Disseram-me uma vez nos sonhos que as vidas não valem mares de rosas da Holanda, nem tampouco mares de Vinho de Bordeaux, tampouco o azeite de Portugal e o chocolate da Bélgica. Disseram-me que vidas não custam uma cashmere da Índia ou um pouco de prata da Bolívia, que não valem nem mesmo um sapato feito na Itália. Nada disso vale uma vida.;
Disseram-me outra vez que todas as nossas tristezas crescem-se apenas no terreno bastardo da compleição de ditos filosóficos, que as rosas murcham quando se está amando e o vinho se envinagra quando você canta com o coração.
Alguém me disse numa tarde que não vale limpar grandes feridas com água, pois tudo só são lágrimas de Portugal, de Viseu à Castela, Agamenon de nações não trará respostas no meu caminho; Devo dizer que o destino zomba de nós mais do que nós nos zombamos dele, não nos dá nada e nos promete tudo, e isso aparentemente é gostoso, libera a endorfina que nos anestesia enquanto deveríamos estar carregados de adrenalina na tensão das coisas. Assim surge esse vício em esperanças. Esperanças de retornos, de novos caminhos de novos dialetos.
Ouvi dizer que nas noites em que o vento fareja o meu rosto e beija meus cabelos, quando eu estou sozinho, sem muito a fazer, alguém sussurra no meu ouvido como se estivesse com frio ou quisesse me ver por perto, mas quando essa voz monodística sorrio de tudo e ponho-me a andar novamente, nesse meirinho tarde da noite, sem ter um pouco de cor no rosto, apenas um sorriso amarelo nos meus lábios.
O vento torna-se mais agressivo, a lua mais lasciva e a noite se revela uma traidora disfarçada, instável como sempre, agride-me e torna tudo cada vez mais difícil; Disfarça-se de meiga e suave quando o sol está prestes a desaparecer, mas encarna uma fúria que desgrenha meus cabelos, provoca-me arrepios e tenta tomar-me as palavras.
Esses prazeres que se desenha a noite só enchem de promessas mentes vazias, e numa emboscada tenta envolver um coração em chamas; Como aquela moça beijada pelo fogo, sortuda e aconchegantemente ruiva que sorriu para você no trem... Aquele trem. Você se lembra?
Pena isso não ser para mim, a noite é maliciosa e não combina com o meu sapato, embora não goste muito do dia: O sol tão arrogante ofusca o meu brilho. Mas essa coisa que chamam de amor é muito perigosa, tenho medo agora, tal como tenho medo do vento que desarruma os meus cabelos e brinca com o meu paletó.
Prefiro o gosto da chuva que beija o meu rosto, que molha tão delicadamente os fios do meu cabelo e me reconforta com sua delicadeza. Sinto falta de você, minha doce amiga, você que garoava por sobre as árvores e me reconfortava depois de um dia difícil, que me ajudava a dormir quanto tintilava no telhado da minha casa e me engolia minhas lágrimas quando chorava na rua.
Prefiro o gosto de suas águas, um gosto estranho é verdade, meio amargo; Quase como fosse um choro, mas um choro que nos enchia de vida, as rosas e o meu sorriso, seu toque era tão suave quanto os das mais lindas bacantes e prefiro de tempos em tempos arrumar o meu colarinho enquanto eu esqueço tudo isso: as promessas vazias, as palavras arrepiantes e o meu medo do vento. Mas não esqueço daquela ruiva, quem será que ela era? Devia ter puxado conversa.
Entro no meu quarto, dispo-me de minha cashmere, salto na minha cama e esqueço tudo isso, nada mais de esperanças, nada mais de desilusões. Sinto falta de você, chuva, mas incrivelmente estou pensando em outra, estranho não. Aquela menina no metrô. O destino é mesmo algo muito estranho...
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