quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Sem palavras

       Joguei uma flor hoje em reverência ao menino que morreu ontem.

       Vi com amargura jogarem pelas minhas costas a flor fora por tê-la deixado no corredor que ele morreu. Falta de tato. Ele morreu bem na minha frente.

         Não que eu seja sensível, não sou. A sensibilidade deixou-me em maus lençóis cada vez mais nesses dias. Mas foi a primeira vez que eu vi uma pessoa sucumbir diante dos meus olhos, chorar, implorar pela mãe e perdão. Ele chorou, pediu ajuda e uma ambulância; Não pude fazer nada, ninguém pode.

         Nós não sabíamos o que fazer e eu vi ele definhar sobre o mar de sangue que se formava no piso daquele corredor, pelo menos cem pessoas viram o que eu vi. Mas foi a primeira vez que eu vi alguém morrer, isso foi algo que até hoje me choca quando paro pra pensar; Meus problemas pareceram pequenos perto dos dele, os gritos de dor e de amargura. O choro da mãe inconsolável, e tudo porque não sabíamos o que fazer, ninguém sabia.

       Disseram que ele caiu do mezanino, mas não foi verdade, ele deu ataque epilético e bateu com a cabeça no chão; Esperamos que alguém soubesse o que fazer, só um homem soube na hora. A ambulância demorou, os paramédicos não sabiam fazer nada. Nem mesmo eles; Ficou com dificuldade de respirar e morreu ali, ataque cardíaco. Eu estou tremendo até hoje quando lembro disso.

       Estou insensível talvez com a minha amada, ela não entende tudo o que eu vi. Talvez ela esteja preocupada, talvez ela ache que eu faça algo errado; Não farei, não é minha natureza. Ele morreu diante dos meus olhos e não houve nada de lindo nessa sensação... Estou calado, fechado no mar.

       Quis prestar meus tributos para quem morreu naquela manhã infatigável, um menino, um pouco mais velho que eu. Calouro ainda nessa universidade melancólica e impessoal, que ainda tinha sonhos pela frente que se apagaram quando o seu sangue escorria pelas laterais do seu corpo. Sinto medo quando lembro do modo como suas forças se definhavam, e sua alma se esvaía diante dos meus olhos.

       Ontem eu vi a dor e o desespero, minha boca ainda mantém o gosto ferruginoso do odor mórbido daquele corpo que definhou na minha frente. A sorte dessa vida pregou-me mais uma peça, e principalmente sobre ele, eu o vi definhar justamente quando eu estava feliz. Quando cheguei em casa, tomei um banho e me preparei para um novo dia.

       Eu queria não ter ido para a aula e ter ajudado aquele menino. Queria poder pedir desculpas pela minha imbecilidade de ter sido grosseiro com menina que eu gostava, queria reparar tantas coisas, mas não posso. Assim como ele definhou, o tempo passou e não posso fazer nada.

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