Por que o Brasil não é um país de Primeiro Mundo?
Parando bem para pensar, por quê? Pela fórmula do capitalismo, a riqueza das nações se dá pelo potencial de recursos de um dado país pela capacidade de sua mão de obra em transformá-lo, Adam Smith esboçara algo assim em seus escritos.
Pois então, o Brasil tem uma das maiores capacidades de recursos minerais, estratégicos e humanos de todo o planeta, mas está tudo para fazer e está sempre condenado a ser o país do futuro. Até mesmo a Argentina já ensaiou o seu período de país de Primeiro Mundo, mas nós não;
Na verdade, a definição de Primeiro Mundo já é obsoleta a pelo menos vinte anos, prefiro voltar a trás e rever o termo, primeiro-mundismo, esse neologismo neoliberal que nos faz pensar que há três estágios de desenvolvimento e de ocupação humana no mundo, o que chega a ser mentira, mas a questão é que o Brasil tem um potencial absurdo para gerir ao seu povo, mas mesmo assim não consegue transpassar problemas mais básicos.
As enchentes e os deslisamentos de terra são só uma parcela dos problemas habitacionais existentes no Brasil. Problemas habitacionais! Vejam só, um país que tem no hino o refrão: "Gigante pela própria natureza". Gigante pela própria natureza e com pés de barro segurando o colosso. Sim, esse é o Brasil, a maior potência da América do Sul e ainda assim falhando miseravelmente no cenário internacional;
Dir-se-á que o problema é resultado da corrupção política existente no Brasil. Em parte isso é verdade mesmo, mas não é só uma corrupção moral da classe política, mas do próprio povo como um todo. Isso eu venho observando como um todo, ao primeiro cargo de uma oportunidade alheia à lei, qualquer cidadão comum vê como oportunidade para o seu próprio favorecimento, seja um Gatonet roubado do vizinho, um suborno para o guarda para escapar da Lei Seca, um programinha de cotas, cesta básica sem mesmo precisar, e assim vai. A corrupção dos políticos é apenas uma ampliação da corrupção do próprio cidadão comum que se dedica a tais atos.
Essa corrupção se estende em todos os segmentos sociais, mas é ainda mais gritante nos altos escalões, onde os mais favorecidos, enxergam que a lei lhes é intocável, que não é complicado burlá-la com bons advogados ou outros engodos, afinal de contas, para eles o Brasil é governado por um pequeno grupinho de poderosos, o que não deixa de ser verdade. A indignação de eventos como a absolvição de um filho de milionário que matou um ciclista (um milionário aí da alta roda que tem Batista no nome), ou de um assassino dos próprios pais que conseguiu escapar da prisão. Tudo isso demonstra a teoria de que o Brasil não é governado para o povo pelo o povo. Em verdade, é uma falsa democracia.
Essa falsa democracia também é resultado da alienação do próprio cidadão comum e da sua passividade quanto aos mais completos absurdos existentes na dinâmica interna nacional. Uma obra de transposição do Rio São Francisco, que nunca termina, que ninguém sabe quanto custou e muito menos se resolverá o problema da seca e se é ecologicamente viável realizá-la. Uma usina hidrelétrica que sinceramente causa tanto alvoroço no meio da amazônia que retirará algumas centenas de índios para produzir energia com metade da capacidade. Um movimento sem terra que praticamente manda no governo assim que toma uma terra, assim vai.
Não é de se admirar que pessoas morram nos fétidos hospitais, enquanto o próprio governo arrecada trilhões de reais todos os anos, não é de se admirar que as escolas estejam caindo aos pedaços apesar dos protestos dos professores junto ao governo que se limita a dizer que dará algum aumento de verbas. Não é de se admirar. A corrupção é da sociedade como um todo.
A corrupção vem do trabalhador que não reclama do modo como são gastos os seus recursos e de quem infelizmente está por geri-los. A corrupção vem do empresário que suborna um funcionário público para que possa trabalhar de algum modo com mais lucro. A corrupção vem do funcionário público que simplesmente se isenta de trabalhar e faz piquete junto aos ministérios. A corrupção vem aos ministérios que fazem licitações fraudulentas com empresas sujas. A corrupção vem da justiça que esconde os seus olhos para isso. A corrupção é geral.
Não basta ter políticos corretos, é preciso ter cidadãos corretos. Não adianta aumentar os recursos da saúde, se o médico limita-se a se inclinar na sua poltrona e a assistir o futebol enquanto os pacientes definham na fila do hospital. Não adianta aumentar o salário do professor, se o próprio professor vive de atestado, não cobra dos alunos e vai reclamar no ministério sobre a reforma educacional que ele mesmo tem preguiça em promover. Não adianta.
Não adianta querer mudar se o próprio povo não deseja mudar. Deseja manter o paternalismo junto a líderes duvidosos, pastores, bispos, vereadores chinfrinhos que nem sabem recitar o português direito, e acham que estes farão alguma coisa por eles. São kulaks como quaisquer outros, não tem porque se enganar, esses não são meros religiosos ou supros representantes do povo, não. Eles não trabalham pelo bem do povo, mas para o bem pessoal. É nesse caso que surgem os tais Felicianos, Calheiros e outros. Pela mediocridade intelectual do próprio cidadão.
Qual é a cidadania que ele exerce? Votar em quem deve ir para o próximo paredão do Big Brother? Assistir as deseventuras que acontecem numa noveleta sobre a Turquia, os comentários vazios dos comentaristas esportistas, visualizar o sexismo da própria televisão em programas apelativos. Essa é a cidadania existente?
Não é a toa que eu acredito que dentro de alguns anos pode haver um golpe de Estado. Sinceramente, eu acredito. O cenário político está ficando tão radical e ao mesmo tempo tão medíocre que mesmo a oposição não se faz ao trabalho de oposição. São meramente partidos de caudilhos, dos grandes latifundiários ainda mais reacionários que a encomenda que apelam para a religião e para os ditos valores fracassados e até um tanto hipócritas de uma sociedade como a nossa.
Destino-me a falar que a mediocridade do próprio brasileiro em se levantar, em protestar, em viver é o que leva a esse quadro de profundo abandono e desolação como um todo. O Brasil não está melhorando, realmente não está, isso é propaganda, o Brasil continua o mesmo engodo pesado de um grande elefante branco que não consegue sair do papel. Um país que se preocupa mais com um torneio de futebol do que o seu próprio futuro, um país que olha para daqui um ano, sem pensar nos outros dez que andam por vir.
Em outras palavras, o Brasil sequer merece ser mencionado no mapa mundi, do jeito que anda caminhando, traz uma grande vergonha com suas atitudes. Digo não só o governo, mas o povo. Sim, meu caro povo, desse país que ainda tento amar, vocês que trazem todo esse prospecto negativo de engodo e autoflagelação social a qual se submetem.
O estudo é uma boa arma para livrar-se dessa cadeia cíclica, mas não do jeito que anda sendo feito, um estudo pauperizado e que vem se tornando cada vez mais, um estudo consciente das próprias fraquezas do ensino e das responsabilidades individuais de todos nós.
O caminho para o próprio futuro como um futuro, é sem dúvida, uma Revolução. Mas não uma Revolução levada ao cabo de ferro e fogo, mas uma revolução que parte do individuo como um todo em prol da sociedade existente, uma revolução de pensamento que transcenda a mediocridade intelectual que anda tomando a estatura das mentalidades como um todo. Que caminho devemos tomar, esse é o caminho que julgo ser mais adequado.
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