quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Mandelstam

            Ossip Mandelstam (Varsóvia, 15 de Janeiro de 1891 — 27 de Dezembro de 1938) foi um poeta soviético importante no período pós-revolucionário, para desenvolvimento da cultura soviética como tal, sendo um dos mais influentes intelectuais da época.

Mandestam

      Contudo, Mandelstam revelou-se bastante cedo uma certa crítica ao poder soviético exercido por Stálin, logo após a Lênin morrer, e pagaria por isso.

"Em nenhum lugar do mundo se dá tanta importância à poesia: é somente em nosso país que se fuzila por causa de um verso", Mandelstam








           A polícia política, o NKVD, fez uma varredura cultural e limpou o nome do escritor russo Mandelstam (polonês de nascimento, o que era um agravante, afinal a Polônia e a URSS não se davam) — que o político Nikolai Bukhárin (o qual tive a felicidade de narrar e  destacar em uma postagem: http://troikamental.blogspot.com/2011/09/o-teorico-da-revolucao.html)  adorava e o protegeu enquanto pôde do NKVD — dos livros de história de literatura russa ou qualquer outra coisa.

              No início de sua guerra contra os escritores, Stálin adotou a política de não matar, mas de isolar. Se não tinha tanto medo dos principais líderes bolcheviques, que foi matando um a um, até submeter toda a elite política e militar, Stálin tinha pânico de ver-se “mal” descrito pelos escritores, sobretudo pelos poetas. Tanto que, ao saber que Mandelstam o havia caricaturizado num poema, entrou em contato com Boris Pasternak, que admirava (sem conseguir controlar; pouco depois da perseguição a Mandelstam, chegou a vez de Pasternak, que, proibido de publicar, passou a traduzir, especialmente Shakespeare), para saber da importância do poeta. Stálin telefonou para o poeta, mais conhecido como autor do romance “Doutor Jivago”.

       Após uma suposta publicação clandestina de um poema, razão pela qual Mandelstam foi retirado em 1934 de uma casa de repouso (sofria de crises nervosas) e preso por causa de um poema sobre Stálin, em que este aparece com enormes bigodões de barata. O poema evidentemente não pôde ser publicado, mas o poeta leu-o para os amigos mais chegados e parece que nem chegou a anotá-lo, o que não impediu sua circulação. Depois de preso, ele teve residência forçada em Voronej (lugar próximo a Kursk, no sul da Rússia), antes de ser mandado para o Gulag para pensar no que fez com o poema, e acabou na enfermaria do campo de trabalho de fome e frio.

         Em razão a sua história e ao seu talento que por muito tempo foram acobertados criminosamente pelo stalinismo que me dispus a publicar algo sobre Mandelstam.

A seguir o poema de Óssip Mandelstam que causou o problema

Vivemos sem sentir o país sob os pés,
Nem a dez passos ouvimos o que se diz,
E quando chegamos enfim à meia fala
O montanheiro do Krémlin lá vem à baila.
Dedos gordurosos como vérmina gorda.
Riem-se-lhe os bigodes de barata,
Reluzem-lhe os canos da bota alta. 
À volta a escumalha — guias de fino pescoço —
Nas vênias da semigente ele brinca com gozo.
Um assobia, o outro geme, aquele mia,
Só ele trata por tu, escolhe companhia.
Como ferraduras, lei ‘trás de lei ele oferta,
Em cheio na virilha, olho e sobrolho e testa.
Cada morte que faz — crime malino
E o peitaço tem amplo, o ossetino.

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