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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Crônicas de uma velhice prematura

       Meus dedos enrugam, meus olhos se cegam e a chuva caí sobre meu rosto. O rosto envelhecido e sem vontade, tomado de rugas e de falta de consolo. Espero no frio um pouco de acalanto um pouco menos de tristeza, mas quando volto à casa de meu pai tudo que sinto é um misto de saudade envelhecida numa mente bolorenta de ideias. O casarão envelheceu tanto quanto eu e as janelas de ferro enferrujaram como as memórias da minha juventude.


       Nunca trocamos muitas palavras, eu e meu pai passamos anos brigando, mas no fim o que mais conseguíamos era nos respeita. Naquela época eu tinha sonhos, meu pai, a realidade. Um dia apertamos as mãos e começamos a conversar. Antes tarde do que nunca, hoje eu percebo. Na época era tão imaturo que me julgava poderoso em meu pedestal de livros fracos.

     

         Queria ter mais momentos de reflexão como esse, sem que precisasse fumar um tanto de tabaco na madeira de meu cachimbo trincado nos dentes. Meu pai não sabia que fumava escondido e me bateria se soubesse. Ele era uma pessoa risonha que raramente chorava... só o vi chorar uma vez, quando viu que iria me perder. Meu velho pai já de cabeça branca não tinha mais esperanças em suas mãos, não tinha olhos senão para o passado e o coração amargurado de tamanha tristeza.

        Quando arrumei minhas malas, vesti minha jaqueta e calcei os meus sapatos. Ele veio e me abraçou, não disse nada. Não me perguntou como costumava fazer em todo início de mês se eu tinha dinheiro suficiente, ou se andava almoçando. Não, ele sabia que era o nosso último dia. Nossos futuros eram diferentes, o lugar dele era ali, com o seu emprego e ao lado de minha mãe. E meu lugar era justamente o contrário, o mundo e ninguém ao meu lado.

         Ele nunca compreendeu o lado anárquico de minha pessoa e eu nunca quis me justificar tentando explicar. Eu descobri a verdade no mundo sem descobrir a mim mesmo e tomado pelo espírito nômade de meus pés, eu vaguei por onde nunca imaginei até o sangue se transformar em vinho que a terra bebericou com a chuva.

         Foi ao mesmo tempo belo e doloroso saber como tudo acabou. A tristeza com que meu pai esperou os seus últimos dias afundado numa cama esperando pelo filho que não retornava, desejando vê-lo mesmo sabendo que estava no outro lado do mundo. Ele me esperou sem saber que eu tinha desaparecido com a minha força de vontade.

        Vaguei sozinho por anos, levei nas costas os grilhões de vidas passadas e aprendi o que era a humildade. Meu pai que esperou tanto percebeu que seu filho só chegava atrasado e quando descansou, eu estava olhando o céu sozinho sob as montanhas de um lugar desconhecido. Um vento gelado cortou o meu coração e gelei com tudo isso, desci as montanhas corri para onde os meus pés me levavam até que o cansaço tomasse o meu corpo por completo e ainda assim não cheguei em casa.

          Quando cheguei a memória de meu pai tinha partido, ele que nunca usava gravata, estava vestido com uma bastante extravagante em seu paletó de madeira no púlpito em que poucas pessoas pronunciavam o seu nome. Minha mãe e eu não dirigimos uma só palavra, como previsto, nenhum de nós dois se perdoava, enquanto meu pai, cansado por toda uma vida, finalmente descansou. Eu beijei suas mãos e me inclinei para que visse meus olhos.

          O corpo dele estava gelado, suas mãos morenas engasgavam a rosa depositada no caixão. Eu me perguntei se tinha sido ele ou eu que tinha partido. Até hoje não sei qual era a resposta. A minha juventude se foi, o cabelo sempre tão rebelde passou a ser penteado e passei a vestir terno. Com a pasta nas mãos, abandonei meus sonhos e batalhei por dias e dias lembrando da tristeza de meu pai.

           Eu não lembro de ter chorado desde o dia que ele partiu, mas quando encontrei o velho sobrado ainda preservado, desabei. Não tive coragem de vendê-lo, aquele casarão era o maior sonho de meu finado pai e era a mostra de amor que ele tinha conosco. Eu ainda lembro do dia que ele apareceu sorridente com as plantas do escritório de arquitetura e me pediu para escolher um dos desenhos. O desenho que eu escolhi nem era o mais bonito, mas foi o que construíram.

