sábado, 11 de maio de 2013

As aventuras de Jack Ringo no Oeste (III)

     Acordou pois com uma dor de cabeça e logo descobriu que o whisky que tinha tomado era mais vagabundo do que tinha pensado, pelo menos tinha se divertido na outra noite, sua bela acompanhante estava bem para uma mera corista do cabaré: 

     Tinha ela olhos um pouco afastados demais, acinzentados, mas que caíam bem à sua cabeleira vermelha meio cacheada. Tinha um par de ancas das quais Jack se  orgulhava até agora, mas qual era o nome dela? Devia ser um nome francês qualquer, parecia que ela era da Louisiana também, mas não conseguia se lembrar do seu nome...

     Aïsha. Era um nome estranho ao mesmo tempo que bonito. Quando se levantou, Jack logo procurou um pouco de tabaco nas suas roupas (que imprudentemente tinha deixado em todo o canto daquele quarto) e encontrou no seu colete o seu saquinho com tabaco.

    Lembrou-se que não tinha papel e procurou alguma coisa que pudesse enrolar o tabaco. Encontrou um exemplar da Bíblia e retirou  uma folha de Gênesis: "Do pó tu viestes, do pó tu voltarás", pensou. "Tudo é pó nessa merda de cidade.  Até parece que a faxineira dessa pocilga morreu e esqueceram de avisar". Enrolou o cigarro e tragou um pouco da fumaça, enquanto se arrumava, ouviu o tintilar das placas do chão de taco, meio desconfiado, pensou em olhar para trás.

     Foi então que alguém arrombou a porta e atacou-o pelas costas. "Bem na hora do café da manhã. Seu infeliz!". Jack ainda estava meio sonolento, mas rapidamente ficou alerta, o assassino podia ser mais fraco do que ele, mas tinha o pegado desprevenido e já estava com uma faca perto de seu pescoço. 

    — Eu sei que merda de gente você é, Ringo. Você teve o tempo pra sair dessa cidade, agora vou arejar um pouco mais a sua cabeça;

    — E eu vou arejar o seu rabo, seu infeliz.

     Pisou com a espora da bota no pé do infeliz e quando este gritou, percebeu que ele tinha um hálito tão forte quanto queijo velho,não era tão doce  quanto o de Aïsha. "De novo pensando na prostituta, não sabe que ela só faz o serviço por causa do dinheiro?". Mas quando pensou em Aïsha o seu membro cresceu e no meio da briga o outro percebeu.

     — Ei, que merda é essa.

     — Cala a boca, você fala demais — Agarrou-o pelo suspensório e o jogou para a parede. Deu um ou dois socos no estomago e o infeliz magricelo, que tinha um aspecto meio cadavérico, por sinal, tentou reagir, mas Jack, deu-lhe um soco tão forte que quebrou todos os seus dentes da frente. 

      Grunhindo de dor, o homem se afastou e atordoado, não viu Jack se lançar em sua direção, quando viu, já tinha passado da janela que estava atrás de si  e se pendurava no parapeito sob o olhar curioso dos transeuntes logo abaixo.

      — Por favor, me tire daqui. Não deixe que eu morra — Implorou.

      — Ah, você fala demais — Pegou a faca que tinha roubado das mãos do outro — Quem devia ter a garganta cortada era você. Mas como eu sou piedoso — Fincou a lâmina entre os dedos, fazendo-o grunhir de dor — Fica aí pensando em toda a merda que você fez, eu vou tomar o meu café da manhã, depois a gente conversa.

       Deu as costas e quando terminava de se arrumar ouviu o assassino guinchar:

      — Filho da puta!

      Meio zangado, fitou o seu revólver Colt e rapidamente se virou: Ah, é assim então?

      Disparou bem no meio da testa do infeliz que rapidamente caiu com o disparo em direção à rua. Jack sorriu com aquilo e puxou o seu chapéu do alto da cabeceira: "Au revoir". "Foi isso que ela disse quando foi embora, o que será que quer dizer, deve ser "até logo"?"

      Cuspiu para o lado e desceu até o salão, houve um burburinho dos clientes depois do incidente e uma fileira de curiosos formavam um semi-circulo em torno do corpo caído no meio do chão de terra batida,Jack escondeu o rosto na aba do chapéu e fitou discretamente o corpo estendido no chão:

      — Au revoir, trou du cul.

       E saiu pela rua calmamente enquanto a diligência corria ao seu lado em direção ao banco, nem pensou muito no que havia acontecido, mas o homem tinha surgido na pior hora possível para resolver diferenças, antes do café da manhã! Como ele ia pensar em alguma coisa? Mas quanto mais andava, mas refletia. "Ele disse que sabia quem eu era. Será que sabem o que eu estou fazendo aqui?"

