domingo, 5 de maio de 2013

As aventuras de Jack Ringo no Oeste (II)

      Depois de tomar um trago do seu whisky, que modéstia à parte, estava com gosto de mijo. Jack Ringo ouviu bater a porta num estalido de força. Podia apostar que aquele vulto que surgiu no saloon só podia ser o xerife. E não deu outra, era mesmo o xerife, Eric Maldonado, não muito melhor que os outros dois vermes que Ringo tivera o prazer de brigar.

      Eric Maldonado andava arrogantemente pelas esporas, tinha um rosto bastante sério e pediu junto ao balcão uma bebida:

     — Uma caneca de chopp, Frank. Pra'gora.

     — Certo, senhor xerife.

     Maldonado sentou-se ao lado de Ringo que bebia o seu último trago do whisky. Ignorando os olhares do oficial de polícia, bateu o copo na mesa:

      — Outra rodada dessa merda de whisky! Pra já !— Gritou.

      O xerife não podia esconder a curiosidade, como aquele caolho sozinho podia ter acabando com os dois maiores patifes da cidade e ainda assim se manter tranquilo ao ponto de beber um pouco de whisky. Sorriu-se com essa ideia e abriu sua cartela de cigarros:

      — Como vai, Jack? — Perguntou sorridente.
   
      — Muito bem até você aparecer — Respondeu o cowboy.

     — Você sempre é tão amigável assim ou é impressão minha.

     — Impressão sua, quando estou zangado abro o bucho de algum infeliz.

     — Tal como fez hoje — Levou o cigarro à boca e logo em seguida acendeu o tabaco com uma vela — O que te traz até El Paso?

     — Negócios. Coisa que você não deve se meter.

     — É tão secreto assim? Olhe, eu posso ajudar um pouco.

     — Como me ajudou na fronteira com os mexicanos. Muito obrigado, mas não — Fitou-lhe com a raiva nos olhos — Como uma merda de cidade como essa pode eleger um patife como você para xerife.

      — Estamos num país livre, cada cidade tem o xerife que merece — Deu de ombros.

      Ringo sorriu. Embora Maldonado fosse um maldito infeliz que o deixou a ver navios quando roubavam gado dos mexicanos, ele ainda tinha um senso de humor, isso era algo que ele admirava.

      — Muito bem, tô procurando a merda de um farmacêutico chamado Simon Harding. Ele deve ter vindo pra essas passagens à não muito tempo. É um homem baixo, feio de dor, com reumatismo e uma cicatriz junto ao olho direito. Usa sempre chapéu coco para esconder a merda da cabeça que parece um ovo. Você viu ele por aí?

      — Aqui? Em El Paso? Não, com certeza não — Ringo irritou-se com aquilo — Mas isso não chega a ser um problema, podemos  beber alguns barris de chopp e nos divertir com algumas meninas do cabaré. Você viu a que você salvo do Lonesome Billy, ela está olhando até agora pra você.

      — Não me impressionou — Comeu uma castanha que estava junto ao balcão.

      — Para de ser tão seletivo. Você pensa que o mundo gira em torno de Diana. Se diverte um pouco, seu infeliz.

       — Vá se fuder, Eric. Eu só quero um pouco de whisky decente e uma palha boa para dormir.

       — E que tal uma moça para esquentar a palha junto com você? — Sorriu.

       O garçom trouxe as bebidas e os dois seguiram calados até o final da noite.

       ...

       "Diana, não vá, por favor. Ele não sabe como fazê-la feliz", disse Jack antes de a bela moça de cabelos vermelhos partir de trem para o Leste. Era a última vez que a veria, mas mesmo assim valia a pena. Estava ela vestida da cabeça aos pés com um vestido branco, florido, e um chapéu de donzela com uma fitinha azul na armação, bem diferente da mulher que ele salvou do ataque dos índios duas semanas antes.

       — Eu não quero viver uma vida de aventuras com você. Jack Ringo. Onde a cada cidade que você entra toma uma mulher para si. Quantos filhos será que você tem, já pensou nisso? Eu não quero ser mais uma de muitas.

        — Não, você não é só mais uma. Diana — Dobrou os joelhos — Case comigo.
  
        — Já é tarde, Jack, eu já fui prometida para outro e você sabe disso.~

        — Não, não é tarde — Beijou-a.

        Diana deu-lhe um tapa no rosto e disse:

       — Deixe de ser tão infantil. Você devia ser um pouco mais adulto de vez em quando, se agisse como um, talvez não se arriscasse tanto quanto se arrisca.

       — Diana...

       — Adeus, Jack, e não me mande cartas, você sabe que eu não responderei — e subiu no vagão de passageiros.

...
         "Jack, Jack, Jack. Por que não consegue esquecer isso? Faz dois anos. Por que ainda sonha com Diana?". Levantou-se e foi se divertir no saloon.

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