      Todo o suor gasto para lembrar das lágrimas que nunca tive. Meu pai viveu nessa casa, eu nunca. Minha velhice enrugada esperava um sinal de conforto que nunca tive, porque nunca tive nada para ser reconfortado. Nunca me faltou nada, nem amor, nem tristeza. O relógio de meu pulso tomava meus ouvidos enquanto a chuva caía sobre o meu casaco, os velhos fantasmas sorriam para mim sem que me lembrasse dos dias felizes de minha vil juventude.


      Enteado de meu pai, depois de anos de profundo silêncio tudo que consigo dizer é que eu o amava, do meu jeito, frio e calculista. Sem que isso me cortasse a lembrança de tê-lo detestado quando criança. Apenas a velhice nos revela a maldade das coisas mundanas.

domingo, 31 de agosto de 2014

O triste fim da tênue esperança

         É um mito pensar que à sombra da morte de Eduardo Campos nosso sistema político será renovado, Eduardo era uma esperança de um futuro melhor que morreu naquele infeliz acidente aéreo. A despeito do que tentou se associar a escândalos de caixa 2, não acredito realmente que Campos fosse dessa esquife, e sim alguns de seus apoiadores e também apoiadores de Marina Silva.


         No Brasil carece a política índole e aparentemente Campos traria uma nova refrigeração de ideias no cenário nacional, e o PSB estava na vanguarda do pensamento progressista brasileiro, sobretudo com relação à esquerda, por estar mais inclinado ao aspecto ideológico do socialismo europeu gramsciniano. Campos tinha antigas ligações com o lula-petismo, mas isso se encerrou quando ele começou a aspirar voos mais largos.

        A proposta econômica de Campos não está clara para muitos, mas resultava na mudança da política econômica atual de incentivos à setores definidos e passar a um arrocho ministerial, uma terapia para uma economia em estagnação (estamos agora em estagnação técnica). Redução de gastos, redução de taxas, e uma maior abertura da economia brasileira ao exterior sem retirar os avanços sociais do governo Lula. Campos fugiria do pensamento cepalino de Guido Mantega e o Brasil poderia retomar o seu crescimento. Por isso ele era o candidato mais adequado.

        Ele era jovem e tinha iniciativa.


         Mas o maior engodo da campanha de Eduardo foi a aliança com Marina Silva; Inicialmente parecia ser um trunfo cooptar a ala dissidente do Partido Verde, o Rede, que não conseguiu se inscrever a tempo, mas com o passar do tempo o apoio político que parecia ser vantajoso para o PSB passou a ser um problema. O Rede passou a desejar reformulações do programa eleitoral do PSB e Campos foi um dos militantes do PSB a segurar o que o pessoal da Marina Silva desejava fazer, pois isso iria descaracterizar a proposta partidária do PSB.

           No quesito ecológico e sustentabilidade, o primeiro partido a ter essa preocupação não foi o Partido Verde, foi o PSB. Os herdeiros de Miguel Arraes sempre estiveram numa vanguarda política , embora o modelo político brasileiro tenha dado distorções aos quadros partidários do Partido Socialista Brasileiro.

           Não que eu acredite que o sistema político seja mudado de cabo a rabo nesse caso, mas é notável o medo existente de que Marina Silva esvazie o progressismo do PSB, com suas posturas bastante conservadoras com relação aos direitos dos homossexuais em por exemplo estabelecerem matrimônio (Campos era católico fervoroso, mas o seu catolicismo era desvencilhado de suas ações políticas. E no Brasil todo político é cristão em tese, até o mais ateu dos políticos como Getúlio Vargas, era cristão de  soturna).

           E engraçado que Marina é a primeira a romper o círculo católico na presidência (FHC era agnóstico ao que tudo indica, mas todo mundo fingia que ele fosse católico). Ela se for eleita vai ser a primeira presidente (e não presidenta, porque a gramática é sempre mais relevante do que atos diretos da Presidência para mudar a filologia das palavras) evangélica, e isso mostra o ciclo de expansão protestantismo americano no maior recanto católico do Mundo.

           Pra mim é claro que a proposta de Campos está sendo levada a outras matizes quando Marina Silva veio conversar com os usineiros de cana-de-açucar essa semana. A proposta dela de aparecer no evento foi de conseguir apoio político de um grupo que foi massacrado pelas escolhas erradas de um governo que negligenciou a indústria do etanol ao retirar toda a competitividade do mercado do álcool, não dar incentivos e ajuda na estiagem no Oeste Paulista e dar incentivos a reduzir o preço da gasolina por conta da política que não estava errada de combate a inflação. Só que o preço artificial da gasolina onerou demais a Petrobrás e defasou a indústria do etanol.

