domingo, 5 de maio de 2013

As aventuras de Jack Ringo no Oeste

      Nessa terra ser rápido é o que importa e não se pode apenas tomar-se pela ira, não se pode descansar por uma sombra ou viver pela lei do olho por olho, deve-se ser rápido, ligeiro e sempre saber o que leva nas mãos, a responsabilidade de seguir em frente.

      Nessa terra onde se desenvolve a pradaria seca e desvalida de vida, onde os vaqueiros correm atrás do gado e os homens atrás de briga, os cavalos trotam rumo ao Oeste para longe dos índios e dos cavaleiros que tentam arranjar discussões. É nessa terra sem lei, que não tem nada a não ser o domínio das armas que se desenvolve um herói, Jack Ringo, pistoleiro e caçador em meio expediente.

      Nascido nas terras do Leste, fugiu desde cedo de Nova Iorque para tentar a vida no Oeste, trotando e assaltando bancos conforme a necessidade, mas agora estava a par da lei e só brincava de bang bang quando estava entediado ou quando faltava o whisky.

      Seu punho para os negócios era o que o levava a El Paso e também para o bordéu, antes de embarcar para a sua viagem para Santa Fé.

     Não que fosse lá um homem de muito destaque, usava sempre um semi-puído capote sobre  um colete de couro fervido e um chapéu de feltro marrom e duas Colts juntas à cintura. Suas voltas pelo o Oeste o levara um olho, um olho de vidro tentava substituir tal inconveniente;

     Passou pelo cavalo até a entrada da cidade e encontrou o movimento tímido de transeuntes na rua de barro. Parou o cavalo junto à estalagem e desceu do cavalo rumo ao cabaré:

   — Tire suas patas da minha mulher, Lonesome Billy antes que você não tenha mais nada para coçar as suas perebas, seu  porco — Cuspiu para o lado um homem rechonchudo de chapéu de coco e vermelho que nem um pimentão pela cólera.

  — Quem disse que ela é a sua mulher. Tem a sua marca, tal como você faz com os bois que você rouba dos outros — Retorquiu Lonesome, um homem de cabelos negros e olhar meio covarde, tinha algo de sinistro em seu rosto, pelo que notou Jack.

  De cabeça baixa, sem mostrar o rosto e envolto pelo seu próprio casaco, Jack Ringo contornou a mesa em que os dois discutiam perto do pequeno piano do cabaré. O pianista tocava uma musiquinha qualquer enquanto as mulheres levantavam as saias enquanto dançavam o cam-cam, Jack sorriu e bateu as palmas em reverência, deixando algumas vermelhas de vergonha com esse gesto.

   Sentou-se junto ao balcão e com uma das mãos chamou o garçom:

    — Onde eu posso conseguir um bom whisky nessa merda de cidade?

    — Veio ao lugar certo, meu caro cavalheiro, nós temos o melhor bourbon das redondezas. 

    — Boubon? Eu não bebo essa merda. Eu quero Scotch, do puro.

    — Sinto muito, caro cowboy, mas não creio que tenhamos algo tão refinado ao seu gosto. De certo pode querer outra coisa, que tal um chopp gelado?

    — Chopp? Tá me achando com cara de alemão da Pensilvânia? Eu quero whisky.

    A situação na outra mesa estava fora de controle, num dado momento, Lonesome Billy puxou o vestido da prostituta do cabaré e rasgou o tecido até a metade, deixando os seios à mostra, Jack, que não era bobo, deu uma fitada de leve naqueles dois peitos meio caídos e não achou nada de mais, mas Fat Tom achou aquilo o fim da picada e estava prestes a sacar a pistola quando o barman foi conter os ânimos.

     — Senhores, um dia tão bonito como esse, quase sem nuvens e os senhores arranjando confusão dessas? Bebam um pouco de choop. uma rodada por minha conta e vamos esquecer tudo, ok?

     — Não se mete, franzino — Empurrou-lhe Lonesome Billy — Isso  aqui é assunto de homem de verdade.

