terça-feira, 12 de março de 2013

O embuste bolivariano

      Na semana passada mais um fato estampou os jornais mundiais: Hugo Chavez morreu após quase dois anos tentando tratar um câncer.

      Não que isso tenha me surpreendido, eu já sabia que Chavez estava prestes a morrer há um bom tempo. Não foram poucos os jornais, sobretudo o El País, que noticiavam que Chavez tinha sido submetido a um tratamento porco em Cuba. Sim, tratamento porco em Cuba, falei isso mesmo.

      É mistificada demais a medicina cubana, na verdade, é certo que no regime dos Castro há um médico para cada oitenta habitantes, ou algo parecido, talvez por causa da influência do Che Guevara na ilha, mas a medicina cubana é realmente falha.

      Não que eu esteja desmerecendo os médicos, mas tecnicamente, as condições sanitárias e materiais existentes na ilha impedem um avanço significativo na medicina na ilha, mas nesse caso, o erro foi mesmo médico:

       Aparentemente um dos médicos, devia ser um rapaz trabalhando sob a pressão de tratar um chefe de estado, perfurou sem querer a zona cancerosa liberando as células cancerígenas na corrente sanguínea, após esse trabalho porco, Chavez começou a dar sinais de covalecência.

        Na verdade, o próprio Hugo tinha denunciado os Estados Unidos por supostamente "contaminarem" chefes latino-americanos com o câncer. Primeiro teria sido Fidel, depois Dilma, Lula, Cristina Kichner e depois ele próprio.

         Não que julgue a CIA inocente, ou que ache normal que uma coleção de cânceres tenha surgido num passar de dois ou três anos, mas o fato é que Hugo não perdeu a oportunidade de atacar os Estados Unidos, os quais, para ele "eram o supro representante do imperialismo yankee".

          Imperialismo yankee. Nada mais, nada menos que isso. Como era fácil culpar os Estados Unidos por tudo, o governo norte-americano tem sua culpa sim, financiou Noriega nos anos 80, financiou Pinochet nos eventos dramáticos de '76, a ditadura brasileira, etc. Sim, Washington tem muita culpa para lavar, mas será que nós também não temos culpa? Quero dizer, será que o nosso sub-desenvolvimento não teria sido também produto de medidas equivocadas de nossa parte. Eu acho que sim.

         Em todo o caso, o governo venezuelano culpava a bolha inflacionária que o seu país hoje enfrenta, de absurdos 30% ao mês, aos especuladores, que brigavam contra o governo para despojar o povo de seu prato de comida. Nada como um pouco de populismo para acabar com as massas.

         O engraçado é que a maior parte dos produtos agrícolas é vendida justamente para o governo que distribui ao povo, então como pode ser a culpa dos especuladores se o próprio governo faz parte dessa cadeia produtiva?

         E mais, essa postura também se refere às técnicas  agrícolas venezuelanas, aos problemas climáticos e também agrários, além do absurdo total, a hipertrofia da máquina pública e o campesinato não anda muito motivado em produzir, afinal ele também recebe auxílio do governo. A questão é bem mais complicada do que parece, na verdade, boas áreas produtivas venezuelanas são expropriadas pelo governo para extrair o petróleo e vender justamente para quem? Estados Unidos.

         Olha só, os Estados Unidos. O maior parceiro comercial venezuelano, e um dos destinos preferidos da classe média bolivariana que se enriqueceu por meio dos petrodoláres e da máquina pública venezuelana. Nada como um "bom marxista bolivariano" gastando em roupas e ipods em Miami.

       Enfim, eu não posso esconder que eu sinto repulsa toda vez que ouço o nome de Chavez. Para mim, ele sempre foi a releitura de Benito Mussolini, pelo seus gestos e feições, além disso via nele um hipócrita que denunciava os Estados Unidos, falava mal do Bush, mas vendia os seus barris de petróleo para os Estados Unidos, alimentando de alguma forma o mecanismo que ele condenava e mais ainda a máquina de guerra norte-americana.

       Em todo caso, hoje eu não odeio os Estados Unidos, embora o próprio governo norte-americano tenha tomado medidas odiosas com o passar do tempo, eu odeio as pessoas que incitam o ódio mas se alimentam justamente daquilo que condenam, é uma hipocrisia intelectual quase. Na verdade é;.

         O capitalismo é a forma pela qual as riquezas são geradas, mas não são distribuídas de forma justa. No bolivarianismo, não se sabe quais riquezas são geradas, e quando são, são vendidas ao capitalismo internacional e povo passa fome.

         A Venezuela não vive uma revolução educacional, nem médica. Não tem os piores índices da América do Sul, mas perto de outros vizinhos, está bem atrasada tecnicamente. Dizem que ela está perto de erradicar o analfabetismo, se for verdade, mérito dos professores e não do governo, afinal de contas é parco o auxílio do governo às escolas no interior das províncias, com condições estruturais tão ou mais ruins do que a das escolas do interior do Agreste.

        A Revolução Boliviariana não passa de uma enganação, pelo menos para mim, pois apenas deixou o povo ainda mais ligado a um líder, que apesar de tudo, tinha carisma, recebia ajuda do governo em forma de dinheiro (e não trabalho, considerando que o trabalho é uma coisa supervalorizada na ideologia marxista)  retirado dos petrodoláres e das taxações sobre os importados. Parece Robin Hood, mas parando para pensar a população pobre venezuelana deixou de ser pobre por causa disso, não, só passou a ser dependente do Estado. Interessante, uma releitura do antigo cabildo e retomando a ideia de Bolivar de construir uma ditadura aos moldes romanos na América Latina.

        Chavez poderia ter construído uma, na verdade, eu acredito que ele construiu, muito embora a oposição ao chavismo também não seja algo de respeito, em verdade, a política venezuelana consegue ser até pior do que a nossa.

       Em todo caso, a quebra da constituição bolivariana, editada por não menos que o próprio bloco chavista, bem como fechamento de alguns jornais de oposição e outros veículos complicavam a situação "democrática" venezuelana.

        A questão da sucessão de Chavez poderia ter se acirrado ainda mais, se os seguidores de Chavez não tivessem decidido fazer eleições para o mês de abril. O cenário estava tão polarizado e a oposição tão cheia das arrogantes interpretações dos chavistas que a coisa poderia até dar em guerra civil  ainda bem que serão feitas eleições. Eu tenho plena certeza que o bloco chavista ganhará, até porque tem uma base popular que cresceu com a morte de Chavez, em  todo caso o embuste bolivariano é tentar convencer as massas de que aquilo é um socialismo, sendo que não passa um regime paternalista e populista que apenas deseja manter uma classe diligente no poder.

         A morte de Chavez não foi tão dramática quanto a de Allende (na verdade, eu sinto empatia quanto penso no velho presidente chileno, com o palácio cercado sob o bombardeio, o pessoal da sua guarda indo de um lado para outro, e ele com o suor irrompendo na testa e o cabelo desgranhado decide por fim à sua própria vida), não foi tão comovente quanto a de Getúlio (que viveu e morreu como populista), não, foi uma morte como outra qualquer, câncer, e mesmo assim trouxe um grande problema político, e tudo porque, porque Chavez moldou pessoalmente o estado venezuelano.

         Eu me pergunto se as próximas gerações que surgiram lembraram de Chavez, o que elas acharão dele? Será que o acharão como Peron, que apesar de meio canastrão, é reverenciado na Argentina até hoje, ou o esquecerão como Getúlio. Espero a segunda opção pessoalmente, mas sei que será quase impossível devido ao embuste boliviariano.

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