            A ideia de Marina Silva foi de conseguir apoio do agronegócio "sustentável" que nós sabemos não é tão sustentável assim. Isso mostra o programa bipolar da sustentabilidade ambiental da Rede, pois desenvolvimento sustentável até hoje se pautou por uma proposta econômica de economizar recursos naturais e ter maiores lucros com isso. É uma proposta de cabo a rabo capitalista. E no mais, movimenta um mercado milionário de "produtos verdes" e OnGs que incrivelmente explora o ativismo político dos verdadeiros militantes verdes do mundo. É um aproveitamento do pensamento ecologista para ganhar grandes fortunas;

            O maior perigo é que a Marina Silva com as contradições nos discursos faça um governo que esqueça que temos ao mesmo tempo crescer e manter as conquistas sociais existentes, e mais do que isso, ainda tem que desinchar o Leviatã tupininquim.

              Marina Silva resulta de um vazio ideológico muito claro, ela não tem ideias muito enraizadas de como desenvolver o Brasil e de como resolver o dilema econômico atual, ao contrário de Eduardo Campos que além de ser um economista, tinha apoiadores de primeira linha, e se traduziu como um bom gestor no Ministério da Ciência e Tecnologia. E para piorar, as ligações que Marina Silva mantém com grandes empresários de Sampa-Rio, de uma elite financeira e cosmética torna um tanto duvidosas as reais intenções do que será feito. A classe trabalhadora será negligenciada nessas reformas?


             Marina Silva nasceu do povo, veio do Acre, estado longínquo e sem nenhuma projeção política no cenário nacional. Houveram apenas dois fatos de grande expressão em sua história: O conflito com a Bolívia , que resultou num fiasco do Exército Brasileiro que nem conseguiu chegar às veredas da Amazônia para resolver os conflitos entre seringueiros e soldados bolivianos, e o Itamaraty só pôde resolver com Rio Branco a questão mediante o pagamento de 22 milhões de libras que não chegou a ser nem um bom negócio frente à compra do Alasca. E a luta de Chico Mendes, que um dia desses foi classificado como "elitista", mas era um homem simples que defendia bem os direitos dos seringueiros.

            Marina Silva se esqueceu que ela nasceu na sombra de Chico Mendes nas questões ambientais e de demarcação de terras, e a política no Ministério do Meio Ambiente. Os avanços na área ambiental no primeiro governo Lula foram pífios. E sua saída na época do Mensalão por "discordâncias ideológicas" levou à sua mudança pro Partido Verde do Gabeira (que hoje é um partido de expressão infelizmente secundária, mas que tinha muita possibilidade de expansão na época).

          O que há de semelhante em Collor e Marina? Nada, a mídia está errada em compará-la ao experimento errado de eleger um aventureiro. Collor era filho de Lindolfo Collor, um homem de temperamento bastante enérgico que trabalhou com Getúlio Vargas e ficou eternizado por ter sacado uma pistola contra um colega de Senado e matado um outro companheiro de tribuna (e não ter sido julgado).

         Collor nasceu de uma elite política de Sampa-Rio que acabou emigrando para o longíquo estado do Alagoas, mas que passava boas temporadas em Brasília. Foi eleito por ser carismático, simpático e ter um toque de novo ao falar ser contra "os marajás" e os privilégios dos ricos. Mas ele próprio era um marajá de Rolex e cabelo carregado de Gel, terno Armani, numa época em que a pobreza era latente devido à hiperinflação. Seus planos econômicos foram desastrosos e sua corrupção foi revelado pelo próprio irmão (e volta e meia a ex-mulher conta umas baixarias da vida conjugal com Collor).

            Marina Silva é diferente, ela não é da elite, ela veio do cinturão de pobreza de Rio Branco. Até a mocidade ela mal sabia escrever e com muito custo conseguiu ter uma graduação em História, militou junto ao grupo de José Genoíno (hoje preso) e fez parte do Partido dos Trabalhadores. Ela não é carismática, não tem uma simpatia natural, e sua oratória é algo que é astronomicamente difícil, mas ela cativou o coração dos mais pobres e de alguns intelectuais por ser de origem humilde (tal como Lula). Na verdade, Marina Silva e Lula têm trajetórias semelhantes, embora o Lula cative milhões só dizendo um "companheiros e companheiras".

           Marina Silva ganhará essas eleições provavelmente mas questiono a capacidade com que isso vai se dar, as opções eleitorais ficaram horríveis com a morte de Campos. E incrivelmente o último discurso eleitoral do Aêcio Neves (embora eu não seja tucano) me deixou balançado, ele falou com uma estranha sinceridade, de que ele não odiava a Marina, mas não sabia se ela faria um bom governo mesmo bem intencionada. Eu também duvido se ele teria essa capacidade, pois nenhum dos três candidatos tem.

