sexta-feira, 8 de março de 2013

Terror psicológico: Pyongyang

          Nos últimos dias, o regime norte-coreano rasgou o tratado de Não-Agressão que havia assinado com  a Coreia do Sul e os Estados Unidos há quase sessenta anos atrás. Sob a "ameaça" de um "ataque iminente" dos Estados Unidos, o monarquia vermelha dos Kim anda ameaçando o mundo com os seus novos brinquedinhos, misseis balísticos inter-continentais carregados de ogivas nucleares.

       O programa nuclear norte-coreano vem se arrastando aos trancos e barrancos por meio do contrabando do mercado negro, e de uma omissa vigilância de seus vizinhos e aliados. Em todo o caso, não é interessante nem para Pequim, aliado histórico da Coreia do Norte, nem para a Rússia, que anda com uma postura ambígua quanto às relações internacionais, atualmente, uma nova guerra, muito menos com ogivas nucleares.

      A questão é que nem para os Estados Unidos e nem para Coreia do Norte também é. Qualquer ataque norte-coreano de natureza nuclear resultará na franca destruição do território, e com o respaldo das Nações Unidas ainda.

     Se bem que a Coreia do Norte já é um país destruído, destruído pelo próprio totalitarismo, um país que não parece ter futuro além dessa continuação stalinista que a  segreda à clausura. Diante dos contínuos embargos econômicos ao pequeno país na península coreana, desenvolve-se esse terrorismo psicológico em busca de ajuda humanitária da comunidade internacional.

    A proposta de Pyongyang não é séria, todo mundo sabe disso, essa ameaça continua se arrasta desde os anos 90 quando o regime norte-coreano permaneceu como um pária da comunidade internacional, e com isso ganhou grandes recursos de ajuda internacional dos outros países numa das maiores fomes que esse pequeno território enfrentou por volta de 1998.

    Ano passado mesmo, o Brasil chegou a doar gratuitamente toneladas de arroz e grãos de soja para a Coreia do Norte com base na doutrina da boa diplomacia, utilizada pelo Brasil desde o período imperial... Mas chega a ser absurdo que um país com o terceiro ou quarto maior exército do mundo, com um arsenal nuclear em ascensão ainda vivenciar o dilema da fome.

    A Coreia do Norte vivencia o dilema da fome porque o próprio sistema não é dinâmico no contexto agrário, estipula planos quinquenais absurdos, não investe na mecanização da agricultura ou engenharia genética, tem um solo terrivelmente pobre e poucos recursos naturais.

     Não há incentivos para os agricultores nas cooperativas agrícolas estatais, na medida em que trabalham para se manterem na fome, e tal como outros regimes, apenas uma camada, ligada ao Partido Comunista e ao Exército que detêm os privilégios, e o Exército é bem tratado porque é ele que suporta o regime como um todo.

    A Coreia é um grande  quartel, tal como foi Esparta, o Paraguai com Solano, etc. Não pensa em outra coisa do que senão em guerra, na verdade esse militarismo norte-coreano mostra bem o anacronismo do regime frente a realidade atual, para a Coreia do Norte, para um  país ser forte, tem que conquistar territórios e ter um grande exército, enquanto hoje, um país forte se define pela sua tecnologia e depois por sua economia.

    Bem, a Coreia ameaça o mundo por sua inveja megalomaníaca pelo seu vizinho do sul, que é bem afortunado, recebeu uma absurda ajuda do governo norte-americano e tem como única praga o cantor Psy, é um país ágil e dinâmico ao contrário da Coreia do Norte.

    Querendo ou não como já disse anteriormente, o Junche é a doutrina mais insana que eu já vi, uma sociedade que se diz  socialista mas tem poder hereditário, a Bielorrussia anda copiando essa falência e não à toa também é um pária da comunidade internacional.

     Em todo o caso, o terrorismo psicológico norte-coreano é explicado unicamente pela sua megalomania de pequeno país rodeado por vizinhos mais afortunados, inimigo de todo mundo, isolado, e por essa razão, vê-se no direito de entrar em guerra com todo mundo.

