segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Sete dias

           Sete dias fora; sete dias pensando em você.

           Sete longas noites passando frio, escrevinhando algumas coisas enquanto não sentia grande conforto nessa vil solidão. Dormi sozinho abraçado à minha mala com a vil esperança de voltar para casa. O frio corroeu minha mente nessa longa semana que se arrastou, não tive a menor vontade de sair da minha fria barraca e nem cumprimentei o meu vizinho de frente.

          Estava escuro e frio. Senti medo algumas horas é verdade, tivemos momentos de tensão, mas eu continuava a escrevinhar sobre você, tentando desenhar na minha mente os contornos áureos do seu rosto risonho, ao contrário do meu que só envelheceu. Não acredito que fui para tão longe.

         Senti saudades suas, de meu pai também, o qual mal pude ver quando cheguei, que estava de partida tanto quanto eu, e da minha irmã também. Minha mãe estava aflita quando entrei pela porta, achando que nunca mais iria voltar, eu sempre a achei meio dramática, mas eu penso hoje que talvez pudesse realmente não mais voltar.

       Eu tenho espírito de cigano, minha vida é uma longa viagem, embora sinta por vezes saudade; Isso corrói é verdade, não era pedir muito querer ficar perto de você por mais algum tempo, mas esses sete dias mudaram muita coisa não foi mesmo? Não estamos mais tão sorridentes quanto antes, nem sei mais porquê. Eu fico pensando nisso, não tivemos mostras de carinho nem nada parecido, eu fiquei calado e você também ficou muda.  Estranho, tinha tanto a dizer.

       Injusto isso, realmente injusto;.

       Derivado disso tudo, esses sete dias poderiam ser mais felizes, mas a felicidade está em algum canto da minha mala, espalhada no meio das roupas sujas ou dos cosméticos que derramaram. De quebra tenho de brinde a mais chata das gripes, estou tão enfermo que a tosse dói até o pâncreas.

        Mas isso me lembra a música do Carlos Gardel, onde nada mais se deseja senão voltar ao próprio aconchego. Eu vejo às luzes à distância, o brilho do seu sorriso discreto, na estrada de onde ecoa o látex do pneumático procuro a sua voz. As estrelas zombam de mim nessa vil esperança de chegar mais cedo e a noite se arrasta.

        Volver... uma semana não é nada, com o rosto murcho de tanto sofrimento. Mas voltar finalmente, os olhos febris olham de novo pra Brasília  com a vontade de te encontrar mais uma vez, enquanto o meu coração continua a gemer a canção de Gardel bem silenciosamente.





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