          E nem falo da Dilma porque sabemos que o modelo que ela construiu nesses quatro anos desestabilizou boa parte das medidas econômicas que vinham sendo construídas há um bom tempo; Pobre do Brasil se algum dos três for eleito.


           A política atual acabou sua conexão com o plano da realidade, ela não representa mais o cidadão comum brasileiro, e pior não representa e faz com que o brasileiro tenha ódio da política. A democracia brasileira caminha para um período de completas contradições e para um florescimento de uma oligarquia decidida de forma eleitoral (sem contar o fator partidário, que é uma coisa ridícula em qualquer sentido estrito do termo). A fé na democracia se esvai, e cada vez é mais convincentes as alegações dos partidos da esquerda radical (PCB, PSTU e em menor grau PSOL, que como sabemos, tem muito trotskista no meio) de que o sistema eleitoral está falido.

           A fé deles na Revolução passa a ser plausível, mas eles se esquecem que o povo brasileiro é conservador e bastante temeroso com revoluções, a despeito da atual violência institucionalizada de cima a baixo todos os dias. Dos problemas diários com relação ao transporte, de um trabalhador demorar de duas a três horas todos os dias para ir trabalhar, gastar sua energia em jornadas desgastantes, ver seu salário corroído pela inflação e não ter acesso a serviços públicos de qualidade. Nenhum desses governantes hipócritas se dedicou a ter a displicência em realmente ouvir a voz das ruas de quem marchou nas Jornadas de Julho, e as propostas são puramente vazias.

           Pelo contrário, criminalizaram o protesto. O ato cívico mais importante de uma democracia e instituíram um Marco Regulatório da Internet para controlar o acesso de pessoas dissidentes que se manifestam pela internet. Estamos caindo num período bem negro da ordem democrática justamente por uma inércia de anos do engajamento político da nossa cidadania, e vamos pagar bem caro por isso. O mito verde, o mito democrático, o mito de ser brasileiro. Vivemos sobre mitos e mitologias republicanas, e agora? Cegos estamos nós em não "desistir do futuro do Brasil", parafraseando meu finado candidato.

           Não votarei na Marina, ela tem tudo para acabar com a memória do Eduardo Campos. Não votarei no Aécio porque ele não tem expressividade nenhuma com o povo, representa uma política já carcomida e tem questões bem graves que não podem ser ditas na internet (Marco Regulatório e mais do que isso, meu desejo de não levar um processo). Não votarei na Dilma porque ela teve a oportunidade de fazer uma gestão boa e falhou redondamente, se traduziu apenas como uma típica burocrata sem qualquer noção ou empatia por um povo que ela passou a governar, pelo contrário, ela serviu mais aos interesses de um pão e circo da Fédération Internacionale de Football Association, do que realmente incluir o pobre dentro do futebol (essa Copa foi da elite, e o povo inteiro pagou por ela um dinheiro que não tinha).

         Então quem votar? Pois é não tem ninguém;


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Perdi

           Perdi meu bloquinho de anotações. Perdi meu bloquinho com suas reflexões, eu perdi; Perdi meu companheiro de todas as ocasiões, amigo de todas as horas, com minha letra trêmula e os meus horários cortados. Perdi meu bloquinho com o telefone da minha namorada, com minhas liras apaixonadas; Não sei onde perdi, será me abraçando mais uma vez a você ou será que perdi nesse gramado após aquele acidente de trânsito?

         Perdi no caminho para casa? Não acredito que perdi, meu bloquinho, estimado bloquinho; Meu velho e bom amigo de todos os dias, perdi em tudo que eu queria; Tudo que eu queria que era escrever mais uma vez, mas perdi no meio do caminho, logo o meu bloquinho? Eu não vou superar aquilo, mas que merda! Meu bloco de notas, com as minhas anotações e dilemas, largado em algum canto, alguém achará que é uma carteira, e quererá levá-lo, mas quando perceber que é só papel o jogará no lixo. Malditos.

      Conheci minha namorada talvez por causa daquele bloquinho; Maldição, nem tive tempo em guardá-lo direito, meu bloquinho. Estou com uma dúvida existencial, ser ou não ser, onde será que andam as folhas de seu papel? Eu não sei, te perdi na aula? Claro que não, isso não seria possível, mas eu não lembro onde eu possa ter te deixado. Será que eu peguei o bloco e quis mostrar para alguém. Pera, eu quis, eu ia escrever alguma coisa, mas esqueci. Esqueci de novo, já não bastassem as mil vezes que esqueço meus óculos e agora esqueci meu bloco de notas! Idiota! Pathétique.

