sábado, 14 de setembro de 2013

Um quebra-noz perdido

        Os mais tristes dias contam a devassidão com que a nossa mente se preenche dos mais austeros tons de imagem e som, em que o sol não ilumina mais, mas acaba sendo um fardo que assola nossas costas. O teor canceroso das palavras não ditas preenche as linhas do esquecimento e desabam na autoafirmação do mais sincero silêncio.

        Não que não seja de fato algo recorrente, de fato chega a ser rotina, os desatinos mais comoventes não se dão por tamanha sinceridade nos versos, mas no mais taciturno dos dias. Ninguém é tão sábio de querer romper esse maldito silêncio. De fato nem eu sou tão sábio, pois a sapiência é uma corrente tão estúpida do pensamento platônico que recheia nossa mente com tremenda estupidez.

       O sintagma sonoro com que sou obrigado a ouvir todas as vezes que sou deixado de lado é de tal forma tão negligente que martela minha mente de tanto pensar, pois afinal de contas, esse vínculo vicioso é tão absurdamente convexo e complicado, suntuoso, que não parece ter tamanho fim. Não sei se há como superá-lo mesmo tentando romper os grilhões que me atam ao triste passado, não sei como fugir dessa melancolia que me consome todos os dias, retira a cor dos meus olhos e me deixa cada vez mais de rosto esquálido.

         Talvez seja verdade que a vida nos pregue peças, que os nossos sentimentos ofuscam nossa visão, que a mais derradeira conversa engana o mais idiota dos sábios. Talvez seja verdade que se apaixonar seja a maior maldição desse século, onde não temos pontos seguros e não sabemos para onde irmos. Onde não temos maiores convicções e não temos a quem sentir qualquer identificação. É fato que tudo isso é algo construído e assentado de maneira concisa na mais tristonha experiência empírica.

      O fim dessa hecatombe emocional parece não chegar, e o masoquismo com o qual eu estou acostumado toma novas formas mais delgadas. Sinto-me de certa forma usado, como um objeto que depois é largado como se uma criança se enjoasse de um brinquedo.

          O brinquedo se revolta, some, desaparece da sua arca fechada da qual sufoco meu espírito e vago sozinho procurando o que fazer. Sou apenas um  bonequinho de chumbo, um quebra-nozes que não consegue mais marchar quanto deveria, que manca quando pensa no duro caminho a correr. Que tenta ser mais do que um mero bonequinho de luxo e quer se tornar seu para sempre, que quer ser levado para a sua cama, quer ser aninhado de vez em quando e que você conte algumas histórias. O quebra-nozes está meio desgastado, é verdade, passou muito tempo largado e agora está meio revoltado com essa posição de brinquedo jogado em qualquer canto.

       O quebra-nozes tem medo de sair e ficar no limbo novamente, mas se vê desconfortável em pensar novamente em ser deixado dentro do baú empoeirado de novo, no escuro da noite, enquanto escuta o som fragilizado de uma caixinha de música meio melancólica.

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