domingo, 8 de setembro de 2013

Esforços

         Tento em vão gastar meus esforços a aprender um pouco de polonês, mas minha mente anda tão carregada que nada anda mais tão fácil como antes. Então vejo que seria bom escrever um pouco, mas minha inspiração anda indo embora tal como a tinta da caneta. Eu estou virando acadêmico e estou percebendo isso.

        Isso ao mesmo tempo me deixa feliz como temeroso, feliz porque finalmente estou virando um historiador, e triste porque estou perdendo a minha veia poética e minha sensibilidade para o amor. Contudo, não acredito que esteja me tornando algo tão diferente de mim, esteja me tornando cada vez mais bronco nas palavras e nos versos, cada vez mais vazio e sem inspiração, como se estivesse esgotando toda a água de um deserto. Sem as palavras, sem os versos, eu não sou nada, nem mesmo um poeta-proletário como brincava Maiakovsky.

            Em verdade, ainda tento escrever um pouco, embora não tenha mais tempo. Não tenho tempo mais para nada, é, acho que enfim se foi a minha mocidade. E foi cedo, por sinal, não vi nem o tempo passar. Meus cabelos estão começando a ficar brancos sem ter nem mesmo completado vinte anos! Hoje nasceu o terceiro fio grisalho, logicamente o arranquei. Arranquei o fio de cabelo com tamanha veemência do modo como o tempo arranca minha vida. Queria ter tanto tempo, queria ter tempo de escrever, ouvir e olhar. Queria ter tempo para refletir e para filosofar. Mas sobretudo, eu queria ter tempo para namorar. Bem, não é bem namoro, e sim algo um pouco mas complexo. Mas como ela é bonita e inteligente. Meu Santo Maquiavel, como ela é inteligente, uma das mais doces criaturas que eu já conheci e eu estou sendo um imbecil em não acompanhá-la do jeito que eu queria.

         Nem poderia, tenho tantas responsabilidades agora. Deveria dar um tempo de tudo, mas não posso; Dizem que sou um tanto importante, duvido que seja; Dizem que eu sou trabalhador, se sou, poderia trabalhar mais um pouco. Dizem tantas coisas que nem chego a acreditar. Eu sinto falta dela, das risadas dela, dos abraços e dos beijos. Sim, dos beijos, mas como eu disse, sou um idiota em não passar o tempo que eu queria com ela. E também acho que ela está saturada de mim. Bem seja verdade, eu também estaria no lugar dela, afinal sou tão complexo que até um matemático não conseguiria desvendar a equação da minha vida.

         Estou me tornando cada vez mais difuso e com particularidades. Não sei se vocês me ouvem, ou leem essas narrativas sem muita graça (confesso eu, já foram bem melhores antes), mas meus versos proféticos e desesperados andam tropeçando na ponta do ponto e vírgula, esbarram no travessão e se retem no meio das aspas. São palavras que não escrevem nada, não pontuam nada e não sentem nada. Palavras que levam apenas letras na sua composição sentencial da ordem gramatical. Esqueço-me que não se pode fazer rima no interior de prosa dominical.

          Bom, ando meio ansioso ultimamente. Nervoso para terminar com as minhas obrigações, me sentar de fronte à mesa, ligar o som com uma boa música do Rachmaninoff, e retirar o pó da minha máquina de escrever, que pelo que eu lembro anda com problemas com o teclado. Se fosse só ela. Minha mão anda pesando quando começo a escrever com a caneta tinteiro,  de tal forma que estou perdendo a prática, minha letra anda cada dia mais feia e o papel vem envelhecendo cada vez mais no meu caderno.

          Ando cada vez mais irritadiço, comigo e com os outros. Não posso entrar num lugar sem brigar com os meus conhecidos, aparentemente todo mundo está cansado e eu estou percebendo isso. Estou tão irritadiço que nem ando falando direito com quem eu deveria falar.

          Não encontro mais o meu porto seguro tanto quanto deveria, não a encontro mais pelos corredores, não sei se ela anda me evitando ou se nossos horários não andam se encontrando. Tenho medo de acabar perdendo-a por ser tão assim, tão redondamente eu, às vezes frio, vazio e sem sentimentos, às vezes melancólico, calado, e carente. Ela deve ter descobrido que eu sorrio mais por decoro do que por sentimento, na realidade não duvido. Eu gosto dela realmente, como pessoa e mais como isso como possível companheira, às vezes nos compreendemos tão bem que me sinto como se fossemos um, às vezes discutimos tanto que fico me perguntando o que ela viu em mim. Realmente o que ela deve ter visto? Não sou tão belo assim quanto eu imagino ser, nem tão inteligente, sou solitário e terrivelmente sozinho. Brigão às vezes, chego a ser até chato que vive reclamando da vida mesmo sabendo que  existem pessoas que sofrem muito mais. O que ela viu em mim? Eu não sei.

           Talvez minha franqueza, eu sempre fui bastante franco, isso é verdade.

           Agora nela eu vejo tantas coisas, ela é sim bastante inteligente, é amigável e divertida. Embora às vezes fique até mais taciturna que eu, ela consegue levar as situações a seu favor. E sim, como ela é sorridente. Bonita também. Eu não sei, eu tentei me pautar por critérios de personalidade, mas não posso esquecer que ela é muito bonita. Queria escrever palavras mais bonitas para ela, dizer que ela foi esculpida no mais divino trabalho divino, que seu jeito meio de moleca me diverte cada vez mais, que de vez em quando, quando ela põe o cabelo para trás, ela parece a Pocahontas, e que ela tem os mais doces lábios que tive a oportunidade de beijar. 

       É verdade, que duvido que ela venha a ler tais palavras; Eu tenho a impressão que qualquer encanto que eu tenha produzido já tenha sido dinamitado pelo tempo; Que ela não irá mais querer das minhas histórias, dos meus medos ou dos meus carinhos. Que ela não saberá mais a hora de me abraçar quando eu estiver me sentindo sozinho ou eu também não saberei como agir quando ela estiver me contando uma história triste. O fato é que eu gosto dela, mesmo não mais me encontrando do jeito que eu deveria e morrendo de vontade de beijá-la a qualquer momento que a vejo, abraçá-la e como um colegial dizer aquelas três palavrinhas infelizes: "Ja lubię ty". 

        Parece que eu ainda lembro alguma coisa de Polonês, menos mal. Faz tanto tempo. Isso é secundário quando eu fico com a mente cheia. Cheia das besteiras que me contam, as intrigas e os assuntos do trabalho, que tornam a vida cada vez mais enfadonha. Terrível. Eu só queria ter um tempinho pra mim, isso não é pedir muito, por causa dessas intrigas quase não vi meu pai, quase não encontro com a minha querida companheira. E quase não tenho tempo para sentir novamente. Aí eu fico à beira do colapso.

        Eu quero sonhar novamente, não do jeito que eu sonhava antes. Não posso mais mudar o mundo do jeito que eu queria, não posso ter como desejar uma família como eu desejei na infância, não posso desejar uma parceira para toda a vida, tenho que ser realista. Nada é eterno, nada. E isso às vezes é bem frustrante, pois acabo perdendo parte de mim no caminho. O tempo é o que mais se perdeu nesses anos, a felicidade também, a tal ponto que fico me perguntando se é possível tornar-me feliz de novo. Eu estou cheio de dúvidas.

         Não tenho dúvidas quanto ao que eu quero agora. Deixar meu passado morrer atrás de mim, largar algumas responsabilidades e passar o tempo com o que realmente importa, ficar ao lado de quem eu gosto, e beijá-la o quanto antes.

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