terça-feira, 24 de setembro de 2013

De novo a chuva...


        O  ponteiro do relógio marca 13:20... 13:20 marca o relógio. Estranho porque o tempo não passa, o escritório fechado continua meio abafado e o som toca um chorinho bem meloso que chega a dar um pouco de sono. Um jornal mal impresso está jogado no chão, esparramando o piso de mentiras e estupidez.




        O ponteiro não se move, que horas são afinal? Tenho que sair daqui a pouco... Pera, isso é chuva? Estava fazendo um calorão, agora tá chovendo? O céu tá meio nublado, tintilam as telhas as poucas gotículas de água vindas do alto. Não que eu queira saber, mas acho que tudo isso é resultado do andar preguiçoso das nuvens e do vento que se seduziram em brincar um pouco com os transeuntes desavisados.

        Chove forte, bastante forte até. Parece que está para levar as telhas de minha casa assim como leva as letras da-s pa- la-v-r-a-s...

        A chuva chegou e veio pra ficar; veio pra alagar as nossas vidas com mais lama, transtornos e tristezas, nos ensopar de tanta gripe e umedecer bem os nossos cabelos enquanto mutila nossos rostos com os seus ventos. É verdade, veio levar a falta de luz que ultimamente nem precisava de chuva para acontecer; O verão chegou pra lavar os últimos vestígios da minha alma por água abaixo, escorrendo pelo bueiro no meio do lixo jogado por um pedestre incômodo e um vizinho porcalhão.

       É melhor tirar um cochilo. Estou bastante cansado, minha vida anda realmente uma merda. Seguindo em frente sim, mas descendo a colina e indo pro precipício; Achei melhor deixar minhas seguranças de lado e partir em frente e levar tapas de todos os lados, decidi que era melhor manter-me só a ficar com alguém que eu realmente gostava. Hoje a chuva veio cobrar o seu tributo, depois do asqueroso calor que se abate, mais uma chuva; Chuva maldita, não percebe que eu quero ficar sozinho? Que não preciso ouvir você me lembrar que eu perdi mais uma vez, que sua marcha triunfal sobre as telhas de cerâmica não resultará em nada a não ser maior solidão?

       Talvez queira me pregar uma peça, me deixar mais deprimido do que eu já estou. A vida cria-me tais desígnios, primeiro vejo uma pessoa morrer diante dos meus olhos, com o maior dos sofrimentos inerentes à dor de se desgarrar da vida, depois sou obrigado a viajar contra tudo que decido, por fim me vejo tão atolado na areia movediça que decido desistir de tudo. Sim, você veio me lembrar com o seu jeito tão característico, tão sutil de se misturar com essa terra argilosa carregada de ferro e alumínio, pobre em nutrientes e em vida, o mar de lama que me enxovalhou por completo, calça e camisa; Não tenho coragem de acreditar que você finalmente voltou, sua maliciosa criatura arrebatadora de corações. Chuva, sua maldita.

        Antes eu te saudava como minha salvadora e minha guia, como aquela que me reconfortava depois do calor estridente da seca; Mas agora eu tenho um ódio quando penso em você como meu fardo que terei que carregar todos os dias nos próximos meses; Isso me entristece, pois gostava de caminhar sobre a égide de suas águas e refletir sobre a minha vida; do que eu deveria fazer. Digo que a minha vida está uma merda.

         Você não limpará essa sujeira pastosa que corrompe minha vida e suja minha alma. Você não tem mais força ao penetrar nas minhas roupas e chegar com suas águas a tocar o meu coração. A face cada vez mais fina, magra e cadavérica toma-se de sucos, os olhos antes brilhantes tomam um aspecto opaco e o rosto fica com um aspecto cada vez mais pálido e frustrado. A angústia de acreditar que o fim do ano está chegando, que estou envelhecendo, que desejo não falar mais com ninguém me machuca por completo. Terrível é acreditar que todos se escondem da chuva e eu não tenho medo de enfrentá-la.

         Não demorará para você derrubar árvores, inundar avenidas, tomar de lama o asfalto e causar acidentes. Esse aguaceiro emocional tem que parar, não quero mais pensar em nada; Estou esperando que esse cochilo meio triste acabe, mas agora que eu percebo que o relógio não moveu nem um milímetro o ponteiro; Espera, isso está certo?

          Claro que não está, agora que eu vi, o relógio está quebrado e tenho um peso meio amargurado. Obrigado, chuva. Obrigado, passado.

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