     Sorriu-se com aquilo. Fazia muito tempo que não andava pelas passagens do Texas, como alguém poderia saber o que ele fazia ali? 

     "Jack, eu sei que você anda fazendo coisas à margem da lei. Mas você devia ser mais sutil, pode por tudo a perder" — Disse-lhe o presidente Cleveland ao pé do ouvido. Grover Cleveland tinha sido o seu parceiro quando os dois estavam lutando para limpar as ruas de Buffalo dos corruptos e assassinos da pior espécie, não à toa que Grover começou sua carreira política sendo xerife dali.

     Grover Cleveland era uma figura meio rechonchuda que ostentava um bigode à la Bismarck e tinha olhos meio azul-acinzentados, seu rosto era tão vermelho que às vezes parecia um pimentão. Embora usasse casaca e cartola, ele ainda tinha aquele estilo meio de cowboy que era costumeiro aos jovens americanos.

      "—Que tipo de sutileza você espera de mim, Grover?" — Lembrava de ter perguntado algo nesse sentido.

       "— Do tipo em que você não corta a garganta de alguém cada vez que entra numa nova cidade. Essa missão não vai ser fácil e você tem que saber disso".

       "— Tá bom, eu já entendi. Qual é a missão dessa vez, senhor presidente?"

       "— Chega de formalismos, Jack, isso não fica bem em você — Grover serviu-lhe um pouco de conhaque embora nenhum dos dois estivesse com sede — Ficamos sabendo que anda havendo rumores de uma conspiração para desestabilizar o nosso poder lá no Texas, alguns fazendeiros de lá estão pensando em separar aquele pedaço de mundo e transformar de novo aquela coisa em um Estado. Fiquei sabendo que um dos seus amigos está envolvido. Henry MacGlover."

        "MacGlover? Ele ainda está vivo? Pensei que tinha acabado com ele quando fui para a Louisiana"

        "Só que não. Ele escapou e parece que está conspirando com os outros líderes de El Paso em separar o Texas da União".

        "Esses escravistas! Será que não aprendem. A escravidão já acabou nessa merda já tem um bom tempo, perdemos o Abbe assim."

         "É muitos fugiram e foram se esconder em países menos desenvolvidos que o nosso, como o Brasil, mas outros continuam a plantar intrigas por aqui e ali. Sua missão é acabar com isso".

         "Quando eu parto?"

          "Hoje mesmo. Você deve pegar o trem o mais rápido possível, chegando a El Paso, você deve procurar o farmacêutico, ele é o nosso contato. Ele lhe dará informações a respeito disso".

          "Certo, Grovie. Só uma coisa..."

           "O quê?"

            "Podia mandar reformarem essa merda de casa. Uma Casa presidencial cheirando a mofo,  ninguém aguenta".

             E saiu. Jack ainda sorria do modo como Cleveland o olhara quando falou daquele jeito da Casa Branca, não esperava nada parecido, e isso o fazia rir ainda mais. Quando cortou pela esquina, encontrou uma modesta drogaria espremida no meio de dois outros prédios: O secos-e-molhados do Tom e o Primeiro Banco da América. 

           Correu pela rua, tomando cuidado com os cavalos que passavam e rapidamente abriu a porta do estabelecimento. Encontrando o sino a tocar junto à porta, o farmacêutico o encarou meio desconfiado, considerando que estava sozinho.

         — "Tudo o que vemos ou parecemos não passa de um sonho dentro de outro sonho" — Recitou Edgar Poe.

         — "Nada que nos representa é mais do que a verdade de um desaparecido". Agente Leya.

         — Me chamo Ringo. Então o que tem pra mim hoje? 

         — Agora não é uma boa hora — Olhou pela janela clientes se aproximarem da loja, Jack também notou que esse fato o aborrecia — Volte na hora do almoço que eu te darei maiores informações, certo?

         —  Tudo bem.

         Duas mulheres entraram, uma mãe e uma filha, ambas adultas e com lenços na cabeça; O ar estava ligeiramente tenso e embora Jack tenha dado uma sorridela discreta à jovem mocinha (que devia ter uns dezessete anos), isso não foi bem interpretado pela mãe, uma velha verruguenta de quarenta. O farmacêutico então falou:

        — Muito bem, sr. Ringo. Volte daqui a pouco aqui e terá o seu laxante na hora.

        A jovem sorriu-se com isso e Jack sentiu-se meio ridículo, baixou a cabeça e meio envergonhado agradeceu e saiu da farmácia.

        "Laxante? Ele tinha que falar justamente isso?". E foi tomar o seu café da manhã;

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