      O outono se adensa. Onde estará você, bloquinho. Onde você estará? Jogado em mais algum canto? É apenas um bloco de notas, não merece ser tratado desse jeito; Vão jogá-lo no lixo com certeza, com todas as minhas emoções e reflexões, desde Marx até Hegel, até os versos apaixonados que eu escrevi quando estava frustrado. Igual aconteceu com os óculos de meu pai, relíquias de trinta anos atrás que despencaram do alto pelo esgoto da Universidade, levando a linda história de como meus pais se conheceram; Minha mãe que trabalhava na ótica, meu pai que era só um comprador. Isso não era algo que eu gostaria de perder, mas perdi.

      Perdi tantas coisas nesses tempos, por estar tão esquecido, mas não esqueço que mais do que isso, perdi minha tristeza; Principalmente quando estou junto de você, taí uma coisa boa que eu perdi, minha timidez. Bom, sou apenas mais um objeto achado, e você me achou no meio do nada, engraçado não; Numa fila do ônibus, numa conversa no banco, comentários e sorrisos. Um piquenique na grama, e beijos. Doces beijos. FOCO. Cadê o nosso foco?  Não faz falta quando estou com você.

     Perdi meu caderninho em algum lugar, claro que vou comprar outro, mas foi com esse caderninho que eu peguei o seu telefone e nos conhecemos; Espera, não peguei o seu telefone, peguei o seu nome no Facebook. Bom agora me senti menos culpado, mas foi naquele caderninho que mostrei como se usa uma caneta tinteiro.

      Pô, perdi parte de mim quando perdi aquele bloquinho, mas ganhei mais de mim quando passei a conhecer você; Com minhas minúcias e as suas também. Com meus versos falhados e nossos beijos apaixonados, nossos abraços e os seus sorrisos; Meus olhares pidões e seus olhos sempre tão amáveis que conquistam cada vez mais o meu coração. Não, não perdi, ganhei. Parando pra pensar, mais alguém para conversar.  Alguém para sentir e amar, isso um simples papel não pode expressar.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Sobre os protestos de 7/09

        É pernicioso acreditar que um movimento tão caro tenha mudado  tanto; As marchas hoje tomaram um caminho tão diverso que diferentemente de Julho, estão voltadas mais para um apelo cívico do que um senso de reformas ou mesmo uma Revolução. Em Julho parecia inevitável o fato que o governo iria cair, embora o povo ainda não tivesse pautas definidas. Povo? Desculpem, a classe média, ou melhor, voltemos aos conceitos marxistas que nesse caso devem ser empregados: a pequena-burguesia.

       Sim, realmente não foi o povo na sua definição mais proletária de conotação, mas sim um povo que se caracterizava por conceitos nacionais. Como brasileiros, pessoas que beijavam a bandeira dos Bragança modificada,  que gritava a plenos pulmões o hino nacional e marchava inutilmente no espelho d'água no Congresso Nacional. Esses indíviduos acreditam ser os grandes revolucionários que postam no Facebook imagens de si por cima do domo do Congresso projetado por Niemeyer sem compreender que nada disso trouxe tantas transformações quanto se deveria;

       É verdade que a pequena-burguesia está se vendo cada vez menos representada, embora esteja crescendo em  número, ela não se vê representada pelas medidas assistencialistas do governo, tampouco representada pelos grandes grupos detentores do capital, embora ela possua inveja de milionários como Eike Batista e Abílio Diniz. Essa classe de pessoas é a mesa que viaja sazonalmente aos Estados Unidos fazer compras, possuí uma calça da Levi Strauss (sem sequer pensar que Lévi Strauss também é o nome de um grande antropólogo estruturalista) e óculos Warfare Rayban.

      Não os estou julgando, seria hipocrisia, em julho era eu que gritava lado a lado com eles contra o governo, embora não tenha ouvido um único trecho da Internacional no meio daquela massa que gritava o Hino Nacional. É engraçado, porque num protesto dessa natureza é o sistema inteiro que deve ser criticado, desde os seus mais perniciosos pecados, como a repressão dura policial, até o seu caráter simbólico: A bandeira e o Hino Nacional, mas o que vimos ali não foi algo diferente de uma partida de futebol, onde todo mundo está zangado por causa do modo como o juiz o conduz, com as faltas mal empregadas e os cartões injustos, enquanto o outro time está se valendo de carrinhos e outras coisas, enquanto a gente canta o Hino Nacional com a mão no peito. É algo estranho.

