terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Um gigante de aço

Aos doutores em História da Segunda Guerra Mundial (Doutores ou fanáticos mais afoitos) lanço tal questão:


Qual foi o melhor tanque da Segunda Guerra Mundial?

"Panzer...." Algum apressadinho.
"Calma, pensa antes de falar..." Falei


        Isso mesmo, o T-34!

       Milhares de historiadores militares, chucrutes inveterados e "experts" em Segunda Guerra. Só porque zeraram o Call of Duty, jogaram Battlefield, se acham os sabichões da Segunda Guerra... Se vocês são tão espertos, me digam todas as causas para a assinatura do Pacto de Não-Agressão, e todos os motivos para Hitler invadir a União Soviética há poucos meses perto do Inverno Russo.

       Quero ver se são tão espertos agora...

        Agora, depois dessa alfinetada na testa, deixe-me explicar o porquê de eu ter eleito o T-34 como o melhor tanque da Guerra, houveram tanques mais poderosos, como o Panzer Maus, o IS-2, mas eu vou explicar o porquê de ter eleito o T-34.
Ficheiro:T-34-85 góra RB.jpg
O T-34 guardado em um pátio da reserva russa

           O T-34 primeiramente era um tanque de desing inovador, ao contrário do Panzer, que era todo quadradão, o T-34 tinha um formato mais arredondado que permitia-lhe se desvencilhar do impacto de algumas armas anti-tanque como a Panzerschek.
Um Panzer é todo quadradão, isso torna fácil de ser perfurado


          O T-34 foi originalmente pensado para ser um tanque para uma tripulação pequena, de no  máximo quatro camaradas dentro do carro de combate, enquanto o Panzer exigia de cinco a seis; isso pode parecer pequeno, mas se formos considerar que cada homem é valiosissímo a um Exército bem treinado como o alemão, ao quão não podia sequer chegar perto em números ao soviético, percebemos que isso era importante, afinal, mesmo a diferença sendo por exemplo de cinco homens, há cada quatro tanques você pode designar uma outra tripulação a um quinto tanque.


        O T-34 tinha um motor valente de 500 cavalos de força, ao passo que o Panzer quase não chegava aos trezentos, e utilizava um inovador sistema a diesel de 12 cilindros.

        O tanque tinha ainda uma autonomia boa, podia chegar a 305 km sem precisar reabastecer, o que era muito, se formos considerar a época, o peso do bicho, e as distâncias a percorrer... Corria muito bem em solo irregular e lamacento, chegando até mesmo a valentes 55 km/h, enquanto o Panzer atolava.

        Foi um dos primeiros tanques a ultrapassar a barreira de canhão, chegando a ter um canhão principal de 85 milimetros, enquanto o do Panzer IV era de 73 mm.

File:Char T-34.jpg
Isso não é pouco!
      Tinha um motor relativamente silencioso (barulhento pra caramba) para os tanques da época e suportava o frio com facilidade, ao contrário dos Panzers que precisavam de todo um processo para se tornarem aptos ao Inverno.


        Era um tanque fácil de se produzir, tanto que por exemplo a variante T-34/85 foi lançada em meados de 1943, era o top de linha na época,  e até o final da guerra foram produzidos quase 10 mil tanques!

       O T-34 foi lançado em 1940, em 1941, a União Soviética contava com aproximadamente mil desses gigantes de lata novinhos, e mais cinco mil outros tanques, contra os três mil tanques de Hitler, a falha dos primeiro anos pós-Barbarrossa foi extremamente tática.

        O T-34 possui particularidades em seu chassi, totalmente cheio de placas desniveladas de metal, essas placas eram usadas para os soldados de infantaria se segurassem na carroceria; Os tanques também serviam como veículos de transporte de tropas, afinal, a União Soviética tinha realmente uma carência preocupante de caminhões e veículos de transporte de infantaria... Era mais barato e mais fácil levar a infantaria na carroceria. Isso poupava os soldados de marchas forçadas, agilizava as operações, e rapidamente os soldados podiam deixar o tanque, afinal um T-34 não era muito alto, dava para simplesmente saltar.
Eles ainda foram bonzinhos nessa foto ao colocar só três soldados na carroceria , normalmente iam de 10 a 15 soldados expremidos nessa coisa


        Um tanque fácil de se produzir (chegaram ao recorde de produzir um em 2000 horas! na Alemanha isso seria impossível), barato, tanto que foram avaliados os custos de produção da época, e provavelmente um T-34 custava algo próximo a 300 a 400 mil doláres, enquanto um tanque M-1 Abrams hoje custa fácil três milhões e meio de doláres e potente, além de veloz.

         Mesmo com tudo isso, o T-34 possuía falhas.

         O tanque poderia ter um design inovador (vemos o desenvolvimento por volta de 1937), mas tinha uma questão, a torre do tanque não comportava nada mais que dois soldados, até que enfim esse problema acabou resolvido, era um problema bobo, mas dificultava na hora de entrar.
Isso podia ser problemático no meio de um conflito de tanques

            Ao contrário do Sherman (o inútil M4 americano) que não fazia outra coisa além de pegar fogo quando atingido, o T-34 dificilmente pegava fogo, a questão era se você podia morrer asfixiado com a fumaça que podia surgir com qualquer fogo na parte exterior, seria difícil sair.

