sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Eisenstein, o esquecido.

Aí Eisenstein com o seu irmão gêmeo pousando na foto


Faz quase dois anos que procuro incessantemente por alguns filmes clássicos de renome internacional. Faz dois anos que tenho fracassado em meu avanço.

Minha coleção de filmes sempre parece estar incompleta, tenho boxes do Chaplin, do Indiana Jones, do Poderoso Chefão, até Cidadão Kane eu tenho, mas ainda parece estar incompleto. 


        
         Hoje eu lembrei por que de minha coleção parecer incompleta, eu estava lembrando de um cineasta que poderia ser  comparado a Felinni, Bergmann, Spielberg, talvez até mais importante, o seu nome era Sergei Eisenstein.

            
        Eisenstein é um dos maiores representantes do cinema mundial, e mesmo assim consegue ser esquecido. Serguei Eisenstein nasceu em Riga, Rússia, no ano de 1898, passa os primeiros anos de sua vida entre o autoritarismo do pai e a abertura cultural da mãe, a qual objetivava dar-lhe uma cultura mais ampla. Era um jovem talentoso, logo com a enclosão da Revolução de Outubro ingressou na Guarda Vermelha de Trotsky, mesmo sendo um engenheiro de carreira na época.

        Foi na época da Revolução que Eisenstein aprendeu japonês que lhe iria influênciar no seu trabalho junto com o clamor revolucionário e logo começou a trabalhar no cinema.

        Talvez o cinema russo seja tão esquecido hoje, por quase ninguém compreender o que é falado (eu só fui aprender cirilico depois de quase quatro meses tentando e meu russo ainda é rudimentar), mas talvez seja um dos mais notáveis de todo o cinema europeu.

        Eisenstein era um entusiasma revolucionário que era visivelmente politicamente engajado em seus trabalhos, o seu primeiro grande sucesso foi um filme chamado a Greve, na década de vinte, e logo conseguiu visão em seu país, a recém União Soviética (esse blog tá mais vermelho do que imparcial, mas afinal existe mídia que não seja engajada?). 

        A URSS era uma nação em formação ainda, havia recentemente saído de uma Guerra Civil, seu líder, Lenin estava doente (embora Lênin nunca tenha sido o total governante in facto da URSS, já que ela formaria quando já estava próximo da morte), mas a URSS inspirava a juventude e como produto dessa inspiração, promoveu um programa de alfabetização modelo que fez em menos de vinte anos a taxa de analfabetismo virtualmente desaparecer, e um programa de incentivo cultural ao teatro, à musica, à literatura (embora fosse em parte censurada) e ao cinema.

        Eisenstein recebeu apoio estatal na produção de seus filmes, principalmente no Encouraçado Potemkin de 1925, que foi planejado para servir como comemoração da Revolução de 1905; Eisenstein viajou por toda a URSS a fim de que pudesse compilar material para um filme da Revolução de 1905, até que em um dia, ele estava andando por Odessa e lhe contaram a história do Levante do Potemkin e da história da escadaria de Odessa.

A cena do carrinho do bebê até hoje é plagiada

         Daí, Eisenstein já tivera uma ideia, ele faria um filme sobre o levante de marinheiros (Os marinheiros ajudaram os bolcheviques a tomarem Petrogrado em 1917, ao torpedearem a cidade com o Encouraçado Aurora, seria uma boa homenagem).
      

Outra cena do Potemkin, nessa cena, Eisenstein usou a Proporção Aúrea na cena, para enfatizar sua importância

      
        O Encouraçado virou o seu melhor filme, embora seja rudimentar hoje, ele era extremamente avançado para época, tanto que até hoje a cena da Escadaria de Odessa, é plagiada, até mesmo nos Intocáveis de Brian de Palma.

        Eisenstein ficou famoso na União Soviética, e em um encontro de Cinema que se realizou nos EUA, o Encouraçado Potemkin foi mostrado para as platéias americanas com legendas em inglês, e se tornou um sucesso.

          Graças ao sucesso extraordinário do “O Encouraçado Potemkin”, foi chamado pela MGM e embarcou para os Estados Unidos. Só que seus projetos não decolavam, apesar de ter amigos poderosos como Chaplin e Flaherty.

Eisenstein começou a trabalhar em outros filmes, como Alexander Nevsky, de 1938, que mostra a saga do herói russo, Aleksandr Nevsky, que teve importância crucial no período medieval russo, que combateu-se com cinco exércitos diferentes em cinco anos, para proteger o povo russo da dominação de outros povos, como os suecos, tartáros e teutônicos... Com a trilha sonora compilada pelo famoso músico Sergei Prokofiev, esse filme foi um sucesso, mas perigoso, pois falava mal demais dos alemães, num contexto próximo à assinatura do Pacto de Não Agressão.
Aleksandr Nevsky

Em todo caso, a Grande Guerra Patriótica enclodiu em 1941, e por volta de 1942, Eisenstein rodou um dos seus  maiores sucessos, Ivan o Terrível, parte 1, que acabou virando de certa forma de base para o estudo de Ivan, o Terrível. Foi um sucesso, mostrando a atmosfera de conspiração em torno do czar, da religiosidade e da força e devassidão de Ivan. O filme foi aprovado pessoalmente por Stálin (Stálin via Ivan, o Terrível, como o seu patrono, ele estudava muito Ivan, o Terrível, e suas ações foram em muito semelhantes as de Ivan, tanto que nos arquivos do Kremlin consta que alguns livros sobre Ivan , o Terrivel, tinham marcações de "professor", escritas de caneta crayon na caligrafia de Stálin).

        
Ivan, o Terrível

Contudo, quando a guerra já estava no fim, Eisenstein lançou a parte 2, e eis que Stálin odiou o filme, por ter mostrado "cenas demasiadas de beijos e Ivan como fraco", e Eisenstein começou a cair em desgraça, o filme foi cortado pela censura...

Eisenstein teve um ataque cardíaco em 1948, aos 50 anos, e não pode sequer fazer a parte 3 de Ivan, o Terrível,  em todo caso, ele deu força ao cinema russo, e trouxe-lhe grau de importância, se a Mosfilm  hoje faz sucesso é graças a Eisenstein.



Eisenstein não só elevou o cinema russo a outro patamar, mas também elevou o cinema mundial a outro patamar.



Eisenstein teve constantes atritos com o regime de Stalin, devido à sua visão do comunismo e à sua defesa da liberdade de expressão artística e da independência dos artistas em relação ao Realismo Socialista, em todo caso, ele era o cineasta preferido de Stálin, quando o cineasta voltou para seu país,  a imprensa não o perdoara por seu afastamento e pelo seu curto idílio capitalista. 



           Quando sua carreira parecia perdida, entretanto, recebeu a ordem de Stálin para filmar Alexander Nevsky, e Eisenstein voltou à tona, mesmo com a censura de Ivan, o Terrível parte 2, a relação de amor e ódio entre Eisenstein e Stálin se seguiu amistosa até a morte do primeiro em 1948.

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