     Mas como eu disse, a Coreia do Norte se entrar em guerra nuclear hoje, é varrida do mapa. O medo é o equilíbrio do terror, os Estados Unidos e a Coreia do Norte acabam não usando armas nucleares e sim uma guerra convencional, mas sempre ficará presente o medo do uso das ogivas nucleares no caso de uma saída para a derrota iminente dos norte-coreanos.

     E a China? A guerra não interessa à China, que tem como maior parceiro comercial justamente os Estados Unidos, quem no mundo compra mais quinquilharias Made in China no mundo? Estados Unidos. Quem mais investe na China? Novamente os Estados Unidos.

    Se a China entrasse em guerra era declarar por encerrado o seu milagre econômico/revolução industrial de uma vez por todas, por essa razão que ela ficou contrária a decisão de Pyongyang. Além do mais, não é interessante para China ter outro vizinho com armas nucleares em mãos, na verdade isso até a preocupa, não bastasse a Índia, a Rússia, agora também a Coreia do Norte?

    Na verdade, numa iminente guerra, o pragmatismo político iria imperar, e com certeza, a China iria defender os seus interesses, se colocando ao lado dos Estados Unidos, Coreia do Sul e até do Japão, a questão é como iria se explicar depois teoricamente, uma luta contra um antigo aliado que também era tão ditatorial quanto a China, o regime chinês poderia até cair, na verdade. Por isso não é interessante a instabilidade na região para a China.

    Não é interessante para a Coreia do Norte, além da ajuda internacional, nem para a China, mas e para os Estados Unidos?

     Isso resultaria numa nova guerra em um local inóspito e longínquo da qual o Tesouro norte-americano está tentando fugir, na verdade, a crise de 2008 também é relacionada com as duas guerras no Oriente-Médio. Os Estados Unidos não querem se envolver em guerras, por essa razão não estão intervindo no Mali, na Síria e em outros lugares do mundo, porque agora não é interessante, contudo, os Estados Unidos terão que agir se a Coreia do Norte atacar a vizinha do sul e o Japão.

     Nesse jogo, o Japão é o elo mais fraco, mesmo estando numa ilha rochosa. A Coreia do Sul está mais próxima, e por isso mais vulnerável a um ataque maciço, mas ela tem um exército à altura, não tão grande quanto o norte-coreano, mas ela vai se defender bem, o Japão não tem isso, e não terá como responder à altura tão rápido, já que não tem forças armadas terrestres em virtude do tratado com os Estados Unidos.

    Esse sim é o grande temor no Extremo Oriente, do Japão cair na sua própria fragilidade, e como os EUA não andam tão fortes, isso não é muito difícil de acontecer. Em todo caso, outros atores podem surgir, como a Austrália, a Rússia e outros, deixando o jogo um pouco mais complexo.

    Em todo caso, a Coreia do Norte dificilmente irá se arriscar a entrar num conflito aberto e se entrar mostrará logo suas fragilidades internas e externas ao cenário internacional e possivelmente o regime dos Kim pode até cair, já que poderá perder o seu "status divino" e de potência assustadora numa possível derrota.

    A comunidade internacional sabe o que a Coreia do Norte está tentando fazer e isso não assusta mais ninguém, a Coreia do Norte é definitivamente um "tigre de papel" que fica tentando se arriscar em uma partida de War qualquer, quando o cenário já é outro.

    Enfim, essas são minhas ideias gerais do que irá acontecer ainda nessa semana ou na outra: A Coreia do Norte vai continuar ameaçando todo mundo, a ONU vai tentar negociar, os norte-coreanos vão aceitar um acordo onde eles retomam a não-agressão em troca de comida e o país vai continuar isolado internacionalmente. Se eu não acertar, lembrem-se, eu não sou Mãe Diná.

PS: O uso do termo "terror psicológico" não é a alusão à doutrina do Bush do Eixo do Mal, mas sim à prática em si de ameaças e fustigações para conseguir vantagens através das emoções. Eu estou falando no conceito psicológico do termo e não no conceito atual do que seria terrorismo.

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