quinta-feira, 14 de março de 2013

Notas avulsas (I)

       Cinzento e tempestuoso céu arrasta-se na curvatura das nuvens numa praça sem muita ligadura. O verde acinzentado das acácias prolonga-se sobre os jardins tão bem cuidados quantos os pomares elísios de almas serenas.

      Naquele céu arrasta-se nada menos que uma gerigonça toda desengonçada batendo suas azas em pleno planalto celeste, aquela criatura alada tomava tamanha vida que chega a ser incrível que tal criação pudesse ter um nome tão simplório como avião.

      Santos Dumont que me perdoe como irmão fraterno patrício e como colega na arte de usar chapéus panamá, mas tenho um assustador pavor de suas criações mirabolantes feitas ao relento de seu ócio criativo, tal como uma criança tem medo da vida.

      Tenho medo do que suas criações fizeram e ainda podem fazer, encurtar longas distâncias e nos fazer pensar que somos poderosos. Nesse banco de concreto sujo e  um pouco lascado na ponta, sozinho, sentado junto do extenso jardim, fico pensando em quanto as velhas e boas invenções mudaram nossas vidas. Quanto à eletricidade, penso em como ela nos deixou medíocres, dependentes de fios metálicos que cortam as ruas tal como veias e acendem nossas vidas com a curvatura de um clicar.

      Fico pensando no velho Tesla, gênio incompreendido e mal amado, trabalhando sozinho em seu laboratório com os cabelos tão desgrenhados quanto os meus, sua casa devia ser toda bagunçada, cheia de tralhas e tranqueiras da virada do século.

     Ainda assim lembro do que ele fez por nós, as coisas que inventou e são atribuídas a outras pessoas. Sinto-me um pouco inventor hoje, um Tesla das palavras, tantas vezes parodiado e copiado, bem mal amado, enquanto está escrevendo versos enquanto o filme é cancelado pela falta de luz.

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