       Marx diria nesse momento que é a pequeno-burguesia percebe o acirramento das contradições internas do sistema e o seu processo de proletarização, mas Marx equivoca-se, a pequeno-burguesia não possui tal consciência e pelo contrário, as contradições internas estão sendo aplanadas pelo neopopulismo petista. A pequeno-burguesia na realidade está crescendo, mas os velhos grupos pequeno-burgueses apercebem-se  que não possuem o mesmo poder político e de compra como antes, de modo que não se veem representados por nenhum partido político, assim vão para as ruas.

      Contudo vão às ruas sem um projeto. É verdade, boa parte constitui uma juventude pós-Muro de Berlim que não possui a profundidade de uma leitura socialista que poderia ser interessante nessas horas; De fato o apartidarismo é tão crescente que qualquer grupo político que deseje se manifestar é profundamente rechaçado, de fato, no período de ascensão do fascismo, qualquer movimento que carregasse um estandarte de um partido político era para ser rechaçado à força.

      Sim, o movimento de agora realmente tem características meio fascistas, como a valorização da Nação antes de tudo, combate sistemático da corrupção (como se alguém fosse a favor dela) e o antipartidarismo. Não possui uma ideologia própria, mas possui um antiesquerdismo exacerbado pela parte de alguns. O problema que a pequeno-burguesia é facilmente manipulada e alienável, pois ela própria, segundo Marx, não possui uma consciência de classe e possuí aversão à classe trabalhadora. O caráter alienatório com o qual a pequena-burguesia possui cria distorções tão absurdas como o culto à personalidade de uma personalidade notoriamente anarquista (V de vingança) com ideias nacionalista e beirando ao autoritarismo.

      Em verdade, o fascismo caracteriza-se por uma tentativa de romper com a ordem democrática fragilizada e impor uma nova ordem de massas, onde as contradições sociais virtualmente desapareceriam, contudo era um movimento de massas; Um movimento de massas em favor da pequeno-burguesia, esse é o grande xis da questão. Até onde nos guiará esse levante da classe média sem um princípio norteador, qual seria o rumo dessa manifestação toda. 


     Logicamente não serão novas ditaduras, a época para ditaduras já passou, mas pode ser um estado de viés um pouco mais autoritário e centralista, e isso ameaça as liberdades individuais do homem e do individuo, sem levar em consideração que atrapalha o projeto de construção de uma sociedade sem classes sociais. Os movimentos de setembro agora apagam o fogo revolucionário de Julho,  retira o papel revolucionário do movimento e tomam um caráter cada vez mais diversificado. Resta saber se a continuidade representará uma mudança no movimento ou ele se extinguirá de uma vez por todas como fogo que se esgota após um vendaval.

       A Revolução é a única solução que se apresenta hoje, entretanto como todos nós sabemos, Revolução pressupõe sangue o que nenhum dos manifestantes está disposto a desperdiçar, de maneira que não há grandes projeções para tal movimento no futuro próximo. A Revolução é o meio pelo qual as massas são ouvidas, ou como Karl Marx dizia, é o festival dos descamisados, dos que não têm nada.

domingo, 11 de agosto de 2013

Grito de socorro



            Tem dias que não nos sentimos bem, que não desejamos sorrir, nem mesmo levantar da cama; Tem dias que tudo que queríamos fazer é ficar calados, observando a triste vastidão sem fim que abre sobre nossos olhos, onde a desolação e o medo criam-se traiçoeiramente sobre as sombras da noite.

           A escrita é indomavelmente difícil quando você percebe que está sendo envenenado por ideias tão perniciosas que nem sente mais vontade de levantar da cama, e tudo o que você quer fazer é ficar calado; Calado sim, pois bem calado. Não quer mais ouvir os outros falarem de sua vida, nem escutar as baboseiras que eles têm a dizer; A vida se torna bem sombria, tão acinzentada que tudo ao seu redor parece perder cor.

        As flores não cheiram mais como antes, as frutas não têm mais o mesmo gosto, as músicas não têm mais o mesmo tom; Tudo é tão sombrio que chega a uma hora que você pensa em desistir de tudo e abandonar. O fardo é alto, e o custo também.

       Os livros não mais divertem, as piadas tornam-se lições da vida, e tudo termina com um triste comentário de Natal; O cômodo fica bagunçado, seu coração fica sujo, sua mente vazia e os olhos úmidos. Sim isso é depressão.

