domingo, 5 de maio de 2013

Triste coração (conto)

      Ela arquitetou um belo dia caminhar pelo jardim de coração triste, tinha ela olhos tão grandes quanto o futuro e tão misteriosos quanto o presente. Ela sentou-se num banco e começou a conversar sozinha com uma planta, acharam que fosse louca, mas ela só estava meio sozinha.

     Recitou a plena voz um desabafo que poucos puderam entender:

     — Ele mudou o meu mundo, minha vida inteira se encantou. Eu respirava a poesia no ar e vivia numa casa de bonecas, tudo era lindo, até que ele me roubou tudo. Levou meu coração para bem longe de mim.

     Ela se sentia meio acorrentada ao banco e solitária decidiu experimentar um pouco de ternura doce que lhe confortava quando ia ao café, comprou um cappuccino  sem açúcar e se sentou na varanda. Estava ela acariciando o seu martírio, lembrava das histórias que eram tecidas de amor e se sentiu triste com isso.

      Se sentiu triste ao ver um casal, pai e mãe, cuidado do filho recém-nascido no carrinho. Paparicando-o com os mais diversos mimos e cuidando para que fosse bastante feliz, coisa que ela não era. Lembrou-se amargamente que não poderia ter filhos e que por isso ela foi abandonada. Muito triste, muito triste.

     Bebericou o seu café e começou a tremer com um pouco de tristeza.

     Um pássaro cinza sentou-se na mesa ao lado e a encarou com curiosidade, mas quando voou de novo, levou sua liberdade; trazendo assim maior drama. Partiu para casa e percebeu que o seu nariz estava vermelho: ela estava chorando.

     Tentou se aconchegar no seu casaco, mas a tristeza não lhe caía dos ombros. Ela corria agora contra a vida e contra o tempo, sozinha e desamparada, correu pelo viaduto para casa quando viu chover uma torrente do céu que encharcou o seu cabelo vermelho.

       Olhou para o horizonte e não viu muito futuro, pensou em se aproximar da borda do viaduto, mas algo lhe fez desistir de tal ideia: Não tinha terminado o seu café.

      Triste como ela, delicada como uma rosa, sua história partiu o meu coração: de uma pessoa que um dia se encantou e respirava poesia no ar que agora roubavam todo o seu carinho nessa chuva, pobre mulher que busca aconchego à alma.

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