sexta-feira, 17 de maio de 2013

Não tive tempo de dar um título decente (perdoem-me)

       Perguntaram-me ontem o porquê de estar tão pensativo e filosófico esses dias, não tinha pensado nada a esse respeito e sequer pude esboçar uma reação, sorri de forma meio desconcertada, mas me mantive calado. Eu estava a olhar o modo como a lua se projetava no céu tão bem pontilhado por estrelas quanto os mais completos quebra-cabeças que consomem nossas vidas.

       Faz sentido nenhum pensar em quebra-cabeças agora, é verdade; Mas eu queria pensar em algo diferente pelo menos uma vez, aquela lua tão pálida e solitária me confundia cada vez mais com a curva que as estradas da vida, tão esburacadas, me levam a esse destino sem rumo. Tropecei várias vezes e caí sonoramente no asfalto enquanto me deixava seduzir pelo brilho de uma lata no meio da rodovia.

       Não quero ser entendido no sentido literal, mas prefiro morrer novamente a pensar em você novamente; Não quero lembrar o modo como brincava nas folhas secas ou falava de forma desinibida, você só me traz dores de cabeça. E como estão fortes nos últimos tempos! Tive crises de dor de cabeça tão fortes tão grandes que tudo o que desejava era um revólver para romper meus miolos.

      Vocês não sabem como é sentir uma grande enxaqueca, nunca presenciaram uma dor tão constante e tão aguda que desejariam morrer a senti-la de novo. É isso que penso sobre você, a bem da verdade, sedutora em sua própria simplicidade e problemática em sua própria causalidade.

      Não fui leviano em nenhum momento, tampouco mentiroso, mas a espada do Destino a que minha vida está atrelada tornou-me um refugo de minha própria existência. É verdade que os meus últimos contos são uma tentativa de escapar de você, um última coluna nesse bastião de aço que esgana os mais coléricos.

      Sim, não preciso lembrar minhas dores de cabeça, mas eu lembro. Assim como eu lembro que estou ficando surdo, o que de fato não é uma coisa ruim, ouço menos do que antes, e não preciso mais ouvir a sua voz que outrora ecoava até o meu coração. Triste pensar que um dia eu te amei, mas na verdade não sei mais como eu te amei, se agi certo ou errado, ou se fui um Fausto à caminho da perdição ou um Daniel rumo à salvação. Prefiro pensar que não fui nenhum dos dois, mas ambos.

    O labirinto do Fauno adentra de novo em minha mente, Pan toca uma pequena sinfonia no fundo, tentado inutilmente vencer o grande Apolo nessa competição infeliz. Uma voz cacofônica surge no meu interior e irrompe do meu peito, uma canção melindrosa que se deseja sobre as minhas pupilas e me obriga a ver tudo mais colorido enquanto eu me sinto muito sombrio.


     Lavouras da vida me fazem querer beber tequila; Cabral sem querer descobriu o Brasil, e você sem querer quebrou meu coração. Bem da verdade, a culpa não deve ser colocada. Fausto foi o único culpado por ser tão arrogante, a arrogância da busca pelo conhecimento acaba derrubando os mais sábios dos homens.

     Não te conheço e não te entendo, busquei entendê-la, mas desisti no meio do caminho; E o cataclismo filosófico não é tão conclusivo quanto o que um dia senti por você, infelizmente ou não. Deveras complicado é pontuar que nessa cidadela de muitas portas e muitos caminhos eu tive momentos que me senti perdido, mas não quis mostrar isso e hoje não estou mais tanto;

    Desenrolam-se olhares curiosos por sobre minha pessoa, olhares tão maliciosos que me fazem tremer até os ossos; Olhares tão lascivos que tamanho soslaio corta-me as vistas e agride meu próprio coração, não é ela tão delicada quanto você foi, dedicada, ou meiga. A bem da verdade, nem chega perto, nem brinca nas folhas secas, sorri de coisas idiotas de uma maneira deliciosa e nem me faz me apaixonar todos os dias tal como você fez, é verdade que ela fuma que nem um cão; Parece até uma chaminé de fábrica de tantos cigarros tragados;

     Ela nem de perto me lembra você, mas ainda assim tenta me seduzir com os seus olhos cor de espinafre que nem de perto são tão sinceros quanto os seus, são olhos de cigana tais como os de Capitu; Já leu Dom Casmurro, nunca te perguntei coisas desse tipo: Eu odiei Dom Casmurro.

      O amor é elástico ao mesmo tempo que estático; Não curto mais me apaixonar de novo e dispenso logo esses olhares tão maliciosos, levanto-me e me afasto de tais coisas, assim como hoje me afasto de você. E isso leva-nos um grande dilema, eu te amei e deixei a corda de meu violino quebrar, me afastei e deixei nossa amizade se acabar.

      Sonoramente é engraçado pensar nas idiotices que somos fadados a cometer, de verdade, e ao mesmo tempo como tudo tende a ser trágico; Chaplin mesmo dizia: "A vida vista de longe é uma comédia, vista de perto é uma tragédia". Penso que talvez ele pudesse estar certo.

     Interlocutores à parte se escusaram de se inteirarem em tal conversa, tendo em vista que minha história não é nada especial, apenas é uma em várias: De um derrotado que tentou vencer a vida mais uma vez e perdeu de novo. Os ombros se encurtam, os sons que ouço já não são os mesmos, assim como os amigos, embora toda a ruptura tenha continuidades; continuidades tão disparadamente melindrosas que latejam todos os dias a minha cabeça quando me surge o seu nome no alto de uma conversa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Haber e o uso da ciência para o "bem" e para o "mal"

A figura mais controversa pra mim na história da Ciência não é Oppenheimer (pai da bomba nuclear), nem Alfred Nobel (criador da di...