      A depressão é aquele fardo que você tenta se livrar, mas não se livra; É aquele seu tio chato que te molesta com pensamentos ruins. A depressão é um câncer que consome sua alma, noite e dia, devagar, devagarinho. Cada vez, cada vez mais. O frio se enevoa, a lágrima se embaça, o amor  se tritura e tudo que sobra é apenas um peso na alma.

     A praia parece mais turva agora, o sol molesta e agride nosso corpo. Bem a vida quem sabe viver, queria não ter acordado hoje, não com essa sensação de insegurança e medo, com esse pesar de inutilidade que incaí sobre os meus ombros. A dor da culpa de um amor passado, o sofrimento de um peito amargurado, nada disso é mais frustrante que um cérebro consciente de que as ilusões não trazem nada.

     Agora saí da frente, sinta o que tem que sentir, porque no meio do meu peito tenho uma sangria que não estanca, um medo, e uma forte vontade de chorar. Mas a lágrima não caí, porque já se secou a muito tempo, e percebo que perdi minhas emoções, as expressões e os carinhos. Tenho vontade de chorar, de fugir dessa sensação de medo e solidão, mas não há quem possa me ouvir... O vento repudia do meu corpo, agride meus cabelos e me dá lição de moral, puxa minhas roupas tão violentamente que tudo o que sinto é medo.

     As costas pesam-me cada vez mais, sinto minha perna falhar de novo, o ouvido fica tampado com a fúria do torrão de ar que me agride cada vez mais. Penso em me jogar na água, esquecer dos meus problemas e simplesmente afundar. Afundar para sempre até que todos os meus problemas desapareçam, mas não desapareceriam, só estariam alocados em outro caminho. O ar me agride, mas me dá vida, engraçado isso. A correnteza da vida é que me traí.

       Sinto vontade de voltar a acreditar na vida, mas isso é uma grave mentira, um grande desvio. A vida não é doce, nem é para ser admirada, só ser vivida. Não há paixões, não há amores que mudem isso, eu os perdi bem lá trás quando deixei minha maleta emocional com a pessoa errada; Para variar, de novo, deixei me enganar pelas arapucas da vida.

      Tenho vontade de escrever tudo isso no papel, mas falta-me estímulo e inspiração; Por isso estou tão deprimido, pois não acredito na música, na poesia e no amor tanto quanto queria. Acredito na matemática insensível e na função dialética de total negação para com isso. É conflituoso de fato sentir que não se pode amar e no fim acabar se apaixonando de novo, mas sempre com o crescente medo que abate o semblante.

      Os vícios não escondem o medo, o silêncio sim. Estou dopado de silêncio, minha vida sempre foi um grande silêncio taciturno pensativo, talvez seja por isso que sou tão melancólico e às vezes depressivo. Talvez seja por isso que eu seja tão sensível às palavras e aos sentimentos e não demonstre nada quando tudo vier à minha língua.  Eu sou uma tragédia anunciada, por isso que tenho medo de pedir socorro.

      Mas hoje eu peço, peço às palavras e aos versos que me deem mais uma chance de viver, que me deem ideias e novos amores que hoje não mais tenho, que me expurguem dos sentimentos ruins  e da triste melancólica que me abate há meses, senão anos por essa vida. Sofri e sofro, mas garanto que o meu sofrimento não é maior do que o dos outros: Das crianças que morrem de fome no braço das mães desesperadas, dos pais que enterram seus filhos que vão para o moedor de carne que é a guerra, dos jovens como eu que estão desempregados e também deprimidos com esse futuro sem perspectivas.

      Tudo que eu vejo é dor e sofrimento, tudo que eu vejo é incrivelmente cinza e monocromático; A felicidade das cores não me atinge, mas apenas o desespero do grito dos desafortunados. É tão duro ser escritor e poeta quando se sabe que se tem tudo a perder. É esse o real martírio do poeta ou intelectual em formação (ou talvez intelectualóide, afinal é muita presunção minha me chamar de intelectual) viver para sempre solitário e excluído da sociedade. Por isso peço socorro, porque eu acho que estou deprimido.

sábado, 15 de junho de 2013

Protesto sobre o expurgo de nossos sonhos

      O que eu vi hoje foi a supra mostra da capacidade com que o ser humano pode esboçar brutalidade aos seus  semelhantes, nunca duvidei de sua capacidade, mas isso se tornou cada vez mais real. De um simples protesto pacífico converteu-se numa luta, numa batalha campal, pior, num massacre obliterado da maior grosseria contra aquilo que sou mais caro, a liberdade de expressão.