           Os últimos problemas, não são nem culpa do design, mas sim da própria indústria soviética:

  1. Por vezes os tanques acabavam sendo perfurados por coisas bestas, unicamente porque a qualidade do aço empregado era de péssima qualidade, afinal de contas, a indústria soviética em si não tinha um processo de produção de aço muito eficiente;
  2. A suspensão Christie, a suspensão fora importada por uma empresa soviética nos Estados Unidos, que comprou alguns desenvolvimentos do designer e construtor de carros Walter Christie, geralmente eram bons negócios, mas essa suspensão não... A suspensão era delicada e por vezes estragava, às vezes por simplesmente não aguentar as trinta toneladas do bicho de metal, isso era muito comum no front Oriental,  os tanques serem abandonados por problemas na suspensão, ou mesmo as esteiras romperem.
  3. Às vezes as coisas iam tão na pressa, que por vezes tanques saiam com peças faltando, com carburador inoperante, com a torre com defeito, e era comum os tanques, principalmente em 1941-42, anos mais difíceis de guerra, os tanques saírem sem sequer tomarem uma pintura para indicar se eram soviéticos.
       
        Em todo caso, o T-34 foi um marco, um marco da União Soviética, militar, no sistema de produção e na cultura, foi um marco na Segunda Guerra e  um marco para os tanques a seguir, que vieram a copiar ideias do T-34.

        O T-34 era tão foda, mais tão foda, que os alemães copiaram todo o seu desenho e o usaram na construção do Panzer Panther, que mesmo assim o T-34 se revelou melhor que o Panther, chegando a competir inclusive com os fortíssimos Tigers.

        Não à toa que mesmo tendo terminado a guerra, a URSS continuou a produzir esses tanques, disponibilizando para um bando de países do Pacto de Varsóvia ou não... Os T-34 acabaram sendo usados também na Guerra da Coréia, por volta de 1950, no Vietnã, nas Guerras de Descolonização Africanas, e na Guerra da Iugoslávia, de 1992... não a toa, o Exército Russo manteve em linha esses tanques até 1975 (isso quer dizer trinta anos depois do fim da guerra) e mantém até hoje na reserva nos seus arsenais expalhados Russia  afora...

4 comentários:

  1. Muito bom este artigo. Um detalhe que não foi comentado aqui e consta em outros historiadores: uma das superioridades deste T34 era o emprego da lagarta mais larga que seus opositores, o que melhorava a estabilidade e atolava menos.

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    1. Não tinha me atentado ao detalhe da lagarta à época, na verdade, eu desconhecia de verdade que o T-34 tinha uma lagarta mais larga do que os outros tanques; mas faz todo sentido, afinal de contas, o solo russo tem uma grande propensão para se tornar um verdadeiro atoleiro senão forem observados tais assuntos. A questão da estabilidade é tão importante principalmente quando se leva em consideração o fator de tiro. Obrigado por sua observação e isso que faz com que eu tenha uma verdadeira admiração por história militar

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  2. A um detalhe em relação ao canhão do T-34/85 que precisa ser notado, o Tanque Tiger I foi introduzido nos campos de batalha da frente leste pelas unidades blindadas alemãs em Dezembro de 1942 com canhão longo de 88mm (baseado no canhão 88mm FlaK-36 L/56). Em Janeiro de 1943, os soviéticos capturaram o primeiro carro de combate pesado Tiger I que podia facilmente perfurar a blindagem do T-34 a distâncias superiores a 1500m.
    Por isso decidiram criar o T34-85 mas os blindados só começaram a ser entregues em Janeiro de 1944 (foram produzidos 25 tanques e em Fevereiro saíram da fábrica 75 exemplares a que se juntaram mais 250 unidades em Março do mesmo ano. O T-34/85 com o canhão D-5T ficou conhecido como T-34/85 mod. 1943)

    Neste caso na parte do texto em que se fala:

    "Foi um dos primeiros tanques a ultrapassar a barreira de canhão, chegando a ter um canhão principal de 85 milimetros, enquanto o do Panzer IV era de 73 mm"

    O certo seria que o canhão principal do T-34 na época ainda era de 76mm ainda superior ao Panzer IV mas não "ultrapassou a barreira de canhão" já que o T-34/85 com o canhão de 85mm só foi introduzido mais a frente no conflito.

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  3. É contestável a afirmação de que o t34 era o melhor tanque. O número de perdas X o número de veículos destruídos por eles não foi tão favorável. Eu elegeria o is2 que era perfeito pra bater o Tiger e qualquer blindado alemão com seu poderoso canhão de 122 mm e que em algumas versões chegou a uma blindagem frontal de 200 mm. Além disso se compararmos ao panther nas versões de 1944 do Panther, vemos que em média os soviéticos perdiam 4 t34 pra cada panther alemão...

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