim que não possui a profundidade de uma leitura socialista que poderia ser interessante nessas horas; De fato o apartidarismo é tão crescente que qualquer grupo político que deseje se manifestar é profundamente rechaçado, de fato, no período de ascensão do fascismo, qualquer movimento que carregasse um estandarte de um partido político era para ser rechaçado à força.

      Sim, o movimento de agora realmente tem características meio fascistas, como a valorização da Nação antes de tudo, combate sistemático da corrupção (como se alguém fosse a favor dela) e o antipartidarismo. Não possui uma ideologia própria, mas possui um antiesquerdismo exacerbado pela parte de alguns. O problema que a pequeno-burguesia é facilmente manipulada e alienável, pois ela própria, segundo Marx, não possui uma consciência de classe e possuí aversão à classe trabalhadora. O caráter alienatório com o qual a pequena-burguesia possui cria distorções tão absurdas como o culto à personalidade de uma personalidade notoriamente anarquista (V de vingança) com ideias nacionalista e beirando ao autoritarismo.

      Em verdade, o fascismo caracteriza-se por uma tentativa de romper com a ordem democrática fragilizada e impor uma nova ordem de massas, onde as contradições sociais virtualmente desapareceriam, contudo era um movimento de massas; Um movimento de massas em favor da pequeno-burguesia, esse é o grande xis da questão. Até onde nos guiará esse levante da classe média sem um princípio norteador, qual seria o rumo dessa manifestação toda. 


     Logicamente não serão novas ditaduras, a época para ditaduras já passou, mas pode ser um estado de viés um pouco mais autoritário e centralista, e isso ameaça as liberdades individuais do homem e do individuo, sem levar em consideração que atrapalha o projeto de construção de uma sociedade sem classes sociais. Os movimentos de setembro agora apagam o fogo revolucionário de Julho,  retira o papel revolucionário do movimento e tomam um caráter cada vez mais diversificado. Resta saber se a continuidade representará uma mudança no movimento ou ele se extinguirá de uma vez por todas como fogo que se esgota após um vendaval.

       A Revolução é a única solução que se apresenta hoje, entretanto como todos nós sabemos, Revolução pressupõe sangue o que nenhum dos manifestantes está disposto a desperdiçar, de maneira que não há grandes projeções para tal movimento no futuro próximo. A Revolução é o meio pelo qual as massas são ouvidas, ou como Karl Marx dizia, é o festival dos descamisados, dos que não têm nada.

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