     Vi policiais batendo em manifestantes com cassetetes de madeiras, vi com meus próprios olhos jogarem torrentes de gás lacrimogênio contra nós, simples manifestantes, não se importando com o fato de haver crianças ou não. Dispararam contra a cabeça de alguns, enquanto um helicoptero carregava o cenário hostil circundando o terreno com um franco atirador armado contra nós... Nunca vi tamanha selvageria.

    Aquilo era uma guerra, uma guerra desnecessária: Acabaram por agredir nossos direitos, nossos direitos de fala e nunca perdoarei eles por isso. Nunca. Não era necessário, mas fizeram. Estupraram as nossas ideias, prenderam nossos ideias e cuspiram no nosso rosto enquanto nos batiam sem dó. Pedimos por nada menos que paz, nada de violência, e tudo que houve foi violência. A cavalaria atropelou pessoas, prisões e mais prisões... Vadios, simplesmente assim nos chamaram.

   Perverteram nossas ideias, compraram os jornais, disseram que estávamos errados. Simplesmente nos culparam por um crime deles, nos culparam por queremos falar. Nos culparam por sermos críticos e nos culparam por sermos humanos. Se esconderam no alto de suas fardas, foi isso que eu  vi; no alto de suas dragonas, nos ameaçaram com veículos blindados e com armas tão psicológicas que ainda estão na minha memória.

   Isso tudo para servir de interesse a outros... A turistas de uma Copa fadada a fracasso, fadada ao fracasso não porque não tenham terminado os estádios (eles terminaram, há um alto custo), fadada ao fracasso por não valorizar nós, por nos recusar a cidadania. Eles tratam com desprezo seus cidadãos e enchem de mimos aqueles que só vem para cá em uma temporada. Resultou numa vitória no futebol, mas uma derrota para a democracia.

    Estou em choque por ter na minha mente as imagens da selvageria, estou em choque por dizerem que isso é democracia. Por dizerem que temos ampla liberdade de locomoção, mas nos privar logo desse direito. Violam nossos direitos, ordenam que façamos coisas que não queremos, que não votamos (não consultaram a nós quanto ao fato se queríamos a biometria ou não, ou se queríamos a Copa). Violaram os meus direitos.

    Sim, me disseram que nada mais vale agora, que tudo já foi feito e que não adianta remediar o mal já feito. Se não adianta, tudo que sobrará é a morte do paciente, o paciente povo brasileiro. Não confio mais no governo, não confio em Partidos, e a partir de hoje, não confio na Humanidade... Aquilo foi um prenúncio da morte, se não foi do governo foi do nosso povo, o mesmo povo que insultou-nos quando seguíamos em fileiras. O mesmo povo que falou que não servíamos para nada e que estávamos errados.

    Eu desisti de pensar por essa gente, não por elitismo, mas por cansaço. Cansei-me de querer ajudar o futuro das pessoas, e cansei-me de me sentir tão desconfortável com a artificialidade dessa cidade. Agora eu quero me livrar desses entraves e talvez viver tão sobriamente quanto um presidente de uma banda oriental nas águas do Prata.

   Desilusão. Permitam-me dizer que encontrei pessoas boas nessa vida, encontrei pessoas honestas e caridosas. Um repórter que me deu um pouco de vinagre para enfrentar o lacrimogênio, um desconhecido que me ofereceu água quando estava com sede. Uma amizade que acabou nos livrando de graves apuros. E sim, eu vi também beleza nesse movimento, uma certa moça de colete que protestava de maneira tão discreta e elegante.

   Brasília é odiosa, essa cidade me  enoja. Enoja-me mais do que isso é o fato de desconsiderarem a caridade que eu vi em todas essas três horas no mais intenso sol infernal, e nos insultarem por estarmos sendo pacíficos. Pacificidade agora é coisa errônea, não se pode mais lutar por seus direitos. A vanguarda sempre apanha, mas hoje eu vi que toda uma legião de pessoas desconfortáveis com esse tipo de vida foi insultada pelos comentários infelizes dos mais diferentes demagogos. Não há democracia aqui e tudo o que eu vejo é uma ditadura se formando...

    Queria terminar dizendo que tudo vai melhorar, mas não tenho mais tanta certeza. Espero que aqueles que lerem o que eu escrevi saibam que tudo que faço e agi é com as melhores intenções e sempre estive disposto a fazer sacrifícios, assim como acredito que muitos dos que conheci também estavam com as mesmas intenções. 

Haber e o uso da ciência para o "bem" e para o "mal"

A figura mais controversa pra mim na história da Ciência não é Oppenheimer (pai da bomba nuclear), nem Alfred Nobel (criador da di...