     Ringo estava procurando por de trás do galpão alguma coisa que pudesse servir para a sua sede incontrolável, quando de repente, não encontrando nada além de Bourbon, saiu irritado do balcão e fitou os dois que brigavam na mesa.

    Sacou uma faca da bainha e cortou bem no centro um naco de madeira da mesa:

    — Escutem aqui, seus mariquinhas, vão continuar com essa putaria de vocês? Eu tô pouco me ferrando quem vai dar uns pegas naquela puta ali, eu só quero um pouco de whisky decente e uma boa palha pra dormir, mas a briga de vocês está me dando de vocês, então — Fitou com o olho de vidro Lonesome — Parem de agir que nem bichinas e deixem a mulher em paz.

   Aparentemente Lonesome não gostou nem um pouco disso e disse:

   — Ei, quem é você, caolho, pra dizer  alguma coisa?

   Ringo sorriu  meio amarelo para Lonesome e o fitou com o outro olho, mas o homem não se deixou intimidar. Foi então que num só movimento Jack pegou a lâmina da faca e cortou de uma só vez a garganta do infeliz.

   — Mas... mas... que... merda... — O gordinho se borrou todo nas calças, antes que pudesse retirar o revólver do bolso, Jack virou a mesa  e derrubou o infeliz no chão. Com o revolver nas mãos, falou: Meu nome, meu nome é Ringo, Jack Ringo. E tudo o que eu quero é um whisky decente.

   O gordinho estava apavorado pedindo pela própria vida, até que Ringo teve uma ideia meio macabra no caminho de puxar o gatilho e ativar o cão da arma:

    — Muito bem, sejamos democráticos. Já que não é o lar da democracia, não é mesmo? — Sorriu— Cara, você morre, coroa você nunca mais volta aqui. Das duas formas eu não vejo mais o seu rosto de leitão à pururuca. Cara ou coroa, tanto faz.

     Puxou a moeda do bolso, uma bela moeda prateada com o rosto do Lincoln na face. Jogou-a ao alto e pegou-a sem pestanejar.

     — Coroa, que merda. Logo hoje que eu queria me diverti, saía daqui leitãozinho.

     — Si...si...sim. Eu já estou indo.

     E logo quando baixou a arma, saiu correndo do cabaré. "Resultado da façanha: Um morte e nenhum whisky decente. Que merda! O chefe não vai gostar disso".

     — Então sobre aquele whisky. Você tem certeza que não tem alguma coisa mais decente do que Bourbon? — Fitou o garçom.

      — Bem, temos um Tennessee que modéstia a parte é o melhor do estado. 

      — Será por que estamos no Texas? Traga-me essa merda mesmo, eu estou com sede.

      — Imediatamente, senhor.

      "Meu nome é Jack Ringo e sou um agente de Washington. Minha história é complicada e tudo o que vocês precisam saber que eu estou do lado dos mocinhos, embora a minha história não seja fácil de explicar. Eu nasci em Nova Iorque há trinta e pouco anos atrás, quando o país ainda tava dividido e ainda tinha escravidão no Sul, perdi meus pais muito cedo para a varíola.

       Foi então que comecei a fazer alguns furtos para sobreviver, até que fui pego pelo General Grant que me falou sobre uma força de jovens treinados para espionar o Sul. Eu tinha doze anos na época, quando a minha primeira missão foi matar um maldito escravocrata em Nova Orleans, desde aí nunca mais parei.

       Desde esse dia não faltaram missões e hoje eu estou nessa merda de cidade atrás de mais um maldito para levar para a cova, Samuel West, trapaceiro, ladrão de gado e caçador de recompensas, e mais do que isso, meu amigo. Pois bem, amizades são inúteis perto do whisky e das mulheres, vejam esses dois que acabaram de brigar agora mesmo, eles não nos deixam mentir".

     — Aqui está, senhor.
  
     — Já não era sem tempo — e serviu-se um pouco da bebida

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